quarta-feira, 29 de abril de 2009

A Histeria Suína


Sim, agora é a onda da vez, ou a gripe da vez. Depois da das aves, antes passando pela vaca louca, etc. Pergunto-me porque as pessoas se preocupam tanto com isso? Vai morrer quem tiver que morrer, a quem a hora tiver chegado. Que se preocupem os médicos, os bacteriologistas, os biólogos, infecciologistas...Mas o que que a dona Marilice tem que ver com a gripe? Se nunca saiu da favela, se o máximo de estrangeiro com o qual teve contato foi um argentino?? Porque as pessoas tem tanta ânsia de doença, de preocupação? Porque a epidemia da ignorância é tão grande?

Às vezes dá até desânimo em ler ou ver qualquer jornal, seja daqui seja do Brasil...são só assaltos, mortes, corrupção, futebol. Será que o mundo é tão ruim assim? Será que não estão exagerando tudo, pois é isso que dá audiência? Acho tão engraçado quando alguma pesquisa é feita e só recebe uma notinha no jornal, ou quando acontecem exemplos bonitos de doação por parte de jovens, voluntariado, ou a expectativa de cura de uma doença. Toda hora acontece coisas boas no mundo, mas ninguém fala, ninguém sabe. De quem é o interesse que permaneçamos assim tão desiludidos, tão desesperançados com a vida? Quem sai ganhando com isso?

A doença: sempre lidamos com ela em qualquer parte da nossa história e triunfamos, tanto que estamos aqui. A peste negra, a aids, a gripe espanhola. E com muito menos conhecimento, muito menos recursos que agora. Acabei de escutar que devemos evitar até o beijo no rosto para não disseminar a doença...tsc tsc. Acho que as pessoas gostam dessa atmosfera de medo, sentem um certo prazer nisso. Lembra a minha madrinha que sempre vivera a doença em uma tal intensidade que esta se tornou o foco de sua vida. Tudo girava em torno de hospitais, médicos, remédios, exames. E quando tudo estava bem, era tomada de uma ansiedade que enquanto não houvesse nada para tratar não sossegava. Ela vivia em um estresse constante, uma luta em que o estar doente para ela se tornou a coisa mais saúdavel do mundo. E sabe o que ela tinha? Medo, medo de viver. Hoje ela já emagreceu 15 quilos e voltou a fazer planos de viajar, está muito mais bem disposta e alegre.

Será que está faltando isso para a humanidade? Abandonar o medo de viver, de ser feliz sem problemas, deixar que as doenças existam porque tem uma razão de existir. Cada coisa tem a sua responsabilidade na Terra. Nada acontecerá se não tiver de acontecer, se não atrairmos de certa forma o acontecimento, seja bom ou ruim. E se estivermos vivendo numa atmosfera de medo, da crise ou de doenças o que estaremos atraindo? Gostaria que isso fosse dito no jornal...quem sabe um dia?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Saudades...


Faz tempo que desejava escrever sobre isto, elaborar a minha perda... No fundo nunca perdemos, a simples ideia de perda remete à de posse e não somos donos de ninguém. O Espiritismo entrou na minha vida cedo, minha mãe me levava ao centro e aos domingos ia meio obrigada na evangelização dos jovens. No fundo também era uma medida desesperada para que eu aumentasse o meu pequeno círculo de amizades. Contudo aprendi que além de imortais, renascemos em outras famílias, com outros sexos para uma infindável experiência de auto-conhecimento e melhoramento moral. Tudo isso é muito bonito na teoria, mas quando um ente querido nos "deixa" é muito difícil esse processo de desligamento. Apesar de todo mundo saber que a morte é a única coisa certa na vida, e para nós a morte é simplesmente uma ilusão, significa apenas a morte do corpo, a dor e a saudade nos invade e nos sentimos meio perdidos em meio a tanto sofrimento.



Meu avô é uma pessoa muito especial para mim, foi o meu pai. Ele ia nas reuniões na escolinha e representava-o, sempre esteve presente, me levava aos passeios, à escola, ficava comigo quando ninguém mais podia. Eu sempre pensava, o dia que o vô se for eu vou ficar muito triste...mas achava que isso ia demorar muito, só quando ele estivesse beeeem velhinho o que não era o caso. O vô sempre foi muito ativo, gostava de trepar nos coqueiros, cortar grama, mexer no jardim e limpar a piscina. Não podia ficar um minuto quieto. Também tinha horror a hospitais, à exames, médicos e tudo que pudesse castrar a sua vontade de viver sem restrições. Foi justamente esse comportamento, além do trabalho estressante e do uso inconsciente de bebida alcóolica que o fizeram parar. Um câncer no pâncreas... Há muito tempo ele tinha quedas de glicose vertiginosas, mas não ia investigar. Comia uma banana e tinha sempre um sachê de açúcar. E quando a notícia veio foi devastadora...apesar da quimeo eu sabia que ele não tinha muito tempo, uns 3 ou 5 anos talvez. Mas foram dois anos. E eu acompanhei de longe, pois com o tratamento para engravidar as poupanças se esvaziaram. Em novembro do ano passado ele se foi...



Vou sempre lembrar em meio a tantos momentos felizes, da nossa despedida, quando vim para cá...Ele estava sentadinho no aeroporto e nos abraçamos e procurei não chorar. Vi que ele tinha ficado emocionado, pois nunca escondeu as lágrimas de nós. Se eu soubesse que era o último abraço, talvez eu tivesse prolongado um pouco mais. Talvez eu tivesse dito coisas que a gente tem vergonha de dizer quando estamos rodeados de gente. Talvez eu tivesse telefonado mais...mas ele sabe que eu o amo. Tento não chorar, mas às vezes bate uma saudade e lembro da hora que falei com a vó e ele estava indo para o hospital fazer a última operação. Estava muito magrinho, sem forças, mas tentando limpar a piscina. E eu não insisti com a vó para falar com ele. E foi a última vez...



Mas vô, eu quero que saibas que eu te amo, apesar de todos os defeitos que nós temos, das horas tristes em que me apoiaste, são daqueles domingos em que andávamos de bicicleta que mais lembro. São das horas em que ninguém me compreendia no meu namoro com um homem 30 anos mais velho que eu, que me deste a tua palavra de carinho. Nunca vou deixar de ser a tua "gringa", não vou deixar que se apague as preciosas lições que me ensinaste. E eu sei que ele está bem onde estiver e que qualquer dia vamos nos encontrar, em sonho talvez, e eu vou poder abraçá-lo como da última vez:



Quantas saudades vô...




Enquanto isso sigo sem acreditar...há dias que aceito e há dias que parece surreal. Sinto como se eu voltasse e ele estivesse lá para me esperar no aeroporto, com os seus cabelinhos brancos como se nada tivesse acontecido. É difícil dissociar a mente dessa espera. Mas o tempo é o melhor remédio, já se dizia há muito tempo. E talvez tenham razão.



Porque quero ser mãe?


Às vezes me pergunto quando passo por algum bebê ou uma mulher grávida e em uma fração de segundo vem aquele pensamento amargo de inveja. Quero tanto ter um filho, quero tanto ser mãe... Mas porque? Porque? Procuro explicações para além do instinto natural de preservar e transferir geneticamente minhas características. Além de conviver com aquele rostinho angelical, além de receber todas atenções quando estiver grávida, dos amigos, da família... Será por solidão? Será que é uma forma mais fácil de me adaptar e finalmente aceitar morar aqui? Será que é para provar para alguém (talvez para eu mesma) que já ultrapassei a adolescência? Será que é para não repetir os mesmos erros da minha mãe?

Minha mãe... É engraçado como só depois de separadas por milhares de quilômetros construímos uma relação. A minha mãe não foi do tipo carinhosa, daquelas mães corujas que elogiam e passam a mão na cabeça e nos dão colo quando precisamos. A minha mãe foi do tipo cobrar boas notas (o que no fundo não precisava), de ensinar como ser uma "boa menina", o que gerava muita frustração pois era como se houvesse sempre algo de errado comigo. Porém ela nunca me ensinou a ver as minhas necessidades, estava sempre focada no que os outros pensam, e se os outros agiam mal devia ter uma razão. Ensinou-me a entender o mundo e não a mim. A ser educada e isso dificultou-me a estabelecer limites e aprender a dizer não. Nunca conversamos, os abraços eram raros e só escutava ela falar com carinho de mim quando tinhamos visitas... Mas eu entendo, apesar de tudo, sabia que me amava, que se preocupava comigo e que esse era o jeito dela de ser mãe. Eu sei, seguimos mesmo sem querer os modelos paternos, sei que a minha vó também a educou dessa forma "prática" em que o carinho estava apenas subentendido entre um parco diálogo. E hoje depois de adulta consigo avaliar isso e ver tanto a minha vó, como a minha mãe como crianças-adultas, que no fim é o que todos acabam por se tornar quando crescemos.

De certa forma, era esse tipo de mãe que eu precisava, quem sabe por motivos que hoje não me são revelados, de acordo com o processo reencarnatório.

Por outro lado, tenho vontade de escrever outra história, começar a minha finalmente. Tem pessoas que não tem o desejo de ter filhos, seja por que são muito altruístas (os exemplos são raros), seja por medo ou egoísmo. No entanto creio que até o egoísmo em si, tem a sua vertente no medo. Li em algum lugar que quem não quer filhos nunca deixa de ser filho, não passa deste estágio e provavelmente não terá a oportunidade de experimentar o amor incondicional que este novo papel proporciona.

Voltando ao porque de ser mãe, acho que nunca é por um motivo só, não é só para completar o casamento, nem para partilhar momentos bons e ruins. Acredito que ser mãe para mim também significa um aprendizado, quero ser uma pessoa melhor, poder dar o exemplo e também aprender com ele. Sim porque tem pais que acham que só cabe a eles a educação, como acredito que temos várias vidas e as crianças são como nós, espíritos milenares, elas também tem muita coisa para nos ensinar. E eu quero ter a humildade de aprender com o meu filho também.

De qualquer forma esse já é um início de amadurecimento, quando alguém deseja que outro ser invada sua vida e ponha em xeque tudo o que aprendera, este é o momento de se desconstruir para poder se adaptar a uma nova realidade, a um sentimento de desapego total em que o nosso filho passa a ser o foco mais precioso do nosso amor. Com certeza a minha mãe não teve oportunidade de avaliar nada, quando viu eu já estava aqui. Não houve grandes reflexões de porque daquilo ou de outro, foi natural assim como foi para a minha vó e para a maioria das mulheres. O fato de não poder ter filhos naturalmente é que me põe a pensar nessas razões todas que talvez seriam desnecessárias... Porque ninguém está pronto para ser mãe, não há escola nem manual ou livros que substituam os erros de cada dia, as culpas e cobranças... Pelo menos já temos um começo (onde não errar) e o tempo faz o resto. O que é certo é que TODOS erram e inevitavelmente o nosso filho terá as suas frustrações, assim como nós. E quem sabe daqui a 20 anos estará escrevendo em um blog eheheh. O que importa é que em todo o momento estaremos fazendo sempre o melhor que podemos.
Eu quero ser mãe, quero fazer parte do ciclo da vida como todas as coisas da natureza. E como diz a música: quero um amor maior, amor maior que eu, que eu...

sábado, 11 de abril de 2009

Cidades


Cidades são esqueletos de concreto que falam, respiram e vivem enquanto alguém habita seu ventre. Cidades não tem personalidade por si só, não nascem, não crescem, não são abandonadas... Sei que parece óbvio dizer que são o simples produto do orgulho humano em vencer a natureza. Por isso acho estranho avaliar a beleza de uma cidade. Para mim são todas mais ou menos feias, com algum design é certo, mas no fundo são todas iguais...as igrejas, os prédios modernos disputando espaço com casas e construções antigas. Pensei nisso enquanto via o filme Paris com o meu marido, e a medida que os personagens passavam pela tela, parece que eram apenas uma desculpa para no fundo mostrar a sempre vaidosa, inquietante e onipresente Paris. Ao mesmo tempo via o fascínio dele a cada angulo da torre Eiffel, da Sacre Coeur, das ruas longilineas e largas como as artérias principais de um organismo. O sonho dele sempre foi morar em Paris. Confesso que nos três meses que ficamos lá por conta de uma formação dele, andava apreensiva. Apesar de gostar dos passeios como turista, não me agradava a idéia de me estabelecer naquele país.

Afinal o que tem as cidades então que nos causam esse turbilhão de emoções, beleza, medo, nojo, ódio ou prazer? Para mim o que a cidade esconde por trás de seu exército gelado são as pessoas. São elas as verdadeiras responsáveis pelo que sinto. É estranho mas a cidade que nasci é feia, muito feia. E digo isso com um pouco de dó como quem fala isso de um filho. Mas é feia. Tem um centro sombrio e com aparência suja, seu crescimento caótico se nota pelas ruas mal estruturadas da periferia, como Lisboa. Mas não tem esse brilho histórico... As pessoas passam pelos monumentos e prédios antigos indiferentes, ninguém tira fotos das igrejas ou de um jardim. No entanto gosto de passear por lá, ver o comércio, observar os vendedores ambulantes em sua constante luta pela sobrevivência e legalidade. As crianças saindo das escolas, os velhos com seu andar vascilante e reumático. As moças bonitas, os homens suados depois de um longo dia de trabalho. Gosto da gentileza, da organização para esperar o ônibus, dos universitários lendo livros gigantes e despreocupados com o balançar no percurso. Gosto de encontrar conhecidos e ficar com um sorriso nos lábios depois de seguir o meu caminho. Gosto de lá como não gosto de mais nenhum lugar. É lá que me sinto em casa, lá que nasci, cresci e gostaria de morrer. Se pensar bem há algo de melancólico em sua sobriedade, algo que não nos deixa partir, como se fosse um parente idoso desejoso que fiquemos um pouco mais.

Porto Alegre, meu porto. De alegre só mesmo o seu povo, que no fundo é o que importa... Paris, Lisboa, Berlim, Madri, Roma são todas cidades interessantes, erguidas há muitos séculos, com muita história para ser vista. Mas só mesmo Porto Alegre pode contar a MINHA história...

quarta-feira, 8 de abril de 2009




Acordei ontem com uma dor terrível, tinha a cabeça como se o coração lá estivesse a pulsar. Tinha sonhado que tinha recebido um exame de gravidez e nele o resultado: 288. Abracei a minha vó e sentia as lágrimas escorrendo mornas pelo nariz até chegarem nos lábios, parecendo doces de tanta felicidade. Mas acordei com uma tristeza profunda, com as dores tão conhecidas da menstruação. Senti uma irritação, uma agonia, vontade de gritar... Um dia ainda compro um saco de boxe para uma emergência destas.

Chorei no banho, deitei na cama e fiquei a olhar para o espelho sentindo pena de mim, raiva, humilhação... Nunca pensei que fosse tão difícil. Quando casei com o F achava que quando quisesse era só fazer um tratamento e ficaria grávida. Simples assim. Mas depois vi o quanto era caro, o quanto era complicado receber as notícias de gravidezes de minhas amigas, familiares... Depois me peguei a chorar mais que o habitual, eu que achava que era forte, levei uma rasteira tremenda... Não fosse pelo meu casamento ser quase perfeito, pelo meu maridinho ser a coisa mais doce, o meu melhor amigo e me sentir amada em todos os momentos, talvez já tivesse desistido e voltado para a minha terra. Sinto uma solidão imensurável aqui, talvez esse também seja um acréscimo ao desejo de formar uma família. Tenho poucos amigos, não trabalho e meu curso é só aos sábados. Ou seja, tenho muito tempo para pensar nisso. Portanto se der tudo certo, ainda este ano me candidato para outra faculdade e vou finalmente poder dizer aos outros: NÃO TENHO TEMPO. Desculpa, não tenho tempo para ficar com os teus filhos, não tenho tempo para fazer jantares aqui em casa, desculpa, mas não tenho tempo para falar agora...

Sei que tanta gente deseja precisamente o oposto, no entanto eu PRECISO não ter tempo, por outros objetivos na minha vida. Senão daqui a pouco vou é para um manicômio ehehe