domingo, 29 de julho de 2012

O hospício


Já dizia o ditado: quem casa quer casa. Isto porque para mim cada casa é como se fosse um hospício particular, cada um com suas loucuras, com suas manias e que de vez em quando põe suas camisas de força a fim de receber visitas. Acho que isto condiz mais com a realidade do que "só quem está no convento sabe o que vai dentro", isto porque de freiras imagino que temos pouco (pelo menos eu). 
Fui passar o final de semana com a sogra. São muitos cachorros como aqui na mãe, tudo fede. Aí depois tem dois gatos (como aqui na mãe). Aí ela diz bem sim senhora que não gosta de jeito nenhum de bicho dormindo com ela na cama. E eu vejo o quanto os gatos gostam de passear pela comida e deixar de presente alguns tufos que educadamente tenho de engolir. Pois. Aqui na minha mãe, nos apertamos para ver uma tv de 18 polegadas. Simmm, ainda existem aqui. Não porque não tenham dinheiro para comprar uma maior, mas porque gostam simplesmente de ficar apertando os olhos e tentar adivinhar qual o time que fez gol, se devem ficar felizes ou xingarem. Isto leva uns 30 segundos mais ou menos. Ah e tem o desespero do Fabian com os cachorros e a gente tem que falar uns 1200 nãos para que ele deixe o rabo em paz ou pare de montar na cadelinha gorda e velha da mãe. Também tem a neurose do microondas. Minha mãe acha que o microondas dá câncer, sabe? Aí temos que esquentar tudo no fogão, sujar panela e tals. Às vezes sinto-me na idade da pedra e são as discussões, as picuinhas do dia-a-dia, a falta de privacidade, de solidão que me dá uma vontade desesperada de atirar tudo para o alto e fugir. Quero desesperadamente a minha casa. O meu hospício onde eu posso ser louca à vontade e ninguém tem nada a ver com isto. Porque todo louco é territorial you know...não se pode entrar numa guerra de fechar as janelas de uma casa particularmente fria se a sua dona adora que entre um arzinho mesmo no pico do inverno. Eu fecho. Ela abre. Eu fecho. Ela abre. Não se pode mexer no lugar do sofá, no controle remoto, não se pode escolher o que comer, nem vale a pena ficar olhando para o desmazelo de uma decoração de carnaval e pensar no que poderia ser feito para que as coisas ficassem mais "normal". Mas não pode ser feito, isto de ser louco é assim, é o único lugar onde podemos ser nós mesmos, onde podemos falar mal da vida alheia sem medo de ser criticados. A nossa casa é um retrato de nossa vida interior. A nossa família pequena possui uma loucura simbiótica em que cada um cumpre o seu papel e onde qualquer elemento estranho desequilibra. Incomoda. Ambas as partes. É por isto que acho tão difícil gerir minha loucura tão particular, minha e do meu marido...e agora do meu filho. É por isto que preciso escrever.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ex mulher, a bruxa da vida real

E tem quem não sinta raiva (por mais pequenina que seja) da ex mulher do seu marido? Se tem, meu Deus, canonize esta pessoa!! Porque eu às vezes ignoro, às vezes espumo, às vezes tenho vontade de botar o nome dela numa encruzilhada com galinha preta e milho ehehe. Se bem que tenho a consciência que muita desta raiva é por causa das atitudes do meu querido esposo, de tudo que ele fez em nome dos filhos e que claro, a dita aproveitou. Pois bem, ele deixou-lhe tudo: a casa, os móveis, o carro e uma pensão gordita até os filhos completarem 25 anos. E depois ele deu a metade da casa que pertencia a ele aos dois filhos como herança de pai vivo. Até aí tudo na boa, porque o ciúme não nasce do nada. E eu que ajudei tanto este homem, paguei as dívidas, vivi com muitas restrições, vivi de aluguel enquanto a outra não pagava, não viajei, não fiz nada ganho o que? O meu filho ganha o que? O que me irrita são dois pesos e duas medidas. Porque ele garantiu tudo para os outros e para nós que estivemos do lado dele em todos os momentos ruins não temos a mínima consideração? Alguém me explica o porquê das ex-mulheres terem este estatuto imaculado? Pois já xinguei, já chorei feito criança mal criada e a mim resta apenas aguardar que a vida melhore. E como não sou santa, minha vingança ainda vai ser um par de chaves da minha casinha a circular nas fuças do facebook dela. Ai como sou infantil!

Moral de cueca

Tá bem ouvimos desde pequenos que não se deve julgar, que temos de nos colocar no lugar do outro e bla bla bla. Mas até que ponto o que pensamos é julgar e até que ponto é minha opinião? Eu tenho uma definição pessoal: acho que julgar é quando não me limito apenas a pensar e ajo e falo com base no que (penso) que sei. Porque sinto muito aos politicamente corretos, o mundo não é cor de rosa e não há como não julgar, como não ser críticos perante a vida, como não pré-conceituar as coisas. O ser humano precisa de lidar com as ferramentas básicas para interpretar o seu ambiente e é perfeitamente natural pré julgar, pois é o que fizemos durante milhões de anos para sobreviver. Mas hoje a situação é diferente e na maioria dos países o que se impõe é uma questão de sobrevivência "civilizada". Uma sobrevivência social, tanto quanto devemos ouvir e sorrir nas rodas de amigos ante algum comentário que nos enraivece particularmente. Ou simplesmente ficamos calados para não ouvir toda a missa bem intencionada sobre os bons valores que acho que só Cristo e o Buda conseguiram seguir. Pois eu admito que  sou um pouco dura nas minhas opiniões e às vezes sou até uma mula, dificilmente volto atrás. Sou assim. Para mim a gordura tem um quê de desleixo, a pobreza um pouco de merecimento, a religião um pouco de cegueira, a maternidade um pouco de prisão. Mas como sempre, da minha boca não sai nada, mas da cabeça ainda  sou livre para pensar o que quero (ainda bem).

terça-feira, 24 de julho de 2012

Mora num abacaxi e vive no mar?

Bob esponja calça quadrada agora tem preenchido minha cabeça. Passo horas na internet vendo modelos, pesquisando decorações e ideias para a festa de dois anos do Fabian. Ainda bem que ele vai ter uma festinha! Capaz que a vó coruja ia deixar passar em branco! Mas vai ser simples como foi o do primeiro ano, apenas os familiares, a sogra e os dois filhos do Fernando. 
Eu mesma estou fazendo os bonecos e vou fazer umas bandeirinhas amarelas que vão ficar lindas com balões amarelinhos que é a cor do Bob. Bem que eu tinha vontade de dar-lhe uma festa bonita, com direito a overdose de bichinhos do mar, mas lamento...quem sabe apara o próximo ano?

Filho e aplicação na poupança

E ontem fiquei sabendo que a minha tia aos 45 anos está grávida do terceiro filho. Não é só a idade, não é só pela terceira cesariana que vai ter de fazer, não é só pelos quilos que não venceu das outras gravidezes. Não, não e não. É que não cabe na minha cabeça uma decisão destas, não hoje que é tão difícil se educar um filho. Acho uma tremenda irresponsabilidade as pessoas que tem mais de dois filhos. Sabem quanto custa uma creche em horário integral? Mil e duzentos reais, por aí. Sabem quanto custa o pacote de fralda da Mônica (a que entre as melhorzinhas é a mais barata)? Quarenta e cinco reais na promoção, 54 fraldas. E roupas? E calçados? É que aqui no Brasil não posso me dar ao luxo de por em uma escola pública, ou creche pública. Aqui estas coisas são só para pobres mesmo. Os prédios degradados, os profissionais nem sempre com formação, etc, etc. O Brasil é imenso, não é Portugal. Não existe tanta fiscalização, nem centro paroquial, nem nada. É do 8 ou 80. É por isto que ou os pais pensam "vou dar uma boa educação pro meu filho" ou "foda-se, vai se criar no público". E seja o que Deus quiser.
Hoje para ter três filhos ou se é muito rico ou se é muito maluco, sério, pirado na batatinha. Nem falo pela questão de gostar de crianças...isto é uma questão como disse, de gosto. Porque o bebê rechonchudo cresce, perde a graça, vira criança, adolescente depois. E o tempo passou, as rugas vieram, a barriga caiu e encheu de estria. Mas não faz mal porque tudo valeu a pena... Bahhhh não vou nesta história. Egoísta? Sim, com muito orgulho. Sou só eu que quero meu filho numa boa escola? Que quero meu corpinho em forma? Tempo com o meu marido? Que quero viajar e viajar? Pois...só digo uma coisa: criança cresce e envelhece. E empobrece o bolso e enche de lembranças das coisas que não se pôde fazer. Porque desde que nasce criança é 5% de alegria, os outros 95% é incomodação, é despesa, é noite mal dormida, é namoro e sexo nem ver. É. Não vai atrás de história da fulaninha que diz que filho não muda a vida da gente se a pessoa não quer. Ah, se a fulana for rica, tiver babá, pode continuar saindo à noite com o "namorido", mas se a fulana é normal com eu e a maioria da população deste mundo...a fulaninha deve estar mentindo para você. Porque filho muda tudo. Agora é uma escolha se as pessoas acham que estes 5% compensa o resto ou se querem doar pelo menos vinte anos de suas vidas. Acho que as pessoas se iludem muito, agem como se filho fosse aplicação de banco: vou gastar, vou me doar tanto por cento ao ano e depois quando ficar velhinho vou ter alguém que cuide de mim. Pois já sou mais realista: filho é um investimento de risco. E à partida a única coisa que se sabe é a forma como vais lidar com isto pelos próximos anos. Eu já fiz a minha escolha. Meu filho vai ser filho único e ponto. Traumatizado por não ter um irmão? Vamos ver se ele não vai me agradecer por ter um bom curso de inglês, viagem de intercâmbio, bom colégio, mais adiante... Porque no mínimo educação e qualidade de vida é a melhor herança que se pode dar a um filho.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Relembrando


Os velhos tempos. Achei o cd das fotos não tratadas da sessão que o Fabian fez com seis meses. Era muito fofinho este menino :)







segunda-feira, 16 de julho de 2012

Nenhum lugar é perfeito

Pois claro que não e digo mais, quando se vai sempre leva-se os problemas na mala. Engana-se quem pensa que viajar pode mudar sua vida. Não muda. Continuamos a encontrar as pessoas que detestamos em outros lugares, elas só mudam de nome.
Vejamos o balanço da nossa vida de antes e a de agora:
Brasil
As pessoas são sem dúvida a melhor coisa no Brasil.
A comida. Não adianta, os italianos fizeram as pizzas famosas, mas o Brasil aperfeiçoou e criou mil e um sabores. Os americanos inventaram o cachorro-quente, o hamburguer, o brasileiro colocou milho, queijo, ervilha, batata palha, molho de tomate e por aí vai. E ah, inventou o Xis com tanta coisa gostosa pelo meio que deixa qualquer Big Mac a se roer de inveja. Para quem quer engordar o lugar é este. Quando olhamos as prateleiras repletas de chocolates e uma série de sabores que os europeus nem sequer sonham: com recheio de mousse de maracujá, chocolate branco com sabor de torta de limão, etc, etc... Fora o churrasco, feito no espeto e carvão. Isto sim é churrasco, o resto é barbecue.
Policiamento, principalmente rodoviário. Não há carros nas calçadas. Não há carros mal estacionados. Não há carros andando a 90 km/h na cidade. Multa neles, é assim que devia ser em Portugal. Se o governo descobrisse a mina de $ que dão os queridos motoristas que se lixam para as leis, a crise diminuía um pouquinho.




Portugal
A segurança. Não me imagino andando de máquina no pescoço nem olhando o pc no ônibus. Não é que não possa acontecer nada comigo, mas as pessoas são na maioria pobres e a criminalidade é maior que em Portugal, não vou negar. Não é nada como Rio e São Paulo, mas é aquela coisa que temos de ter o cuidado de andar com a bolsa à vista, cuidar horários para sair à noite sozinha. se bem que algo me diz que a tranquilidade em Portugal seja por pouco tempo, pois com a crise tende a aumentar os furtos.
O mar. Quando os dias pareciam tristes, nada melhor que uma caminhada pela beira da praia. Sentir o cheiro da maresia, ver as ondas indo e vindo e o barulho seco delas batendo nas pedras. No verão, apesar de ter molhado o pé uma dúzia de vezes em seis anos, gostava de olhar para o verde e para os corajosos que aventuravam-se naquele gelo.
A preferência. Na maioria das vezes os motoristas paravam na faixa de pedestres. Aqui não, pode morrer alguém ali esperando que as pessoas estão sempre em último lugar. Só depois que o sinal fecha e que o carro passa...

E por enquanto é isto...

sábado, 14 de julho de 2012

Deus dá nozes e dentes, as pessoas é que não sabem o que fazer com isto

Nossas incursões pelo mercado tem sido desanimadoras, ficamos apavorados com os preços das coisas, mas segundo o que eu mesma dizia: tudo é caro para quem não tem dinheiro. Lá está. Os brinquedos, as roupas, tudo deu um salto nestes anos...porque uma coisa é vir-se de férias com euros para gastar, cujo câmbio jogava sempre ao nosso favor, outra é voltar a viver esta realidade e em "real", o que chega a ser uma redundância.
E estranho é estar assim tanto tempo longe do nosso país, meio que passamos a nos sentir como estrangeiros esnobes, digo esnobes porque estamos sempre comparando como era, o que disto e daquilo com o agora. Não adianta, é como um filtro, é o processo inverso daquele que começamos quando nos deparamos com Portugal. Já resolvi que estas anotações passam agora a ser mentais que é para não maçar quem quer que esteja comigo, porque as pessoas não entendem que ninguém cai de pára quedas num lugar e troca o chip de um celular e já sai "falando". As pessoas precisam de tempo e paciência, principalmente paciência consigo mesmas que é o que me falta, assumo. 
Uma coisa boa a qual já não estava mais acostumada é com o bom humor das pessoas, com esta prestatividade sem pedir algo em troca que os estrangeiros não entendem. É raro, vou dizer, muito raro encontrar pessoas assim em outro lugar. Claro que há, mas digo, nunca como aqui. Este bom humor parece geral. Pergunta uma coisa para uma pessoa no ônibus e logo tens três ou quatro de ajudando, fora aquele que ia descer no mesmo ponto e se propõe a te dar mais indicações pelo caminho. Ah e outra coisa: as pessoas tem dentes na boca. Mesmo as mais pobres. Sabe, isto foi uma coisa que muito me chocou em Portugal: ver alguém de mercedes com uma senhora porteira na boca ou com os dentes todos podres estragados. Ainda recordo-me da minha vizinha: 
 - Ai hoje fui arrancar um dente, está a doer tanto.
 - Mas então fulana o dente não tinha solução? Tinha logo que arrancar?
- Não, mas era muito caro...70 euros...
- e para arrancar foi quanto?
-40...
- Ah...economizaste 30 euros, mas vai ficar banguela...que pena.

Ditado familiar

Segundo meu tio...
Quando o dinheiro sai pela porta o amor próprio sai pela janela. E como é verdade...
A seleção de palavrinhas que o filhote já fala:
Mamãi, papai, golo, cão, miau, não, mais, eti é... carro, sol, macacu, cuco(suco), não méxi, é meu, piu-piu, manana, pão, oshi, ilu (leeloo a cadela velhota da casa), bom, a mão, o pé, dodói, papá, bola, caiu/caí, papu (sapo), pexi, caalu (cavalo) e o resto por enquanto é só chinês... e às vezes alemão.

terça-feira, 10 de julho de 2012

O tao aguardado aviao

E amanha chega o marido. Um ciclo se fecha. A vida tem um modo muito estranho de nos ensinar, nunca pensei em voltar depois que ja havia me acostumado com Portugal. O Fernando tambem, achava que so voltava se um dia lhe saisse o euromilhoes. No entanto, aqui estamos nos.
ps: hoje escrevo sem acento pois o anjinho desconfigurou o teclado e nao sei como faço para voltar ao normal.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

À deriva

Quando penso sobre minha vida, a sensação que me vem à cabeça é que estou no olho de um furacão e vejo todas as coisas girarem a minha volta, os resquícios de uma vida que não volta mais. São como ecos, vozes, pensamentos, pessoas a falarem nos meus ouvidos antes de adormecer. É uma luta, mas lá pelo cansaço durmo. Não choro, mas meu coração está apertado, ainda sinto raiva desta vida que me tira as coisas e não me dá nada em troca. Quando tenho uma notícia boa, logo vem duas ruins ou mesmo a boa se desfaz, assim como os castelos que tinha construído para ela. Tenho aprendido muito nestes últimos meses, tenho aprendido que continuo a não gostar de mudança, de surpresas, que sou muito apegada as coisas materiais, que me custa viver à deriva. E por enquanto não tenho solução para os meus problemas. A ordem do dia é esperar e esperar. E quando se tem um filho custa muito. Vejo as pessoas minimizarem e até pode parecer que estou me afogando em um copo d'água. Por isto não falo, não vale a pena... Mas nunca compreendi tão bem aquele ditado indígena sobre calçar as minhas sandálias. Quer dar conselho? Quer criticar? Ótimo, mas calça antes as minhas sandálias e depois vem dizer o que devo fazer.