domingo, 27 de setembro de 2015

Ah esta coisa que nunca sai de moda...o pensamento binário


Aqui de boas esperando dizerem que sou assim porque sou filho único.



Estes dias li um textão super "emocinante" sobre a tragédia que é ser filha única. Dizia a autora enquanto esperava o pai fazer uma ultra-sonografia, que é um terror não ter irmãos. Porque se, ou melhor, quando os pais morrerem ela vai estar sozinha nesta dor e daí eu me pergunto, se tivesse irmãos seria tão diferente? Além de cada um viver o luto de uma forma, o que as pessoas não entendem é que a vida não é uma equação. E caso fosse, os exemplos que tenho são muito mais negativos, de desunião ou de simples indiferença entre irmãos que só me resta pensar ser uma falácia a história de que ser filho único é sinônimo de infelicidade.
Ah deem um irmãozinho para ele, é o melhor presente que se pode dar a um filho. Não. Para. Meu filho tem ciúmes do meu cachorro: passo o tempo todo dizendo para ele não machucá-lo, para ter jeito com as brincadeiras brutas, chega a ser tão desgastante que às vezes me arrependo de ter pedido para minha vó trazê-lo. E se ele faz isto com um animal, imagino o que seria com um bebê que demanda muito mais cuidados e atenção (fazendo um exercício de abstração e esquecendo o fato de que eu não toleraria mais nenhuma criança na minha vida). Será mesmo que um irmão é a melhor coisa a se dar "de presente"? Um elemento que vai perturbar ainda mais a logística familiar e, levando em conta a experiência de quem passa por isto, não poderia fantasiar de que seriam amigos e brincariam juntos, quando o que mais ocorre é o contrário. Brigas e disputas por brinquedos e pelo amor dos pais. Ah," é bom para aprenderem a não serem egoístas". Sim, porque quem tem irmãos são como a madre Teresa né? E quem não tem são como quem, o Darth Vader? Pessoas, admitam que querem ter mais filhos por vocês e parem de arrumar justificações baseadas em fluxograma de família feliz. E para a autora, gostaria muito que ela parasse de se iludir com historinhas de novela...às vezes os verdadeiros irmãos (que nos fazem ser pessoas melhores), são aqueles que escolhemos pelo caminho.

sábado, 26 de setembro de 2015

Ah então como foi a primeira aula de boxe?

Foi boa. Se eu fiquei assim, imagine o saco!
Se você pensou que ele ficou lá paradinho  na dele como se nada tivesse acontecido,  acertou.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Turismo pau de selfie



Neste mês tivemos a visita de uma prima do marido com o seu esposo e o filho. Era para ficarem pouco mais de uma semana, mas depois de várias mensagens postergando a estada ora porque iam dar uma passadinha na Normandie, ora porque resolveram voltar à Itália para conhecer Pisa, ora porque isto ou aquilo, acabaram por ficar aqui três noites apenas. Já tinha virado gozação entre nós, "o que foi, a fulana vem amanhã? Não, resolveram de última hora já que é tudo tão perto, dar uma passadinha na Índia antes. E talvez estiquem até a China, quem sabe?".
Dois mil e muitos quilômetros depois e meio milhão de fotos pelo caminho, o resultado foi pelo menos duas pessoas na metade dos quarenta de olhar cansado, sendo puxados pelo filho dela, uma espécie de criança hiperativa de 22 anos. Não é exagero dizer que mais da metade das fotos eram exatamente iguais, tirando o pano de fundo que variava de três a quatro vezes por dia. Eles conheceram a capital Suíça, umas dez cidades italianas e praticamente quase todas as regiões francesas em vinte dias.  E eu estou aqui há dois anos e só conheço Strasbourg, Paris, a estação de Nice e pouco mais. Admito que deu uma certa inveja no começo, mas depois vi o que eles chamavam de turismo e para mim, mais se assemelha  a um estado permanente de ansiedade em fotografar tudo do que propriamente algo prazeiroso que é realmente conhecer outros lugares. 
Todas as noites, assim que conseguiam o sinal de Wi-Fi do hotel, ela descarregava 80, 90 fotos do passeio do dia. As mesmas fotos de ombro e tiradas de um ângulo de cima. Fico pensando e também faço a auto-crítica, se não houvesse Facebook, quão exponencialmente cairia a necessidade de fotografar tudo e mais alguma coisa? Se não houvesse para quem contar, ou como era "antigamente", apenas os familiares e amigos próximos soubessem  que dia tal estaríamos em Malága e que voltariámos alguns dias mais tarde, haveria esta necessidade de provas? 
Tento vasculhar minha memória à procura de quando isto foi um comportamento aceitável, mas não encontro. As pessoas viajavam, claro que havia os que se gabavam de viajar, as máquinas eram de rolo, as fotos eram menos repetitivas, levava-se uma eternidade para saber que afinal saímos com os olhos fechados ou vermelhos em metade delas. Mas não havia este desespero em provar que viajamos de verdade, que não nos socamos dentro de casa incomunicáveis. Realmente pudemos bancar a fortuna de uma passagem de avião à Europa, realmente andamos de gôndola e vimos a torre Eiffel e o Louvre (mesmo que não tenhamos entrado para não perder tempo). Hoje parece que as pessoas viajam para os outros, e o fazem com o cuidado de nos manter bem informados de como é bonito o teto da capela Sistina e de como são estreitas ruas  de Bergamo mesmo que eles não tenham se dado conta disto, estavam mais preocupados em não esbarrar no pau de selfie alheio. Duvido que guardem memória daqui dois ou três anos. Se não fossem estes registros pouco criativos, talvez pensassem estar tendo um déjà vu, caso voltassem a passar por lá. 
Durante o período que eles estiveram aqui, não ouvi em nenhum momento demonstrarem entusiasmo ou felicidade pela viagem. Pelo contrário, pareciam estar presos em um pesadelo e que não viam a hora de acordar. Sem saber me conter eu disse: é, agora acho que vocês vão precisar de umas férias para descansar destas...

Na França ser como as francesas



Uma das coisas que tenho aprendido aqui é que o assédio não é normal. Não é coisa de gente civilizada e nunca deveria ser um balançar de ombros, como se não tivéssemos escolha a não ser aceitar e fingir que não era conosco. É mais fácil assim, não foi comigo que aconteceu, mas com outra pessoa, aquela que atravessou a rua, aquela que sentou-se na minha varanda. Mas aquela não era eu, não pode ser eu.
Pois bem. Estava juntando o cocô do meu cachorro em um beco que dá para o estacionamento de um prédio. Passaram dois velhos que haviam estacionado o carro momentos antes, um deles olhou-me, olhou e olhou de novo. Parecia que eu era um frango daqueles dourados e que giram e soltam um cheiro que fez  o seu estômago revirar. Acontece que eu não sou um frango e lembrei-me disto justamente depois de morar na França. Nunca quis ser. E como se tivesse despertado de um sonho, quase mecanicamente e com a cara mais carrancuda que pude, lhe ofertei o dedo do meio. 
Já descrevi aqui o "paraíso" que isto é comparado ao Brasil no que toca ao assédio, mas isto não nos livra de vez por outra lidar com umas aberrações destas, como um sujeito de um edifício do outro lado da rua achar-se no direito de me espionar toda vez que sento na sacada. Teve alturas que cheguei a baixar o toldo para que ele não me visse, em outras simplesmente voltei para dentro de casa . Ora, agi justamente como fui ensinada todos estes anos: sou eu que devo mudar-me para que não seja "incomodada". Já mandei-o se foder, mental e fisicamente, meu marido já xingou para que parasse de olhar para cá. Inclusive fez com ele o que ele faz comigo: olhou fixamente para sua sacada até ele se sentir desconfortável e sair. Se adiantou alguma coisa? Um pouco. Ele está mais discreto, mas duvido  que mude. Já tenho treinado uma frase que usamos muito em português: perdeu alguma coisa aqui? Além de alguns palavrões caso haja insistência. Gritados bem alto e forte, como deve ser para que não me esqueça nunca de que não sou mais um frango. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Insônia

Parecia uma turbina de avião aquela hora da madrugada, mas eu sabia que era só o caminhão do lixo. O motorista mexe em uns botões, o colega desce e encaixa a lixeira do prédio. A máquina agarra, depois levanta e depois retorna ao chão. Nenhum barulho além do motor do caminhão. Nada de "êeee" e "ôooooo" dos homens. Lembro de quando o caminhão laranja do DMLU passava naquela rua, vinham em três, às vezes quatro e de luvas nas mãos. Sempre paravam para pegar o nosso lixo que sabiam vir acompanhado de frutas que o meu padrasto separava para o lanche. De vez em quando chovia muito, e ele se embaraçava nas próprias pernas, ou esquecia de pôr lá fora. Mesmo assim, eles batiam na campainha, sempre sorrindo, "bom dia!", carregavam o lixo e o lanche e êeeee que a caçamba fedida do caminhão nem sempre esperava. 
Lá era durante o dia bem cedo. Lá a gente enrolava milhares de jornais para ninguém cortar o dedo. Lá  sempre que estava calor demais ou quando o mundo desabava, sentia uma mistura de dó e admiração por quem fazia este trabalho. Alguém tem de fazê-lo, pois a cidade não pode viver em meio ao lixo, então alguém tem de viver. Aqui o caminhão foi embora e só restou os roncos do marido.

Mais de dois meses depois

Vou te contar, a impressão que tenho é que reuniram a velharada mais cri cri do mundo e colocaram neste prédio, deve ser um carma meu. E quando digo isto as pessoas me acham exagerada, mas não imaginam que esta gente foi capaz de fazer uma reunião de condomínio para falar sobre a franja do nosso toldo esquerdo que estava dez centímetros desencaixada e que isto prejudicava o visual do prédio. Juro. Então como o defeito já vinha de antes de nos mudarmos, e se tratava de um cano quebrado (o que encaixa no trilho da franja), foi decidido que o melhor para todos seríamos tirarmos a porcaria da mesma. Agora o corrimão do primeiro andar que esteve este tempo todo solto (e isto sim é grave e sério para se fazer uma reunião...não vá um velho cair e quebrar a bacia), só foi consertado esta semana. 
Em uma das vezes que desci para levar o meu cachorro na rua, vi o toldo do vizinho da frente, não o de cima, mas aqueles que as pessoas colocam nas barras de proteção da sacada, todo revirado, uma abertura de vá, mais de trinta centímetros. Segurei-me, como me contive para não convocar uma assembleia extraordinária. E olhem pessoas, bem na fachada do prédio! Que absurdo, o que os outros vão pensar? Que aqui só mora gente relaxada?

Vi e copiei

Treinar a motricidade fina amarrando cadarços. Nada está bom para a minha mãe.  Resposta dela: ah que lindo e tal. Meia hora mais tarde no watsapp : ele não tem um tênis de amarrar? Tem que comprar um ou me diz o número que eu compro aqui.  Assim ele lida com o "concreto", é muito melhor.
Nota de rodapé: a minha mãe anda fazendo um tal de curso Waldorf, se eu já tinha má vontade com este tipo de educação,  agora muito mais. (Minha mãe é uma espécie de Midas ao contrário).

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

É de cair o cu da bunda

Brasileiro, mestiço e emigrante (ainda ilegal) apoiando a Frente Nacional, partido de extrema direta e xenófobo. Pode resetar o mundo.

O politicamente incorreto também me irrita



Tenho chamado este distúrbio de "síndrome Danilo Gentili"*.Tem se tornado cada vez mais comum seja em redes sociais, seja em comentários de sites de notícias, é uma epidemia. Ela consiste em bostejar (adoro o neologismo, é bem o retrato da situação) e depois dizer "ainnn mas agora nem se pode   ser preconceituoso em paz....ainnn censura, respeitem a minha opinião". Tenho ficado quieta, mas esta é uma das coisas que mais me irrita ( isto e o corretor querendo pôr o acento em palavras que não quero)! Escuta aqui queridinho/a, a partir do momento em que nos posicionamos, botamos como costumava dizer o meu vô, a bunda na janela. Não somos um peixinho beta a nadar em um aquário de cinco litros, estamos à mercê do julgamento de outras pessoas, podendo este ser favorável ou não. Ninguém nos põe um revólver na cabeça e nos obriga a parar de escrever, ou apagar o que escrevemos. Ninguém vai na nossa porta para nos arrastar e jogar em uma turba de justiceiros (embora vocês defendam este tipo de sentença para os outros). Portanto, o que acontece é consequência do que emitimos, e nem sempre ganharemos aplausos. Lidem com isto.
O problema destas pessoas está em esquecer que quem fala o que quer, escuta, ou neste caso, lê o que não quer. E isto não se trata de não ter a opinião respeitada, mas de uma coisa chamada interatividade e se não a quiserem tem um bom remédio: falarem para o espelho. 



* Humorista brasileiro conhecido por fazer humor politicamente incorreto, também conhecido por constantemente não aceitar as críticas de pessoas e grupos que ele ofende.

Prozac virtual

Minha cara de tacho ao me deparar com uma selfie na linha do tempo de uma dita cuja lavada em lágrimas. Então, o que se passa na cabeça destas pessoas? Lembrei-me daquela frasezinha super pedagógica quando criança faz manha: tá chorando é? Vou te dar um motivo para chorar. 
Ahhh detalhe, adoro esta coisa de escancarar a vida, mas depois não dizer o motivo, é para pôr os curiosos a perguntar  o porquê e ver ela a dar likes e não responder. Gente besta...

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Sincretismo

Eu tinha sete anos quando pousamos os pés pela primeira vez naquele casebre de madeira. Era ela que definia a ordem, geralmente começava por quem estava "mais precisado" e este geralmente era o meu padastro. Quando me chamava para a salinha, o pequeno comodo já exalava um aroma adocicado de ervas e incenso. A senhora gorda e negra chegava perto de mim com olhos fechados e passava duas velas coloridas pelos meus braços e pernas, pelas costas e depois dos dois lados da testa. Demorava-se ali. Era bom, dava cocegas e arrepios pelo corpo todo. Ela batia um sino de leve e depois me mandava ir. Assim como começamos a frequentar, deixamos de o fazer sem qualquer explicação da minha mãe, que já tinha sido umbandista, trabalhado  na casa espirita do dr. Guilherme e depois de um tempo, obrigou-me a fazer catequese e crisma. Uma forma de oficializar as coisas com Deus.  
De todas as casas que fomos antes desta, lembro de não gostar da que tinha uma santa pintada de vermelho em uma gruta ao lado da porta. Detestava ir la, mesmo que não entrasse e ficasse no quintal com outras crianças. Sempre quis saber porque pintaram a santa e o que minha mãe fazia ali dentro, mas nunca perguntei e acredito que hoje nem ela se lembre mais...

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Primeiro dia de aula




Era para ser o segundo se eu não tivesse posto nesta cabecinha que as aulas começavam dia 2. Agrada-me ver as caras felizes das mães, pais e claro, das crianças ao voltarem para a escola. Ninguém achou que estava contracenando com a Sandra Bullock ou a Meg Ryan, nem se abaixou, com a mão ao peito enquanto puxava discretamente um lenço e dizia em tom definitivo um molhado "au revoir". Graças ao Nosso Senhor do meu Saquinho! Multiplica mais mães assim!!
Deu para notar que não sou só eu que andava saltitando em nuvens de algodão doce quando finalmente deixei para trás aquele portão verde. 
Preveni as amigas trintonas desesperadas por engravidar (algumas já gravidas): nunca mais por um período de 18 anos pelo menos, vais ter férias. Não existe férias com crianças. Existe um limbo tipo aquela cena do Matrix quando o Neo descobre que ficou em um liquido pegajoso sendo sugado a vida inteira. Isto é um panorama até alegre da coisa, a verdade é muito pior (acrescentar risada maléfica). 
Sabem aquelas pessoas que dizem nã, a vida com filho não muda nada? Elas mentem. Experimentei dois dias de passeio, nada de outro mundo, uma ida a Cannes e no outro dia, a Monaco. Mais da metade do tempo foi gasto em carrossel e porcarias de jogos porque la está, eles não se interessam por museu, nem casino, nem por andar à esmo pelas ruas. Acho, ~só acho~  um pouco ridículo rodar kms e kms apenas para ir em pracinhas e brinquedos que se tem ao virar da esquina. 
Então não, não consigo entender que alguém chore no primeiro dia de aula de um filho. A criança está indo para a escola não para a guerra, vão voltar a se ver no fim do dia e não ao fim de um ano... 
Se for para chorar, que sejam lágrimas de alegria.