quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Hoje até um limão ta mais doce do que eu



Feliz ano novo é o caralho! Não quero desejar nem quero ouvir "que tudo se realize no ano que vai nascer". Estou do contra. Sozinha. Ninguém devia ter que passar assim vendo os outros se divertir, postar fotos felizes da família reunida, ou dos amigos reunidos levantando garrafas de vodka. Sorte é saber que uma boa parte disso é encenação. Ano passado já foi ruim com o marido chegando às onze da noite, somados aos pães de queijo mal cozidos e ainda à pizza congelada comprada no mercadinho árabe que não salvou nossa pseudo ceia. Mas este ano nos superamos de verdade. Merda. Quando é que esta sina de estarmos sempre separados vai terminar? Esta vida cigana?
Azar: porque só para variar em 2016 não vai pegar noutros pés? Esquece um pouco de nos, é só isto que desejo à meia noite. 
(se quiser, posso dar umas dicas onde pode encontrar umas pessoas supimpas para atazanar)!

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Põe, mas só a cabecinha

Foi engraçado ver a cara de surpresa quando eu disse na aula que não, sinto informá-los mas o Brasil não é este "olê olê"* que vocês pensavam. Ohh, mas como assim? Quer dizer, quando eu falo que sou brasileira tenho a impressão que junto com o sorriso, a pessoa ta imaginando que em casa tenho uma fantasia com plumas e que passo o aspirador de fio dental enquanto sambo. Mesmo para alguém mais instruído, é difícil explicar que a nossa relação com a sacanagem é um paradoxo. Para isto é preciso lembrar que antes das invasões portuguesas e espanholas, os nativos tinham o sexo como uma coisa natural e isto só mudou com a imposição do catolicismo. Somos uma cultura plural, mas com um denominador comum: o Brasil é um país extremamente crente e ainda encara o sexo de uma forma fetichista. Acho, por exemplo, que uma francesa é muito mais livre de expressar sua sexualidade do que uma brasileira, e isto deve-se porque a primeira mora em um país com menos interferência religiosa e machista do que a outra. Foram necessários séculos para que as francesas pudessem usufruir deste direito e infelizmente as minhas compatriotas ainda tem um caminho longo pela frente.
As brasileiras ainda se revolvem na dicotomia santa e puta, onde puta é a mulher que tem sexo com quem quiser e com a frequência que quiser e santa é aquela que faz tudo isto, mas na surdina. Os gringos olham as passistas semi-nuas e fazem um filme erótico em suas cabeças, acreditam que lidamos bem com a nossa sexualidade tão e simplesmente porque a expomos. O Brasil não é para principiantes, já dizia Tom Jobim. O corpo que está descoberto pode muito bem abrigar o pudor e isto não se trata apenas um jogo de palavras, pois sabemos que ao contrario do que pensavam, há pecado debaixo da linha do Equador.  
Depois de um tempo comecei a pegar implicância com uma música que dizia "nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda". Afinal se a idéia é combater os estereótipos e moralismos, faz sentido ao invés de questioná-los, darmos mais força apenas nos deixando de fora? Tipo nem todo baiano é preguiçoso, nem todo alemão é nazista, nem todo pobre é ladrão? Coisa mais tosca. 
A sexualidade brasileira é como aquela historia de pôr só a cabecinha, é a vitrine do proibido passando em horários familiares, inclusive em programas infantis. A malícia convivendo inocentemente em trocadilhos como aquele jogado ao casal que namorava pelo atendente da lanchonete: vai comer aqui ou quer que embrulhe para viagem?
 Ademais, o brasileiro é um libertino extremamente conservador. Existe uma lógica que só quem nasceu lá consegue entender: pau que nasce torto nunca se endireita, menina que requebra,  a mãe pega na cabeça. É francesada, não esqueçam de segurar o tchan, e amarrar o tchan quando pensarem que o Brasil é um país bem resolvido sexualmente, quando na verdade andamos mais pela adolescência punheteira, morrendo de medo que nos cresçam pêlos nas mãos.





* Olé olé; Expressão francesa para a nossa boa e velha sacanagem



Um abraço para quem leu cantando rsrsrsrs

Comédia da vida privada

Parece uma novela de Nelson Rodrigues, mas não é. Um corno sustentava as mãos ensanguentadas por ter quebrado os vidros do carro do amante. O cenário: a saída do motel. O amigo do corno filma e põe lenha na fogueira, xingamentos são ouvidos. O corno se descontrola, arranca a mulher do carro. O amante se acovarda dentro dele. Seria uma história constrangedora se restasse em bocas conhecidas e provavelmente se restringisse apenas à cidade em que ocorreu. Isto se o corno não resolvesse em um rompante de vingança, espalhar internet à fora sua tragédia. 
Sabemos que a tecnologia tem levado a uma super exposição da vida particular, tornando cada vez mais difuso distinguir o público do privado, contudo, os momentos partilhados são geralmente os positivos para aquele que se expõe, em detrimento dos negativos. É o chamado marketing pessoal, onde o parecer se sobrepõe ao ser. No entanto, este homem preferiu passar sua humilhação adiante porque sabia que mais importante do que o corno e mesmo que o amante, está a adúltera, a puta. 
Milhares de memes, de contas falsas em redes sociais foram feitas em nome da moça, somadas a milhares de xingamentos e ameaças. Tudo gente muito fina, cristã na maior parte das vezes e que nunca traiu. Não consigo imaginar onde este moralismo todo vai se esconder no próximo carnaval. É que é muita perfeição neste Brasil véio. Vai faltar óleo de peroba para passar na cara de tanta gente!

domingo, 20 de dezembro de 2015

Ele me disse que às vezes sentia falta de ser "cuidado". Naquelas ocasiões deitava-se na banheira enquanto a esposa lhe pavoneava: um homem de mais de quarenta anos. Falava naturalmente com a certeza de que todos passamos por momentos assim, que em um casamento ou mesmo em qualquer relação, trocamos papéis, filho, mãe, pai, irmão, amante... E hoje acordei sentindo esta falta, ou melhor, verbalizando-a porque faz tempo que sinto necessidade de ser cuidada. Sou só eu a tratar das coisas, eu sou a única pessoa com quem posso contar agora. Cansa. 
Minha única resolução para 2016 é fazer uma lua-de-mel no ano que completamos dez anos de casado. A minha primeira lua-de-mel. Obviamente sem o Fabian, e se possível em um hotel childfree. Quero ser cuidada e quero cuidar dele como fazíamos nos primeiros anos de casados. 

Da série: achava que isto so acontecia no Japão

"Sem filhos, casal cria um urso de pelúcia como criança". E para quem já achava um porre fotos de animais sendo tratados como filhos, até com a legenda fofuxa e abebezada, imagine os amigos deste casal hahaha! 


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

All by myself

Da para pular a parte do ano novo e ir direto para o dia em que a gente vai rir disto em uma cabana nas Maldivas?



Não tenho escondido de ninguém, de fato tenho inclusive feito questão de dizer que este final de ano vamos passar somente eu e o Fabian em casa. As pessoas se esquivam com um sorrisinho cretino no canto da boca, ah , mas ao menos ele vem para o natal. Verdade, já é uma coisa. E que mania a minha de querer ter a família reunida ou pelo menos, a pessoa mais importante da  minha vida ao meu lado à espera da contagem para a meia noite! Eu sei que nada muda no dia primeiro, que tudo estará como deixamos antes, junto com as taças vazias de champagne sobre a mesa. Mas é a magia do momento, é o fechamento simbólico de um ciclo, onde teoricamente deixamos as tristezas para trás e nos renovamos de esperança e forças para o ano seguinte. E eu ainda não me decidi o que vou fazer, se eu faço de conta que é um dia como qualquer outro, ponho o Fabian para dormir cedo e  vejo um filme no netflix ou se me abalo até a praça Bonaparte para assistirmos a queima dos fogos. Vai depender do tempo e do meu humor, coisa que só vou saber no dia. 
Tenho de parar de imaginar o mundo à minha medida, esperar ser convidada numa destas para não passar sozinha, isto não vai acontecer pelos vistos. Muito provavelmente eu até dissesse não, obrigada, mas isto acalentaria a ideia de que fiquei sozinha por escolha. De qualquer forma, acho que vou de Celine Dion à meia noite, bem alto que é para causar algum remorso neste iceberg que os franceses tem no canto esquerdo do peito. Não me tomam por rainha do drama à toa, não é mesmo?




           Qualquer semelhança não será mera coincidência.

Como eu suspeitava

Mãezinhas são todas iguais, mesmo quando dizem que não são, que são contra esta cobrança exagerada das escolas e do ensino que exige que saibam contar e escrever aos cinco anos. São contra quando seus filhos não tem as mesmas habilidades das outras crianças, mas quando se destacam ou quando estão um pouco mais "adiantados", fazem questão de mostrar. Mãezinhas, vão se catar. Não é porque andam, falam e agora contam, escrevem mais cedo que os outros que tem um superdotado em casa, desculpa em dizer.


O espelho

Ajeitava o cabelo milimetricamente bagunçado de gel. Um topete que formava uma onda prestes a estourar lhe acrescentava mais de quinze centímetros de altura. Como se precisasse. Ele deve ter mais de um metro e noventa, mas ainda não teve tempo de desenvolver carne, o corpo estivera apenas ocupado a fazer crescer os ossos esquecendo-se do resto. Usava uma calça jeans justa, destas que uns anos atrás era considerada feminina, mas que hoje todos os jovens descolados tem. O casaco aberto em desafio mostrava que vestia apenas uma camiseta branca por baixo, muito provavelmente de manga curta. Sentir frio nessa idade é secundário, claro. 
Ao se ver observado, parou por instantes de ajeitar os fios de cabelo endurecidos, deu uma ultima olhada no espelho e saiu deixando um rastro de perfume masculino no hall do prédio. Abri a porta para que passasse e fiquei olhando até a sua figura esguia e desengonçada se esgueirar pela esquina. Realmente há gente que é tão caricatural que parece saída de algum livro ou filme...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Depois das bandeiras francesas saírem dos perfis

Aqui o rescaldo dos atentados nos deixou a decisão que acredito não terá volta, de não deixar mais os pais entrarem na escola. Toda saída é aquele amontoado de gente no portão, a diretora se esgoelando para ser ouvida, bafo no cangote, uns atropelando os outros para que seu filho seja chamado primeiro. Esta semana as crianças cantaram musicas de natal, iam fazer uma apresentação, no entanto foram filmados e pediram que levássemos um pen drive para gravarem. Confesso  que acho uma medida tola, não acredito que aqui tão longe e numa cidade sem qualquer destaque possa se tornar alvo do que quer que seja. Mas é dessa forma que o terrorismo vence, através do medo que aos poucos se transforma em paranóia. Engraçado notar que na escola de uma amiga muito mais perto de Paris, estas medidas não foram tomadas, enfim...

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Sobre as calças cintura alta...



vulgo "centro-peito", é a melhor pedida se eu quisesse sair por ai desfilando uma linda barriga de sapo. Estas calças não ficam bem a ninguém, talvez àquelas modelos muito magras, mas eu não dei altas risadas à custa de fotos familiares para depois porque dizem ser moda, voltar a usa-las  (graças que inventaram as calças centropê eu tinha 12 anos). Quando elas chegaram eu disse que nunca mais me enfiaria naquela coisa que eu já achava feia. E vendo as lojas on line, percebi que as skinny finalmente perderam o reinado, embora existam em boca de sino, não há sequer uma opção de cintura baixa ou mesmo média. Assim se fazem escravos da moda...No meu caso, isto só me faz conservar as roupas que tenho há mais de dez anos no armário. 

domingo, 6 de dezembro de 2015

Os opostos se atraem

Não me parece, pelo menos no que diz respeito às amizades do Fabian. Em Schiltigheim tínhamos o Alperen e aqui temos o Evan, tão agitado quanto o meu filho. Quem dera se a física estivesse certa, mas o que acontece é algo próximo à explosão. E não exagero, a professora já os proibiu de sentarem juntos na aula e inclusive de brincarem no pátio. E eu achava que era mais uma das invenções que ele conta... 
Ontem chamei o amigo para passar a tarde aqui em casa, para que né? Onde eu andava com a cabeça? Pensei que a qualquer momento me batia à porta um vizinho para mandar eles ficarem quietos. A mãe do menino esteve um pouco de conversa e descobrimos muitos fatos em comum, principalmente a sensata decisão de que não teremos mais filhos. O Evan também foi um bebe exigente e só fez noites completas à partir dos quatro anos, como o Fabian. Ela também teve depressão pós parto, também tem pouca paciência e regula de idade comigo. As vezes me pergunto sobre o que veio primeiro; se o Fabian é uma criança difícil porque me decepcionei com a maternidade ou me decepcionei com a maternidade porque ele é uma criança  difícil? E não tenho resposta, tal qual a historia da galinha e do ovo. Ainda acho que tudo começou em uma placa de petry com um espermatozóide que nadava tanto, mas tanto, que o biólogo achou que era boa ideia escolher aquele ali...

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Coincidências

Não posso dar a chance para a revolta porque sei que se abro as comportas ela vem e me atropela. Ao invés disto tenho adotado a formula do "era para ser assim", é como tenho apaziguado este meu flerte com o desespero de estar sozinha outra vez. 
O marido diz que a cidade é feia, fica a duas horas do mar, isto para mim já tira a maior parte do encanto de qualquer uma. Mas Toulouse é uma cidade grande e os transportes funcionam bem melhor do que aqui. 
O Fabian pergunta a cada duas horas se o pai já vem e quando o pai vai nos buscar para morar na nova casa. Respondo-lhe que ainda demora "tantos dia" e que primeiro ele vem para o Natal para nos visitar. Tudo outra vez...e de novo tenho aquela pista como o sonho que tive com a foto do nosso quarto antes de nos mudarmos, uma foto em uma sugestão de viagem. Uma cidade medieval a uma hora de trem de Toulouse, e a 15 minutos de uma praia fluvial. Se as coisas correrem como o esperado Carcassonne será o nosso novo destino.


Que lugar me contém que possa me parar?





Sou errada, sou errante, sempre na estrada, sempre distante...vou errando enquanto o tempo me deixar...

sábado, 28 de novembro de 2015

Sério isto?




Dizem que é a febre deste verão 2016... Se não fosse moda quem teria a coragem de usar? às vezes fico pensando que se os estilistas inventassem biquínis de saco de lixo trançado e dissessem que é o luxo da estação, muita gente ia dar fortunas para desfilar com um na praia.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sou muito crua, eu sei

Não consigo esconder o nojo que sinto do pensamento de que "cabe sempre mais um", de que "tudo se arranja com fé em Deus", "é só mais uma boca para alimentar", como se as coisas fossem tão simples quanto pousar mais um prato na mesa.  Vai ver eu deixo as fantasias para as novelas mesmo, a vida eu enxergo com muito pouco cor-de-rosa.
Quando pensei em ter um filho nunca imaginei o quanto isto me custaria, qual seria a parcela do casamento que ficaria por pagar nem por quanto tempo estaria no spc do amor. Também não pensava no quinhão de identidade que me seria usurpado nem se algum dia eu reconstruiria meus pedaços. Quando eu pensei em ter um filho, já pensei em tê-lo longe da família, minha rede de apoio era pequena, porém hoje é inexistente. Quando pensei em ser mãe, não pensei nas voltas que o mundo daria, nas voltas que eu daria até ter de novo um lugar para morar. Não pensei em estarmos só eu e ele, o marido a quilômetros de distância, nem na solidão que se tornaria a minha vida. Porque ser mãe não preenche todos os meus espaços, não me fez virar uma pessoa melhor, uma heroína montada num unicórnio (saudades She-ra...). Ser mãe me fez ficar mais crítica com esta parcela que acha que ter filho é tudo de bom e que quanto mais crianças tiver, mais feliz a mãe é. Mesmo que não tenha a mínima condição para criá-los.
E eu não estou falando dos pobres miseráveis, falo de gente de classe média mesmo, ter condição de criar não é só ter dinheiro para uma creche top e dinheiro para babá ao fim-de-semana. 
É verdade que não se põe todas as possibilidades em jogo quando se coloca alguém no mundo. Ninguém pensa que pode perder o emprego, mudar de país, mudar de vida, perder amigos. Ninguém pensa que pode morrer e deixar o filho com um pai maluco que dá banho gelado nas crianças, que é mau, bruto e negligente. Porra, e me dá ainda mais raiva e impotência saber que isto acontece na minha família...

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Figuraça

Estava arrumando as luvas de volta na sacola quando fui interpelada por ela. De salto alto, as pernas finas metidas dentro de uma legging preta, e a legging por sua vez, metida em um short jeans muito curto (e com a bainha dobrada). Dizia ela que a pouco quase havia atropelado um ciclista na rótula e que uffff (barulhos com a boca, tão importantes quanto os biquinhos feitos na hora certa) este também não tinha visto nada. Ô lá lá. Pfffff. E eu respondi escondendo meu Bah na bolsa, junto com as luvas. Aqui ele não significa nada. Ô...lá lá. Pffff. Levantei a cabeça, ela de cabelos curtos e brancos, óculos grossos, diria tranquilamente que virava a curva dos oitenta e ri-me por dentro. Ri do fato de ser considerada (e às vezes  sentir-me) passada, ui, "mulher madura" e balzaca com meus trinta chegando ao fim em janeiro. Lembrei que as "novinhas" que pipocam nas letras de músicas são gurias de 15 até 20 anos e que eu já não sou jovem para o Brasil há algum tempo. Mas juventude é um conceito tão relativo que se eu dissesse  para ela ou qualquer francês que me sinto meio velhota, tenho certeza que falariam  "c'est bizarre ça". E talvez acompanhado de uma porção de ufff, afinal ainda ontem deixei as fraldas e aqui pelo menos no sul, paraíso dos aposentados, a vida começa aos sessenta. Ainda tenho mais trinta anos até chegar na envelhescência, ufa...

Bonjour ou Bonsoir?

Mesmo depois de algum tempo ainda não me acertei com isto, quer dizer, no Brasil à partir das 19 horas começava a ser "boa noite", ou à partir da uma deixava de ser "bom dia". É uma coisa que me deixa confusa desejar bom dia mesmo sendo seis da tarde, mesmo estando já noite cerrada agora que o inverno veio de vez. Desconheço se aqui existe alguma convenção do tipo, mas noto uma certa esquizofrenia social: enquanto digo Bonjour para alguém, a pessoa responde Bonsoir e assim, a próxima que encontro desejo Bonsoir e ela me responde Bonjour. A lógica sempre me manda beijos e abraços, mas aparecer que é bom, nada.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Aquela frustraçãozinha

que dá quando a gente acha que tem uma ideia genial e depois descobre que alguém já pensou naquilo antes. E pensou pior, verdade, mas se insistirmos parecerá plágio...


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Sakamoto, posso te dar um beijo?

Não sou de copiar e colar no blog, raramente o fiz, mas isto merece porque é daqueles textos em que se concorda com cada virgula, além de claro, ele dizer bem melhor do que eu. A ultima pergunta que ele deixa no ar, é uma das que mais tenho feito ultimamente e um dos motivos por ter me afastado das redes sociais. Agora depois de ter voltado apenas para não cortar o já frágil contato que tenho com a família e alguns amigos, a minha ideia é cada vez dedicar menos tempo para isto. A minha vida é off line.

Eis que surgem as selfies nos locais dos atentados terroristas em Paris

A maioria dos que estão visitando esses locais querem prestar homenagens aos que faleceram e solidariedade. Outros comparecem para verem e serem vistos. Sem contar os que são guiados pela mera curiosidade mórbida.
Um grupo, contudo, vai a locais de tragédias ou velórios de gente conhecida porque querem fazer parte de algo sobre o qual toda a mídia e redes sociais estão falando – mesmo que não compreenda nada do que está acontecendo.
Querem ir para poderem dizer “estive lá''. Foi assim com parte dos que visitaram nomes como Ayrton Senna ou Roberto Marinho, cujas mortes, como a de Eduardo Campos, foram intensamente cobertas por veículos de comunicação por diferentes razões.
Para muitos destes, a conexão com o mundo se dá através da postagem de uma foto nas redes sociais. Se possível, com uma selfie que é para não deixar margem de dúvida. Caso não mostre a foto a ninguém, o esforço de ter ido ao local não fará sentido algum. Pois, para essa pessoa, a constatação de que aquilo foi real depende de validação externa, a partir do momento em que sua imagem for atestada coletivamente por “likes''.
Se você não postou é porque não esteve lá. E estar “lá'' dá sentido às coisas naquele momento, coloca você no lugar quentinho que é o sentimento de pertencimento. Afinal, o mundo inteiro está falando de “lá''.
Não estou dizendo que isso esvazia a experiência individual e coletiva de viver a catarse causada por ataque terrorista. Também não estou afirmando que existe apenas uma forma de expressar o luto e respeito. Mas esse tipo de comportamento, muito típico das chamadas “gincanas digitais'', transforma essa experiência em algo novo.
Não é a primeira vez que trago essa discussão aqui. Como já disse neste espaço, é possível fazer uma analogia com o comportamento em museus e exposições, por exemplo. Será que as pessoas que visitam esse locais fotografando compulsivamente tudo o que aparece pela frente, ziguezagueando feito uma barata que cheirou uma carreira de coca, realmente se lembram do que viram um mês depois? Ou conseguiram dialogar com o artista? Será que ao menos elas estavam lá?
Pior do que sair fotografando obras de arte de forma alucinada é gravar shows inteiros de música no celular. Perde-se o show para, depois, subir um vídeo tosco no YouTube a fim de validar a presença publicamente.
Enfim, capturar é mais importante que sentir em um mundo em que ter é mais relevante que ser. A impressão é que a memória vai sendo transferida, paulatinamente, da cabeça para cartões SD ou para as seções de fotos nas redes sociais, tornando-nos cada vez mais dependentes disso para recriar nossas vivências.
O mesmo se aplica a viajar. Para muitos, conhecer uma nova realidade é ir ticando uma lista de ícones – “pronto, já vi'' – derivados de guias simplistas ou matérias de turismo duvidosas que reforçam a caça ao tesouro. Sem considerar, é claro, uma vida inteira de bombardeio de padrões pela mídia, em programas de auditório ou comerciais de TV, que deixavam claro que se foi à Roma e não visitou a Basílica de São Pedro (mesmo que ache aquilo um porre), você não viu nada, é um pária social.
Quantos têm coragem de dizer não e fugir da manada?
Quantos conseguem alterar a programação a qual foram submetidos por anos?
Quantos percebem que a vida basta em si mesma, sem necessidade de validação?

Daqui:http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/11/19/eis-que-surgem-as-selfies-nos-locais-dos-atentados-terroristas-em-paris/

Paris

Acordei com mensagens no telefone perguntando se eu estava bem. Não sei se as pessoas sabem, mas moro a oito horas de Paris, e prefiro pular aquela parte em que fingimos se importar e damos condolências mecânicas: oh que horror, meu Deus! Não que não tenha sido horrível, mas aqui está tudo igual, se não fossem as notificações do Le Figaro no tablet do marido, só tínhamos visto de manhã (às vezes a ignorância é uma bênção).
Quebrei minha promessa de ficar longe, mas não consegui resistir visitar o grupo de brasileiros em Paris no facebook, o qual faço parte. Aquilo dava uma tese antropológica, sério. 
Acho incrível como a burrice e a pressa em tomar lados os faz pensar que a extrema direita é a solução para resolver o terrorismo. Vou ser conscientemente preconceituosa nesta frase, mas é o que penso: a maioria dos emigrantes brasileiros na França são povo de pouca instrução, de mente tacanha e agressiva. São dotados do mais alto grau de viralatismo e acham-se vejam só, que fazem parte de uma outra estirpe de emigrantes. Quando conseguem papéis, acham que estão por cima da carne seca e quando conseguem a cidadania, deixam de ser brasileiros para serem apenas franceses. Tomam as dores dos franceses (dos xenófobos, principalmente) e clamam pela Le Pen esquecendo-se que legalizados ou não, serão sempre emigrantes.
Os mortos já estão mortos, volto-me para os que ficaram e penso nas consequências destes atos. Por mais que se diga que não devemos generalizar, a verdade é que o outro sempre foi um problema social. O outro historicamente e culturalmente exerce um papel de coesão no imaginário de uma determinada coletividade. O outro é aquilo que nós não somos, é aquilo que repudiamos quase de maneira instintiva. Desde as cidades-estados da Grécia antiga e até muito antes da escrita, o outro, o estrangeiro, o não-pertencente, serviu de espelho para a construção e consolidação de nossa identidade e por isto, rejeitá-lo em diversos graus faz parte da dialética de nossa formação. 
O outro também tem um papel importante: quando a coisa aperta, é preciso achar um culpado fácil, um vilão comum a quem o povo possa concentrar toda a sua revolta e insatisfação. Oportunistas sedentos de poder oferecem-lhes a cabeça do outro de bandeja certos de que ocupados em odiar, o povo fará o que eles quiserem. 
O meu maior medo talvez não seja o maior medo das pessoas, não é de outros atentados isolados, embora isto seja fácil de dizer morando em uma cidade do tamanho de uma ervilha, mas do crescimento da intolerância com relação aos emigrantes e que isto acabe gerando intolerância dos emigrantes para os nativos e depois isto continue até todo mundo estar se odiando sem saber bem o porquê.
 Eu sou o outro aqui, por mais que esteja legalizada, por mais que contribua com os impostos. Não há para a extrema direita, emigrantes e emigrantes, há tão e só emigrantes e eles não os querem aqui. Simples como isto.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Não sabia

Que minha língua era capaz de atingir o orgasmo, mas foi o mais perto do que consigo chegar  de descrever a sensação de comer um pedaço de carne com um pouco de gordura. Depois de três anos voltei a botar uma picanha na boca. Embora não tenha sido à moda gaúcha, foi o mais perto disso possível. Ai aquela gordurinha crocante que derrete-se ao mais leve roçar de dentes...que só virou post pela obstinação ridícula do franceses de torcer o nariz para qualquer gordurinha (e amputá-la da picanha é uma heresia). Eu até levaria à sério se a preocupação se estendesse a todos os tipos de carne e não apenas à bovina. Já cansamos de confundir peito de pato com uma picanha cuja capa de gordura é bem farta. 
Claro que não é coisa para se comer frequentemente, no entanto, é dose fazer um assado com absolutamente nada de gordura, a carne fica seca, horrível. Volto a dizer, o "nojinho" se limita à carne bovina mesmo, não podemos pensar em um certo zelo com a saúde se há tantos enchidos, bacon, patês, que não fazem nada bem mas estão corriqueiramente na cozinha francesa. Esta mania parece com os tiques de uma amiga que não come se não passar três a quatros vezes o guardanapo nos talheres, mesmo que tenha sido ela que os lavou. Um dia, meio irritada, perguntei se ela achava que resolvia alguma coisa e lhe dei o exemplo de que se eles tivessem caído na privada não haveria esfregadas que tirassem o que ela chamava "bichos". Ah vá, se é para limpar, limpa direito, vai mergulhar em álcool duma vez! Se é para deixar gordura, que custa deixar na minha picanha?!

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Árvores de Natal

Expectativa:


Realidade:






Todo ano, na hora em que brigo com os galhos artificiais da dita, eu lembro da foto quando comprei pela internet. Toda farfalhuda, cheia de fiapos de plástico verde, linda, linda. E todo ano me pergunto onde estão a porcaria dos galhos. Enrosco aqui, desaperto ali, puxo para um lado, falta do outro. Nunca fica como a da foto grrrrrr!



Status do dia: puta com a francesada


Ah e tal no Brasil que só tem ladrão,  no Brasil que roubam as coisas. Enquanto no Brasil se reza para que não roubem as encomendas, aqui tem o ditado que  quando tudo corre bem foi como uma carta no correio:comme une lettre a la poste. 
Minha madrinha mandou dois pacotes mês passado: um chegou em menos de duas semanas e o outro me chegou hoje. Em uma caixa de papelão simples e com os adesivos do La Poste. Ao lado tinha um recorte onde se lia a letra dela, tudo que restou da antiga caixa vinda do Brasil. O roubo? Um pacote de farinha temperada, uns doces para o Fabian e um sapato para mim  estilo boneca. "Ah não faz mal, é no Brasil que se rouba, eles nunca vão pensar que foi aqui " , pensou o francês idiota enquanto selava a caixa. Pois pensou errado que eu vou hoje mesmo fazer uma reclamação.  Isto só prova mais uma vez a minha teoria de que aqui as pessoas não são nadicas melhores que lá no terceiro mundo. Apenas tem sorte de ter um sistema que funcione quando estão sendo observados...porque quando não estão é isto, um ser humano igualzinho tanto aqui quanto em qualquer outra parte do mundo.



Atentem para o tamanho da caixa. A original era três vezes maior e com muito mais coisas, claro.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Não tenho paciência para promessas de fim de ano

Então comecei semana passada. Como sou pessoa oito ou oitenta, resolvi largar todos os vícios de uma vez. Adeus refrigerante diet, adeus facebook, adeus açúcar. Talvez eu volte para o face, a vida real se torna solitária quando todo mundo que se conhece está a um passo de um login, mas com certeza dedicarei muito menos da minha vida para isto quando voltar. 
Está tudo ligado. Andava me irritando muito com a quantidade de merda que lia, principalmente com as aberrações que as pessoas chamam indolentemente de opinião. Nem era tanto o cinismo, nem a  patética edição que fazem de sua vida, mas para me virar o humor bastavam achincalhamentos, ignorância política e as polêmicas da semana. Ah, as polêmicas....por tudo e por nada, geralmente por nada mesmo. Aí irritava-me mais que notícia das Kardashian  atravessando a rua (já disse que não posso com esta família? Só de escrever o sobrenome já me vem arrepios), e aí comia. Ou bebia refri. E a cafeína do refri me deixava com mais irritabilidade e dai eu via mais notificações do facebook. 
Decidi não esperar um avc, estou como os AAs, um passo de cada vez, vou resistir só hoje, senhor dai-me paciência para aceitar as coisas que eu não posso mudar, força para aquelas que posso e sabedoria para distinguir as duas. Ah, e voltei a meditar. Foco, força e foda-se. 



terça-feira, 20 de outubro de 2015

Saint Raphaël

Nove meses dormindo e acordando com as gaivotas, sendo visitada por uma pomba que vem, pousa no parapeito da sacada e me olha nos olhos por cinco minutos e depois vai embora. Nove meses sentindo o velho cheiro da maresia pelas ruas estreitas, vendo o sol se levantar dia após dia como aqueles funcionários certinhos que não se atrasam nunca. E apesar disto tudo, Saint Raphaël não é um lugar perfeito porque não há um shopping a menos de 60 quilômetros e não há grande coisa para fazer a não ser passear pelo parque Bonaparte e ver o mar. Perambular pelo deck e ouvir o sino da igreja logo ao virar da quadra ou os gritos das crianças em uma das únicas pracinhas da cidade. 
Não é o paraíso porque às vezes dá saudade de outros lugares, de outros sabores, de outras gentes. Mas eu que sempre estive bem onde não estava, tenho aprendido a estar bem aqui. Na maior parte das vezes, enquanto olho para todos os morros que tentam engolir o sol na sua despedida, sou feliz...






sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Boxe

Depois de muito dar de cabeça na parede (em sentido figurado) aprendi que para bater não é preciso raiva, mas técnica. A raiva é um bom começo, mas tem o inconveniente de nos deixar marcas. Lembro das primeiras vezes que cheguei com os nós dos dedos estourados, um derrame em um pé e ambas as canelas salpicadas dos mais variados tamanhos de roxo como um dálmata. Ao me ver no chuveiro gemendo quando a água me encostava, o marido disse: assim não pode ser, não é possível vir deste jeito todas as aulas. Eu sei...mas não resisti. Não resisti em colocar para fora toda raiva numa sessão só. Olhava para o saco rangendo as correntes e pensava...nem sei no que pensava. Eu não sabia por onde começar. Que tal nos dois socos murchos que dei em um menino que me bateu enquanto meu avô o segurava? Esmoreci, aquilo não me deu raiva, mas comiseração, e esta era a última coisa que procurava naquele momento. 
Depois pensei nas vozes que me invadem para dizer que não consigo, que sou um fracasso. Que não tenho força para tal. Pá e pá. O barulho seco seguido de um apertão no abdômen marcava o ritmo e a raiva era a personagem principal. Não bater em ninguém era a minha premissa (não apanhar também), e este foi um dos motivos por ter preterido  a escola de boxe ao lado do meu prédio. Acompanhei algumas aulas da janela do quarto e decidi que o que eu queria mesmo era aprender a bater no saco apenas. O que também não foi fácil. Não é fácil se despir de toda a programação de como-ser-uma-boa-menina e de repente revidar com força e com vontade aquele objeto inofensivo balançando languidamente. Sei lá se alguém já sentiu isto, mas no começo eu senti dó de bater no saco. Embora eu soubesse que era mais provável eu sair machucada daquele encontro, minha timidez me forçou a dar os primeiros socos quase como pedindo licença e desculpas, para depois entregar-me ao descontrole total. Sou dessas, oito ou oitenta, exagerada, como diria Cazuza, até nas coisas mais banais para mim é tudo ou nunca mais. 
Mas tem uma hora que nos deixamos ir em cada gota de suor que foge pela cara: há um vazio no meio da raiva. Não é possível sentir raiva por tanto tempo, ou melhor, expressá-la, porque a raiva que soltei fedia a mofo e tinha buracos de traça. Há um momento em que não nos resta mais nada, só as batidas de um coração descompassado, só a repiração difícil de quem foi consumido por alguma doença grave e dá os seus últimos suspiros. E depois de sentir-me sem forças, vazia de mim, a mente como uma peneira que deixa os pensamentos esvaírem antes que sejam registrados, vou embora e prometo voltar na próxima aula. O boxe é talvez o único exercício que faço sem pensar em quantas calorias vou gastar.

Precisamos falar sobre Kevin

"Portanto, meu receio não era apenas de virar minha mãe, eu temia ser mãe. Tinha medo de me tornar aquela âncora segura e estacionária que fornece a plataforma para a decolagem de mais um jovem aventureiro, cujas viagens eu talvez inveje e cujo futuro ainda não tem amarras nem mapas. Tinha medo de virar aquela figura arquetípica na soleira da porta — desmazelada, meio gorda — que acena adeuses e manda beijos enquanto uma mochila é posta no porta-malas; que enxuga os olhos com o babado do avental sob a fumaça do cano de escape; que se vira, desolada, passa o trinco na porta e vai lavar os poucos pratos que restaram na pia, sob um silêncio que pesa sobre a cozinha como um teto caído. Mais do que partir, eu tinha pavor de ser deixada."

"Franklin, eu tinha verdadeiro pavor de ter um filho. Antes de engravidar, minha visão do que significava criar uma criança — ler histórias sobre trens e casinhas com um sorriso no rosto, na hora de dormir, enfiar papinha em bocas escancaradas — parecia ser a de uma outra pessoa. Eu morria de medo de um confronto com o que poderia vir a ser uma natureza fechada, pétrea, de um confronto com meu próprio egoísmo e falta de generosidade, com o poder denso e tardio do meu próprio ressentimento. Por mais intrigada que estivesse com o “virar da página”, sentia-me mortificada com a perspectiva de me ver irremediavelmente encurralada na história alheia. E creio que foi esse terror que talvez tenha me atraído, da mesma forma como um parapeito nos tenta a dar o salto."

"Qualquer que seja o gatilho, o chamado não penetrou meu sistema e isso me deixou com a sensação de que havia sido enganada. Quando percebi, aos trinta e poucos anos, que ainda não entrara no cio materno, comecei a me preocupar com a possibilidade de haver algo errado comigo, algo faltando."

"Afinal, agora que os filhos não aram mais nossas terras nem nos dão guarida quando ficamos incontinentes, não há motivo sensato para tê-los."

"(...) andei revirando meu sótão mental a ver se encontrava minhas ressalvas originais à maternidade. Lembro-me, sim, de que a montoeira de medos, todos do tipo errado. Caso eu tivesse enumerado as desvantagens da procriação, “filho pode acabar sendo assassino” jamais teria aparecido na lista. Na verdade, ela teria sido algo mais ou menos assim: 1. Pentelhação. 2. Menos tempo só para nós dois. (Que tal tempo nenhum só para nós dois?) 3. Os outros. (Reunião de Pais e Mestres. Professores de balé. Os amigos insuportáveis das crianças e seus insuportáveis pais.) 4. Virar uma vaca gorda. (Eu era esbelta e preferia ficar como estava. Minha cunhada teve varizes durante a gravidez, aquelas veias enormes nas pernas dela nunca mais desincharam e a perspectiva de ver minhas panturrilhas se ramificando em radículas azuis me torturava mais do que eu poderia admitir. De modo que não admiti nada. Sou vaidosa, ou já fui um dia, e uma de minhas vaidades era fingir que eu não tinha vaidade.) 5. Altruísmo artificial: ser forçada a tomar decisões segundo o que é melhor para uma outra pessoa. (Eu sou pavorosa.) 6. Redução nas minhas viagens. (Note que eu disse redução. Não fim delas.) 7. Tédio enlouquecedor. (Eu achava criança pequena uma chatice inominável. E, desde o princípio, sempre admiti isso para mim mesma.) 8. Vida social imprestável. (Nunca consegui ter uma conversa decente na presença de crianças de cinco anos na sala.) 9. Rebaixamento social. (Eu era uma empresária respeitada. Assim que aparecesse com uma criança a tiracolo, todos os homens que eu conhecia — e todas as mulheres também, o que é deprimente — deixariam de me levar tão a sério.) 10. Arcar com as conseqüências. (Procriar é saldar uma dívida. Mas quem quer saldar uma dívida da qual se pode escapar? Tudo indica que as mulheres sem filhos escapam impune e furtivamente. Além do mais, de que adianta pagar uma dívida para o credor errado? Só a mais desalmada das mães poderia se sentir recompensada da trabalheira ao ver a própria filha levando finalmente uma vida tão horrenda quanto a sua.)"

" Sentia-me dispensável, jogada fora, engolida por um grande projeto biológico que não iniciei nem escolhi, que me produziu mas que também iria me mastigar e depois cuspir fora. Eu me senti usada."

"Eu esperava que, com o tempo, a ambivalência sumisse, mas a sensação conflitante foi 
se acentuando e, desse modo, ficando mais secreta. Finalmente vou abrir o jogo. Acho que a 
ambivalência não desapareceu porque não era o que parecia ser. Não é verdade que eu me 
sentisse “ambivalente” a respeito da maternidade. Você queria ter um filho. Eu não. Tudo 
somado, até parecia uma ambivalência, mas, mesmo formando um casal que era realmente 
o máximo, não éramos uma mesma pessoa. Nunca consegui que você gostasse de berinjela. "

"Já não tenho 
mais tanta certeza se me arrependi de nosso primeiro filho meses mesmo de ele nascer. É 
difícil, para mim, reconstruir aquele período sem contaminar as lembranças com o 
tremendo desapontamento dos anos posteriores, um desapontamento que escapa às 
restrições do tempo e extravasa para o período em que Kevin ainda não existia para que eu 
desejasse o contrário."

"No momento mesmo em que ele nascia, associei nosso 
filho com minhas próprias limitações — não só com o sofrimento, mas também com a 
derrota."

"A questão é que não previ o que exatamente iria acontecer comigo quando Kevin foi 
içado pela primeira vez até meu peito. Eu não havia previsto nada exatamente. Eu queria o 
que não podia imaginar. Queria ser transformada; queria ser transportada. Queria que uma 
porta se abrisse e toda uma nova vista que eu não sabia existir ali fora se esparramasse 
diante de meus olhos. Eu queria no mínimo uma revelação, e revelações, por sua própria 
natureza, não podem ser antecipadas; elas prometem aquilo que ainda não se conhece. 
Mas, se houve uma lição a ser tirada do meu décimo aniversário, foi a de que as 
expectativas são perigosas quando são ao mesmo tempo grandes e amorfas. "


"E continuei esperando. Mas todo mundo diz..., pensei eu. E aí, muito 
distintamente: Cuidado com o que “todo mundo diz”. "

"Quanto mais eu tentava, mais consciente ficava de que o esforço era abominável. Aquela 
ternura toda que, no fim, eu simplesmente imitava, não deveria ter chegado sem ser 
convidada? Portanto não era só Kevin que me deprimia, nem o fato de você estar 
começando a me negar afeto, Franklin; a verdade é que eu me deprimia. Eu era culpada de 
mau procedimento emocional"

A cera

Fabian deita sobre os meus joelhos depois de muitas ameaças. Tinha o ouvido esquerdo completamente tapado por uma bola de cera. Xinguei o médico em pensamento mais uma vez; ninguém me tira da cabeça que o fez de propósito ao tirar de um só ouvido para voltarmos novamente e claro, pagarmos outra consulta de 50 euros. Deve ser bom ganhar 50 euros em menos de dez minutos, enfim. Tinha a orelha na mão e a lanterna na outra. "Mãe, eu quero veeer". Ora, ninguém consegue enxergar a própria orelha, meu filho.  Mas está bem, eu tiro uma foto. Pensando nisto, foi bom ter apagado depois, agora que o meu telefone foi para o conserto. Sabe-se là o que iam achar de uma foto desfocada de um buraco preto...
Pego o remédio em uma tentativa de diluir a cera. Grito para o marido trazer algodão, mas chego à tempo de impedir o Fabian parado em frente ao armário da cozinha. Estava à procura do pote de algodão doce para por nas orelhas. Eu não sei o que faria ao ver dois chumaços cor-de-rosa lhe escapando das ditas, mas a minha sorte é que puxou ao pai: só acha alguma coisa quando esta se joga ao seu colo. 

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Maratona

No meu caso só se for de novela ou série. Eu sei que to sempre atrasada, mas só agora terminei de ver o último capítulo de Verdades Secretas. Foi uma semana devorando episódio atrás de episódio. Tenho algumas considerações a fazer: Gianecchini que que é isso meu Deus! Antes eu achava ele gato, mas agora que tá ficando mais velho, grisalho e tals, tá ficando do jeitinho que eu gosto. Ui abafa, abafa. Ameeeei o Visky, adorei a música dele também. Depois da gente estar acostumado com as novelas top brasileiras, não tem como ver de outros países...é porque não dá nem para comparar. Esta e a Avenida Brasil ficaram para a história, muito, muito boas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Voltei

 Segundo dia naquela sala, poucos colegas e todos à volta dos setenta anos. "É um clube de aposentados", falou a professora com um sorriso meio borrado. Sim, foi para aqui que a Mairie me enviou quando perguntei sobre um curso de francês para estrangeiros. O curso se chamava "Auxilio à leitura em francês" e estava entre os de tricot, bordado e pintura. 
Somos em cinco: dois ingleses (Gavin e Jane), uma colombiana (Leonor) e um sueco (Boo ou seja lá como se escreve). Muito simpáticos e cheios de histórias. Por exemplo, ficamos sabendo do romance de verão de Boo com uma mulher casada e da sua preocupação em manter os níveis de testosterona. Hoje falamos sobre AVC, sobre a cirurgia no olho de Gavin por conta da pressão alta. Enfim, sinto-me como estivesse falando com os meus padrinhos, em casa, portanto. E feliz.
Jane quis saber porque deixei o Brasil e eu imagino que tenha passado a semana esperando para ouvir a resposta, já que ao final da primeira aula disse que não me achava deslocada, pois convivo com meu marido que tem 60 anos. 
A boa noticia é que apesar do Fernando estar constantemente me puxando as orelhas, quando digo que estou aqui fez dois anos em setembro, eles ficam admirados porque falo muito bem. Cof cof. Nem tanto, ainda tenho uma conjugação verbal terrível e às vezes escorrego o pé no inglês. De qualquer forma, para quem teve sempre dificuldade em línguas, acho que estou indo bem. Podia estar melhor, podia, mas agora com objetivos e aulas novamente, sinto-me mais estimulada a praticar. E hoje adquiri meu primeiro livro em francês: Nouvelles à Chute. Segundo a professora, pequenas histórias com final surpreendente  (como foi a minha vida ao deixar o Brasil). Quem diria, euzinha? 

Sobre o outro blog

A quem me enviou email, aquele blog eu fechei há muito tempo, desculpa!

domingo, 27 de setembro de 2015

Ah esta coisa que nunca sai de moda...o pensamento binário


Aqui de boas esperando dizerem que sou assim porque sou filho único.



Estes dias li um textão super "emocinante" sobre a tragédia que é ser filha única. Dizia a autora enquanto esperava o pai fazer uma ultra-sonografia, que é um terror não ter irmãos. Porque se, ou melhor, quando os pais morrerem ela vai estar sozinha nesta dor e daí eu me pergunto, se tivesse irmãos seria tão diferente? Além de cada um viver o luto de uma forma, o que as pessoas não entendem é que a vida não é uma equação. E caso fosse, os exemplos que tenho são muito mais negativos, de desunião ou de simples indiferença entre irmãos que só me resta pensar ser uma falácia a história de que ser filho único é sinônimo de infelicidade.
Ah deem um irmãozinho para ele, é o melhor presente que se pode dar a um filho. Não. Para. Meu filho tem ciúmes do meu cachorro: passo o tempo todo dizendo para ele não machucá-lo, para ter jeito com as brincadeiras brutas, chega a ser tão desgastante que às vezes me arrependo de ter pedido para minha vó trazê-lo. E se ele faz isto com um animal, imagino o que seria com um bebê que demanda muito mais cuidados e atenção (fazendo um exercício de abstração e esquecendo o fato de que eu não toleraria mais nenhuma criança na minha vida). Será mesmo que um irmão é a melhor coisa a se dar "de presente"? Um elemento que vai perturbar ainda mais a logística familiar e, levando em conta a experiência de quem passa por isto, não poderia fantasiar de que seriam amigos e brincariam juntos, quando o que mais ocorre é o contrário. Brigas e disputas por brinquedos e pelo amor dos pais. Ah," é bom para aprenderem a não serem egoístas". Sim, porque quem tem irmãos são como a madre Teresa né? E quem não tem são como quem, o Darth Vader? Pessoas, admitam que querem ter mais filhos por vocês e parem de arrumar justificações baseadas em fluxograma de família feliz. E para a autora, gostaria muito que ela parasse de se iludir com historinhas de novela...às vezes os verdadeiros irmãos (que nos fazem ser pessoas melhores), são aqueles que escolhemos pelo caminho.

sábado, 26 de setembro de 2015

Ah então como foi a primeira aula de boxe?

Foi boa. Se eu fiquei assim, imagine o saco!
Se você pensou que ele ficou lá paradinho  na dele como se nada tivesse acontecido,  acertou.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Turismo pau de selfie



Neste mês tivemos a visita de uma prima do marido com o seu esposo e o filho. Era para ficarem pouco mais de uma semana, mas depois de várias mensagens postergando a estada ora porque iam dar uma passadinha na Normandie, ora porque resolveram voltar à Itália para conhecer Pisa, ora porque isto ou aquilo, acabaram por ficar aqui três noites apenas. Já tinha virado gozação entre nós, "o que foi, a fulana vem amanhã? Não, resolveram de última hora já que é tudo tão perto, dar uma passadinha na Índia antes. E talvez estiquem até a China, quem sabe?".
Dois mil e muitos quilômetros depois e meio milhão de fotos pelo caminho, o resultado foi pelo menos duas pessoas na metade dos quarenta de olhar cansado, sendo puxados pelo filho dela, uma espécie de criança hiperativa de 22 anos. Não é exagero dizer que mais da metade das fotos eram exatamente iguais, tirando o pano de fundo que variava de três a quatro vezes por dia. Eles conheceram a capital Suíça, umas dez cidades italianas e praticamente quase todas as regiões francesas em vinte dias.  E eu estou aqui há dois anos e só conheço Strasbourg, Paris, a estação de Nice e pouco mais. Admito que deu uma certa inveja no começo, mas depois vi o que eles chamavam de turismo e para mim, mais se assemelha  a um estado permanente de ansiedade em fotografar tudo do que propriamente algo prazeiroso que é realmente conhecer outros lugares. 
Todas as noites, assim que conseguiam o sinal de Wi-Fi do hotel, ela descarregava 80, 90 fotos do passeio do dia. As mesmas fotos de ombro e tiradas de um ângulo de cima. Fico pensando e também faço a auto-crítica, se não houvesse Facebook, quão exponencialmente cairia a necessidade de fotografar tudo e mais alguma coisa? Se não houvesse para quem contar, ou como era "antigamente", apenas os familiares e amigos próximos soubessem  que dia tal estaríamos em Malága e que voltariámos alguns dias mais tarde, haveria esta necessidade de provas? 
Tento vasculhar minha memória à procura de quando isto foi um comportamento aceitável, mas não encontro. As pessoas viajavam, claro que havia os que se gabavam de viajar, as máquinas eram de rolo, as fotos eram menos repetitivas, levava-se uma eternidade para saber que afinal saímos com os olhos fechados ou vermelhos em metade delas. Mas não havia este desespero em provar que viajamos de verdade, que não nos socamos dentro de casa incomunicáveis. Realmente pudemos bancar a fortuna de uma passagem de avião à Europa, realmente andamos de gôndola e vimos a torre Eiffel e o Louvre (mesmo que não tenhamos entrado para não perder tempo). Hoje parece que as pessoas viajam para os outros, e o fazem com o cuidado de nos manter bem informados de como é bonito o teto da capela Sistina e de como são estreitas ruas  de Bergamo mesmo que eles não tenham se dado conta disto, estavam mais preocupados em não esbarrar no pau de selfie alheio. Duvido que guardem memória daqui dois ou três anos. Se não fossem estes registros pouco criativos, talvez pensassem estar tendo um déjà vu, caso voltassem a passar por lá. 
Durante o período que eles estiveram aqui, não ouvi em nenhum momento demonstrarem entusiasmo ou felicidade pela viagem. Pelo contrário, pareciam estar presos em um pesadelo e que não viam a hora de acordar. Sem saber me conter eu disse: é, agora acho que vocês vão precisar de umas férias para descansar destas...

Na França ser como as francesas



Uma das coisas que tenho aprendido aqui é que o assédio não é normal. Não é coisa de gente civilizada e nunca deveria ser um balançar de ombros, como se não tivéssemos escolha a não ser aceitar e fingir que não era conosco. É mais fácil assim, não foi comigo que aconteceu, mas com outra pessoa, aquela que atravessou a rua, aquela que sentou-se na minha varanda. Mas aquela não era eu, não pode ser eu.
Pois bem. Estava juntando o cocô do meu cachorro em um beco que dá para o estacionamento de um prédio. Passaram dois velhos que haviam estacionado o carro momentos antes, um deles olhou-me, olhou e olhou de novo. Parecia que eu era um frango daqueles dourados e que giram e soltam um cheiro que fez  o seu estômago revirar. Acontece que eu não sou um frango e lembrei-me disto justamente depois de morar na França. Nunca quis ser. E como se tivesse despertado de um sonho, quase mecanicamente e com a cara mais carrancuda que pude, lhe ofertei o dedo do meio. 
Já descrevi aqui o "paraíso" que isto é comparado ao Brasil no que toca ao assédio, mas isto não nos livra de vez por outra lidar com umas aberrações destas, como um sujeito de um edifício do outro lado da rua achar-se no direito de me espionar toda vez que sento na sacada. Teve alturas que cheguei a baixar o toldo para que ele não me visse, em outras simplesmente voltei para dentro de casa . Ora, agi justamente como fui ensinada todos estes anos: sou eu que devo mudar-me para que não seja "incomodada". Já mandei-o se foder, mental e fisicamente, meu marido já xingou para que parasse de olhar para cá. Inclusive fez com ele o que ele faz comigo: olhou fixamente para sua sacada até ele se sentir desconfortável e sair. Se adiantou alguma coisa? Um pouco. Ele está mais discreto, mas duvido  que mude. Já tenho treinado uma frase que usamos muito em português: perdeu alguma coisa aqui? Além de alguns palavrões caso haja insistência. Gritados bem alto e forte, como deve ser para que não me esqueça nunca de que não sou mais um frango. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Insônia

Parecia uma turbina de avião aquela hora da madrugada, mas eu sabia que era só o caminhão do lixo. O motorista mexe em uns botões, o colega desce e encaixa a lixeira do prédio. A máquina agarra, depois levanta e depois retorna ao chão. Nenhum barulho além do motor do caminhão. Nada de "êeee" e "ôooooo" dos homens. Lembro de quando o caminhão laranja do DMLU passava naquela rua, vinham em três, às vezes quatro e de luvas nas mãos. Sempre paravam para pegar o nosso lixo que sabiam vir acompanhado de frutas que o meu padrasto separava para o lanche. De vez em quando chovia muito, e ele se embaraçava nas próprias pernas, ou esquecia de pôr lá fora. Mesmo assim, eles batiam na campainha, sempre sorrindo, "bom dia!", carregavam o lixo e o lanche e êeeee que a caçamba fedida do caminhão nem sempre esperava. 
Lá era durante o dia bem cedo. Lá a gente enrolava milhares de jornais para ninguém cortar o dedo. Lá  sempre que estava calor demais ou quando o mundo desabava, sentia uma mistura de dó e admiração por quem fazia este trabalho. Alguém tem de fazê-lo, pois a cidade não pode viver em meio ao lixo, então alguém tem de viver. Aqui o caminhão foi embora e só restou os roncos do marido.

Mais de dois meses depois

Vou te contar, a impressão que tenho é que reuniram a velharada mais cri cri do mundo e colocaram neste prédio, deve ser um carma meu. E quando digo isto as pessoas me acham exagerada, mas não imaginam que esta gente foi capaz de fazer uma reunião de condomínio para falar sobre a franja do nosso toldo esquerdo que estava dez centímetros desencaixada e que isto prejudicava o visual do prédio. Juro. Então como o defeito já vinha de antes de nos mudarmos, e se tratava de um cano quebrado (o que encaixa no trilho da franja), foi decidido que o melhor para todos seríamos tirarmos a porcaria da mesma. Agora o corrimão do primeiro andar que esteve este tempo todo solto (e isto sim é grave e sério para se fazer uma reunião...não vá um velho cair e quebrar a bacia), só foi consertado esta semana. 
Em uma das vezes que desci para levar o meu cachorro na rua, vi o toldo do vizinho da frente, não o de cima, mas aqueles que as pessoas colocam nas barras de proteção da sacada, todo revirado, uma abertura de vá, mais de trinta centímetros. Segurei-me, como me contive para não convocar uma assembleia extraordinária. E olhem pessoas, bem na fachada do prédio! Que absurdo, o que os outros vão pensar? Que aqui só mora gente relaxada?

Vi e copiei

Treinar a motricidade fina amarrando cadarços. Nada está bom para a minha mãe.  Resposta dela: ah que lindo e tal. Meia hora mais tarde no watsapp : ele não tem um tênis de amarrar? Tem que comprar um ou me diz o número que eu compro aqui.  Assim ele lida com o "concreto", é muito melhor.
Nota de rodapé: a minha mãe anda fazendo um tal de curso Waldorf, se eu já tinha má vontade com este tipo de educação,  agora muito mais. (Minha mãe é uma espécie de Midas ao contrário).

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

É de cair o cu da bunda

Brasileiro, mestiço e emigrante (ainda ilegal) apoiando a Frente Nacional, partido de extrema direta e xenófobo. Pode resetar o mundo.

O politicamente incorreto também me irrita



Tenho chamado este distúrbio de "síndrome Danilo Gentili"*.Tem se tornado cada vez mais comum seja em redes sociais, seja em comentários de sites de notícias, é uma epidemia. Ela consiste em bostejar (adoro o neologismo, é bem o retrato da situação) e depois dizer "ainnn mas agora nem se pode   ser preconceituoso em paz....ainnn censura, respeitem a minha opinião". Tenho ficado quieta, mas esta é uma das coisas que mais me irrita ( isto e o corretor querendo pôr o acento em palavras que não quero)! Escuta aqui queridinho/a, a partir do momento em que nos posicionamos, botamos como costumava dizer o meu vô, a bunda na janela. Não somos um peixinho beta a nadar em um aquário de cinco litros, estamos à mercê do julgamento de outras pessoas, podendo este ser favorável ou não. Ninguém nos põe um revólver na cabeça e nos obriga a parar de escrever, ou apagar o que escrevemos. Ninguém vai na nossa porta para nos arrastar e jogar em uma turba de justiceiros (embora vocês defendam este tipo de sentença para os outros). Portanto, o que acontece é consequência do que emitimos, e nem sempre ganharemos aplausos. Lidem com isto.
O problema destas pessoas está em esquecer que quem fala o que quer, escuta, ou neste caso, lê o que não quer. E isto não se trata de não ter a opinião respeitada, mas de uma coisa chamada interatividade e se não a quiserem tem um bom remédio: falarem para o espelho. 



* Humorista brasileiro conhecido por fazer humor politicamente incorreto, também conhecido por constantemente não aceitar as críticas de pessoas e grupos que ele ofende.

Prozac virtual

Minha cara de tacho ao me deparar com uma selfie na linha do tempo de uma dita cuja lavada em lágrimas. Então, o que se passa na cabeça destas pessoas? Lembrei-me daquela frasezinha super pedagógica quando criança faz manha: tá chorando é? Vou te dar um motivo para chorar. 
Ahhh detalhe, adoro esta coisa de escancarar a vida, mas depois não dizer o motivo, é para pôr os curiosos a perguntar  o porquê e ver ela a dar likes e não responder. Gente besta...

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Sincretismo

Eu tinha sete anos quando pousamos os pés pela primeira vez naquele casebre de madeira. Era ela que definia a ordem, geralmente começava por quem estava "mais precisado" e este geralmente era o meu padastro. Quando me chamava para a salinha, o pequeno comodo já exalava um aroma adocicado de ervas e incenso. A senhora gorda e negra chegava perto de mim com olhos fechados e passava duas velas coloridas pelos meus braços e pernas, pelas costas e depois dos dois lados da testa. Demorava-se ali. Era bom, dava cocegas e arrepios pelo corpo todo. Ela batia um sino de leve e depois me mandava ir. Assim como começamos a frequentar, deixamos de o fazer sem qualquer explicação da minha mãe, que já tinha sido umbandista, trabalhado  na casa espirita do dr. Guilherme e depois de um tempo, obrigou-me a fazer catequese e crisma. Uma forma de oficializar as coisas com Deus.  
De todas as casas que fomos antes desta, lembro de não gostar da que tinha uma santa pintada de vermelho em uma gruta ao lado da porta. Detestava ir la, mesmo que não entrasse e ficasse no quintal com outras crianças. Sempre quis saber porque pintaram a santa e o que minha mãe fazia ali dentro, mas nunca perguntei e acredito que hoje nem ela se lembre mais...

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Primeiro dia de aula




Era para ser o segundo se eu não tivesse posto nesta cabecinha que as aulas começavam dia 2. Agrada-me ver as caras felizes das mães, pais e claro, das crianças ao voltarem para a escola. Ninguém achou que estava contracenando com a Sandra Bullock ou a Meg Ryan, nem se abaixou, com a mão ao peito enquanto puxava discretamente um lenço e dizia em tom definitivo um molhado "au revoir". Graças ao Nosso Senhor do meu Saquinho! Multiplica mais mães assim!!
Deu para notar que não sou só eu que andava saltitando em nuvens de algodão doce quando finalmente deixei para trás aquele portão verde. 
Preveni as amigas trintonas desesperadas por engravidar (algumas já gravidas): nunca mais por um período de 18 anos pelo menos, vais ter férias. Não existe férias com crianças. Existe um limbo tipo aquela cena do Matrix quando o Neo descobre que ficou em um liquido pegajoso sendo sugado a vida inteira. Isto é um panorama até alegre da coisa, a verdade é muito pior (acrescentar risada maléfica). 
Sabem aquelas pessoas que dizem nã, a vida com filho não muda nada? Elas mentem. Experimentei dois dias de passeio, nada de outro mundo, uma ida a Cannes e no outro dia, a Monaco. Mais da metade do tempo foi gasto em carrossel e porcarias de jogos porque la está, eles não se interessam por museu, nem casino, nem por andar à esmo pelas ruas. Acho, ~só acho~  um pouco ridículo rodar kms e kms apenas para ir em pracinhas e brinquedos que se tem ao virar da esquina. 
Então não, não consigo entender que alguém chore no primeiro dia de aula de um filho. A criança está indo para a escola não para a guerra, vão voltar a se ver no fim do dia e não ao fim de um ano... 
Se for para chorar, que sejam lágrimas de alegria.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

à hora do almoço

Já se vão trinta anos e parece absurdo saber que há sempre qualquer detalhe sobre mim que desconhecia. Começou a minha vo dizendo que não era para eu nascer, eu sabia. Também sabia que meu 'pai' tentou de todos os modos fazer com que a minha mãe abortasse, mas não sabia que ele queria levá-la à força, que já tinha médico e clínica tudo agendado e que se não fossem meus avós, provavelmente não estava aqui escrevendo isto. Não sei o que pensar, nem o que sinto. Meu passado vai e volta e me deixa à margem como um mero observador. Será que já me curei? Será aquela a minha dor ou a de alguém muito parecido, um sósia, um personagem qualquer? 
E depois lembro-me de que não interessa de nada o tempo vir com paninhos quentes. O que é nosso sempre dará  um jeito de encontrar-nos em alguma conversa casual, distraídos, e enquanto esperamos pela sobremesa.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A nudez das ru(g)as

Sempre disse que nunca gastaria fortunas com creme anti rugas. Sorte minha que o Lidl existe. Dizem que em pele oleosa  elas demoram mais a aparecer, e eu imagino meu rosto como se fosse um canteiro de obras públicas superfaturadas,cuja inauguração a gente não sabe se vai ser no mandato deste candidato ou no próximo. Sorte minha outra vez.
Minha vó diz que esta bem assim. Quase não tem rugas. Ela esquece que quinze anos atrás, eu e minha mãe a encontramos tal qual um ratinho virado em orelhas, com duas bolsas de sangue embaixo dos olhos e hematomas por quase toda a cara. Era so para tirar as "bolsas de cansaço" que se transformaram as olheiras, mas ela havia tirado tudo. Em algumas horas varreu qualquer expressão que fosse sua, apenas restou a cara de surpresa. Minha vó passou anos, uns dois talvez, parecendo-se admirada com o mundo. Os olhos muito abertos e a boca custando a fechar.
Voltou a si aos pouquinhos, uma a uma avenida aberta entre os olhos, e ruelas e becos foram brotando pela testa. Diria que hoje tem sessenta e cinco anos, mas sim, para a idade não tem quase rugas.

sábado, 15 de agosto de 2015

O bom de ter vó depois de dois anos

É saber de todas as fofocas familiares tudo de uma vez. Hahahah!

A adolescência da infância

Ninguém nunca me avisou que a adolescência começava tão cedo. A minha vó trouxe o Yoshi, meu cachorro que tinha ficado no Brasil. Ontem à noite discutíamos sobre quem ia levá-lo à rua. O Fabian que observava tudo, levantou o dedo:
- Mãe eu tenho uma idéia,  não te peocupa. Tu fica em casa, o papai fica em casa e eu levo o Yoshi sozinho. Eu já sei ondi qui eu posso andá com ele. Eu já sou grandi porque eu comi tudo!
E eu já tenho cinco.
Maior ofensa para ele é dizer que não,  ainda tem quatro, mas faltam só alguns dias para os cinco anos.