segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A língua

Já havia falado sobre isto aqui, aliás, depois de alguns anos de blog vejo que já me repito em alguns assuntos, estou até como aquelas velhotas sempre a rondar o mesmo, enfim. A língua sempre representou muito para mim, gosto de falar português (se alguém disser que é brasileiro apanha viu?), gosto de ler, gosto da musicalidade não importa que sotaque tenha. E por isto mesmo me faz confusão alguém que emigra e não faz questão de que seus filhos aprendam a língua materna. Vamos fazer o possível para que o Fabian não esqueça, embora tenha consciência  que para escrever seria preciso frequentar algum curso e isto deixarei que ele decida mais tarde. Mas falar não abro mão. Então e quando for ao Brasil ou a Portugal, vamos ter de traduzir tudo para ele? Nem pensar! 
Hoje à noite no mercado, estava explicando para o Fabian que não podia ter tudo. Enquanto o pai pagava as compras, estávamos parados em frente a uma máquina de quinquilharias. Não era caro, moedas de um ou dois euros, a questão é que ele precisa entender quando dizemos que não. Estava agachada e de repente senti uma mão nas costas e uma senhora de cabelo curto e grisalho a me perguntar se eu falava português. Era da Madeira e ficou muito feliz de ter encontrado alguém ali naquele enorme supermercado que também falasse sua língua, pois que nem a filha adolescente sabia. 
 Uma das coisas em que um emigrante mais sente falta é de ouvir por toda a parte sua língua. Mesmo que saiba comunicar-se no idioma do país que o acolheu, nada dá a sensação maior de não pertencimento e de consequente solidão, que não escutá-la. Às vezes afino o ouvido e fico observando qualquer sotaque que lembre o nosso e as palavras se perdem fugidias quando percebo que fora alarme falso. A saudade de quem sou faz-me escutar mais músicas brasileiras, faz voltar-me para os blogs portugueses, para a net e este mesmo vazio tento preencher com a minha voz. Falo, falo e falo. Canto em um certo grau que poderá ser percebido e captado quiçá por alguém que (me)descodifique. Sinto que por vezes estou muito parecida com aqueles mendigos que falam um idioma estranho, que ninguém consegue perceber qual é. São como ilhas ambulantes, desconexas e cada vez mais distantes no horizonte. Falo e as pessoas olham ora com estranheza, ora curiosas. Sou uma ilha encostada em um continente. Uma ilha exótica e em luta para que o oceano não a engula de uma vez só.

sábado, 28 de setembro de 2013

Tempo, tempo

Daqui há dois dias completará um mês que colocamos os pés na nossa casa. Que estreamos nesta cidade, que viemos com malas e malas e horas de viagem interrompidas por duas paradas. Faz um mês que não escuto minha língua por onde passe, que descobri que sorrisos e monosílabos são mais fáceis de me fazer entender do que ensaiar "désolé, do you espeak English?". 
O marido virou-se para mim ao olhar no calendário do celular. Bã, como setembro passou rápido! Disse-lhe que era apenas impressão dele, que para mim parece que estou aqui há um século, que os dias escorreram vagarosos e nem por isto aborreço-me. Era a ansiedade dele que adormecera, era a certeza de que nós preenchemos cada espaço deste tempo que ele tanto perseguiu. Era a paz enfim.
Vai fazer um mês que retomamos nossa vida, e digo que o sabor de estar longe e não depender de ninguém é doce, muito doce. 

Detalhes...

da nossa casa.


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sair da casca

Eu me conheço há 28 anos e por isto mesmo sei que se não fizer um esforço enorme, não levanto a bunda do sofá e saio de casa. Segunda vou me matricular no curso de francês e espero que ainda neste final de semana também o faça na academia. Só tem um pequeno problema: ainda não tenho tênis. Se for por ai ainda me falta tanta coisa e apenas semana passada voltei a ser proprietária de uma bolsa. Ainda me falta o mínimo de maquiagem que uma mulher pode querer, tal como rímel, base e batom, além de umas pantufas (que aqui já está friozinho), meias, tops de ginástica, enfim...preciso repor as coisas que ficaram para trás. Por incrível que pareça, o Fabian é que com a única mala que trouxemos, está bem melhor que a mãe, com tudo que ganhou dá para passar bem este inverno!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Dizem que é moda


Unhas bicudas... na boa, eu sei que vocês levam este negócio de gatinhas muito à sério, mas...



Como é que se diz?


A primeira coisa que passa na minha cabeça sempre que imagino ou que acontece de falar francês, é uma mistureba de inglês e uma que outra palavra em francês. Hoje ao perguntar se a cueca do Fabian estava limpa, olhei para a professora e me saiu um: C'est clean? Dã! Mil vezes dã pra mim. A mulher me olhou e começou a falar em francês e rápido e depois virou-se para a outra educadora e deixou a tal cueca separada no canto da sala. Agora devo perceber a agonia que as crianças que ainda não sabem falar (direito) sentem. O que eu faço agora? Balanço os braços, faço mímica, choro?? Ah já sei! Atiro-me no chão! E choro. C'est parfait! Mas a atitude mais adulta que tive foi virar as costas e desistir e esgoelar o marido por ter esquecido de perguntar o que já havia lhe pedido duas vezes!
A minha tia disse que o segredo para aprender um idioma é não ter medo de errar. Não ter vergonha de falar como índio: "mim querer ir na mercado", por exemplo. É como uma criança quando aprende a falar. Passamos do apontar o dedo e umas palavrinhas soltas para a formação de frases com sujeito, pronome feminino e masculino trocados, tempos verbais esquizofrênicos e acentuações erradas. Ninguém aprende alguma língua e de cara sai falando fluentemente, todo mundo tem seus tropeços pelo caminho, e diz ela, depois que dá o click, as coisas começam a funcionar. 
Acho muito estranho o fato de não saber falar e ao mesmo tempo sonhar em francês. Nesta semana tive um sonho que estava na sala de aula do Fabian e tinha os pais muito alvoroçados porque queriam a antiga auxiliar de volta. A professora (que ainda não entramos num acordo se chama-se Florance ou Lorance), tentava acalmar os ânimos e nisto um dos pais, um árabe muito magro veio perguntar o que eu achava, se a Sophie deveria voltar. E apesar de ouvir tudo em francês e entender um pouco do que se passava, não consegui proferir uma palavrinha que seja. Fiquei ali com a boca aberta na ânsia de falar qualquer coisa e um vazio, uma mudez me paralisava e depois acordei. 
Queria era saber se este tal de click demora muito e se o meu não está com mau contato. Assim só naquelas, porque agora lembrei-me que a minha tia nem sequer fala outra coisa que não o português...

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Um bonjour e um aperto de mão

Hoje vou ser poupadinha no meu teor politicamente correto. As pessoas aqui são simpáticas, não há dúvidas de que o são mais do que os parisienses, mas são simpáticas e só. As pessoas são simpáticas, mas não são afetuosas e isto não é nenhuma surpresa porque já imaginava que assim seria. Há um porém que é o nosso coração apertadinho ao ver que isto é uma coisa que o Fabian tem de lidar diariamente. Na escola, quando o pai o deixa, a professora o recebe com um aperto de mão e ele tem de dizer "bonjú". É isto. Não há um abraço, ui heresia se fosse um beijo.
 Ele caiu semana passada, ralou o nariz, a mão e fez uma bola na testa que com certeza deve ter doído muito. Perguntei se a professora o acudiu e deu um beijinho e um abraço e ele me respondeu que não. Quem escreve nem é daquele time de mães excessivamente corujas, mas na hora deu-me uma tristeza que tive de disfarçar para que ele não percebesse.
O Fabian é uma criança muito afetuosa e que acho como quase todas as crianças, gosta de mimo e carinho. E como já disse, hoje não vou ser uma antropóloga e relativizar as culturas, hoje quero simplesmente dizer que para os pequenos o afeto é muito importante e que os acho frios, sim. Que o Brasil tem milhões de defeitos, mas  somos um dos povos mais abertos e amáveis. E que no meu ponto de vista prefiro isto a estes não-me-toques, a esta obsessão por ver as crianças o mais independentes possível, a esta incapacidade de baixar a guarda pelo que? Tem medo que a gente morda? Guardam seu amor para quem, para os cachorros?? Pois, eu até gosto de animais, mas as pessoas deviam vir em primeiro lugar e tenho dito!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Fabionices (agora em francês)

Papai: C'est parti!
Fabian: Não é pa mim não, pai.


O pedófilo do facebook

Não costumo falar de assuntos da moda virtual, mas vou abrir uma exceção. Vi este alerta em um dos blogs que sigo que remeteram a outro blog que vou parar lá de vez em quando. Para início de conversa, vocês sabem que os pedófilos são pessoas que fazem as coisas na socapa não é? Que não tem perfis mesmo que fake em uma rede social famosa para cavarem a prisão através do número de IP sabem? É que na maioria das vezes são pessoas com certa inteligência para esconder este lado de toda gente e isto está mais para uma brincadeira de mau gosto, infelizmente feita por um brasileiro desmiolado em um perfil falso ou para ralar o juízo de algum amigo o qual descobriu a senha. Sejam um pouco racionais pessoas, sei que às vezes em determinados assuntos isto é difícil, mas façam um esforço. E quanto à blogger em questão, mais uma vez não falo mal de blogs aqui (embora pense vá lá), acho muito engraçado a história do "por isto que não gosto de fotos de crianças na net" e depois no post anterior está nada mais na menos que o que? Ah o filho dos outros pode! Porque hein? E mais não digo, porque teria muitas coisas a falar sobre este assunto. 

Strasbourg









Moramos em Schiltigheim, mas digo para todos que é em Strasbourg, primeiro porque se falamos a verdade, ninguém sabe onde é, acham até que é Alemanha e Strasbourg para quem sabe um pouquinho de História e Geografia vai chegar lá e saber que agora é da França. Segundo porque é coladinho e faz parte da grande Strasbourg, que de grande não tem nada. E terceiro, porque acho chic e isto já vale. Lol.

Miopia emocional

Eu tenho uma teoria absolutamente empírica e baseada no meu egocentrismo. As pessoas enxergam mal e querem enxergar assim. Seja positivamente, anulando qualquer defeito de uma pessoa ou o contrário e não há nada (ou quase nada) que quebre este ciclo. Talvez uma situação de grande carga emocional pode fazê-lo, mas como ia dizendo, as pessoas enxergam mal, encontram-se presas em uma espécie de passado cristalizado, misturado com a confirmação de crenças e ideologias antigas. Quanto mais cedo aceitarmos que mudar esta informação não é páreo nem para MacGyver, melhor será. Deixemo-nos lá, presos em uma bolha em retalhos de pensamentos e antecipações do que quer que façamos, e aceitemos também o fato de que as pessoas já tem um enredo para nós em suas cabeças.
E sabendo isto, não quer dizer que enxergue muito melhor que os outros, simplesmente estou ciente desta disfunção partilhada entre a humanidade. Sempre desconfiei de carolas que passam o dia a rezar (como a minha sogra), tantos pecados comentem no meio que nem uma Salve Rainha pode resolver. Desconfio de médicos que fumam, de nutricionistas gordos, de psicólogos intolerantes, de bloggers em que tudo lhes acontece (de bom e de ruim, há que separá-los por categorias), de crianças extremamente limpas, e às vezes até de mim e das minhas teorias. Tenho lá meus enredos a respeito destas pessoas, faço as minhas conjecturações e concluo que muitas vezes estou certa, porque as vezes que não estou não contam (não é o que fazem os cientistas?). Concluo que em primeiro lugar, a minha sogra continua em seu lugar cativo de uma velha filha da puta que não quero nem morta que venha na minha casa, porque quem diz mal, diz mal sempre que pode, por telefone ou ao vivo. E ainda por cima, burra ao achar que a minha madrinha não me ia contar os absurdos que disse de minha pessoa. A imagem dela continua lá, por mais que faça de boazinha, que diga que isto são coisas antigas, porque sou rancorosa e não consigo agir normalmente com alguém que já me chamou de vagabunda e outros mimos, é uma imagem de uma pessoa mesquinha e reles. Posso enxergar muito, muito mal, mas agora me convém que assim seja.

domingo, 22 de setembro de 2013

Se non è vero, è ben trovato.

Já não é a primeira vez que nos confundem com italianos. Será do tipo físico (cof cof)? Porque a língua, a forma como é cantada não tem nada a ver com o português que falamos. Não parlo italiano, mas olha que até acho bonito! 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Nunca vi

Comemorarem uma derrota como nós gaúchos o fazemos no 20 de setembro. Mas hoje não vou ser chata e só quero dizer que to louca para ver o filme O Tempo e o Vento, que embora de gaúchos tenha poucos atores, acho que é uma história linda e que merece ser contada. E que venha logo à net porque é o único jeito de conseguir ver!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A máquina

Então era assim, economizar foi a máxima do marido quando estávamos mobiliando a casa. Mas tinha uma coisa que me incomodava muito, queria uma máquina de lavar e secar de oito quilos como a que tínhamos em Portugal. Tentei achar usada, mas tinha mesmo de ser uma só que fizesse as duas coisas por uma questão de espaço. Ponderei a escolha e tive medo que estragasse logo porque a máquina é o que mais se usa por aqui. Marido nas compras e eu do outro lado do oceano no pc a direcioná-lo. Marido acha uma sensacional, 200 euros a menos do que a minha antiga LG. Tira foto. E eu: nhé... Não gosto, não acho que valha tanto a pena, já que isto se for bem comprado dura anos. O marido discordou e como praticamente tudo fui eu que escolhi, deixei que fosse ele a dar a palavra final. Ah se soubesse! A porra da máquina tem dez programas intermináveis de duas a três horas de lavagem e apenas um de 32 min ( que por sinal é o que uso sempre). E o pior de tudo: a porcaria seca com água! Isto mesmo, dos cinco programas de secagem, cinco secam com água. Secam é do modo assim figurado porque podemos escolher entre sair molhado e quente ou depois de três horas o modo mais amassado e esturricado que possam imaginar. Marido já deu a mão à palmatória. Quando der, compramos a LG que queria desde o início. Sempre me disseram que o barato sai caro...

Mais uma do face

Eu acho que deve haver um sindicato das feias. Deve ser tipo aquelas sociedades secretas. Não, nada de boto a bolsa em cima da mesa ou ao lado da cama. O negócio ali é sinistro, porque só isto explica o fato, bem como posso dizer... Uma baranguete coloca uma foto e toca as outras solidárias a curtir e escrever "lindaaaaaa", ai "gostooosa", "sensualizando muito hein". Putz...ou existe um sindicato ou é preciso rever o conceito de amizade.

Ui amigue, arrasou com este novo corte! Meu poodle quer saber o número do seu cabeleireiro!

Porque senhores?

Andava eu muito brava e ao mesmo tempo intrigada do porquê do hotel ali da praça andar sempre fechado. Era a quarta vez que passava e nada. Tudo fechado. No domingo à noite ao fazer um pequeno passeio, passamos por ali e eu olhei mais uma vez para assegurar-me de minha indignação. Luzes apagadas. Falei para o marido:
- Olha lá, depois reclamam da crise! Um hotel novinho ainda e fechado! Só me falta dizerem que além de fecharem tudo, também fecham hotéis aos domingos!
Marido se cospe todo de riso.
- Sim, vai ver porque não é um hotel né? "Hotel de Ville" quer dizer prefeitura! 
Grande para mim!

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Essa tal de bundalização

Passamos a imagem de que no Brasil tudo é festa, tudo é zuação. Mentira. O Brasil leva o sexo muito à sério. A sexualização das letras, das coreografias, do tal se eu te pego, a dança da bundinha, dança da garrafa e aí meu irmão, segura o tchan porque é como coçar: é só começar. 
Nas novelas as cenas quentes de nudez deixariam qualquer filme erótico da década de 80 no chinelo, na praia o fio dental impera, na tv e sites todo ano temos garota verão, quadro do pega sabonete na banheira, e há até quem faça disto carreira. Nunca ouviu falar do Miss Bumbum? E o pior ou melhor, já nem sei, é que não faltam mulheres bonitas e com gingado nesta terra. Não vejo com maus olhos a admiração ao corpo feminino, mas a bundalização da cultura brasileira já está ultrapassando minha paciência. É porque isto cria uma atmosfera insana que nos remete ao estereótipo de boazonas e putas e que desperta o interesse dos homens e a raiva das mulheres no geral. Particularmente até não desgosto da minha bunda, mas daí a ganhar a vida com ela, ou viver em função de uma bunda é demais. 
Como dizia a música "não sou freira nem sou puta", acho sinceramente que até as minhas conterrâneas andam cansadas de tanto agachamento e glúteos com caneleiras de 20 kgs. E dieta da lua, da proteína e açaí com água de coco e estar em forma 15 dias depois de parir. No Brasil vive-se o corpo intensamente, ainda mais para cima, que no Sul temos o frio que sempre dá para esconder as gordurinhas. Como o resto do país é praticamente verão o ano todo, vá de ginástica, dieta, lipos, silicones e drenagem linfática. Num país que explora exaustivamente o sexo, não podemos estar mal na fita. Num pais que se escandaliza com as celulites de uma famosa na praia, ao invés de preocupar-se com a inflação indomável, a precariedade do ensino público (exceto o superior) ou a saúde deve ser porque isto toma muito tempo. E realmente toma, que o Renatão que cobra quase cem reais a hora está esperando para mais um treino bombástico. Não disseram que fevereiro tá quase aí? Carnaval etc e tal? 
Gosto muito do meu país e às vezes fico pensando se seria possível sermos um povo alegre e ao mesmo tempo sério como os alemães. Se podíamos ser leves e ao mesmo tempo responsáveis como os ingleses. Se podíamos acompanhar com fervor os jogos do Brasil e ao mesmo tempo ir nas manifestações como os franceses. Se podíamos gostar de sexo, que não há pecado nenhum nisto, e ao mesmo tempo termos vontade de crescer, estudar e viver uma vida melhor como os holandeses. E fico divagando ao mesmo tempo que olho para mais uma  bunda com sufixo de "atriz" nos seus quinze minutos de fama. Pagu pra vocês porque "nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda":

Só queria dizer uma coisa

Não precisam olhar para mim como se eu fosse debilóide. Eu não sou. Só não falo francês. Os meus neurônios funcionam muito bem obrigada!


No meu tempo...

É de desconfiar quando as coisas começam assim. "No meu tempo" é que era bom, no meu tempo os jovens isto, as crianças aquilo. Ai ai só quem tomou banho de bacia é que era feliz, só quem sabe o cheiro de cópias mimeografadas é que sabe como era bom uma prova, só quem pulou corda, brincou de aquaplay e teve tamagoshi é que sabe como era bom ser criança. Ah façam me um favor, vão catar coquinho! Gente chata! Os tempos mudam, as crianças também, as formas de diversão e brincadeiras, idem. Gosto muito da expressão portuguesa "velhos do restelo", acho que aplica-se muito bem a estes sujeitos do "no meu tempo". Sabem eles que quando estavam no seu tempo não eram tão felizes quando os do tempo antes do deles e assim sucessivamente? Não existe tempo ideal,  antigamente também havia crianças sedentárias que preferiam brincar de casinha do que de pega-pega. E isto não é nenhum bicho de sete cabeças, e de tudo a única coisa que não concordo é com horas a fio na frente de um vídeo game, ipad etc. Fora isto, deixem as crianças que elas são certamente tão felizes quanto vocês o foram no "seu tempo".

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Diferenças de gênero no facebook

Para mim aparecem anúncios de uma fulana que perdeu 30 quilos em seis meses. Para o marido, um site de encontros e fotos de mulheres de bunda gigante. Porque será?

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O elefante branco

Das concessões que fiz para as compras da casa, o sofá não era uma delas. O sofá era outro departamento, daqueles intocáveis. Compramos a cozinha, alguns eletrodomésticos, o armário e cômoda do Fabian e compraríamos o nosso não fosse a altura do quarto, usados. Mas o sofá não, teria que ser O sofá. 
Sempre sonhei em ter um sofá branco, de couro, mas já que o bolso não dava para isto, podia ser imitação. Chaise longue, esticado em um lugar de destaque, tanto o é que hoje a primeira coisa que nos deparamos é com ele. Mas heresia é desejar que um sofá branco permaneça branco tendo criança e marido sob o mesmo teto. Nã! Sofá branco é para solteironas ou velhotas que chegam até a dar traques de lado para não estragá-lo. Meu sofá já não está tão imaculado  como quando o vi pela primeira vez. Já fiz uma faxina nele e desisti porque assim que o Fabian entra em cena e pula, e monta e cospe e sapateia, não há paninho que aguente. E talvez por isto, o sofá adquiriu um status de terapeuta familiar e me dá lições diárias de paciência e meditação para que não caia nas raias da loucura e da neurose por limpeza. Muito útil portanto.





Independência

Ficamos sabendo na semana passada como a banda toca na escola do Fabian, eles priorizam muito a independência das crianças, o que eu acho bom. A sala dele tem idades mistas que vai dos três aos quatro e acredito algumas de cinco anos. E isto me deixa na dúvida porque certas coisas podem ser exigidas que são de acordo com as crianças maiores como já abrir a mochila e os potes de lanche e pendurá-la de volta no mesmo lugar. Desde o primeiro dia, as educadoras quase nunca ajudam, as crianças tem de se virar para comer, ir no banheiro, guardar a comida, colocar sapatos e tirar. 

Não tenho esperanças

Que o verão volte. Por aqui o sol nos abandonou no início da semana passada, temos só chuva e tempo nublado, ainda que anoiteça por volta das oito. Que merda, fui para o Brasil bem no início do verão em Portugal, depois saí de lá bem quando começa o calor. Estou em déficit de verão e o que não daria por uns dias a trinta graus!! 

domingo, 15 de setembro de 2013

Veste a roupa, cobre a teta, chegou o José de Anchieta!



O que eu gosto deste grupo da mtv! É um tipo de humor inteligente, que nos faz pensar e questionar fatos dados como óbvios,  viciados pelo mesmo olhar da rotina. Neste vídeo, conseguem brincar em primeiro lugar com o ritmo techno, psy, trance ou seja lá o que for que não entendo de música de boate, cantada em inglês, com seus clips psicodélicos, com gente dançando de forma estranha e geralmente com uma letra nada a ver. Segundo, e de maneira nenhuma menos importante, porque fala com liberdade de criação do choque cultural da invasão do Brasil. Sim, invasão e não descobrimento ou não fiz quatro anos de História para continuar a pensar como os bois. 
Embora os Aimorés (denominados de tapuias pelos tupi-guaranis), fossem canibais, não comeram o padre José de Anchieta que morreu bem velhinho para época, com 63 anos. Interpretado pelo humorista  Paulinho Serra, a personagem histórica veio com a missão de catequizar os índios e iniciar de uma forma mais abrangente através do Catolicismo, um processo de aculturação. Mudam-se os pudores, cobrem-se as genitálias e muito mais, porque para o europeu os índios andavam nus. E na verdade para os índios, as pinturas corporais, ou o prepúcio tapado são indícios de que não estão. Os invasores ficavam consternados com as regras sexuais aparentemente orgíacas dos nativos, assim como estes o ficavam quando os homens da fé pregavam celibato e depois transavam com suas mulheres. 
Infelizmente a única história que temos acesso é etnocêntrica, baseada na visão de mundo européia, que ridulariza os primeiros contatos com os autóctones. A troca de espelhos e quinquilharias por algo mais valioso, pedras preciosas talvez, faz com que acreditemos em uma suposta burrice por parte de nossos índios. Quando seria plausível acreditar que em uma sociedade tribal  e um habitat rico, em que temos tudo à disposição (caça, plantas medicinais, abrigo, etc), é lógico desvalorizar um punhado de pedras amarelas que não servem particularmente para nada. E está muito bem apanhada a última frase "thank you José de Anchieta" e a cena de gratidão e subserviência dos índios por um alegado salvamento dos pecados e da barbárie.
Posto isto, a música fica mesmo na cabeça e volta e meia ando com "sua tribo vou livrar do capeta"  Ô Ô Oô!

sábado, 14 de setembro de 2013

Viver de renda

Aqui onde moro há muito casarões antigos, estilo enxaimel, de janelas baixas e sótãos íngremes. Acontece que estas casas não são ocupadas por uma família só. Em sua maioria são reformadas e refeitas em mini apartamentos, de forma que seja mais rentável para quem aluga. Nós tivemos a sorte de ficar sozinhos no andar debaixo, pois em cima há dois apartamentos com uma entrada ao lado da nossa porta e outra no extremo da casa, as duas completamente independentes da nossa. O senhor que é o dono desta, ainda tem mais uma que fica nos fundos do terreno, dá-me a impressão que é maior e mais nova, no estilo de construção da escola do Fabian. 
É muito estranho pensar em uma casa como se fosse um prédio, porque por mais que se façam mudanças, uma casa, principalmente uma casa velha, será sempre uma casa, com toda a falta de isolamento que isto acarreta. Eu e o marido fizemos um cálculo por cima e imaginamos que o senhor ganha a volta dos cinco mil euros de renda das duas casas. Mesmo tendo que fazer a manutenção, é ou não um bom investimento?  Diz que esta foi construída pelo bisavô, no tempo que se faziam as coisas à olho. Eu acredito à medida que vou me habituando às suas paredes.

E para quem já não gostava de felinos

Era um zoológico cheio de corredores e as pessoas andavam por exíguos e úmidos caminhos de concreto, por entre plantas que quase os cobriam. Melhor sensação de que se estava na selva não há, era o slogan. As pessoas iam curiosas a fim de observar os animais trancafiados por uma tela quase invisível. Sabiam que soltavam os leões duas vezes por dia, mas avisavam. Avisavam? Dizem que sim. As pessoas que fossem pegas desprevenidas tinham esconderijos como jogarem-se no lago dos hipopótamos com canudos de taquara para respirarem enquanto as bestas passavam. Riscos controlados, portanto. Porém os visitantes se esquecem que na hora do desespero, quando veem sete, oito felinos gigantes a correr como os touros de Pamplona não há muito o que fazer. Estavam em um grupo de dez pessoas talvez, não sabia bem. Mas este grupo logo começou a diminuir. E ela sentiu que se não liderasse nenhum sobreviveria. Começou pelo lago, era o que se lembrava dos avisos na entrada. Depois, ao por finalmente a cabeça para fora, descobriu uma janela que dava para corredores de pedra subterrâneos. Colocou os pés e em dois golpes quebrou o vidro. Os leões rondavam, mas demorariam um pouco para chegar até ali. Talvez houvesse uma saída, puxou os outros para dentro. Caminhou sentindo o cheiro de mofo e urina pelos corredores fracamente iluminados. Em um deles trancou a respiração: uma leoa albina estava acorrentada em uma especie de cubículo e apesar de sentir o cheiro deles, não atacou, permaneceu em pé e em aitude amistosa. O silêncio se desfazia através da respiração do animal e agora dos passos e rugidos  do grupo que os perseguia. Correu pelo labirinto até perceber que aquele tinha ligação com o fundo da jaula dos leões e que estes invariavelmente passariam por ali. Olhou desolada para o que restou das pessoas assustadas atrás de si. Retrocederam. Estavam em um jogo de sombras e de gato e rato. Até que finalmente avistou uma janela no alto de um dos muros. Ia passar por ali quando viu os funcionários do zoológico rirem dos visitantes que a esta hora deviam estar desesperados a correrem em becos sem saída. Era isto ou os leões. Mais valia brigar com alguém que era do nosso tamanho. Passaram. Eu acordei. 

Facebookeando


Eu sei que a sexta já passou, mas não resisti. Só ele mesmo para gostar disto!

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Na escola

Ontem o marido foi na reunião da escola do Fabian, ainda bem que demos meia volta porque foram duas horas de palestra. No final, depois que todos os pais se retiraram, ele aproveitou para perguntar sobre como o Fabian estava se saindo. A professora disse que ele estava muito bem, que tenta interagir e cantar, gosta das brincadeiras propostas e já diz pipi quando quer fazer xixi. De manhã já acorda quase com o pai e fica se revirando com medo que ele o deixe em casa porque já sabe que tem escola. Por enquanto está correndo muito bem, melhor do que o esperado. Minha sorte é o Fabian ter puxado o pai ao invés da minha timidez.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Emigrante de segunda viagem


E a adaptação?
Tem gente que ainda me pergunta isto. Cheguei há menos de duas semanas, como posso me adaptar? Levei cinco anos para me sentir bem em Portugal, imagino que aqui não custe tanto por não ser a primeira vez, mas por mais aventureira que uma pessoa seja, não são em alguns dias ou meses que isto se dá. De todos os conhecidos  que fizeram como nós o caminho de volta, não há um que não queira voltar. Isto que estão sensivelmente melhor no Brasil do que estavam em Portugal.
As pessoas imaginam que seja fácil se readaptar ao seu país. Não é. Mas não é igualmente fácil em qualquer outro lugar. Nós não somos os mesmos, é verdade, e no entanto queremos que todo o resto esteja conforme o deixamos. Os gostos, a comida, as pessoas... Às vezes olhamos para tudo e pensamos que a única coisa que não mudou fomos nós. Mas até isto mudou...há sempre uma coisa que está faltando, como se a última peça de um quebra cabeça nos fosse retirada e passamos a vida em busca de uma completude que infelizmente não voltará. Já o disse, somos estrangeiros em nosso próprio país e também o somos no país que escolhemos viver. Não importa o quanto nos esforçamos, o melhor que falemos sua língua, que nos vestimos ou nos comportamos como tal, não somos, não fomos e nem nunca seremos um deles. E o que somos afinal? Onde finalmente nos sentiremos inteiros e  pertencentes a um rebanho qualquer?
As mães de segunda viagem gostam muito de dizer que o segundo filho se leva na boa, sem grandes preocupações, sem neuroses de esterelizar as mamadeiras até os cinco meses, sem esperar os oito meses para comer morangos, sem ter medo de deixar o pai dar banho nos primeiros dias. A vida acomoda-se porque a deixamos correr sem nossos "ai ai Deus nos acuda". Tudo torna-se mais fácil quando já sabemos o que nos espera, sejam noites de cólicas, seja a solidão de não ouvir nosso sotaque pelas ruas. Seja a barriga flácida, as aréolas escuras, seja os costumes estranhos, a falta de contato humano.
Não há qualquer receita para a adaptação a não ser deixar que o tempo faça sua parte. É tentar não apressá-lo e desfrutar das coisas que antes nos causavam pânico.  É ter a malandragem de um gato escaldado e saber que mais dia menos dia estaremos nos sentindo confortáveis novamente em nossa nova pele e em casa, finalmente.

Não comem!

E a minha cara de espanto quando vejo que só encontro arroz no "corredor de comidas exóticas"? Peraí, os franceses não comem arroz?? Nem estou pensando no feijão que não me faz grande falta, mas arroz?? Não comem! Comem batatas, massa, mais batatas em porções pequenas que é para não engordar.  E andando pelo corredor, começo a minha procura desesperada por arroz parbolizado, o meu queridinho dos arrozes. E venho a saber que simplesmente não tem. Há o basmati de grãos longos, curtos e grossos. Basmati com tomate seco, ervas finas, basmati integral, basmati hiper-papa, basmati. Basmati. Basmati. Odeio arroz basmati. Odeio arroz unidos venceremos. Odeio arroz papa. Minhas comidas tem ficado agora uma nhaca com aquele arroz. Estou ponderando importar de Portugal o meu arroz soltinho e durinho porque não sei se sobrevivo a isto. Nhaca.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Ahhhh a rotina (suspiro bom)!

Ontem demos o pontapé inicial no que imagino que serão os nossos dias pelo menos nos próximos meses. O marido voltou a trabalhar e ficou com a responsabilidade de levar o Fabian na escola, até porque é a hora ideal para falar com a educadora, na saída é só a despachar. Eu busco no fim da manhã e recomeço o almoço. O marido vem almoçar em casa, conversamos, o Fabian faz festa quando ele chega e depois do café ele sai novamente. Faço o Fabian dormir, limpo a louça e a casa. Ele acorda, vemos filme, brincamos de massinha de modelar e logo o pai está de novo a entrar pela sala. Como é bom morar tão perto da escola e do trabalho dele! Mês que vem começa o meu curso de francês às segundas e quintas durante o horário de escola do Fabian. Se para algumas pessoas a rotina é um saco, para mim é só a melhor coisa que posso querer! Sei bem que as rotinas mudam com o tempo, mas esta eu podia me acostumar até ficar velhota.

Monobanco


Pois é, aqui não há multibancos, há monobancos. Eu explico: aqui há uma espécie de caixa banco que quer ser multi e a única coisa para que serve é para tirar dinheiro. Não se pode ver o saldo da conta, não se pode fazer transferência, não se pode pagar uma conta, carregar o celular, carregar cartão de transporte, pontinhos e reticências e suspiros. No Brasil também é assim, se quisermos fazer qualquer coisa, temos de ir no local exato onde ficam as caixas monobancos do nosso próprio banco e ali fazer as operações. Acontece que os bancos ficam muitas vezes longe, tem de se pegar ônibus e tal e coincidentemente há um ali do outro lado da rua que bem podia ter uma caixa multibanco como em Portugal. Acho que é o único país da europa com um sistema tão inteligente e unificado de forma a dar maior conforto aos clientes. Não sei se é por ser um país menos populoso, o fato é que não sei se Luxemburgo por exemplo, tem um sistema bancário tão ou mais superior. Portanto, aproveitem que puder! Que nós aqui no resto do mundo, temos de mexer os traseiros e ir até onde estão as famosas caixas para fazer o que quer que seja.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

As novelas e o mimimi

Tenho gente estranha no meu facebook que diz que novelas estupidificam o ser. O engraçado é que são os mesmos que não perdem um jogo de futebol, que olham religiosamente os enlatados americanos e que provavelmente engoliram o Lost, sabem o falecido Lost (?) e suas teorias absurdas. Penso que ver um pouco de novela e digo um pouco e não quatro horas por dia, não faz tanto mal quanto ver todos os jogos do campeonato mineiro ou baiano, vá lá. As pessoas que com tanta facilidade se enraivecem com quem assiste novelas muitas vezes são até aquelas que devoram livros como os de Dan Brown e os do Paulo Coelho. Reclamam do alienamento que a televisão passa e não percebem que não deixam o smartphone para olhar um segundo nos olhos de quem está falando com elas. Acham o cúmulo ver o vilão sofrer ou torcer pela mocinha porque isto segue a mesma receita há anos, mas ficam igualmente alienadas por horas a fio na internet e pior: em sites de relacionamento. Se a preocupação destas pessoas é que a novela deixa pouco espaço para o debate socio-político, para a invasão da Síria, criticar o governo atual ou mesmo para a convivência familiar, ora, supresa das surpresas ela não está só. Sejam sinceras pessoas, quantas de vocês vão na internet para ler sobre algo com fundamento a fim de se enriquecer intelectualmente? Quantas não ficam implorando por vidas em Candy Crush ou passam horas no instagram e twitter? Quantas não ligam a tv para ver a bola rolar, a cerveja descer? Quantos não leem romances teen de vampiro e vão aos cinemas ver filmes em que pouco ou nada há de enredo a não ser uma sucessão de tiros e cenas de sexo? E depois a novela é que a culpada por toda esta gente burra que há em sua volta? Parece que vocês tem também alguma coisa de Zé povinho ( e de novela já agora): simplificam a realidade e a reduzem numa  luta entre o bem e o mal... 

domingo, 8 de setembro de 2013

Morceguinhos

Só eu que acho pé de recém nascidos feios? Nem penso que todos tenham cara de joelho, o meu pelo menos depois de duas horas, deixou de ter.  Mas os pés, que coisinhas mais minúsculas e estranhas. Deve ser por isto que os sapatos em miniatura são tão fofos, é a lei da compensação. Ainda bem que passa com os meses, à medida que engordam, ficam a imagem mais cuti cuti que há. 
Lembro-me de que a primeira coisa que vi do meu filho foram os pés. Bem roxos e feios. Lamentei. O Fabian tem uns pés feios como os meus e é tão bonito, achei até que estes pés não combinavam com ele. Tentei tirar fotos dos pés, não é o que os tarados por privacidade fazem? Mostram os pés dos bebês como se fossem a Monalisa que todos estão à espera e talvez seja ironia quando secretamente acham que ao vivo nem é tão bonita, nem tão grande, nem tão bem pintada assim. E provavelmente é o que pensam da foto dos pés. Parecem morceguinhos com gatanhões. Os mais experientes, que já foram pais, pensam que com o tempo passa. Os pés, ao contrário do resto, vem com fofura garantida.  

Ah o que seria da vida sem eles?

Alguém tem dúvidas do que vou dizer? O que seria da vida sem os vizinhos (de cima)? 
O primeiro contato geralmente é amistoso, um sorriso, um bom dia. Quando abro ou fecho a janela pode acontecer de vê-los a estacionar o carro ou a sair com o bebê. Não sou neurótica, caramba moramos em uma casa do século 17, seria incoerência mudar-me para cá se me importasse com alguns passos à noite. Mas nada nos preparou para a sessão espírita de ontem perto da meia noite. Estávamos vendo justamente "A Entidade", uma porcaria de filme de terror que me deixou boa parte da noite acordada, quando um barulho começou. Por Allan Kardec, esta mesa mexe-se tanto! Será dos espíritos?? Mas depois de muito arrasta arrasta e bate bate, eis que uns gemidos femininos adentraram o silêncio da noite e eu só olhava para o marido. Que espírito sofredor! Coitada! 
Não era inocência, minha gente, eu sei que andavam a foder nas nossas cabeças. Era só que a imagem daquele gordo careca e da mulher feia como um raio (loira sim, mas feia de dar dó) a fazerem sexo selvagem, era pior do que imaginar que o que se passava ali era uma sessão mediúnica. E depois o mais estranho de tudo é que fico eu com vergonha da situação. Como olho para a cara deles sem que me venha a imagem grotesca do gordo gotejando e a cama estrebuchando e?....melhor parar por aqui. Mereço isto meu Deus? Eu que sou tão boa vizinha e que faço sexo discreto para não incomodar os vizinhos? Isto deixa-me em um sério dilema: continuo a me queixar como uma velha ou faço também as minhas sessões espíritas? 

Conexões fabiônicas

Mãe, olha lá o espinho da torre! (Ponta da torre da igreja)

Mãe, uma folha de passarinho! (Pena)

sábado, 7 de setembro de 2013

Porque nunca seria uma fashion blogger?

Bah Katiezinha, calças dobradas eu usei até os nove anos! E com sandálias e meias e calças boyfriend...uhh tantos paradigmas  quebrados em uma só foto...O pior da moda é que ela serve  para nos envergonhar a cada dez anos.
Nunca vi mulher mais desligada com bolsa do que eu. Sério. Não é que não goste, até acho algumas bonitinhas, mas entre gastar o mesmo dinheiro em uma e comprar um jeans por exemplo, eu compro...o jeans. Bolsas estão lá pelos últimos itens da lista, atrás de meias e tênis. A prova disto é que a única bolsa que tinha ficou no Brasil perdida em uma das inúmeras mudanças que fiz e a que usava por quebra galho, era uma muito muito muito velha da minha mãe. Tinha lá o seu charme, podemos chamar de vintage até. 
Então sou uma mulher sem bolsa e sem carteira também. Ando nas ruas de mãozinhas ao léu, e deixo o marido encarregado de levar na mochila dele os meus documentos e gloss. 
Também vario de estilo assim tipo nunca. Gosto das mesmas coisas por anos e anos a fio. Não quero saber se o que está na moda é agora os shorts-centro-peito com a porpa da bunda de fora se eu gosto é de vestidos soltos e saias plissadas. Se o verde limão é o novo preto, se bolinhas amarelas é que é o must-have do verão com chinelos de cupcake. Não, o meu gosto não muda a cada estação e tenho até orgulho em dizer que não sou escrava da moda. Calças boca-de-sino cadê vocês??! E é por isto que nem fotos de unhas teriam graça, pois que ando com elas nuazinhas ao bom cor-de-rosa natural há um bom tempo. Outra razão porque nunca seria uma fashion blogger, é porque não tenho paciência para tirar mil fotos no espelho com o look do dia e boquinha de pato. Só uma pergunta: virou fashion ser ridículo?

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Primeiro dia?

A escola

Chegamos e nos posicionamos no corredor que dá para a porta da escola. Muitas mulheres das arábias e francesas que ora iam para o "saí agora de uma boate" ou para o "levantei, coloquei os chinelos e vim". Quando soou a campainha senti-me em um daqueles concursos em que as equipes saem a procurar objetos no prazo de meio minuto. A sala do Fabian afinal era embaixo, tínhamos de descer as escadas e o nome dele já estava em um cabide. Ficamos ali em reunião com outros pais que também se despediam dos filhos, nesta hora o Fabian abriu o berreiro e não foi porque não queria ficar, simplesmente não queria por o crachá que todos devem usar. O pai entrou na sala com ele no colo e em alguns minutos já estava distraído com os brinquedos. Como combinado voltamos às 11:30 para buscá-lo. A escola não tem cantina, por isto teríamos de trazê-lo depois à 13:30 quando ficaria até às 16 hrs. E ao voltar, descobrimos que o diretor não explicou direito, ao que parece o Fabian frequentará o maternal por apenas três horas, pois eu não trabalho. E fiquei pensando que acho muito estranho, o horário da escola faz com que os responsáveis fiquem disponíveis o dia todo para a criança e se assim o é, como conseguem as outras mães trabalhar? Pude contar apenas três ou quatro pessoas mais velhas que poderiam ser avós, a maioria era de mulheres jovens e com um ou dois filhos menores pendurados em carrinhos. E eram justamente as mesmas pessoas que vieram buscar as crianças para o almoço...acho mesmo que não há mais vagas por uma questão de atraso na inscrição e não porque ainda não trabalho. Sinceramente até me custa pensar que patrão dará emprego para uma mulher que tem de sair antes das 16 horas e que possivelmente teria de passar duas horas em período de almoço para ficar com o filho. Mas para a nossa situação atual, é o que podemos fazer de melhor. Ao menos ele convive com outras crianças e vai aprender alguma coisa de francês. Hoje ele veio com o nome de um amigo: Salle, acho que era isto, e já disse que amanhã queria ir novamente!

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

É amanhã

A blogosfera tá rodeada de assuntos que giram sobre o mesmo: a volta às aulas, adaptação, birras, etc, etc. Não sou uma mãe estressada e coruja e meu filho também não é daqueles de fazer chororô por causa de escola, penso que ao menos nisto tive sorte. O Fabian é comunicativo, curioso, adora a companhia de outras crianças, o meu medo é mesmo a adaptação à língua. Tenho receio de que ele sinta-se frustrado ao ver que não é entendido, principalmente por outras crianças. Ao mesmo tempo tenho esperança que encontre consolo em filhos de outros imigrantes que como pude ver na lista fixada à porta, são alguns. Ontem o levamos na frente da escola e ele ficou maluco para entrar e ir brincar no trem de madeira. Depois fomos para a praça ao lado e lá tentou interagir com duas crianças em situações diferentes, mas ao que parece nenhuma lhe deu a mínima. Diz-me o marido que é normal dos franceses, eles só brincam/conversam/convidam para frequentar sua casa, quem conhecem há muito tempo, geralmente amizades bem consolidadas, enfim, não há povo como o nosso não evitei pensar. Que diferença do parque que o Fabian ia, onde o que contava era a brincadeira, os gestos, os sorrisos... Só me resta esperar e torcer para que dê tudo certo. Enfim, quem nunca foi imigrante na vida não sabe o que é o peso da solidão.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Coisas que ainda tenho que me acostumar

- O gosto da água. - Como sou pessoa de beber mais de 2 litros por dia tem sido difícil. O gosto é estranho e tal como a de Portugal já notei que tem calcário e os meus cabelos já se ressentiram por isto.
- Aos 500 canais de tv sendo que nenhum, mesmo nenhum presta. - Volta Discovery Health!! Até descobri que aqui também há "Casa dos segredos".
- Ao vaso sanitário separado do banheiro. - Não adianta, estou sempre a ir para lá, ás vezes literalmente de calças na mão!
- Ver mulheres de burka na rua. - Ainda mais pelo calor que faz, não sei porque, mas tanta roupa me dá comixão! 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O que vemos da nossa janela...


Conhecendo os franceses

O primeiro mito a ser derrubado é o de que os franceses são um povo snob e fechado. Tá bem Bonitinha, vamos com calma, quem diz franceses diz parisienses, porque a França também é muito grande. Tal como em outros países, as pessoas fora da capital são no geral mais simpáticas e aqui o que não falta é gente querendo um dedo de prosa. E o bonjour então parece ser o sinal verde para uma conversa que começa com o tempo. No passeio de domingo um francês filho de portugueses nos interpelou na fila para o crepe. Cantou-nos João "Gilbertô" que ele jurava que era um músico português. Nós nos olhamos e acenamos que sim, pra que contrariar o cara tão cheio de savoir faire? 
Se as pessoas tem a gentileza de falarem devagar, vou pescando uma coisa ali, outra acolá e respondendo com monosílabos e jeito de índio falar. Fora isto o negócio é balançar a cabeça: oui, oui. Nunca falha (por enquanto) lol. 
Outra coisa que tem me deixado mais à vontade é o fato de que há para aí três imigrantes para um francês. Eles são árabes, senegaleses, chineses, indianos, portugueses, etc. É muito mais que em Portugal, sem dúvida. Isto deixa-nos a sensação de que o país também é um pouquinho nosso e tal como coração de mãe, há sempre lugar para mais um.
Outro fato curioso sobre os franceses, é a sua obsessão pelo tempo. Oferecem-nos as previsões várias vezes ao dia com o intervalo de horas. É uma coisa um tanto desnecessária para um final de verão em que os dias vão ficando cada vez mais amenos à medida que anoitece. E por enquanto é isto!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Fabionices

A Torre:

Fabian ainda em Porto Alegre no carro dá avó:
- Olha vó, a Toiê Eifu! - Para as torres de telefonia.

***

Perante a legítima:

- Mãe, aquele é o xixi da Toiê. Aquele é o cocô. - referindo-se à rede e às estruturas de ferro para restaurá-la.

Notícias

Tantas novidades, mas vontade nula de escrever. É por isto que concordo que quem vive realmente mal tem tempo para a internet. E nestes últimos meses tive muito tempo para ela. Hoje vieram as malas, as minhas porque a do Fabian ficou em Lisboa por engano e chega amanhã. Agora mesmo consegui terminar de desfazer as minhas e fiquei muito feliz com o resultado. Achei que ia explodir o roupeiro com as minhas coisas, assim dá para esperar um pouco até comprarmos um pequeno para por ao lado do que já temos. 
Nossos dias tem sido andar por grandes lojas, leia-se ikea, leroy Merlin e supermercados. Quem disse que rechear uma casa era fácil? Claro que o que é necessário para uns será supérfluo para outros, mas as coisas miúdas e que fazem falta são inúmeras. Uma tábua de passar roupa por exemplo, uma esfregona de eponja, as vitrages para as janelas da sala e do quarto ( já que a nossa casa tem vista para a rua e para um pequeno estacionamento).  Neste período pudemos constatar duas coisas: que os transportes públicos funcionam e que puta que pariu como é chato depender deles para tudo!! Ainda mais com uma criança que ainda anda no colo...