sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Ipê Amarelo



Quando li a reportagem senti um frio na barriga, tipo quando aquelas palavras se encaixam perfeitamente no que tu estás precisando ouvir. Ando um pouco desmotivada, a faculdade que no início foi a razão de euforia e felicidade, pareceu perder o sentido quando descobri que nesses longos 5 anos terei que fazer trabalho em grupo em cima de trabalho em grupo. A questão é que eu odeio trabalho em grupo. Depois porque tinha consulta marcada para o dia 25 deste mês, inclusive o gonal já está ali me esperando na geladeira, mas e cadê a menstruação? Nadinha... ah pois é...
Eu já não sei mais o que eu penso, se devo sobrevalorizar a faculdade e adiar os ttts, se devo sobrevalorizar estes ao invés do curso. Se devo ter esperanças e perder a realidade, se devo permanecer cautelosa e esperar para ver o que dá. Se devo acreditar que a estatística está ao meu favor, eu no alto dos meus 24 anos, saudável...ou se devo lembrar da minha tia que com um mês de relacionamento engravidou com 38 anos. Se devo desistir, se devo avançar mesmo após outro negativo. Tenho raiva de estar assim...logo eu que sempre fui tão decidida, inclinada ao pessimismo é certo, mas ainda assim. Realmente já não sei em que porto dirigir, pra que santo vou rezar! E quando menos espero leio sobre o tal Ipê que mesmo tendo sido cortado, bate o pé e volta a florir. Uma mensagem para não desistir nunca, é claro só podia ser no Brasil: eu sou brasileiro e não desisto nunca! ehehe Vamos ver então, relaxar, porque se tiver de ser ninguém me tira.




quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Tempo


Pois é, ando meio sem tempo agora e quando tenho não dá a mínima vontade de escrever...não sei, não ando nada inspirada. Muita coisa aconteceu, a consulta no Porto, as provas, os amigos na faculdade, os livros e o peso disparando ehehe. É nesse mês que inicio o segundo tratamento, mas não quero pensar nisso...Vamos indo e ver o que dá.

domingo, 11 de outubro de 2009

Para minha irmã

É um filme espetacular que retrata a vida de uma família cuja filha mais velha sofre de cancer e em que a mais nova fora "projetada para salva-la". É uma perspectiva muito interessante, um olhar atual sobre o tema da ciência e ética. Até quando é aceitável, quando estamos indo além e inteferindo na natureza para atenuar o sofrimento humano? E quando essa situação envolve outro ser que será explorado até a exaustão para cumprir o seu papel...
Mas não é disso que trata o filme, Para minha irmã é um lição de vida, uma vida comum, com reações realistas. É uma coisa estremamente esquisita a tranquilidade que muitos pacientes adquirem quando veem a inexorabilidade da morte. E por mais que se faça não há volta. É um filme sobre amar, sobre deixar ir. Que é a parte mais difícil para quem fica. Claro que lembrei um pouquinho do meu vô, é inevitável...
Que é a morte para nós deste lado da margem senão a espera para reaver os nossos?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Recomeçar


É assim que me sinto, fechando um ciclo e recomeçando outro. Não lembro onde, mas li uma vez que os ciclos tem em média sete anos e fazendo as contas é bem significativo, pois só agora consigo ter a maturidade que faltava para dar esse passo. Meu sonho desde a escola era fazer psicologia. Era eu quem escutava as amigas e sempre tinha um conselho útil ou uma observação para dar. A medida que o tempo foi passando, a ideia foi sendo substituída por outras áreas, letras, pois gostava de escrever e história. No vestibular escolhi psicologia como primeira opção e história como segunda. Não havia estudado muito, visto que ia fazer só para perder aquele "medo", mas passei em história. E fui fazendo, estudando, escrevendo e até gostei da ideia de me tornar professora. Porém vim para Portugal e me deparei com outra realidade. De certa forma até pior que no Brasil. Salários baixos, falta de segurança pois à princípio seria difícil ser funcionária e muitos ainda são recibos verdes, também com relação à disponibilidade geográfica. Essa história de ficar mudando de cidade ou região a cada ano é frequente. E além de tudo para reconhecer meu curso aqui, tinha que voltar a estudar.

Fiquei três anos em estado "vegetativo" por assim dizer. Trabalhei duas vezes em um lugar, mas com contrato de pouco tempo. No mais fiz um curso de inglês e de informática com alguma base de administração. Tive muita dificuldade em me adaptar, em gostar de viver aqui, aceitar as pessoas como elas são. E são bem diferentes do que imaginei.

Um dia falando com uma amiga, ela fez um comentário: porque não faz psicologia? Lá dentro acendeu aquela luzinha de desenho animado. Nossa, porque eu não pensei nisso antes?! Lá fui eu, me inscrevi na Universidade de Lisboa e surpresa das surpresas: consegui a vaga!!!

Estou na minha segunda semana de aula, com muita coisa para estudar, muitos amigos novos e muita esperança.

Sim, estou numa fase de grande mudança e um pensamento muito especial traduz o que estou passando:


"O primeiro passo para a mudança é a aceitação. Uma vez que você aceite a si mesmo, você abre as portas para a mudança. Isso é tudo o que você tem que fazer. Mudança não é algo que você faz, é algo que você permite."

domingo, 6 de setembro de 2009

Férias

Tenho andado ausente e sem muita vontade de escrever. Não que esteja triste, mas falta inspiração...

Essa semana o maridão tirou férias e aproveitamos para ficar mais tempo juntos, pois por incrível que pareça só o fim de semana é pouco ;)

Não fizemos grande coisa, nem viajamos, a única diversão foi o show do Armandinho, um cantor gaúcho que veio a Lisboa nesta sexta. Foi muito bom! Até porque lá no Brasil para vermos ele assim de pertinho era preciso muitas horas em fila e muito aperto perto do palco. Aqui não, foi super tranquilo. Talvez na próxima vez que ele venha não seja assim tanto. Vamos ver...
Deixo aqui uma música dele a qual me indentifico muito, pois reflete um período da minha adolescência.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Up







Eu simplesmente a-d-o-r-o filmes infantis e não escondo! Lá vamos nós, eu e o meu marido para o cinema sem nem ao menos disfarçar que não trazemos nenhuma criança conosco. E é tão bom! Tá certo, a Idade do Gelo 3 é um mimo, muito engraçadinho, ah o Cid! ehehe Mas UP é sensacional, superou todas as minhas expectativas. Em primeiro lugar porque apesar da fantasia inerente a qualquer filme do gênero ele traz muitas verdades sutis da vida adulta: entre elas a morte. Não é o primeiro a fazê-lo, Bambi que o diga, mas é o primeiro a dar um significado para ela e contextualizá-la com direito a alguns minutos de tristeza e silêncio completo na sala.
Segundo porque o Sr. Frederickson é mesmo um rabujento de se apaixonar!! E terceiro: aquela linda casa flutuante a pairar na maior parte do filme. Queria ter uma, não como a da Dorothy, mas suave como esta...a voar e voar para longe e para o alto.
O filme traz a baila a questão das promessas de adultos, dos nossos sonhos adiados, da modificações que a vida nos traz e a forma com que lidamos com os problemas que involutariamente atraímos. E também o recomeço que é a parte principal. Acreditar que nunca é tarde o bastante para recuperar os sonhos, por vezes transformados pelas circunstâncias...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O caso da tia

Estava remexendo no meu e-mail antigo e encontrei este arquivado. Não sei, fiquei perplexa ao ler, pois nada mais antagónico do que o sentimento que sinto por esta pessoa hoje. É estranho...como pode ter se transformado tanto?
Vou começar do início. Quando nasci a minha tia era até então o bebê da família, tinha 16 anos. Tomei o status de caçula e não só: parece que foi o fim de um ciclo dela com os meus padrinhos e o início do meu, com viagens, presentes, mimos e "estragos"...
A tia começou a trabalhar cedo, a namorar cedo. Tinha um monte de amigos, saía, ia para as festas. Meus avós eram super liberais e inclusive ela até levava o namorado para dormir em casa. Eu achava a vida dela o máximo, tinha ela como modelo a seguir e não a minha mãe. Para mim ela era a mais bonita (apesar de não o ser realmente), mais inteligente, enfim, queria ser assim quando crescesse. No entanto tive uma relação muito atribulada com ela, eu sempre a tratei bem, tinha o maior carinho, mas ela sempre me deu patadas e me criticava por tudo. Por eu ter o cabelo muito comprido, por eu não fazer ginástica, por eu ser muito dependente, mais tarde por não trabalhar, por não ter namorados e ser muito "criançola"... Depois de alguns anos de reflexão hoje eu vejo que muitas coisas que dizia era por ciúme.
Ela teve um papel muito importante no meu namoro com o Fernando, foi ela que nos "apresentou virtualmente", mas esta é outra história. Também depois que nós decidimos namorar sério, fez um monte de fofocas e falações para nos separar...
Mas isso era de se esperar, toda a família havia ficado contra nós, portanto, mais um...
A mágoa veio mesmo quando ela voltou para o Brasil, após ter morado sete anos em Portugal. As críticas voltaram e eu já não tinha mais a ingenuidade de uma criança. As palavras foram me magoando e acho que com o tempo fui colecionando mais tristezas. Sempre fui uma pessoa agressiva-passiva, o que não saía para fora porque não podia, ou não conseguia, ou não me deixavam, ia me enferrujando por dentro.
Finalmente ela foi para São Paulo, arrumou um emprego lá e surpresa das surpresas, alguns meses depois quando vim morar aqui, aparece grávida. De quem? Um cara que ela tinha conhecido dois meses antes e deve ter sido tipo na primeira. Mas não fiquei completamente surpresa, pois já havia sonhado com isso (tenho sonhos premonitórios). Não deixei de ficar triste...mais triste ainda porque esta pessoa que ela escolheu é de uma baixeza de sentimentos para não dizer palavras mais fortes. É do tipo de gente que se acha o máximo porque pode ter um filho entende? Como se um maluco qualquer não o conseguisse. Depois as coisas mudaram para pior, ele foi pouco a pouco a deixando submissa e isolando-a da família. Ela que era uma pessoa independente, de gênio forte, opiniática como diria a minha dinda, ficava como um cachorrinho atrás dele. E quando fui passar o Natal no Brasil, outra supresa. Com um bebê de 8 meses no colo, anunciou que estava grávida novamente de 2 meses. E o neto era o presente daquele indíviduo para o meu vô doente e a minha vó. Numa situação terrível de desemprego mútuo. Mas acho que naquela hora fiquei cega de revolta. Pensava porque eu que sou jovem, que tenho uma relação estável de 6 anos com o meu marido não podíamos sequer pensar na possibilidade? Depois disso seguiram-se pérolas do tipo: queremos 4, o fulano não vai fazer vasectomia como o Fernando; É bom para eles terem um pai (se referindo ao meu pai biológico que não quis nada comigo); Porque tu fechou a cara quando a tua tia anunciou o teu primo? Inocência das inocências. Este homem ainda deixou o clima mais pesado. Acho que simplesmente não precisava disso na familia...
Enfim...hoje está ela com dois filhos, continua com ele e brigada com um dos meus tios por causa do estrupicio...
Não, não há ainda espaço para perdão no meu coração. Eu tento o esquecimento, pois apesar de relativizar a situação, porque é óbvio que naquela palhaçada não há amor, não consigo ir além.
E aqui fica o e-mail que achei. Fica suspenso até que eu não-sei-o-que possa se modificar dentro de mim.

"oi tya!
que bom receber a tua "cartinha". fiquei muito feliz quando tu disseste que irá vir daqui a uns dois anos e para o Rio... eu tenho um sonho de conhecer o Rio...é muito interessante tua análise sobre o ciclo da vida, sobre ser mãe... acho que quando as pessoas começam a refletir sobre isso, é sinal de amadurecimento e sinal de que agora estás preparada para essa mudança. um casal sem filhos, digo, assim depois que o tempo passa e eles decidiram por não ter uma criança, é triste, falta algo com que se realizar... principalmente para a mulher, Deus é sábio, pois através da maternidade é possível despertar os sentimentos adormecidos. é também, dedicar o tempo que era somente nosso (aquele que não dividimos com ninguém), para usá-lo em função daquele novo ser. deve ser fantástico saber que carregamos no ventre, o milagre de um recomeço, de um espírito confiado a nós, necessitando de amparo, de ternura.talvez tu estejas te sentindo um pouco pressionada, inconscientemente, talvez essa seja a exigência de teu eu interno há muito tempo, mas que estava lá, guardado, dormente. te assusta esse seu despertar, não? é normal, sempre dá aquele friozinho na barriga quando chega a hora...e não te preocupes, o tio sérgio vai no embalo. tu sabes que já receberam no mundo espiritual essa "criança" e que ela já está se preparando para vir ao teu lar. tu sabes, bem lá no fundo que tu és capaz, que tu já fizeste isso antes e, que ser mãe é também um aprendizado assim como qualquer educação de sentimentos (não que seja fácil). e que não dá para pensar muito nos acertos que se quer ter, mas somente no amor que se pode dar.
um beijão da nyne"

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Está tudo ligado


Pois é, por mais que tento o inconsciente me dá rasteiras e ele não me deixa esquecer por muito tempo que ando nervosa e com medo por trás dessa calma superficial. Para começar não adianta negar nem mentir para si mesmo (como diria Lulu Santos), ando comendo compulsivamente, depois faço ginástica para queimar tudo e não engordar...um ciclo vicioso.

Depois minha menstruação está atrasada há quase 10 dias e isso nunca me aconteceu. Logo agora que estava tão feliz por meus ciclos regularizarem depois do tratamento em 30 dias...

Nada, antes tinha cólicas, mas agora nem isso. E pode ser tanta coisa...e não ser nada ao mesmo tempo.

E por último é a segunda vez consecutiva que esqueço a sessão de acupuntura!!! Eu que sou tão responsável e não dada a esses relapsos...ai minha cabeça.

É claro que uma pessoa que está de fora junta as pecinhas num instante e diz: estás sob stress, não consegues relaxar e deixar a vida fluir... dá tempo ao tempo. Tenha paciência, vai dar tudo certo. O teu dia vai chegar. Mas os sinais são outros, inconscientemente meu corpo está dizendo basta Jeanyne, dê atenção ao que eu digo. Estou cansado. Não quero passar por isso agora, eu quero paz.

domingo, 26 de julho de 2009

Nada sobre meu Pai


Achei interessante essa reportagem, até porque no segundo domingo de agosto é dia dos pais. Acho que já fui menos resolvida nessa questão, no entanto reconheço que não ter tido um pai reconhecido por muitos anos na minha certidão alterou em muitas formas as minhas escolhas e o modo como vejo a vida...



"A cada ano, nascem 700 mil crianças no Brasil de “pai desconhecido”. Filhos de homens que não quiseram reconhecê-los como seus. No Dia dos Pais, quase 30% dos brasileiros não saberão a quem dar um presente ou homenagear. Nunca souberam. A maioria dos “filhos só da mãe” nem sequer sabe o nome do pai, nunca viu uma foto, e nem tem certeza se está vivo. Muitos buscam em vão o reconhecimento na Justiça.
Histórias de rejeição e ausência paterna estão sendo filmadas no documentário Nada sobre meu pai, da cineasta Susanna Lira. O título é referência ao filme de Almodóvar Tudo sobre minha mãe. Susanna, de 34 anos, é filha de pai desconhecido. Mas não foi por isso que embarcou nesse filme.
“Fui criada por uma mãe forte, guerreira, que me contou tudo desde que eu tinha 2 anos”, me disse Susanna por telefone, de Salvador, onde filma no momento. “Meu pai, equatoriano, tinha 19 anos quando minha mãe engravidou, era envolvido com política. Deu dinheiro para ela abortar. Ela não quis. Isso nunca foi uma grande questão para mim. Mas minha filha, ao desenhar a árvore genealógica na escola, insistiu em saber quem era o avô materno, os bisavós. E aí eu decidi fazer o filme. Percebi que essa lacuna pode aparecer até em outra geração. Pelos depoimentos que registrei, compreendi como o desconhecimento do pai causa feridas profundas. Encontrei crianças e adultos em frangalhos com essa ausência. Eles buscam o pai a vida inteira.”
No Rio de Janeiro, um preso que Susanna entrevistou compara a vergonha da prisão à vergonha de não saber quem é seu pai. Em Porto Alegre, um menino de 13 anos vive com a mãe, que se desdobra para suprir tudo sozinha. Mas ele sente falta: “Queria meu pai pra jogar bola comigo”. Em São Paulo, um montador de cinema sabe que o pai mora na esquina de sua rua – mas nunca conseguiu que o reconhecesse.
Nas classes sociais mais altas, a mãe se organiza, o filho faz terapia. Na periferia, a ausência paterna é uma luta. A mãe solteira e pobre trabalha muito fora. O menino fica na rua, vulnerável, à mercê de más influências. Na pesquisa, Susanna descobriu que 80% dos jovens infratores não têm o nome do pai na certidão.
Um filme mostra os dramas da rejeição: 80% dos jovens infratores não têm o nome do pai na certidão
As mães pobres costumam ser mais orgulhosas, mesmo quando passam fome. Sobre o homem que se ausentou, dizem: não quero ele para nada. Elas podem não precisar, mas os filhos precisam. Talvez devessem revelar o nome para o Ministério Público.
A busca do reconhecimento da paternidade é árdua. A consultora de Susanna no documentário, a filósofa e socióloga Ana Liese, acaba de escrever o livro Em nome da mãe – o não reconhecimento paterno no Brasil, com estimativas e dados impressionantes sobre esse drama nacional. Ana conversou comigo por telefone, de Brasília. “Se o pai se nega a dar o nome na hora do registro, só um em cada dez reconhecerá aquele filho espontaneamente em toda a vida.” Quando o Ministério Público pressiona, apenas 30% acabam reconhecendo. O prefácio do livro de Ana leva o título “Um país de filhos da mãe”.
Por uma questão cultural, o Estado brasileiro também sabe pouco sobre o pai. O certificado preenchido na maternidade é o primeiro documento dos 3 milhões de brasileiros que nascem por ano. Segundo Ana, há uns 15 campos com dados sobre a mãe. E nenhum sobre o pai. “Quase não temos dados oficiais sobre o pai no Brasil. Quem ele é, em que faixa etária se torna pai. Sobre as mães, sabemos quase tudo”, diz a socióloga.
O documentário de Susanna não será um filme de “protesto contra os pais desertores”. Ela almeja revelar “histórias de amor que querem e podem ser vividas”. Susanna quer fazer um convite amoroso para o homem viver a paternidade plenamente, mesmo casado ou separado. Porque só a mãe não basta.
Como diz a socióloga Ana Liese: “Esses homens nem suspeitam que são o maior objeto do desejo de seu filho ou sua filha”. Não é só o dinheiro ou o sobrenome. O que falta a essas crianças, jovens e adultos sem pai, é algo chamado reconhecimento. Não o legal, mas o amoroso. É o acolhimento.
No segundo domingo de agosto, se seu pai for conhecido, vivo e presente em sua vida, dê um beijo nele. E diga: valeu, pai. "

Ruth de Aquino

sexta-feira, 24 de julho de 2009

E a loucura continua...

PANDEMIA DE LUCRO

Que interesses económicos se movem por detrás da gripe porcina???

- No mundo, a cada ano morrem milhões de pessoas vitimas da Malária que se
podia prevenir com um simples mosquiteiro.
- Os noticiários, disto nada falam!

- No mundo, por ano morrem 2 milhões de crianças com diarreia que se poderia
evitar com um simples soro que custa 25 centimos.
- Os noticiários disto nada falam!

Sarampo, pneumonia e enfermidades curáveis com vacinas baratas, provocam a
morte de 10 milhões de pessoas a cada ano.
- Os noticiários disto nada falam!

- Mas há cerca de 10 anos, quando apareceu a famosa gripe das aves…
- …os noticiários mundiais inundaram-se de noticias…

- Uma epidemia, a mais perigosa de todas…Uma Pandemia!
- Só se falava da terrífica enfermidade das aves.

- Não obstante, a gripe das aves apenas causou a morte de 250 pessoas, em 10
- anos…25 mortos por ano.

- A gripe comum, mata por ano meio milhão de pessoas no mundo. Meio milhão / contra 25.

- Um momento, um momento. Então, porque se armou tanto escândalo com a gripe das aves?

- Porque atrás desses frangos havia um “galo”, um galo de crista grande!!!

- A farmacêutica transnacional Roche com o seu famoso Tamiflú vendeu milhões
de doses aos países asiáticos.

- Ainda que o Tamiflú seja de duvidosa eficácia, o governo britânico comprou
14 milhões de doses para prevenir a sua população.

Com a gripe das aves, a Roche e a Relenza, as duas maiores empresas
farmacêuticas que vendem os antivirais, obtiveram milhões de dólares de lucro.

- Antes com os frangos e agora com os porcos.

- -Sim, agora começou a psicose da gripe porcina. E todos os noticiários do mundo só falam disso…


- Já não se fala da crise económica nem dos torturados em Guantánamo…

- Só a gripe porcina, a gripe dos porcos…

- E eu pergunto-me: se atrás dos frangos havia um “galo”… ¿ atrás dos porcos… não haverá um “grande porco”?

- A empresa norte-americana Gilead Sciences tem a patente do Tamiflú.
O principal accionista desta empresa é nada menos que Donald Rumsfeld.

- Os accionistas das farmacêuticas Roche e Relenza estão esfregando as mãos, estão felizes pelas suas vendas novamente milionárias com o duvidoso Tamiflú.

- A verdadeira pandemia é de lucro, os enormes lucros destes mercenários da saúde.

- Não nego as necessárias medidas de precaução que estão a ser tomadas pelos países.

Mas se a gripe porcina é uma pandemia tão terrível como anunciam os meios de comunicação.

Se a Organização Mundial de Saúde se preocupa tanto com esta enfermidade,
porque não a declara como um problema de saúde pública mundial e autoriza
o fabrico de medicamentos genéricos para combatê-la?

Prescindir das patentes da Roche e Relenza e distribuir medicamentos genéricos gratuitos a todos os países, especialmente os pobres. Essa seria a melhor solução.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Aprender a ser otimista


Tá certo, tem pessoas que nascem com este dom, mas infelizmente não é o meu caso. Comigo as coisas tem que ser assim, um aprendizado constante, às vezes tão constante que me faz esquecer do objetivo principal. Lembro-me há muito tempo atrás que a minha madrinha tinha me dado um livro: Pollyana. Então a "síndrome" de Pollyana era a de ser otimista até demais. Tudo para ela era uma forma de ver a vida descontraidamente, inclusive quando ganhou do pai (sem querer) um par de muletas de aniversário. E ficou feliz! Agradeceu a Deus porque não precisava de muletas. Não sei se consigo chegar a este ponto eheheh mas talvez ser um pouco mais leve deve ajudar.

Acordar de manhã e pensar que coisa boa mais um dia bonito destes, sorrir quando meu cachorro se espreguiça nas minhas pernas em sua maneira de me dar bom dia. Escutar os passarinhos e os gritos das crianças da escola na rua da frente. Olhar no espelho e me aceitar assim como sou: não pensar se tivesse 2 quilos a menos, se essas pernas fossem menos grossas, se tivesse seios maiores...não, não e não. Olhar com outros olhos e dizer que não tem nada de errado. Sou bonita, não tenho photoshop, não tenho retoques de maquiagem e sou bonita, real e bonita. Mas como eu disse, cada dia é um aprendizado, todos os dias tenho que escolher ser assim, escolher ser otimista, viver o presente e aceitar as coisas e as pessoas como são.

Ser otimista não significa ignorar as adversidades naturais, mas saber que tudo passa, que não importa o quão triste ou enraivecida fique neste momento, tudo que tiver que acontecer vai acontecer, independente da forma que encare a situação. Os problemas existem, mas o fazemos maiores ou menores, e o otimista dá menos importância a eles.

Um coisa que aprendi nesses últimos dias: aquilo que mais desejamos e atrairmos virá com certeza, e dedico este post as minhas amigas que receberam grandes presentes. Duas pessoas lutadoras que há muito tempo almejavam estas oportunidades. E para uma amiga que ainda está buscando o seu sonho: Maruja...um beijinho a todas!


quinta-feira, 9 de julho de 2009

notícias


Ainda estou um pouco down...saio, faço a minha ginástica, vou à praia, mas ainda não sinto o humor melhorar, estou mesmo uma velha ranzinza. Vamos ver, quem sabe aos pouquinhos este astral vai subindo? O melhor de tudo por enquanto tem sido o meu cabelo, estou amando ele! E eu que achava que ficaria feia loira?!

domingo, 5 de julho de 2009

Seis anos.

Semana passada fizemos seis anos, é a única data que comemoramos, pois foi o dia em que me pediu em namoro. Tenho dificuldade de lembrar as coisas e isso facilitou pois ele também. Mas não teve comemoração, não há o que comemorar...A quem tenho tentado enganar? Não sou feliz...tenho estado em estado depressivo há sete meses... Vario dias menos ruins, alguns até bons, mas outros péssimos. Preciso de ajuda eu sei. Já fiz seis anos de terapia no Brasil e tento praticar algumas coisas aprendidas neste tempo, mas está sendo difícil sozinha.
Minha amiga convidou-me ontem para ir com ela e os dois filhos ao festival do Panda e como já havia me comprometido fui. Estava nos primeiros dias do período e me sentia péssima para fingir qualquer coisa. Via todos a minha volta, muitas crianças, muita alegria, inocência e sorrisos, mas no gramado do estádio me senti completamente só. Como era possível? Sentia-me um naufrago a olhar para o oceano, um infinito vazio, agarrado aos despojos de meu sonho. Claro que chorei...Ela me fez a constatação óbvia do quanto estou emocionalmente desequilibrada. Fato que há muito tempo queria falar, mas ela também estava passando por um momento difícil e tive que eu lhe dar apoio. Ontem foi a vez dela. Chorei e chorei, falei, gritei...cheguei em casa e chorei mais umas horas...e ainda choro por qualquer coisa. Acho que pela primeira vez senti falta da minha mãe ou pelo menos de uma figura materna...alguém que me pusesse no colo e me passasse a mão na cabeça. Alguém que não me julgasse, apenas me escutasse calmamente e me dissesse que tudo ia passar. Que essas são as dores do crescimento, que as dificuldades vão ser ultrapassadas e que aos poucos ia entender isto e seguir meu caminho.
Ainda há muita revolta dentro de mim, muita raiva, muitas questões não resolvidas...Cheguei a ponderar em não fazer tratamento pelos próximos dois anos, prazo que quitaria todas as dívidas dele e que enfim poderia começar a construir a nossa vida. Mas já não sei se tenho forças para todo o processo de uma ICSI, para os homônios, para um possível negativo. Não sei se estou preparada para tudo outra vez...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Feriadão




Foi simplesmente maravilhoso!!! Saimos tanto, acho que pelo ano todo passado. Fomos às festas populares, a de Santo Antônio em Lisboa, ao festival do sorvete em Cascais. Comi um de arroz de leite muito bom!!!


Agora é suar a camisa e recuperar na academia essas calorias a mais!!!


Aí vai umas fotos da Festa na Alfama.


beijos


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Aprender a ser jovem


É engraçado olhar para trás e perceber que na verdade já nasci velha. Para quem acredita que só temos esta vida e que nada mais nos resta depois de terminado nosso tempo no mundo, é extremamente difícil compreender a sensação. Digo que já nasci velha, mas com a parte ruim, não a que a sabedoria nos trás com a velhice. Refiro-me à teimosia, ao apego à solidão, a idéia de que as coisas não mudam, a acomodação, o medo ou até desilusão pelos sonhos, a desconfiança pelo novo e pelos jovens. Tive um lado criança muito fugaz, um rápido brilho e digo até superficial. É "como" se já tivesse nascido com as regras de adultos e não interiorizei-as mais tarde, como difundiria Piaget. Meu sentido de responsabilidade sempre foi alto, nunca deixar as coisas para depois, extrema responsabilidade com o dinheiro, com os meus pertences. Vontade, ânsia de controlar tudo.

A Vida sempre tem os seus propósitos, tanto que casei com uma pessoa justamente o oposto de mim. Apesar de ser trinta anos mais velho, é do seu espírito jovem e sonhador que recebo um aprendizado diário. Obviamente é uma troca, pois tenho o que em certa medida ele também precisa balançar:os limites saudáveis.

Fiz seis anos de terapia no Brasil e aprendi muitas coisas, mas sigo aprendendo, lendo e cada vez mais me interesso por formas de ser mais jovem, de agir de acordo com a minha idade. Porém não é um sentimento que se possa forçar, ninguém muda da noite para o dia e a principal lição é a paciência. Um dos livros que li, sobre o perdão dizia: Seja gentil consigo mesmo, estamos sempre fazendo o melhor que podemos.

Ultimamente tenho sido mais flexível, apesar de ter um objetivo claro, permito-me desviar alguns passos para VIVER, sair, ir ao cinema, teatro. Ninguém sabe o dia de amanhã, se estaremos aqui...se o que eu mais me preocupei foram com as contas para pagar, com as prestações e restringi minha vida a isto, não dei valor às coisas que passaram no meu caminho, às amizades, ao meu companheiro, a minha família. E as contas ficaram, o mundo não vai parar de girar por minha causa e no fim só eu que perdi momentos únicos e deixei a felicidade passar ao lado. Eu não quero ser assim...

Não quero também me preocupar, me magoar ao perseguir um objetivo dos outros, ao tentar fazer alguém sentir orgulho de mim. Amem do jeito que eu sou, se não puderem eu não irei me esforçar para me encaixar nos planos que vocês sonharam para mim. É tão difícil dizer isso genuinamente, mas aos poucos estou construindo esta base de pensamento. Não tente agradar ninguém, faz o que achas certo, o que te faz feliz. Azar se vais ganhar pouco, se não vais ter sucesso aos olhos deles, se não vais ter o carro do ano, se não conseguires comprar o teu apartamento. Quero viver a vida pelos meus olhos, quero ser capaz de perdoar o que me disseram, quero poder sonhar à noite coisas boas e não reviver sempre momentos tristes e dizer coisas para magoar e sair magoada. Acho que cheguei em um ponto em que dizemos basta:

NÃO QUERO TER RAZÃO, EU QUERO É SER FELIZ.

Quero ter sonhos e acreditar neles, quero cair e me levantar e acreditar novamente.

Estou surda para aquela voz que me critica, me aponta o dedo e diz: não vais conseguir.

Estou mais leve, mais tranquila...e com muito mais esperança.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Tentações








Eu sei que o verão está quase á porta, mas comer com os olhos ainda não engorda!!! Achei estas fofuras e gostaria de partilhar. Se forem tão boas quanto são bonitas nossa!












sexta-feira, 22 de maio de 2009

Detalhes

Essa musica é uma das mais bonitas que já ouvi!!! Desde pequena quando nem sabia o que era amor, eu já me emocionava com ela ;)


A maré ruim passou...agora estou em um momento mais tranquilo, parei de bater com a cabeça na parede. Tem horas que temos que simplesmente deixar acontecer...deixar que seja o que a vida quiser... Parei de lutar contra ela, contra esses obstáculos, pois eles não passam disto mesmo. Procuro pensar se daqui a um ano esse problema vai me fazer alguma diferença e na maioria das vezes a resposta é não.

Fui á consulta e não me arrependo, foram 6 horas de viagem e 10 minutos de consulta! Mas gostei muito da dra., do hospital e dos portenhos! Muito bem humorados e queridos!! E vamos seguindo, em princípio o ttt vai coincidir com o meu primeiro, mas desta vez espero que seja em todos os sentidos COMPLETAMENTE diferente. Comecei semana passada com a acupuntura e vou fazer até novembro pelo menos. Então é isso...Seguindo em frente! Como diz o meu vô: Não podemos se entregar pros hôme, mas de jeito nenhum!!!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Estou cansada


Ultimamente as coisas tem dado erradas para mim...sinto como se a minha vida estivesse precisando de óleo para deslizar melhor...a cada passo que dou parece que ouço aquele barulho irritante de uma dobradiça seca.

Tenho consulta semana que vem no Porto, mas não tenho a mínima vontade de ir. Não tenho vontade de avançar, de me mover. Tenho medo. Às vezes penso se não seria menos doloroso simplesmente deixar as coisas passarem e esquecer.

Meu primeiro passo com a mudança está errado, como não consegui que os florais que iria tomar fossem feitos como uma receita, a minha mãe resolveu mandar do Brasil. Mas a encomenda foi pega na alfândega e após muito stress, soube que não há nada que possa fazer. Portugal não permite a entrada de remédios alternativos... Assim vai tudo voltar, as minhas blusinhas, o meu ovo de páscoa, os meus brincos...E ainda por cima eles vão pagar a volta! Como se não bastasse tudo isso a faculdade tem me dificultado o acesso a prova para maiores de 23, pois tenho curso superior no Brasil. Caso eles não aceitem vou ao ministério amanhã com um atestado deles e tentar completar a minha inscrição.

Eu acho tão engraçado as pessoas aqui...nos atendem com má vontade como se estivessem fazendo um favor. Fico indignada pois muitas vezes não sabem nada e posam de entendidas com a maior das petulâncias, nos deixando com a cara de bobo no balcão. Ai ai, um pouquinho de paciência por favor, será que deixam passar na alfândega??? E para aproveitar, uma dose de praticidade please!!!!

quinta-feira, 7 de maio de 2009



Mãe




eu às vezes posso não falar


tudo que sinto...


desculpa ter medo


de demonstrar minhas emoções


mãe...


estamos aprendendo ainda a ser amigas


estamos aprendendo a ser pessoas melhores


a nos apoiar e perdoar


Estamos a cada dia aprendendo a amar


nos conhecendo melhor.


Não importa o que passou


Eu te escolhi para ser a minha mãe neste mundo


E tu eras justamente o que eu necessitava


Desculpa muitas vezes te ter feito chorar,


não ter sido a filha que idealizaste.


Desculpa ter feito outras escolhas,


mas eu tenho que aprender pelos meus próprios pés


o meu caminho...


Aos poucos vamos nos tornando mais adultos


e passamos a nos responsabilizar pelos nossos atos


E eu entendo o quanto é difícil


tu assistires as dificuldades que enfrento


e não estar ao alcance de um abraço.


Mãe eu sei


que sentes essa distância


mas pensa que nunca fomos tão próximas quanto agora.


Mãe


é um papel neste momento


e agora eu sei que antes de ser mãe


também somos irmãs num plano Maior de Deus


Obrigada por ter naquele momento


dito sim a minha vinda!


Obrigada mãe!


O livro que mudou a minha vida


Não, eu não estou ganhando nada para fazer propaganda do livro. Há muito tempo queria escrever sobre isso, mas sempre tinha uma coisa, preguiça ou falta de inspiração ou os dois. Sempre acreditei que somos responsáveis por cada fato que acontece na nossa vida, somos herdeiros de nós mesmos. Isto mesmo, nada de culpar a genética pelos culotes, ou pela feiúra, por ser muito alto, pelas rugas aparecerem mais cedo que pensávamos.

Se temos tendência para engordar ou emagrecer isso já está escrito no nosso código genético desde que que fomos concebidos, mas nem isto acontece por acaso. Se me contentasse com essa explicação como ficaria a resposta a que muitos corpos deformados tenham vindo ao mundo sendo que quem ganha a corrida é o espermatozóide mais capaz e a gravidez viável é cuidadosamente selecionada pela natureza? Não, eu não me contento com essas respostas porque no fim de tudo, da ciência, chegamos ao acaso. E não acredito em acaso. Em tudo há uma ordem tão perfeita que não me é possível crer no vazio.

Mas eu ficava pensando e as doenças então? Hoje inclusive os médicos sabem que muitas doenças são ditas somáticas, ou seja de fundo emocional. E o que abriu as portas para as doenças emocionais é o tão famoso stress. Ele é o causador de muitas indisposições, dores de cabeça, gastrites, dores nas costas. Porque hoje o mundo anda maluco não? Todo mundo estressado, com pressa para chegar a lugar algum, como se a pressa fosse um subterfúgio para a ansiedade de não se ter objetivos nem prazer na vida. Como se...hum hum.

Então mais uma vez colocamos a culpa no mundo estressante em que vivemos. Ao responsabilizarmos algo exterior a nós, tiramos o nosso próprio arbítrio e baixamos os braços para o que não podemos mudar, senão conformarmos com o que temos ou somos.

Então eu categorizava as doenças assim: as somáticas (ou emocionais) e as doenças realmente físicas tais como o cancer ou a diabetes. O que esse livro me fez avaliar é que TODAS as doenças são emocionais e na hora eu levei um choque: então estamos nos auto-sabotando outra vez? Sim, o corpo não cria nada, ele é um mero instrumento, quem cria coisas boas ou ruins é a mente, somos nós.

Achei muito interessante a analogia que ela usa. Imaginemos um carro. Depois de andarmos muitos kms a luz vermelha que indica a falta de combustível acende. Pim. A doença aparece. E se simplesmente conseguíssemos um jeito de desligá-la e continuar andando como se nada tivesse acontecido? E seguimos por mais uns kms, no entanto o carro irá parar em algum momento, pois não é mais capaz de continuar sem gasolina. Agora a culpa é do carro ou é do condutor que foi insdipliscente e não tomou as providências necessárias para que tudo voltasse a funcionar normalmente?

As doenças são mais ou menos a mesma coisa: servem para nos alertar de que algo não está bem. Mas nós gostamos de ignorar os sinais do corpo e vamos ao médico e nos entupimos de remédios e desculpas e nos tornamos vítimas. Olha lá o coitadinho está com gripe, tá que nem pode abrir os olhos...

Ao nos medicarmos, estamos simplesmente apagando o sintoma e não a CAUSA. Ou seja a doença não é o nosso problema, a doença é simplesmente a consequencia do que criamos para nós, regando e alimentando pensamentos de culpa, raiva, medo, ressentimento. É só fazer um teste: pensa em uma pessoa ou uma situação desagradável. Pensou? Sentiu o peito apertar, o coração acelerar? O corpo não tem reações por si só, nós é que ativamo-lo para andar, falar, correr. Com isso não quero declarar uma guerra à medicina tradicional, acho que o ideal é o bom senso. Sim, vamos tratar a doença, mas também a "cabeça", vamos educar nossos pensamentos, repensar as nossas escolhas. Será que preciso carregar tanta raiva dentro de mim? Será que não estou dando força às celulas débeis de meu corpo e mais tarde vir a ter um câncer? Como posso ser uma pessoa mais leve, viver a vida com bom humor, com alegria? Ah e um remedinho muito bom: o perdão. A nós e aos outros. O esquecimento, o deixa pra lá... Eu sou uma pessoa muito dura, sempre julguei muito os outros e a mim mais ainda. Mas estou aprendendo aos poucos a ser mais leve, a aceitar a vida com amor. É difícil, tem dias que esqueço de tudo e ralho até com o espelho. Mas por outro lado colo bilhetes na geladeira com trechos do livro e procuro pensar um pouco nisso. Penso assim, se me condicionei tantos anos com pensamentos de baixa auto-estima e de desamor comigo e com o mundo, vou reprogramar o meu cérebro para outras coisas e desta vez ao meu favor. Ao invés de culpar a vida, vou tomar o meu lugar nela, ter responsabilidade pelos meus atos. Ah e o nome do livro já ia esquecendo: A linguagem do corpo - Cristina Cairo.

Boa leitura!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A Histeria Suína


Sim, agora é a onda da vez, ou a gripe da vez. Depois da das aves, antes passando pela vaca louca, etc. Pergunto-me porque as pessoas se preocupam tanto com isso? Vai morrer quem tiver que morrer, a quem a hora tiver chegado. Que se preocupem os médicos, os bacteriologistas, os biólogos, infecciologistas...Mas o que que a dona Marilice tem que ver com a gripe? Se nunca saiu da favela, se o máximo de estrangeiro com o qual teve contato foi um argentino?? Porque as pessoas tem tanta ânsia de doença, de preocupação? Porque a epidemia da ignorância é tão grande?

Às vezes dá até desânimo em ler ou ver qualquer jornal, seja daqui seja do Brasil...são só assaltos, mortes, corrupção, futebol. Será que o mundo é tão ruim assim? Será que não estão exagerando tudo, pois é isso que dá audiência? Acho tão engraçado quando alguma pesquisa é feita e só recebe uma notinha no jornal, ou quando acontecem exemplos bonitos de doação por parte de jovens, voluntariado, ou a expectativa de cura de uma doença. Toda hora acontece coisas boas no mundo, mas ninguém fala, ninguém sabe. De quem é o interesse que permaneçamos assim tão desiludidos, tão desesperançados com a vida? Quem sai ganhando com isso?

A doença: sempre lidamos com ela em qualquer parte da nossa história e triunfamos, tanto que estamos aqui. A peste negra, a aids, a gripe espanhola. E com muito menos conhecimento, muito menos recursos que agora. Acabei de escutar que devemos evitar até o beijo no rosto para não disseminar a doença...tsc tsc. Acho que as pessoas gostam dessa atmosfera de medo, sentem um certo prazer nisso. Lembra a minha madrinha que sempre vivera a doença em uma tal intensidade que esta se tornou o foco de sua vida. Tudo girava em torno de hospitais, médicos, remédios, exames. E quando tudo estava bem, era tomada de uma ansiedade que enquanto não houvesse nada para tratar não sossegava. Ela vivia em um estresse constante, uma luta em que o estar doente para ela se tornou a coisa mais saúdavel do mundo. E sabe o que ela tinha? Medo, medo de viver. Hoje ela já emagreceu 15 quilos e voltou a fazer planos de viajar, está muito mais bem disposta e alegre.

Será que está faltando isso para a humanidade? Abandonar o medo de viver, de ser feliz sem problemas, deixar que as doenças existam porque tem uma razão de existir. Cada coisa tem a sua responsabilidade na Terra. Nada acontecerá se não tiver de acontecer, se não atrairmos de certa forma o acontecimento, seja bom ou ruim. E se estivermos vivendo numa atmosfera de medo, da crise ou de doenças o que estaremos atraindo? Gostaria que isso fosse dito no jornal...quem sabe um dia?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Saudades...


Faz tempo que desejava escrever sobre isto, elaborar a minha perda... No fundo nunca perdemos, a simples ideia de perda remete à de posse e não somos donos de ninguém. O Espiritismo entrou na minha vida cedo, minha mãe me levava ao centro e aos domingos ia meio obrigada na evangelização dos jovens. No fundo também era uma medida desesperada para que eu aumentasse o meu pequeno círculo de amizades. Contudo aprendi que além de imortais, renascemos em outras famílias, com outros sexos para uma infindável experiência de auto-conhecimento e melhoramento moral. Tudo isso é muito bonito na teoria, mas quando um ente querido nos "deixa" é muito difícil esse processo de desligamento. Apesar de todo mundo saber que a morte é a única coisa certa na vida, e para nós a morte é simplesmente uma ilusão, significa apenas a morte do corpo, a dor e a saudade nos invade e nos sentimos meio perdidos em meio a tanto sofrimento.



Meu avô é uma pessoa muito especial para mim, foi o meu pai. Ele ia nas reuniões na escolinha e representava-o, sempre esteve presente, me levava aos passeios, à escola, ficava comigo quando ninguém mais podia. Eu sempre pensava, o dia que o vô se for eu vou ficar muito triste...mas achava que isso ia demorar muito, só quando ele estivesse beeeem velhinho o que não era o caso. O vô sempre foi muito ativo, gostava de trepar nos coqueiros, cortar grama, mexer no jardim e limpar a piscina. Não podia ficar um minuto quieto. Também tinha horror a hospitais, à exames, médicos e tudo que pudesse castrar a sua vontade de viver sem restrições. Foi justamente esse comportamento, além do trabalho estressante e do uso inconsciente de bebida alcóolica que o fizeram parar. Um câncer no pâncreas... Há muito tempo ele tinha quedas de glicose vertiginosas, mas não ia investigar. Comia uma banana e tinha sempre um sachê de açúcar. E quando a notícia veio foi devastadora...apesar da quimeo eu sabia que ele não tinha muito tempo, uns 3 ou 5 anos talvez. Mas foram dois anos. E eu acompanhei de longe, pois com o tratamento para engravidar as poupanças se esvaziaram. Em novembro do ano passado ele se foi...



Vou sempre lembrar em meio a tantos momentos felizes, da nossa despedida, quando vim para cá...Ele estava sentadinho no aeroporto e nos abraçamos e procurei não chorar. Vi que ele tinha ficado emocionado, pois nunca escondeu as lágrimas de nós. Se eu soubesse que era o último abraço, talvez eu tivesse prolongado um pouco mais. Talvez eu tivesse dito coisas que a gente tem vergonha de dizer quando estamos rodeados de gente. Talvez eu tivesse telefonado mais...mas ele sabe que eu o amo. Tento não chorar, mas às vezes bate uma saudade e lembro da hora que falei com a vó e ele estava indo para o hospital fazer a última operação. Estava muito magrinho, sem forças, mas tentando limpar a piscina. E eu não insisti com a vó para falar com ele. E foi a última vez...



Mas vô, eu quero que saibas que eu te amo, apesar de todos os defeitos que nós temos, das horas tristes em que me apoiaste, são daqueles domingos em que andávamos de bicicleta que mais lembro. São das horas em que ninguém me compreendia no meu namoro com um homem 30 anos mais velho que eu, que me deste a tua palavra de carinho. Nunca vou deixar de ser a tua "gringa", não vou deixar que se apague as preciosas lições que me ensinaste. E eu sei que ele está bem onde estiver e que qualquer dia vamos nos encontrar, em sonho talvez, e eu vou poder abraçá-lo como da última vez:



Quantas saudades vô...




Enquanto isso sigo sem acreditar...há dias que aceito e há dias que parece surreal. Sinto como se eu voltasse e ele estivesse lá para me esperar no aeroporto, com os seus cabelinhos brancos como se nada tivesse acontecido. É difícil dissociar a mente dessa espera. Mas o tempo é o melhor remédio, já se dizia há muito tempo. E talvez tenham razão.



Porque quero ser mãe?


Às vezes me pergunto quando passo por algum bebê ou uma mulher grávida e em uma fração de segundo vem aquele pensamento amargo de inveja. Quero tanto ter um filho, quero tanto ser mãe... Mas porque? Porque? Procuro explicações para além do instinto natural de preservar e transferir geneticamente minhas características. Além de conviver com aquele rostinho angelical, além de receber todas atenções quando estiver grávida, dos amigos, da família... Será por solidão? Será que é uma forma mais fácil de me adaptar e finalmente aceitar morar aqui? Será que é para provar para alguém (talvez para eu mesma) que já ultrapassei a adolescência? Será que é para não repetir os mesmos erros da minha mãe?

Minha mãe... É engraçado como só depois de separadas por milhares de quilômetros construímos uma relação. A minha mãe não foi do tipo carinhosa, daquelas mães corujas que elogiam e passam a mão na cabeça e nos dão colo quando precisamos. A minha mãe foi do tipo cobrar boas notas (o que no fundo não precisava), de ensinar como ser uma "boa menina", o que gerava muita frustração pois era como se houvesse sempre algo de errado comigo. Porém ela nunca me ensinou a ver as minhas necessidades, estava sempre focada no que os outros pensam, e se os outros agiam mal devia ter uma razão. Ensinou-me a entender o mundo e não a mim. A ser educada e isso dificultou-me a estabelecer limites e aprender a dizer não. Nunca conversamos, os abraços eram raros e só escutava ela falar com carinho de mim quando tinhamos visitas... Mas eu entendo, apesar de tudo, sabia que me amava, que se preocupava comigo e que esse era o jeito dela de ser mãe. Eu sei, seguimos mesmo sem querer os modelos paternos, sei que a minha vó também a educou dessa forma "prática" em que o carinho estava apenas subentendido entre um parco diálogo. E hoje depois de adulta consigo avaliar isso e ver tanto a minha vó, como a minha mãe como crianças-adultas, que no fim é o que todos acabam por se tornar quando crescemos.

De certa forma, era esse tipo de mãe que eu precisava, quem sabe por motivos que hoje não me são revelados, de acordo com o processo reencarnatório.

Por outro lado, tenho vontade de escrever outra história, começar a minha finalmente. Tem pessoas que não tem o desejo de ter filhos, seja por que são muito altruístas (os exemplos são raros), seja por medo ou egoísmo. No entanto creio que até o egoísmo em si, tem a sua vertente no medo. Li em algum lugar que quem não quer filhos nunca deixa de ser filho, não passa deste estágio e provavelmente não terá a oportunidade de experimentar o amor incondicional que este novo papel proporciona.

Voltando ao porque de ser mãe, acho que nunca é por um motivo só, não é só para completar o casamento, nem para partilhar momentos bons e ruins. Acredito que ser mãe para mim também significa um aprendizado, quero ser uma pessoa melhor, poder dar o exemplo e também aprender com ele. Sim porque tem pais que acham que só cabe a eles a educação, como acredito que temos várias vidas e as crianças são como nós, espíritos milenares, elas também tem muita coisa para nos ensinar. E eu quero ter a humildade de aprender com o meu filho também.

De qualquer forma esse já é um início de amadurecimento, quando alguém deseja que outro ser invada sua vida e ponha em xeque tudo o que aprendera, este é o momento de se desconstruir para poder se adaptar a uma nova realidade, a um sentimento de desapego total em que o nosso filho passa a ser o foco mais precioso do nosso amor. Com certeza a minha mãe não teve oportunidade de avaliar nada, quando viu eu já estava aqui. Não houve grandes reflexões de porque daquilo ou de outro, foi natural assim como foi para a minha vó e para a maioria das mulheres. O fato de não poder ter filhos naturalmente é que me põe a pensar nessas razões todas que talvez seriam desnecessárias... Porque ninguém está pronto para ser mãe, não há escola nem manual ou livros que substituam os erros de cada dia, as culpas e cobranças... Pelo menos já temos um começo (onde não errar) e o tempo faz o resto. O que é certo é que TODOS erram e inevitavelmente o nosso filho terá as suas frustrações, assim como nós. E quem sabe daqui a 20 anos estará escrevendo em um blog eheheh. O que importa é que em todo o momento estaremos fazendo sempre o melhor que podemos.
Eu quero ser mãe, quero fazer parte do ciclo da vida como todas as coisas da natureza. E como diz a música: quero um amor maior, amor maior que eu, que eu...

sábado, 11 de abril de 2009

Cidades


Cidades são esqueletos de concreto que falam, respiram e vivem enquanto alguém habita seu ventre. Cidades não tem personalidade por si só, não nascem, não crescem, não são abandonadas... Sei que parece óbvio dizer que são o simples produto do orgulho humano em vencer a natureza. Por isso acho estranho avaliar a beleza de uma cidade. Para mim são todas mais ou menos feias, com algum design é certo, mas no fundo são todas iguais...as igrejas, os prédios modernos disputando espaço com casas e construções antigas. Pensei nisso enquanto via o filme Paris com o meu marido, e a medida que os personagens passavam pela tela, parece que eram apenas uma desculpa para no fundo mostrar a sempre vaidosa, inquietante e onipresente Paris. Ao mesmo tempo via o fascínio dele a cada angulo da torre Eiffel, da Sacre Coeur, das ruas longilineas e largas como as artérias principais de um organismo. O sonho dele sempre foi morar em Paris. Confesso que nos três meses que ficamos lá por conta de uma formação dele, andava apreensiva. Apesar de gostar dos passeios como turista, não me agradava a idéia de me estabelecer naquele país.

Afinal o que tem as cidades então que nos causam esse turbilhão de emoções, beleza, medo, nojo, ódio ou prazer? Para mim o que a cidade esconde por trás de seu exército gelado são as pessoas. São elas as verdadeiras responsáveis pelo que sinto. É estranho mas a cidade que nasci é feia, muito feia. E digo isso com um pouco de dó como quem fala isso de um filho. Mas é feia. Tem um centro sombrio e com aparência suja, seu crescimento caótico se nota pelas ruas mal estruturadas da periferia, como Lisboa. Mas não tem esse brilho histórico... As pessoas passam pelos monumentos e prédios antigos indiferentes, ninguém tira fotos das igrejas ou de um jardim. No entanto gosto de passear por lá, ver o comércio, observar os vendedores ambulantes em sua constante luta pela sobrevivência e legalidade. As crianças saindo das escolas, os velhos com seu andar vascilante e reumático. As moças bonitas, os homens suados depois de um longo dia de trabalho. Gosto da gentileza, da organização para esperar o ônibus, dos universitários lendo livros gigantes e despreocupados com o balançar no percurso. Gosto de encontrar conhecidos e ficar com um sorriso nos lábios depois de seguir o meu caminho. Gosto de lá como não gosto de mais nenhum lugar. É lá que me sinto em casa, lá que nasci, cresci e gostaria de morrer. Se pensar bem há algo de melancólico em sua sobriedade, algo que não nos deixa partir, como se fosse um parente idoso desejoso que fiquemos um pouco mais.

Porto Alegre, meu porto. De alegre só mesmo o seu povo, que no fundo é o que importa... Paris, Lisboa, Berlim, Madri, Roma são todas cidades interessantes, erguidas há muitos séculos, com muita história para ser vista. Mas só mesmo Porto Alegre pode contar a MINHA história...

quarta-feira, 8 de abril de 2009




Acordei ontem com uma dor terrível, tinha a cabeça como se o coração lá estivesse a pulsar. Tinha sonhado que tinha recebido um exame de gravidez e nele o resultado: 288. Abracei a minha vó e sentia as lágrimas escorrendo mornas pelo nariz até chegarem nos lábios, parecendo doces de tanta felicidade. Mas acordei com uma tristeza profunda, com as dores tão conhecidas da menstruação. Senti uma irritação, uma agonia, vontade de gritar... Um dia ainda compro um saco de boxe para uma emergência destas.

Chorei no banho, deitei na cama e fiquei a olhar para o espelho sentindo pena de mim, raiva, humilhação... Nunca pensei que fosse tão difícil. Quando casei com o F achava que quando quisesse era só fazer um tratamento e ficaria grávida. Simples assim. Mas depois vi o quanto era caro, o quanto era complicado receber as notícias de gravidezes de minhas amigas, familiares... Depois me peguei a chorar mais que o habitual, eu que achava que era forte, levei uma rasteira tremenda... Não fosse pelo meu casamento ser quase perfeito, pelo meu maridinho ser a coisa mais doce, o meu melhor amigo e me sentir amada em todos os momentos, talvez já tivesse desistido e voltado para a minha terra. Sinto uma solidão imensurável aqui, talvez esse também seja um acréscimo ao desejo de formar uma família. Tenho poucos amigos, não trabalho e meu curso é só aos sábados. Ou seja, tenho muito tempo para pensar nisso. Portanto se der tudo certo, ainda este ano me candidato para outra faculdade e vou finalmente poder dizer aos outros: NÃO TENHO TEMPO. Desculpa, não tenho tempo para ficar com os teus filhos, não tenho tempo para fazer jantares aqui em casa, desculpa, mas não tenho tempo para falar agora...

Sei que tanta gente deseja precisamente o oposto, no entanto eu PRECISO não ter tempo, por outros objetivos na minha vida. Senão daqui a pouco vou é para um manicômio ehehe

segunda-feira, 30 de março de 2009

O Ferro-velho cap 9


Doze anos de silêncio

Uma rodela de limão derrotado, que mostrava as felpas de seu bagaço sobre a água do gelo derretido, entretia seu olhar. Passou a unha escrupulosamente pintada de cor-de-café pelo copo suado. Tinha algo de obsceno naquelas gotas do cilindro magro e comprido. A moça com o yorkshire passou mais uma vez, e já contara sete voltas das nove que dera. Distraíra-se com o céu azul, com o dia frio, porém ensolarado, raro de outono. Isaura descruzara as pernas (aquele sapato a estava matando) e desculpara-se ao roçar nas calças do marido. Ele olhou-a intrigado, pegou em sua mão novamente e continuou a fazer piruetas com seus dedos ossudos. Disse-lhe então, com muita delicadeza:
- Há três anos que me traz aqui nesse bar, que insiste em sentar na mesma mesa e cadeira, que olha para a torre e não me diz nada. Simplesmente olha para o céu, para tudo e não me enxerga. Quer falar alguma coisa difícil, eu sinto que quer, mas não diz, e confesso que tenho medo de ouvir, medo de que os lábios que aprendi a amar me refutem com palavras de fel. Porque, Isaura, porque o mesmo dia, o mesmo horário? Porque aqui? – por uns instantes ele mira-lhe os olhos negros, vê-se refletido em seu vazio, sente-se só, duplamente só. – escuta, estou preparado, diga o que quiser, vou entender: prometo. E se você... – Isaura interrompe-lhe com uma das mãos.
- Não é nada disso. Eu te amo, amo, sempre amei. Como você já sabe, é uma coisa muito difícil, é um segredo.
- Confia-o a mim, por favor.
- Não é tão simples...tenho medo.
- Nada feri mais que o seu silêncio. Acredite. – disse com tanta intensidade, carregando no erres (falava em português com ela para que não se sentisse tão deslocada naquele país), que ela cedeu às palavras e ao choro; pegou o caminho de volta àquela tarde quente de setembro.
- Nós tivemos um filho...um filho, Jean!! – ia cuspindo as palavras, em uma logorréia infinda. Falou-lhe de Romulo como nunca o dissera, não o poupara de nada, das surras, dos estupros com a garrafa de cachaça, da miséria em que criou o primeiro filho e finalmente da gravidez e do nascimento da filha, naquele dia. – durante todo esse tempo, nem ao menos sabia se fora indiscreta (Diabos, aquela gente com mania de sussurrar! Depois faziam filmes para escandalizar seus modos frios...), se levantara a voz ao expor sua podridão, mas se assim agira, não se envergonhava, por muito tempo envergonhou-se de suas lembranças. Quando se calou, pode sentir o olhar de Jean sobre ela, não o via, mas podia sentir mágoa, reprovação, perguntas desordenadas prestes a explodir em sua face. Ao invés da enxurrada de emoções, o marido limitou-se a uma pergunta, e talvez a tivesse escolhido a dedo, golpeando-a com os olhos azuis:
- Como pôde? – Isaura fitou-o exausta, tinha o ralo buço suado, as bochechas ruborizadas. Não tinha fôlego para mais nada, estava entregue ao seu julgamento. Com muito esforço murmurou:
- Você disse que ia perdoar...não importava o que fosse, disse que ia perdoar... – levantando-se da cadeira, Jean atirou com raiva as luvas de couro (ele sabia como a enfurecia andar com as mãos geladas, mãos tão magras aquelas!) sobre a mesa. Mas disse baixo:
- Durante todo esse tempo...como pode me esconder? Diz, como posso perdoar...é um filho, Isaura, um filho que você relutou em me dar e, estava lá, além do oceano, longe de mim... – pensou em ir, mas deu meia volta: precisava saber – Quanto tempo? Quantos anos?
- Doze... – sua voz saiu sumida, tinha a impressão de que só saíra a fumaça da respiração. E foi a última coisa que Jean escutou, depois disso virou-lhe as costas e correu em direção à Torre Eiffel como se esta fosse a esfinge que pudesse devorá-lo.
Isaura chorava, olhava ao redor e chorava, tudo a fazia chorar. Olhou para as mãos nuas do marido, ao longe, e chorava.

O Ferro-velho cap 8




Ônibus da meia-noite

Estava friozinho, as nuvens não se distinguiam do céu brumoso, movimentavam-se pesadas, assim como um caramujo arrastando-se no asfalto depois de um dia quente. O ar parecia mais leve, o barulho dos carros menos irritante e as árvores agradeciam aos transeuntes, ofertando suas flores e as que não as possuíam, deixavam cair as folhas mais belas, como se acreditassem que eles fossem os responsáveis por entardecer tão fresco.
Fazia tempo que os dias terrivelmente quentes predominavam naquele estado. Previa-se chuva para outros lugares, frio e às vezes até mesmo neve, mas ali continuava tudo igual: um quadro pintado por um artista insensato. E as pessoas que atravessavam as ruas esburacadas e repletas de remendos, os cachorros vira-latas que enfrentavam o trânsito, o motorista que os xingava e as crianças que jogavam bola no campinho, eram personagens a se movimentar no espaço daquela tela infinita.
Mas parecia que ia chover...que alegria! Os meninos sequer interromperam a brincadeira, as moças se escondiam em suas pastas e as velhas de pernas cambotas, tentavam correr com suas sacolas de feira inutilmente. Alguns paravam seu caminhar e quedavam-se a contemplar o chuvisco tímido molhando as calçadas sujas. Um homem já maduro, ria como criança, na chuva, mostrando os dentes cariados ao sentir a água gelada tocar em sua careca.
Josué observava de dentro da rodoviária, sentado no banco de um bar, tomando café e mordendo um pastel de carne pingando a óleo. Estava calmo, com os olhos absorvendo a paisagem urbana, rindo sozinho das pobres senhoras de cabelos longos e grisalhos. Deu vontade de gritar: “não foge irmã, essa chuva foi Jesus que te mandou! Ele voltará!”.
Havia perguntas que nunca fizera na escola: “de onde vem a chuva, professora?” De repente ficou sério, o machucado ardeu pelo retesar dos lábios: era muito grande para fazer essas perguntas ingênuas. Levantou-se dali e colocou nas costas a bagagem, tocou na cabeça de uma menina que tomava suco, quis machucá-la, mas com expressão seca, deu-lhe os últimos trocados que estavam em seu bolso. Não vira seu sorriso.
Ficou a ler com dificuldade as manchetes na banca de revista enquanto aguardava o ônibus. O relógio pendurado à parede estava parado, e ele tinha vergonha de pedir as horas ao dono da tabacaria. Via com certa agonia o homem consultá-lo a todo momento. Talvez sua esposa o estivesse esperando em casa e os filhos o abraçassem quando abrisse o portão. Josué daria qualquer coisa para saber que horas eram. Tentou se concentrar no ruído da chuva batendo no caletão. Era uma música tranqüilizante, viajou em sua dança ritmada pelo vento. Tinha os olhos cerrados quando alguém o tocou no rosto. Agarrou fino braço, sobressaltado, pensando estar sendo roubado, e olhou perplexo para a menina do bar a sua frente.
- O que você quer?
- Calma! Eu também to esperando o ônibus. – apontou com a cabeça para o box vinte e três.
- Você vai naquele?
- É, você também, né? – ele soltou-a.
- Desculpe, eu me assustei. Não faça mais isso.
- O que você fez aqui? – apontou para seus lábios.
- Nada. Um machucado besta. – rosnou contrariado.
- Quer um chiclé?
- Não.
- Porque me deu dinheiro?
- Achei que precisaria. E você, porque veio até esse banco?
- Tome, achei que precisaria. – disse rindo ao lhe devolver a carteira de identidade, amassada entre os trocados que lhe ofertara.
- É perigoso andar por aqui sozinha. Onde estão seus pais? (tomou com a avidez de um egoísta as notas e a carteira de suas mãos).
- Minha tia vai estar esperando quando eu chegar lá.
- Parece que já são meia noite – Josué bocejou ao ver o ônibus estacionar. . vamos, pega suas coisas.
- Só tenho essa mochila.
- Isso tá me cheirando a criança fugida.
- Não se preocupe, moço. Não sou mais criança, já tenho doze.
- É...com sua idade eu também não era. – disse-lhe colocando suas tralhas no bagageiro e entrando para procurar seu banco. – poltrona dezessete...dezessete...aqui.
- Vou sentar do seu lado, o ônibus da meia-noite nunca enche. Mas vou na janela! – e mais que ligeiro pulou para o seu lugar antes que Josué pudesse dizer qualquer coisa. Colocou a mochila cor-de-rosa sobre as pernas e sorriu-lhe satisfeita. Josué com o rosto amarelado pelas luzes irritantes de leitura, relutante, sentou-se pesadamente, desejando se livrar de sua inquieta companhia. Castigava a cadeira por sua brabeza, apertava-a, espremia-a contra suas costas. Não falou nada. Saíram da cidade, adentraram a BR e ele mudo, testa franzida. Via com o canto dos olhos ela fitá-lo incessante, buscando um momento de distração sua para iniciar a tagarelice. O pior era que não conseguia relaxar sentindo-se observado, se mexia, apertava as pálpebras, procurava esquecê-la. De repente ouviu:
- Meu nome é Virgínia e o seu?
Fingiu dormir. Fingiu que não escutava voz nenhuma, que não estava sobre a estrada, que não existia mais nada além da irmã se agarrando em suas pernas, implorando para que não a abandonasse naquele sítio. Seria melhor para ela que a deixasse. Pedro cuidaria bem dela, era um bom rapaz. Mas como era triste a sina dos homens: não sabem amar sem prender o que amam. E agora lembrava das flores roubadas de jardins alheios: antes que murchassem, eram atiradas em um lixo qualquer. Alina era assim? O que restara de suas pétalas vistosas poderia ser largado, banido de seu pensamento? Ou era a ela mesma que beneficiaria com a ausência de um irresponsável que não sabia diferenciar sexo de amor? Mas ele sabia que era tudo para Alina. E sabia que ela o perdoara e continuara a lhe corresponder as carícias, mesmo consciente de que o que faziam não era certo.
Desembarcou sonambúlico, tudo o que fazia se tornava parte de um sonho, a mala que escorregou do bagageiro para suas mãos, o ruído dos grilos, a mão da menina abanando, acompanhada de uma mulher que mais parecia dona de prostíbulo. Precisava ver a irmã, carregá-la para o destino de um incestuoso incorrigível (isso porque não se pode mudar o curso de um sentimento: são como oceanos que se encontram, as águas frias da razão vencidas pelas águas quentes do desejo).
Caminhou sendo seguido pelos sons da noite, a trilha de chão batido, o mato espesso cobrindo suas bordas, um que outro farfalhar, olhava somente a luz da lua que carregava em suas mãos: a lanterna lá de cima, estava com as pilhas fracas de Deus.

O Ferro-velho cap 7


Alina e o bebê


Amanheceu um dia lindo, a carícia de uma brisa brincava, balançando as copas das árvores, que por sua vez, acordavam os ninhos de joão-de-barro e as lagartas preguiçosas em seu arrastar costumeiro. Como a natureza era maravilhosa! Como suas leis eram belas e perfeitas, não esquecendo nenhum ser vivo em suas mãos ditosas! Alina aprendera que Deus fizera a natureza e que também fizera o homem, seu irmão, para zelar pela sua manutenção. Mas o irmão era relapso, egoísta e acomodado: queria somente o que ela lhe oferecia sem nada dar em troca...
Porque Deus não fizera o homem como a natureza, belo e perfeito? “Porque Deus lhe dera o livre-arbítrio, a oportunidade de livre escolha”, elucidava a vó Pedra, sua vizinha. Tinha mania de falar difícil, uma linguagem de livros, talvez dos livros que ela tirava essas coisas tão curiosas...e Alina seguia com suas perguntas: “e porque o homem sempre escolhe o mal?” “nem todos escolhem o mal, e minha filha, talvez seja porque este lhes pareça o caminho mais fácil, mais agradável às coisas passageiras....mas nem todos se iludem, nem todos”...Retrucava a senhora, plena de convicção. Alina ficava quieta, guardando para si as dúvidas sem respostas satisfeitas e inventando para elas as que lhe parecessem mais aceitáveis. Pensava: “são as pessoas que não conseguem viver em paz, no fundo, ninguém quer ficar em paz...”.Enquanto vó Pedra a afastava do corpo de uma mulher que sucumbira a uma bala perdida. A poucos metros, atravessava um moleque de costelas translúcidas com a sacola de compras que a morta deixara.
O rapaz magricela interrompeu seu divagar:
- Teve uma boa noite?
- Sim...eu estava aqui pensando numa coisa...
- Diga, minha flor.
- É que... – Alina passava uma flor de ipê roxa pelas canelas e pés, uma flor que juntara do chão. – é que você acha que vai doer? – falou com a cabeça baixa, constrangida.
- Doer o que?
- Você sabe, o bebê.
- Eu não sei...não sei, sinceramente... – Pedro tinha em mente a cena de um filme, só lembrava de que tivera que baixar muito o volume, a atriz se esganiçava na tela muda, as pernas incrivelmente abertas: humilhação e dor.
- E depois que ele nascer, você acha que o Josué vai dar atenção só pra ele? – Nesse momento ela virou-se e encarou-o com os olhos cinzentos rasos d’água. O rapaz ficou por alguns minutos assobiando e afagando seus cabelos louros, até perceber que ela chorava de mansinho.
- Não criança. Não, o Josué não vai deixar de gostar de você só por causa dele. – olhou para seu ventre sorrindo e continuou a assobiar. – bem, acho que estou com fome: vou fazer um café para nós três.
Alina levantou-se sacudindo as folhas grudadas em seu vestido e se pôs a caminhar pelo sítio. Pedro a observava da janela do trailler, enquanto passava manteiga no pão. Sentia pena dela...sentia vontade de poder amenizar um pouco seu sofrimento que parecia-lhe adulto demais para aquele corpo. Mas a vida era assim mesmo...Ficou imaginando-a com um neném nos braços e já não tinha tanta certeza sobre o que dissera algum tempo atrás...Talvez Josué perdesse sua consideração de irmão mais velho e responsável por ela (“o crime fazia, como os santos, milagres”), e talvez também nem sequer voltasse.
A mocinha entrou faceira quando ele a chamou.
- Que felicidade toda é essa?
- Eu estava escolhendo o nome pro bebê...que você acha de Carina se for menina e Fabrício se for menino?
- São bonitos... – disse-lhe aliviado pela sua alegria.
- Não, melhor: se for menino, vou chamar ele de Pedro! – seu entusiasmo parecia indicar a descoberta do nome certo para uma boneca nova.
- Você gosta do meu nome?
- Gosto de ti. – mordeu o sanduíche e brilharam-lhe os olhos melífluos. Pedro riu também, sem coragem para refletir sobre o que ela dissera.
À noite em sua cama estreita e desconfortável, matutava sobre o que faria caso o amigo não viesse. Pensou, pensou e acabou por dormir cansado, sem achar solução.
Pedro acordou assustado com os gritos de Alina. Todo suado, levantou-se o mais rápido que pôde para acudi-la, ainda meio sonolento e sem entender o que acontecia...Achegou-se no sofá onde ela dormia, e deu com seus lençóis ensangüentados e Alina chorando desesperada: era triste a cena da menina agarrada em sua boneca, tremendo de dor e medo pelo ser que esperneava em suas entranhas. Ela agarrara-se nele, em sua camiseta de física empapada e seus dedinhos comprimiram os ombros de Pedro, enquanto ela toda se sacudia em soluços de pavor. Ele tinha que pensar depressa, na hora, não lhe ocorreu de pegar uma bacia com água fervente, nem panos, nem nada. Só lembrou-se (como no filme) de deitá-la e abrir-lhe as pernas à força, a medida em que gritava para respirar fundo e empurrar...empurrar...empurrar...
Alina não conseguia. Fraquejava, tinha náuseas e febre...As lágrimas lhe caíam viscosas pelo rosto vermelho e molestado pelos cabelos desgrenhados. Pedro exasperava-se: via já a cabeça da criança que sufocava, presa, sem entrar novamente, nem sair para a vida que se fazia mais distante do que os centímetros que faltavam.
O rapaz pegou a tesoura de jardineiro que encontrara em cima da pia para lavar, ainda suja da terra, e assim mesmo, cortou o cordão umbilical. Não pode descrever o que sentia...o que sentiu ao pegar aquela coisinha minúscula, de mãozinhas delicadas, de crânio mole, mole. Não dera um vagido: os lábios de um natimorto eram o retrato da desistência, eram o cru sentimento da desistência, misturado com uma certa descrença nas leis naturais, tão vã fora sua preparação no corpo materno. E ele o pegou ainda quente do útero, saiu correndo antes que Alina estranhasse a ausência de seus gritos de protesto pela claridade e frio, com o cuidado de quem acreditava na possibilidade de uma ressurreição. Cavou uma cova rasa, evitando olhar para seu sexo. Natimortos não tem sexo: de que adiantaria pensar em nomes, em planos, se a morte os atropelou relembrando ao homem o seu grácil lugar no mundo? Depositou a terra sobre seu corpo, a princípio com medo de feri-lo, tornou-se aos poucos, impaciente com sua pieguice. Mas ao cobrir o rostinho de feições miniaturais, sentiu uma irreprimível vontade de urrar, e o fez com tanta dor e agonia que os cachorros o cheiraram e puseram-se a uivar também como doidos. Pedro acordou do pesadelo com lágrimas nos olhos e o travesseiro úmido, espiou Alina que ressonava e foi à cozinha beber água: tinha a boca seca como se tivesse gritado a noite toda.

O Ferro-velho cap 6


O acordo


- Este quarto não é o mesmo sem o espelho.
- O que houve com o espelho?
- Quebrou, filho, quebrou... – o jovem permanecia em pé olhando para a mão esquerda do homem à sua frente. Ela estava enrolada em uma atadura manchada de sangue enegrecido. Ele agia com cautela: “esse homem é louco...quebrou o espelho, desfigurou o próprio rosto...”
- Chegue mais perto, filho.
- Mas nós já não tínhamos tratado?... – estava com medo daquela voz rouca, mas demonstrá-lo seria o mesmo que assinar sua sentença de morte.
- Mas ainda não falamos de uma coisa...
- Acha que não estou apto para o serviço?
- Certamente que está.
- Não estou entendendo...aonde quer chegar?
- Você é bonito... – ele aproximava seu rosto da luz.
- Eu não...
- Psshhh... – silenciou-o – não reparou uma coisa em meus homens?
- N-não...o que...nãoooooo!!!
- Segurem-no rapazes.
O homem passou a mão machucada com delicadeza em suas bochechas, em seus olhos, em seus lábios. O jovem prendia a respiração a cada vez que saia da ferida o cheiro de sangue seco que tanto detestava, e fechava os olhos com receio de abri-los novamente. Ele aproximou-se o máximo possível e sussurrou-lhe:
- É que todos tem os lábios cortados! – disse isso e desferiu um violento e certeiro golpe. Depois ergueu a lâmina espelhada e tingida de sangue, revelando-a aos que assistiam à cena. – isso é para recordarmos de que o silêncio é sempre a melhor opção. Lembre-se de que somos uma família. Você é um dos nossos agora. Vai, pode ir.
Os capangas o soltaram de volta no chão. Ele saiu correndo, sem olhar para trás, apavorado com o sangue que escorria de maneira vertiginosa. Corria com dois dedos no corte e os outros na boca para estancar sua ânsia de vomitar. Pensou em ir para o hospital, mas era muito arriscado, decidiu por subir o morro, no terreiro de seu Afonso, ele cuidaria daquilo, pois suas ervas nunca decepcionaram.
Estava uma noite fresca e estrelada. A lua escondia-se por entre as nuvens que mais pareciam vestígios de fogos de artifício de tão tênue que era seu circular vaporoso pelo céu de ébano.
Eram oito e meia e podia-se ver o movimento de ir e vir dos moradores ou para o culto evangélico, ou para a umbanda e candomblé ou mesmo para o “Deus me acuda” de mais uma noite no desvio do crime.
Ele adentrou no terreiro calado. Não sem antes encarar a santa de rosto pintado de rubro, parada à porta, que tanto o assustara na infância. Assim ficou durante quase toda a cerimônia, os olhos baixos com nojo daquela gente que girava como lençóis de pontas sujas pela lama: assim eram os pés negros dançando ensandecidos ao ritmo de tambores. Josué tinha ainda os olhos baixos quando seu Afonso sentou-se ao seu lado. Ao ouvir que o banco de madeira descascado e repintado rangera, o rapaz buscou incansavelmente os olhos do velho. Tremia e suava de febre; sentia frio e medo, muito medo. No fundo desconfiava que nem mesmo ele pudesse ajudá-lo. Desejava que sua voz grave como devia ser a voz de sua consciência muda o estremecesse como aconteceu naquele instante:
- Que tu tá fazendo aqui fio?
- Eu estou precisando de ajuda...
- Ôcês só vem quando percisa... – falou sacudindo a cabeça branca como a entender a desobediência dos jovens. – mas duma coisa vô ti avisá, fio: si veio aqui pra pidi remédio pro corpo o pai José tem, mas pra alma...essa só a cossciência limpa podi curá...
- Eu estou com muito medo...
- Nóis não podi interfiri em nada. O fio já escoieiu o camino dele e não podi mais vortá atrais.
- Me ajuda pai José... – falou baixo prestes a chorar.
- Toma, isso aqui vai resorvê – falou ignorando seu arrependimento. O velho puxou alguns ramos de folha da camisa surrada e deu-lhe – é pra passá antes de deitá.
- Não vou conseguir dormir...
- Fio – o preto mirou-o nos olhos firmemente com suas órbitas amareladas e repletas de vazinhos ( Josué daria tudo para se perder naquelas ruelas e esquecer o que o trouxera até ali); depois tocou a ferida, analisando-a e, parecendo ver o que ninguém percebia, fez com que parasse de sangrar. – isso aqui os home do cosa ruim botaram em ti. Isso qui não se apaga...só cá morte. Ôcê tem medo di morrê, fio?
- Eu não sei...
- Pensa na minina. Tira ela do caminho do cosa ruim. Tu deve de sabê porque tô ti dizendo, tu não é burro, causa di que tu imbarrigô ela i ninguém disconfiô.
- Ela tá bem?
- Nóis tá mió cá nossa sombra que se tivesse com quem nóis ama.
Pai José retirou-se para atender as pessoas que o aguardavam e deixou-o largado as próprias dúvidas, como um menino analisando a profundidade de um lago turvo. Nada mais disse a Josué, que sem forças, observou sua corcunda desaparecer na multidão branca sacudindo-se no terreiro de chão batido. Foi embora triste, a cabeça cheia de sons acusatórios. Sentiu que a santa o encarava pelas costas, em sua casinha vermelha, envolta em velas e flores. Tinha medo e raiva daquele sorriso. Sorriso cínico. Mas era só uma imagem...e imagens nada podem fazer. Pior eram os seus “filhos” que andavam por aí. E era talvez disso que ela ria...

O Ferro-velho cap 5


Acerto de contas


Ele chegou no balcão do bar e pediu o trago mais forte que tivessem. Precisava tomar coragem, ir em frente sem fraquejar: a cachaça é o remédio dos fracos...Mas ele não se achava um. Remangou o punho sujo, cuspiu o resquício da bebida e aproximou-se do homem que estava na outra extremidade. Havia cheiro de sangue no ar, todos sentiam. Aprenderam com a experiência e as cicatrizes...e quem não as tinha? Devagar, foram se afastando, abrindo espaço para a confusão que tomara conta daquela espelunca.
Seus passos eram amortecidos pelo rádio mal sintonizado. Ele seguiu lentamente, como uma leoa certa de seu triunfo sobre a caça. Armou o canivete e degolou-o. Seu pai caiu sem soltar o menor gemido. Parecia que já o esperava, parecia saber que aquela discussão à noite passada não iria ficar por isso mesmo. Sua imobilidade era mais perturbadora do que se tivesse tentado reagir. Mas quem era ele para o impedir de entrar em casa, para dizer o que bem entendesse? Um bêbado...um aleijado...Seu corpo estendido abrandou a raiva do filho, que saiu sob os olhares dos fofoqueiros. Emudecidos, estes, se convenceram do assassinato “justo”, fora por honra, sabiam que aquele traste não valia nem os chinelos que calçava...
Tomou o caminho de casa antevendo o que pegaria para levantar uma “grana”. Vida nova eram as palavras que surgiam em seu pensamento como luzes em néon, promessas de uma vida de prazeres, mas que sabia, no fundo, não ser muito diferente dessa.
Ao chegar perto do casebre, bateu de frente com Marcinha que lhe olhou curiosa com uma pergunta no rosto maquiado. “Andava na zumba, moleque?”. mas não disse nada. O travesti passou discreto, com a cabeça baixa, deixando um rastro de glitter colorir a poeira habitual. “Zumba”, é claro que eles achavam que estava na “zumba”, uma espécie de exilo quase voluntário se é que dá para entender...Está zumbado quando se dá um furo, quando se volta atrás no que fora prometido, e principalmente quando quem se prejudica pela besteira é alguém respeitado pelo morro. Mas graças a Deus ele não estava zumbado: seus motivos se estendiam além do que almas curiosas poderiam especular.
Esperou que Marcinha se afastasse para derrubar a porta de casa, pois o pai tirou-lhe a chave na última briga que tiveram. Um ruído opaco se seguiu. Não foi preciso muito esforço: estava ficando cada dia mais forte e os cupins juntamente o ajudaram. Era uma pena encontrar a casa naquele estado, suja, abandonada...Quando sua mãe ainda morava com eles isso nunca aconteceu. De repente sentiu saudades dela e imaginou aonde ela poderia estar...Recordou-se do bolo de cenoura que ela fazia tão bem...mas não conseguia sentir mais seu cheiro como na infância, ele apagava-se aos poucos de sua memória.
Enquanto fazia as trouxas com o que conseguira arrecadar, via Alina correndo por entre suas pernas, rindo, arrastando sua boneca de pano. Ele pegou-a em pensamento e saiu por aquela porta carregando-a na garupa, em direção à mesa de fla-flu que seus amigos freqüentavam, como tantas vezes fizera. Lembrou-se ainda das fraldas que trocou com nojo e do choro que o acordava toda santa madrugada. Às vezes passava a noite sentado na cama, com a vela acesa sobre o criado-mudo, afagando sua cabecinha, acalmando os gritos de indignação pelo abandono materno. Tinha gana de contar para a mãe que ele não tinha obrigação de fazer aquilo, e que apesar de gostar dela, desejou ardentemente que Isaura a tivesse levado.
Ele foi pai aos nove anos. E isso o marcou de maneira profunda: não tinha tempo para brincar nem estudar, largara a escola ainda com a terceira série incompleta, e foi para as ruas, pois elas davam mais lucro do que um emprego decente. A irmã, muitas vezes um peso em sua vida, foi o que amenizara sua falta de sorte. Sentia-se recompensado, quando após tanto esforço para mantê-la alimentada e vestida na medida do necessário, recebia um terno sorriso de agradecimento e, mesmo dizendo-lhe que era seu “irmãozinho grande”, a menina não pode evitar nos primeiros anos, em chamá-lo de pai.
Colocou as duas trouxas nos ombros e deixou a casa. O olhar de reprovação e deboche do pai iria ficar para trás, como a porta derrotada da maloca. Todos pensariam que Romulo fora o responsável pela gravidez de Alina e dariam razão pelo crime cometido e, não somente isso, como também o esqueceriam em meio a tantas tragédias que preenchem seus dias. Na realidade, não tinha necessidade de matá-lo, o próprio tempo se encarregaria disso, contudo, ser comparado a ele era inaceitável, e jurara que assim o faria quando retornasse.
A terra seca grudava-se nas vestes, nas sandálias, na cabeça... Talvez por isso aquela gente fosse tão violenta e tão seca. A terra impedia de pensar, a terra sufocava, irritava tanto que quando alguém tinha dor de cabeça, se dizia que estava com terra (minúsculas pedrinhas) roçando no cérebro...E só quem a tinha entranhada nas narinas todos os dias, sabia da conseqüência funesta. E quando chovia ao invés de melhorar, piorava: o barro se colava nas pernas e tornava o caminhar mais odioso e pesado. Uma velha com os lábios escondidos nas gengivas, resmungou da sua janela ao vê-lo praguejar: “não embrabece meu filho, um dia, é essa terra que te carregará”...