sábado, 22 de junho de 2013

A fogueira

Escola do Fabian - Festa de São João

Alguém certo dia me disse que há uma fogueira dentro de nós. Sim, podemos ser água, vento ou terra. Podemos inclusive ser uma coisa de cada vez por um longo tempo. Eu desde que me lembro sou terra. Sou chão. Sou a busca de segurança e de acolhimento. Nunca gostei do fogo, ou melhor, talvez até não desgostasse o que havia era medo de queimar-me. Tenho para mim que o fogo é uma energia poderosa, o fogo destrói e prepara a mudança. Como sempre tive medo de mudar, parecia óbvio o porquê de manter-me longe. 
Não pude deixar de sentir um nó no peito quando acenderam uma enorme fogueira diante de mim. Vinham quatro tochas de cada lado. Norte, Sul, Leste, Oeste. Juntaram-se em meio à madeira que jazia no centro de tudo e atearam fogo. Timidamente começou a buscar oxigênio e tomou conta da base, para depois ir gargando o cimo daquela pequena montanha. O fogo fez-se em luz e vida, qual uma entidade tomou-lhe  o corpo, dançando e lançando fagulhas noite à dentro. O fogo brincava de destruir. Sim, tenho a certeza de que gozava o momento com felicidade, como se tratasse de uma criança de tenra idade a destruir o mundo a sua volta. Então senti-o dentro de mim, aceso. Vivo. Pululante. Senti-o tomando conta do meu sangue morno, dos meus órgãos internos e principalmente dos meus pulmões. E parei de lutar contra ele. Aceitei. Deixei que (me) destruísse como se fosse um pedaço de corpo qualquer. A vida é morte e renascimento e eu precisava morrer para que o resto de mim pudesse nascer de novo. E ficamos nesta dança interna alheios às vozes que cantavam: 
acende a fogueira ia iá
acende a fogueira iô iô
cuidado para não se queimar...
Mal sabiam as vozes de que a minha alma já era fogo. E agora era a mim que viam serpentear em chamas engolindo toda a escuridão de minha noite...


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