Estes dias conversávamos o marido e eu sobre o fato de que muitas, mas mesmo muitas das pessoas com quem convivi no período escolar e que eram as melhores, as que tinham as notas máximas e tals, são hoje indivíduos com vidas mais ou menos, que não renderam um décimo daquilo que "prometiam". Aí pergunto a ele o porque daqueles a quem desprezava (por eu ser daquelas criaturinhas que pertencia ao outro grupo) por não estudarem, por irem sempre mal nas provas, por andarem sempre envolvidos na bagunça em sala de aula, serem hoje aqueles que triunfaram comparativamente aos outros, os sempre tão certinhos e bons-alunos-de-futuro.
Lembro-me de um caso da menina que na altura era considerada a melhor aluna da turma (não, não havia quadro de honra, era apenas uma constatação despretensiosa). Ela estudava muito e tirava as melhores notas (sempre). O sonho dela era passar em medicina na Ufrgs: só o curso mais concorrido de todos, na universidade mais concorrida de todas por ser a melhor e por ser pública. Nós acreditávamos piamente que ela ia passar de primeira. Se alguém teria este feito, só podia ser ela. Acontece que não passou. Mas frequentou a faculdade de letras, com ênfase em inglês. Anos mais tarde, ainda não satisfeita, resolveu prestar vestibular novamente. Passou para a segunda opção: enfermagem. Era o mais próximo da medicina que conseguiu chegar.
Tive um colega daqueles que podemos descrever como o "do pessoal lá do fundo". Pronto. Apresentados. Era aquele que gostava de sentar lá atrás para atrapalhar a aula e debochar de tudo e de todos. Não estudava uma vírgula, passava sempre com as calças na mão e hoje, bem hoje deixa-me completamente embasbacada. Formou-se em direito, prestou concurso e atualmente trabalha em São Paulo, viaja o mundo, virou um gato e ganha muito bem. Casos destes tenho uma lista: a que trabalha na delegacia de polícia, o que trabalha com informática na Dell a ganhar a volta de 5 mil, a que formou-se em pedagogia e hoje é dona de uma creche, o que é professor de faculdade, o que tem uma firma de advocacia, o que é construtor, o que é major no exército, etc.
Isto faz-me pensar que a escola não serve de nada no quesito ensinar para a vida. Aliás, este até era o slogan da minha escola. Ensina é a decorar, a ler, a repetir. Ensina a padronizar, a conceituar, a passar horas a tentar entender coisas que não tem utilidade para a vida futura. A escola não ensina de todo a se virar na vida. A puxar o tapete dos outros, a trapacear, a levar o chefe e colegas no papo, a enfeitar o currículo para ter mais vantagem em relação a outros concorrentes. A escola por exemplo, não ensina que um MB ou um A em ciências não vai adiantar nada na hora em que estás tremelicando e batendo os dentes antes de uma entrevista. Afinal não nos ensinou técnicas de como controlar o nosso corpo. Não, a escola não ensina para a vida. Na vida vencem os mais despachados, os que não tem vergonha nem medo de se arriscar. Os que algures depois da adolescência, abriram os olhos para o que realmente importa e correram atrás a fim de construir sua carreira. Na vida não vencem os que passaram horas e horas a estudar, a se preocupar com provas e a não dar importância às provas que a própria vida nos haveria de pregar. São imaturos, são enclausurados naquele mundo entre notas boas, na ilusão de que elas se estendam infinitamente além do percurso escolar. É só copiar do quadro, prestar atenção no professor, chegar em casa, revisar a matéria, fazer os temas de casa e pronto.
A vida é uma matéria muito complicada de entender, simplesmente porque exige vivência. E talvez seja por isto que o "pessoal lá do fundo" agora tenham as melhores notas.
Isto era excelente para certas pessoas lerem.
ResponderExcluirAcho que ainda hoje faço um post sobre licenciados e não licenciados e as relações amor/ódio entre uns e outros..
Bjs
Pois, acho que o tratamento por dr ainda deixa a coisa mais ferrenha! Aqui neste caso é mais do tipo a briga entre cdf versus alunos vagabundos, em que os últimos deram-se muito melhor. É a vida...fazer o que? :p
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