É engraçado olhar para trás e perceber que na verdade já nasci velha. Para quem acredita que só temos esta vida e que nada mais nos resta depois de terminado nosso tempo no mundo, é extremamente difícil compreender a sensação. Digo que já nasci velha, mas com a parte ruim, não a que a sabedoria nos trás com a velhice. Refiro-me à teimosia, ao apego à solidão, a idéia de que as coisas não mudam, a acomodação, o medo ou até desilusão pelos sonhos, a desconfiança pelo novo e pelos jovens. Tive um lado criança muito fugaz, um rápido brilho e digo até superficial. É "como" se já tivesse nascido com as regras de adultos e não interiorizei-as mais tarde, como difundiria Piaget. Meu sentido de responsabilidade sempre foi alto, nunca deixar as coisas para depois, extrema responsabilidade com o dinheiro, com os meus pertences. Vontade, ânsia de controlar tudo.
A Vida sempre tem os seus propósitos, tanto que casei com uma pessoa justamente o oposto de mim. Apesar de ser trinta anos mais velho, é do seu espírito jovem e sonhador que recebo um aprendizado diário. Obviamente é uma troca, pois tenho o que em certa medida ele também precisa balançar:os limites saudáveis.
Fiz seis anos de terapia no Brasil e aprendi muitas coisas, mas sigo aprendendo, lendo e cada vez mais me interesso por formas de ser mais jovem, de agir de acordo com a minha idade. Porém não é um sentimento que se possa forçar, ninguém muda da noite para o dia e a principal lição é a paciência. Um dos livros que li, sobre o perdão dizia: Seja gentil consigo mesmo, estamos sempre fazendo o melhor que podemos.
Ultimamente tenho sido mais flexível, apesar de ter um objetivo claro, permito-me desviar alguns passos para VIVER, sair, ir ao cinema, teatro. Ninguém sabe o dia de amanhã, se estaremos aqui...se o que eu mais me preocupei foram com as contas para pagar, com as prestações e restringi minha vida a isto, não dei valor às coisas que passaram no meu caminho, às amizades, ao meu companheiro, a minha família. E as contas ficaram, o mundo não vai parar de girar por minha causa e no fim só eu que perdi momentos únicos e deixei a felicidade passar ao lado. Eu não quero ser assim...
Não quero também me preocupar, me magoar ao perseguir um objetivo dos outros, ao tentar fazer alguém sentir orgulho de mim. Amem do jeito que eu sou, se não puderem eu não irei me esforçar para me encaixar nos planos que vocês sonharam para mim. É tão difícil dizer isso genuinamente, mas aos poucos estou construindo esta base de pensamento. Não tente agradar ninguém, faz o que achas certo, o que te faz feliz. Azar se vais ganhar pouco, se não vais ter sucesso aos olhos deles, se não vais ter o carro do ano, se não conseguires comprar o teu apartamento. Quero viver a vida pelos meus olhos, quero ser capaz de perdoar o que me disseram, quero poder sonhar à noite coisas boas e não reviver sempre momentos tristes e dizer coisas para magoar e sair magoada. Acho que cheguei em um ponto em que dizemos basta:
NÃO QUERO TER RAZÃO, EU QUERO É SER FELIZ.
Quero ter sonhos e acreditar neles, quero cair e me levantar e acreditar novamente.
Estou surda para aquela voz que me critica, me aponta o dedo e diz: não vais conseguir.
Estou mais leve, mais tranquila...e com muito mais esperança.
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