terça-feira, 6 de agosto de 2013

Todas as noites


A minha vizinha tem um relógio. Ou deve ser uma máquina do tempo pelo barulho que faz. Engraçado só ouvir à noite, ou deve ser porque ela só funciona estas horas. Pensando bem, pode ser uma máquina de sonhos, pessoas a quem falta imaginação devem ter uma destas. O meu marido não tem, e não é porque ronca, é porque de fato tem imaginação a escorrer pelos cantos da boca e pelos olhos, sempre voltados para alguma realidade paralela qualquer. 
Quero bater na parede com os cotovelos, este barulho ritmado me irrita. Não posso dormir com esta máquina ligada seja de tempo ou seja de sonhos. Eu quero ter os meus em paz e silêncio. Já pensei que podia lá a coitada sofrer de alguma doença respiratória e precisar de uma engenhoca para mantê-la, mas aquilo não é como um tilitar comum, é rápido, é agoniante. Pus minha orelha para espiar. É mesmo dali. Todas as noites tenho de convencer-me de que é apenas minha imaginação, não há ruído nenhum ao lado. Viro-me e reviro-me no travesseiro. E se for uma bomba-relógio? Aperto meus olhos. E se eu tivesse o poder de quebrar esta merda só com o pensamento? E esta desgraçada, amanhã vou bater na porta e pedir para a mãe dela o meu sono de volta. E se ela disser que não tem relógio nenhum? E se eu estiver ficando louca? E se ao menos aquela porra explodisse e eu pudesse finalmente dormir?

Um comentário:

  1. Ahaha! Fiquei imaginando o cenário. Se calhar a situação assume estes contornos pela ansiedade que estás a viver...já falta pouco!!! :)

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