terça-feira, 19 de março de 2013

A minha solidão


Sou uma pessoa que aprecia a solidão. Não sou do tipo morar no meio do mato, sem shopping nem nada por perto, mas gosto do silêncio. Gosto de falar sozinha, de cantar enquanto lavo a louça, de passar o pano no chão a contar os meus sonhos. Quando fui para Portugal senti falta da família, é verdade, senti falta de alguns amigos e também da minha terra. Não que fosse uma pessoa muito social, de encontros e baladas, mas gostava da sensação de que se eu quisesse era só ligar para alguém e combinar um cinema. Lá por muito tempo fomos apenas os dois, ainda que o marido tivesse amigos, cada um tinha a sua vida e uma vez ao mês nos encontrávamos para um jantar.  E era só. 
Como não trabalhava, a minha tarefa era cuidar da casa e das contas. Tinha tempo para ir na ginástica, para escrever, para ver filmes e, quando o marido chegava,  já tinha saudades de falar com alguém. Era feliz todos os dias, não durante o dia todo, mas por muitos minutos destes dias. E fui acostumando-me com isto, com o telefone mudo e as amizades virtuais, até que depois salvo raras exceções, as amizades foram se esvaecendo conforme a distância entre um email e outro aumentava.  A família foi quase o mesmo processo, chegou um momento em que a saudade não doía mais, algo havia cicatrizado em mim. Às vezes por distração, passava a mão na ferida e a saudade não gritava, estava também ela confortável com a minha solidão. 

2 comentários:

  1. Muito verdadeiras as suas palavras , quando damos por ela , já a solidão é a melhor companhia.

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  2. Tens razão Tralha, ainda mais que sou filha única, portanto a solidão sempre fez parte da minha vida de uma maneira ou de outra.
    Beijinhos

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