quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Fomos assaltados

É verdade, mas o que nos roubam é... comida. Não são as aranhas, não senhor. Temos é um gato preto do vizinho que não pode ver a janela aberta que zapt aqui para dentro. A nossa janela dá para o quintal deles e não temos nada que separe um terreno do outro senão um muro bem pequeno, que não espanta nem formiga. Tivemos a certeza do roubo depois de alguma discussão a respeito de uma panqueca que sobrou, a qual o marido jurava que não tinha comido além de uma provinha. E eu pensava que ele tinha era esquecido disto, porque o homem vive no mundo da lua. Como o Fabian não alcança a bancada só restava ele, porque eu até então tenho uma memória RAM de dois teras. Eis que ontem vou na cozinha colocar o prato e deparo-me com o gato de olho nas batatas assadas que o marido tinha feito. Dei um grito e o bicho lá saiu tropeçando nas próprias patas. Eu não odeio gatos, mas detesto gatos ladrões, gatos que andam pela cozinha, em cima da mesa, detesto comida com pelo de gato. Este era um problema que tínhamos seguidamente na casa da minha sogra e se um cão podemos educar, já um gato não é assim tão simples. Agora temos de ter cuidado redobrado com a janela e temos de falar para o vizinho sobre isto (embora ache que não adiante muito). Agora me digam, qual é a pena para um ladrão destes? 

A novela da cozinha

Estamos tentando arrumar a cozinha há uma semana. Primeiro o marido tentou inutilmente contactar com o rapaz que montou ela primeiro, depois lá fui eu atrás de "maridos de aluguel" até que conseguimos tratar com um senhor português. Conversa vai, desculpa vem, nunca podia. Mas nos apresentou o seu pai que também trabalhava com isto. Pois o homem veio sábado passado e ficou oito horas entretido em tirar o plano de trabalho, por mais para cima, arrumar os móveis, cortar o plano de trabalho original, etc. Ficou faltando por os tapa pés de metal e um dos armários superiores. Ficou de vir segunda e não veio. Hoje apareceu para acabar de vez com esta novela. A bucha para pendurar o armário: não trouxe. A serra para cortar: não estava boa. O silicone para impermeabilizar a bancada da pia: estava fora do prazo de validade e completamente seco. O que vale é que volta amanhã. Depois que o marido contou-me que o senhor está enfrentando um processo de divórcio e que descobriu que a ex-mulher lhe deixou um monte de dívidas, até tive pena do homem. Não é à toa que anda todo desbaratado. 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Estes franceses...


Tenho sido auto-didata. Já entendi que tem de ser assim pois com a quantidade de férias que temos e as aulas a passo de caracol, preciso fazer por mim. Descobri um site muito bom e tenho estudado por ali, pois além de ter as lições, tem no final o vídeo com a pronúncia de cada tópico.
Hoje dediquei-me aos números e não é que chegando pelos 70, dou-me conta que algo de errado aconteceu. Ou tiveram preguiça de inventar nomes para o setenta, oitenta, noventa. Ou é pura sacanagem com os incautos que tentarem aprender sua língua. 
Ora vejam:
70 = soixante-dix - ou seja, sessenta mais dez
80 = quatre-vingts - quantro vezes vinte
81 = quatre-vintgt-un - quatro vezes vinte mais um
90 = quatre-vingt-dix - quatro vezes vinte mais dez
91 = quatre-vingt-onze - quatro vezes vinte mais onze

E depois dizem que os alemães que gostam de palavras intermináveis. Ahhh!!!

Podemos sentir isto por alguém que nunca vimos?

Tenho um tio, um filho fora do casamento (antes mesmo deste) que o meu avô teve. Já falei mais ou menos sobre isto aqui. Pois hoje ele faleceu de câncer como o pai dele. Apesar de nunca lhe ter falado, nem ter escutado a sua voz, apenas vi umas fotos no facebook em que de fato nota-se a semelhança, estou triste. Não pelo destino que não entrelaçou nossos caminhos, não por ter desconhecido até então mais uma prima. Mas porque hoje senti falta do meu avô, senti raiva desta distância, de não estar junto dele nos últimos dias, de não escutar aquele jeito desbocado que herdei quando mandava a gente ao "cu da vó", muito menos a força de vontade e teimosia de não se entregar, a qual infelizmente não lhe agarrei dos genes. Embora tenha a crença espiritualista de que esta brincadeira chamada vida não acaba por aqui, hoje senti falta da presença física, e quando estamos longe, impotentes, quando nos mentem que ainda há chances, mesmo sabendo que não haveria, mesmo quando nos mentem já no velório que tudo está bem, mesmo quando nos querem proteger. Não há respostas, não há consolo, não há tempo. Há apenas uma estúpida duma puta distância que não cura. E quando acordamos no meio da noite lavada em lágrimas porque sonhamos com uma despedida que não houve, temos certeza. Certeza de que tudo que fazemos é pouco, e que no fundo não passamos de crianças com medo do escuro.

Por onde anda?


Há uns bons anos quando assistia o programa "Vídeo Show", tinha um quadro onde os fãs mandavam sugestões. O nome era "por onde anda?" e assim sabia-se que o menino Ferrugem cresceu e ficou muito feio, que a mocinha da novela das seis do ano que nasci estava uma matrona, que o cantor de um só sucesso virou músico de churrascaria. Enfim, no fundo o programa até devia ser uma depressão para aqueles que saíram dos holofotes e hoje vivem como os simples mortais. Mas o que eu queria saber mesmo é por onde anda a Dona Neura. A simpática pessoa que vez por outra habitava meu corpo e se punha a ginasticar, a fazer faxinas como se não houvesse amanhã, que se olhava ao espelho e se empoleirava de saltos e batom para passar o aspirador enquanto escutava música. Sabes Dona Neura, sinto uma falta imensa da senhora, anda, podes voltar, aqui em casa está "quase" tudo como deixaste. Nem toquei em nada porque olha, só tu mesmo para fazeres este corpo voltar ao que era.  Será que resolve mandar uma carta ao Vídeo Show? Não vá a Dona Neura ter me trocado por outra dona de casa qualquer...

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Na vida coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia

É uma música do Zeca Pagodinho, mas poderia muito bem servir de trilha sonora a um casal de amigos do marido. Foram na mesma época que ele para Portugal, o homem informático, a mulher técnica de enfermagem, penaram como todo mundo para se adaptar, embora se adaptar recebendo muito bem seja mais fácil. Mesmo assim a mulher foi fazer tudo que foi trabalho temporário, dizia que naquela época fazer promoção em supermercado dava dinheiro. E ela fez. Conseguiu se formar e como não arranjou emprego na área começou a trabalhar de administrativa na própria faculdade em que tirou o curso. Quando chegou a crise para nós, marido ficou desempregado, começaram a pensar em voltar para o Brasil. Pediu demissão, deu adeus aos recibos verdes e foi trabalhar no negócio da família. Ah pois é, muito trabalho, muita correria, completamente diferente de Portugal. Nós vivemos o american way sem a parte boa. O camarada então está há um ano no Brasil e vive reclamando, mas o detalhe é que em primeiro lugar conseguiu não só manter o padrão de vida que possuía em Portugal, como manter os dois (sim dois!!!) apartamentos que possui neste país. Em segundo, conseguiu rapidamente comprar um imóvel no Brasil, tem dinheiro para a hora que quiser ir passar umas férias na Europa e a única coisa que lhe falta é tempo. Sim, tem de trabalhar muito em um negócio que é deles, que não estão sendo explorados por patrão nenhum e que como é ligado a safras e adubos, pode folgar uns meses no período de colheita.  Mas reclama! Ah como a vida é difícil! Ah coitados de nós temos de nos sujeitar a tanto trabalho, não termos o mar perto, termos uma vida muito cara no Brasil (que por mais que seja cara podemos pagar)! Haja paciência, eu bem que tento, mas é sempre a mesma lamúria!!! Não ficaram desempregados mais de um ano, não ficaram a viver com os pais e/ou sogra, não ficaram devendo, não ficaram dependendo de ninguém, mas olha que interessante, o ônus disto é o trabalho e a falta de tempo. Só me dá vontade de dar força, voltem para Portugal! Voltem a trabalhar em promoção de mercado e quem sabe ele consiga um salário que hoje oferecem um terço para esta área. Voltem e vejam que provavelmente o banco lhes tomará sendo otimista, um dos apartamentos porque não devem conseguir uns 1500 para sustentar os dois. Nós bem queríamos voltar, o marido às vezes suspira e diz que se ganhasse no Euromilhões comprávamos uma casa em Carcavelos ou Estoril. Mas porra, daí a largar tudo que conseguimos até agora como se fôssemos bestas, ignorando que o bicho tá comendo por lá, é no mínimo, vá lá, ingratidão para com a vida.

Procura-se


Árvore de Natal, bolinhas, luzinhas e tudo que é quinquilharia ligada a isto. A árvore foi uma entre tantas coisas que deixamos para trás (e que a muy amiga aproveitou para sua casa), por isto ando pesquisando em sites qual o lugar mais barato para comprar. Ai que falta faz o chinês agora!!! 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Estou em choque!

Em uma das páginas de loja que curto...

 Volta pro mar oferenda! Cruzes!!!

As pessoas adoram ser bajuladas

Estou para ver que agora não se arranjam mais desafetos como antigamente. Antes era preciso uma resposta torta ou partir para desaforos, hoje não: basta não puxar o saco e pronto, ganhamos um inimigo. Sério isto produção? Hoje mesmo tive dois exemplos disto, enquanto aqueles que permanecem "ai como estás linda/o, ah como teu filho/tua filha é fofo/a, talentoso/a (mesmo quando pensam o contrário)...Quando alguém tenta dar uma resposta "normal", é logo relegado ao ostracismo. Ei, estou aqui...aloooô?! Queria mesmo fazer uma pesquisa, quantas pessoas penduradas como amigos virtuais estão ali porque gostamos e quantas estão porque odiamos (e quem odeia adora manter os detestados por perto)? E já agora, aquele negócio de dizer que vai fazer uma limpeza no face é só para nos manter antenados né? Se no outro dia não recebermos o feed isto quer dizer o que? Devemos chorar, nos escabelar, hum, hein? 


Fabionices

Fabian com a cara na cortina da banheira:

- Mãe, o papai trabalha longe da nossa casinha.
- Não Fabian, o papai trabalha bem pertinho, mas tem é de ficar trabalhando muito muito tempo. E por isto o titio dá o dinheirinho para o papai comprar comida e outras coisas.
- O Papai Noel também dá dinheiro pro papai pompá presente pa mim.
- É mas o papai Noel só dá dinheiro para os pais daquelas crianças que se comportam, ouviu??
- Simmmm.
- Agora fecha d'uma vez esta cortina e deixa eu tomar banho em paz!!

Difícil mesmo é a vida


..vestibular a gente dá um jeito. Este era o slogan do Universitário, um cursinho pré-vestibular (exames nacionais no Brasil) e fez o maior sucesso com tiradas estilo "saia justa". Quando li esta notícia não tive como não lembrar-me daquela época. Ora vejam as alternativas:

a) Chinês é tudo igual mesmo.

b) O casal deveria escolher melhor os seus padrinhos

c) O noivo entrou com o chifre direito na relação

d) O saquê estava ótimo.

e) Todas as anteriores.

É...difícil mesmo é explicar.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Off

Esta semana ando off, estamos os dois de férias. Cuma? Isto mesmo. Férias de duas semanas agora, mais duas em dezembro, mais duas em fevereiro, mais duas em abril e mais as férias de verão em julho. Ufa! O ano letivo devia chamar-se o entre-férias porque haja paciência para aguentar os anjinhos em casa ou dinheiro para amas e atls privados. 
Não tenho tido grande vontade de estabelecer contato com a família no Brasil, sempre tão cheios de perguntas a que vou me esquivando com um "sim, tá tudo bem".Tá sempre tudo bem. Querem saber se tenho novidades...gente eu moro em uma quase aldeia, onde ao invés da maria fumaça que quando passava os matutos acertavam o relógio de corda, aqui é uma ambulância. Às vezes pergunto ao marido se não vem de carona com a das 17 horas, só depois a das 19. Na verdade a ambulância passa o dia inteiro, o que não deveria me surpreender devido a quantidade de pessoas idosas que tem aqui. No entanto moramos quase ao lado de uma maternidade e como já disse o must-have tem sido bebês, há sempre alguém a ir buscá-los no hospital. Curiosamente o símbolo que tem na mairie são três cegonhas. Deve ser um sinal. 
Com esta abundância de tempo já tenho pensado no Natal. O marido de certa maneira convidou o filho para vir durante as suas férias em Coimbra, mas a verdade é que não quero nenhum pouco sua presença. Sei lá, sabe quando a gente cansa? Este período no Brasil deixou-me com um monte de má vontade para uma série de coisas, entre elas está a mania (ou deveria dizer charme?) do meu enteado em fechar-se ao mundo e obrigar-nos a puxar por ele. Em qualquer assunto temos de começar, dar continuidade, até que finalmente morre e bem, eu já não estou para isto. Fico imaginando duas semanas aguentando enteado e filho,pois o marido não pode tirar férias nesta época. E já que este não quer saber da minha mãe aqui, eu por outro lado não quero saber da dele, nem da filha, nem do genro, nem do filho, nem de ninguém. Se já tenho a fama de bruaca vou então é deitar na cama mesmo, mal sabem eles que era euzinha quem fazia o pai/filho ligar-lhes, insistia para que fossem mais próximos, mas olha a paciência acabou-se. A vida daqui por diante é só nós três. 

A visão de um francês sobre o Brasil

  1. "Aqui no Brasil, as pessoas acham que dirigir mal, ter transito, obras com atraso, corrupção, burocracia, falta de educação, são conceitos especificamente brasileiros. Mas nunca fui num pais onde as pessoas dirigem bem, onde nunca tem transito, onde as obras terminam na data prevista, onde corrupção é só uma teoria, onde não tem papelada para tudo e onde tudo mundo é bem educado!"
Daqui: http://olivierdobrasil.blogspot.fr/2013/04/curiosidades-brasileiras.html?spref=fb

Tudo o que tenho dito resume-se a isto: quem dera entrasse nas cabecinhas de porongo da minha cunhada e alguns dos meus amigos facebookeanos.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Marido já está viciado no facebook, mas nega tudo, é claro. Este é o primeiro sinal de um viciado. Ah o que? Então não tenho lá controle sobre quantas vezes vejo? Largo aquilo a hora que eu quiser! Quer ver? Ah pois é. Já sabe da última da fulana, pergunto eu. Ah que ela viajou para Budapeste. Sim... E tu tens que ver a ciclana que tá com um cabe... Lo vermelho e curto? Já vi. Assim não tem graça, tu já sabes tudo!!

Todos sentados em cadeiras de plástico. Constrangidos, nenhum sinal de wi fi.
- Eu sou a J.
- Olá J.
- Comecei inocentemente partilhando uma fotografia de gatinhos. Agora não posso mais! Alguém me ajude por favor!! - choro convulsivo acompanhado de um afago a um felino inexistente.
- Eu sou o P.
- Olá P.
- Não aguento correr três metros se não compartilhar com a app da nyke.
Seguem-se mais apresentações. Lá ano palco do velho salão um homem surge das sombras. Mantém o rosto em completa escuridão enquanto fala dos passos básicos na luta em comum. Não curtirás, nem sequer uma foto. Não partilharás mensagens religiosas e de qualquer gênero. Não seguirás. Desfaça-te desta vida de stalker. Não atualizarás teu status duas vezes ao dia. Não dirás como te sentes nem trocarás a foto de perfil duas vezes por semana para ganhar likes. Continuou até o derradeiro propósito ao que quase sem fôlego, entrega ao silêncio. E por último: cancelarás tua conta no facebook. Alguns gritos apavorados e mais choro da senhora dos gatos. Vocês conseguem, eu garanto-lhes. Deu um passo à frente e um par de olhos safira brilharam insanos, quase luminosos. Uma voz sumida ao fundo exclama: Mark... Zuckerberg?...

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Constatação do dia

Até que enfim as pessoas podem abrir os álbuns da década de 80/90 e não sentirem-se constrangidas. Calças centro-peito com mini blusas...sério? O que volta agora? Cabelinho Mullet?


O santo graal do corpo

Bella Falconi e a sua marca registrada: o abdome trincado.
Ando muito por sites brasileiros e agora nestas últimas visitas tenho notado um certo histerismo feminino pelo que intitulam de "musa do abdome trincado". Reza a lenda que era uma moça vulgar (não no sentido malicioso), magricela e que depois de uma temporada nos EUA, muitos shakes, vitaminas e namorado personal trainer depois, consegue o corpo de sonho (dela). E poderia ser uma história como outra qualquer mas com o porém de que o corpo que criou para si mesma virou um dos mais must have da estação, tal qual se tratasse de um sapato ou qualquer peça de vestuário banal.  Como se já não bastasse a futilidade da moda no geral, agora ditam-se o corpo ou parte dele que vai ser in a cada estação. Peraí pessoal, você que malhou glúteos como se não houvesse amanhã, andou encurvado uma semana, fique sabendo que agora o que está dando é pescoço truncado, com veias à mostra, sabem o sexy que é ter um assim? Já foram as bolas-seios de silicone, as pernas de Stallone, as bundas artificiais e à lá homem, a barriga negativa. Não é que ache que as pessoas não estão no seu direito em cultivarem músculos à base de uma dieta restritiva e treinos insanos. Cada um é livre para fazer o que quiser e o que acha que lhe fica bem, embora pense que isto é lamentavelmente inestético. O que incomoda é a inocência das mulheres (falta de personalidade,  vamos ser sinceros) em imitar e a mídia a reforçar que aquilo sim é que é bonito com fotos diárias de idas à praia de famosas devidamente padronizadas. 
Sei que meu corpo não é lá aquelas coisas e a única coisa que almejo é voltar a ser magra como era antes. Não tenho o sonho de ter as pernas da Juju Salemeni ou a bunda da Juliana Paes (não, eu até queria ter a bunda da Ju, mas aí o marido não me deixava em paz nunca mais!). Não tenho a ilusão de tentar a todo custo estar dentro das tendências ditadoras de pedaços humanos ideais, acho que o meu corpo assim como as peças no meu armário, são daquelas coisas que não saem de moda jamais.

Constatação do dia

Como tem gente reacionária neste mundo! E ainda tão jovens... logo eu que pensava que era preciso envelhecer primeiro.

Os louquinhos por bichos


Estou com eles. E já tive de fazer cara de paisagem quando escuto alguém dizer indignado por verem ativistas abraçando um buquê de beagles de olhos mortiços, de que deviam era se preocupar com gente. Que há tanta criança com fome, que tem tanta gente sem teto, mimimi. Pergunto aos sábios  porque não trouxeram ainda um mendigo para dividir a cerveja e assistir ao jogo de domingo? Porque não adotaram um dos pivetes que pedem dinheiro no semáforo? Irrita-me gente assim (vou mudar o nome do blog para ascoisasquemeirritam), vá vá vá! Então mas se não fazem nada disto, nem são voluntários em causa nenhuma senão a do dizer mal, reclamam de que afinal? Ótimo para eles, estão fazendo alguma coisa de útil, de bom. E isto que nem sou daquelas que acham que os animais são melhores e do tipo "quanto mais conheço os animais, mais..." (vocês sabem de cor né?).  Sou contra os testes em animais e desta vez envergonho-me do meu país por permitir que o façam e não só permitem como obrigam que antes de serem lançados, os medicamentos tem antes de passar por ratos, cachorros, macacos, etc. Outro argumento maravilhoso é o de que se gozamos de saúde agora, graças às vacinas, antibióticos, remédios, foi devido a este avanço científico feito através destes mesmos testes. Sim, é verdade, olha que grande hipócrita que sou. Sabem que não faz muito tempo a escravidão era legal, assim como tudo que vinha com ela, as chibatadas, os assassínios porque escravo era uma propriedade tanto quanto uma cabeça de gado e olha, se fugisse, olhasse para mim torto, e se estivesse em dia não, podia...pof. Matá-lo. E olhem como a escravidão impulsionou esta ex-colônia! O quanto nos colocou como um dos principais exportadores de cana e mais tarde de café. Mas as coisas mudam, as mentalidades idem e estar na lei não significa que seja imutável (ainda bem). Não estamos mais na época em que os fins justificam os meios, já era gente... Prefiro acreditar que é um pequeno passo para o reconhecimento dos direitos dos animais tal como aconteceu na Itália ano passado, despoletado também por uma "invasão" à propriedade privada seguida de "roubo". Hoje criminosos são os que tentarem manter animais enjaulados, maltratando-os e torturando-os com substâncias tóxicas. Força ativistas, estou com vocês, louquinhos por bichos!

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Era uma vez um ponto.
Um ponto que queria ser travessão, cruzar mares e histórias. Queria conhecer pessoas, ampliar horizontes, simplificar o mundo. Assim, tudo de uma vez só. Não invejava o ponto de exclamação sempre tão cheio de certezas, tampouco o ponto de interrogação com suas dúvidas enfadonhas. Era um ponto simples, com um sonho muito muito grande. Não queria ser um ponto final. Queria esticar-se até não poder mais, abraçar criador e personagens, mas sabia no fundo que não passava de um sonho bobo. Decidiu-se então juntar-se aos outros dois pontos. No fim da fila. Quem sabe passasse esta sede de continuação, como se acreditasse que houvesse vida para além de si...

domingo, 20 de outubro de 2013

Domingo de chuva

Pois é, alegria de pobre dura pouco! Ontem fez um dia fantástico, sol, calor de uns 25 graus e alta disposição para um longo passeio pelo centro de Strasbourg. Comemos sorvete azul, levamos o Fabian no carrossel, vimos as vitrines, nos irritamos com os turistas alemães da terceira idade atravancando ruas estreitas, passamos por uma festa que celebrava a entrada da Armênia na comunidade européia, vimos um congestionamento de carrinhos de bebê, etc. Este foi o primeiro passeio com o Fabian no seu modelo três rodas e costas e braços livres do papai. Sempre achei um tanto quanto ridículo crianças grandes em carrinhos, mas fazer o que? Rendi-me às evidências...não temos carro e o Fabian não aguenta tanto tempo sem colo. Chegamos em casa e tinha os pés em uma lástima, quem me manda aposentar os saltos por tanto tempo? Depois é isto, na verdade depois de todo um treino de corrida e pesos deu em domingo= dia de descanso. Marido emburrado porque quando sai o tempo passa rápido e que quer curtir mais o fim de semana. Oi? E para compensar o sábado cheio de atividades, domingo chove, chove e chove. E esfria. 
Domingo Strasbourg morre. Schiltigheim nem se fala. A cidade se encolhe, até a igreja está de portas fechadas. Chove e nem sequer temos carro para dar um passeio como quem não quer nada e ir na Alemanha que aquilo deve ter alguma animação, ao menos mais do que aqui. Sério. Eu tenho uma relação de amor e ódio com a França e ainda nem nos conhecemos direito. Começamos bem.

Ilustres desconhecidos

É interessante como pessoas que nunca vi na vida sabem mais de mim do que a minha família e até do que alguns amigos. Claro que a culpa por assim dizer, é minha. Eu que escolhi fazer esta espécie de partilha no mundo virtual e por incrível que pareça para uma pessoa tímida, é natural, faz-me bem.  Não sei o que outros bloggers pensam sobre isto, creio que alguns não sentem-se sequer ameaçados porque a única coisa que fazem é transcrever notícias ou colocar como o dia está lindo, enfim. Poucas pessoas fala. Com sinceridade sobre sua vida e menos ainda sobre seus problemas. E talvez por isto seja um sobresalto quando alguém nos descobre este pedaço de alforria do mundo. Hoje tenho alguns cuidados que não tinha quando comecei a escrever, o marido me lê diariamente, o filho dele andou por aqui alguns meses e na verdade há qualquer momento um destes desconhecidos podem vir a ser alguém com cara e papel na vida real.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Me irrita

Caramba ainda hoje existe quem escreva "raça" para designar etnia?? Raça só a humana meus caros. Parem com esta história, é ridículo, é demodê, é preconceituoso. Pronto, era só isto.

Pêniscentrismo


Não não é egocentrismo não me enganei, é mesmo pêniscentrismo, um neologismo de fato. Pois o meu filho agora começou esta fase que vai até...hum...quando morrer?
O Fabian faz umas duas semanas que descobriu o pirulim. Claro que já tinha visto antes, puxado, balançado, coçado, enfim. Já tinha visto ficar duro e olhava para mim com uma cara espantada e eu a rir-me por dentro: ai ai quando descobrir como é que funciona isto! 
Até então era coisa passageira, na hora do banho ou quando trocava a roupa, mas de uns tempos para cá tem se escondido para ficar nu e depois como não consegue se vestir sozinho, vem pedir ajuda ainda com o tico duro. Dizem que não se deve valorizar muito e que também não devemos dar uma de freira escandalizada, temos que agir naturalmente para que ele não associe o prazer à nojo ou vergonha. Mas que é complicado, é. Nós temos usado a desculpa do frio, dizemos que não pode ficar pelado porque vai pegar gripe, ficar o nariz entupido, etc. No entanto todo dia é a mesma coisa. Se é assim agora, imagina quando chegar na adolescência?! E é engraçado porque é uma coisa que ninguém fala, quando se é mãe não se pensa que com três anos andamos atrás de meninos a vestir-lhes, a abrir a porta do quarto e pegá-los com a "boca na botija". Alguém se identifica? Vamos lá, como lidam com isto mamães da blogosfera? Ou é só comigo?

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Coisas que me motivam para entrar em forma

Como a academia que escolhi (por ser a mais perto de casa) é muito, mas muito barata, é claro que está sempre apinhada de gente. Ainda mais porque o meu treino continua a ser um circuito de 20 min corrida - 7 exercícios de 15 repetições - 20 min de transport - os mesmos 7 exercícios - 20 min de tortura um aparelho que imita os movimentos de andar de patins (não sei o nome dele) - 7 exercícios. Posto isto, preciso mesmo de aproveitar os dias em que não é possível executar o treino para fazer só corrida, uma hora de dez minutos de paciência. Antes, quando ia nos meus 58 quilos, aquilo se fazia numa boa, mas agora o corpo e a mente andam em guerra e só com muita boa vontade chego ao final. Confesso que aposto corrida com o maluco(a) ao lado, cuido através do espelho e vibro em pensamento quando ganho (isto quer dizer quando o tempo dele termina e eu sigo viva). Outras vezes olho para a tv e fico com cara de "cumé?" quando passa um seriado/novela francês em que os atores falam uma coisa e coiseiam logo em seguida. Mão naquilo, aquilo na mão, e eu que achava que nós éramos o país da sexualização por tudo e por nada, enfim. Ao menos não colocam em programa culinário! 
Outra coisa que me motiva é que o verão tá logo ali, né? Daqui uns...sei lá, falta muito para julho? Tenho também um vestido preto que está guardado desde que tirei esta foto, estava grávida de um mês, parece que já foi há um século atrás...e que na loucura queria assim que coubesse neste Natal. Coisa de mulher não é?

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Fabionices

O gelo é amigo da água, mãe!


***
  
Tu não podi pega o papai no colo porque o papai já cresceu grandi.

***


A dona Aranha subiu pela parede

Eu gosto da natureza, sério mesmo. Mas fora da minha casa por favor. Gosto de plantas, mas não tenho o mínimo jeito com elas e muito menos paciência para adivinhar se precisam de mais água ou sol. Estou acostumada a questão de ter seres vivos para além de nós três ser uma decisão minha, mas aqui tenho reparado que não é bem assim. Logo que cheguei fiz uma faxina de escovar parede e tudo, tirei todas as teias de aranha e achei que o problema estava resolvido. Que nada! Como dizem, a dona Aranha é teimosa e desobediente, sobe, sobe, sobe e nunca está contente. Lá vem elas e fazem à noite uma teia-ikea em poucas horas. Lá vai a minha vassoura desmontar tudo. Quando são pequenas eu mesma lido com elas, mas já tive dois casos em que eram do tamanho da palma da minha mão e...cabeludas...eca! Chamo o maridão para intervir e zás, com ele não tem muita conversa. Confesso que até fico com pena, porque sempre que dá eu apenas enxoto o bicho, mas o problema é que elas voltam... Não aguento mais aranhas!! E agora ainda temos o Helloween, abóboras, bruxas e aranhas à solta. Mais aranhas. Ainda.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Yeah, mais um post sobre emigrantes!

Se tem coisa que me deixa confusa é esta mania dos emigrantes de dizerem que tudo no país onde vivem é melhor do que no seu próprio. Isto até parece um pensamento um tanto quanto infantil, pois todos os lugares tem coisas boas e más. Claro que um brasileiro que nunca saiu de sua terra e que é bombardeado em todos os programas televisivos, sites e jornais com notícias negativas, tende a acreditar que no Brasil nada presta e que no exterior é que é bom, na Europa, nos Eua, isto sim é que é viver bem. 
A mídia passa-nos a ideia de quase endeusamento, eu por exemplo, imaginava que aqui respeitava-se rigorosamente as leis de trânsito, até me policiava para não atravessar fora do local próprio e no sinal vermelho para os pedestres. Surpreendi-me porque muitas pessoas fazem o mesmo quando há uma distância segura para a travessia. Ainda estes dias vimos uma reportagem sobre Nice em que mostrava a venda de habilitações para dirigir:  afinal o "jeitinho brasileiro" se afrancesou ou não temos nós mais os direitos autorais sobre ele?  Provavelmente os delitos são em menor número, mas estamos longe do modelo que tentam nos impingir... 
É preciso  desmistificar este nosso complexo de inferioridade, como se o mundo fosse dividido entre pessoas cidadãs de primeira classe e o resto. Outra coisa que acho o "Ó" é idolatrar as merdas que se critica no seu país, mas ah porque está no estrangeiro é cool. Por exemplo, tenho uma pessoa que achava um horror e falta de civismo pixações e agora porque está na Europa, fez um álbum em que coloca a "arte das ruas". Atenção que é mesmo pixação, totalmente diferente de grafite. 
Creio que alguns destes emigrantes até sabem bem no fundo que muitas coisas estão erradas e que sua vida nem é assim tão boa, mas em nome da aparência que pretendem passar aos amigos e familiares mantém uma postura bitolada. É uma pena, porque grande parte dos brasileiros nunca saíram de seu estado natal e sequer tem uma ideia de como é o mundo lá fora. E quem sabe sentiriam-se um pouco mais "gente" se soubessem que não existe perfeição acima do Equador.

Os três anos ou a idade do toc


Não se pode pisar fora da pequena estrada de paralelepípedo no meio da calçada. Não se pode pisar nas listras brancas da faixa de segurança. Andar sempre que possível pelo meio fio ou em cima dos muros. A cueca não pode entrar no rego, o cabelo não pode encostar na testa. Juntar as coisas pelas cores, as mãos não podem ficar sujas que tem de lavar logo. E um dia não é dia se não ver pelo menos uma vez o filme da Princesa e do Sapo.

E a louca sou eu!

Já é certo que pelo menos a maioria de nós temos alguns amigos que gostam de mostrar o que não são, viver uma vida de aparências e quem não os conhece que os compre (como se diz no Brasil)! Agora com o facebook a auto propaganda atingiu outros níveis, mas se fulano faz ou deixa de fazer não me incomoda assim tanto, agora eu acho um absurdo o meu tio que deve a minha vó toda a herança (visto que ficou com a casa) que a ela pertence e diz não ter dinheiro. Pois, não tem, que inclusive coloca como status do perfil que a gerente do banco anda atrás dele, que não tem condições, que tem dívidas e tal. Mas...o filho está em uma faculdade privada cuja mensalidade ronda os 1500 reais, tem sempre as coisas mais caras, telefone, ipad, tênis de 500 reais e quando completou 18 anos ano passado, ganhou um carro. Tunizou, colocou caixas de som estrambólicas, pneus de liga leve (sei lá o que é isto), computador de bordo. Tudo isto para vendê-lo uns meses depois e comprar um gol novo. Este final de semana anunciou que iria despedir-se do carro e umas horas depois tcharám!!! Um carro toyota novinho em folha! Porra! Sabe que a louca aqui tem uma enorme vontade de perguntar de onde arrumam dinheiro para isto e porque não pagam à vó. Enquanto isto, ela está no Rio, no alto de seus 75 anos, com um joelho para ser operado e simplesmente não pode porque não tem dez mil reais para a cirurgia, cuidando da minha tia com leucemia e dos três netos, uma ainda bebê de 8 meses. Revolta-me!!
 Esta gente não tem mesmo noção de nada? A péssima educação que meus tios dão ao meu primo é lá com eles, embora tenha me valido de lição do que não fazer por minha vez. Viver a adolescência através do filho, dando-lhe sempre compensações sem haver qualquer parte de esforço seja como filho amoroso, seja como estudante dedicado, sem nunca frustá-lo, é de uma irresponsabilidade extrema. Mas é como eu penso, se os pais não educam, a vida tratará disto, agora a minha vó não. Minha vó não merece isto no fim da vida...

Como eu me sinto

...ou melhor, como me sentia tentando entrar no mar em Portugal.



domingo, 13 de outubro de 2013

Recordar é viver (ou não!)


Ontem vimos o The Company Man e nem acredito que o Ben Affleck enfim participou de um bom filme! Já estava no disco há horas e o marido que já tinha visto, garantiu-me que valia a pena assistir. Bem, andamos a relembrar tudo que se passou nestes últimos meses, às vezes só nos olhávamos e perguntávamos: onde é que eu já vi isto? Recomendo: bom, muito bom mesmo. O filme conta a história de desemprego de pessoas de classe alta na crise dos EUA que acabou por virar a atual crise mundial. O que fazer daqui para adiante, depois que a vida nos leva de rebolão como uma onda de um tsunami? Fica-se com a casa (se a tem), vamos morar com os nossos pais (nãoooo!)? Que contas pagamos primeiro? E quando os outros souberem? E a esperança a cada entrevista? E as expectativas depois que elas desmoronam uma a uma? Mudar de área? Trabalhar em subemprego? Mudar de país? E a puta da raiva porque o mundo não pára, porque as pessoas a nossa volta continuam indo de férias, comprando carro, os filhos frequentando as melhores escolas. E o casamento? E os filhos? O tempo e as dificuldades que insistimos em enfrentar juntos? Hoje sinto-me feliz, afinal não é assim tanta gente que passa por isto e sai ainda mais forte. Porque amar em tempos de bonança, com presentinhos, jóias e viagens é fácil. Amar sob o teto dos outros, com medo, engolindo sapos, e vivendo um dia de cada vez, é só para os fortes.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Frio, tu tá de sacanagem!


Hoje a mínima é de 2 graus. Não tenho palavras para dizer o medo que estou do inverno. Ele ainda nem dobrou a curva e já tenho vontade de me enfurnar em casa, embaixo de alguma manta e não sair de lá. Não posso chamar isto de outono, isto é o autêntico inverno dos Pampas, daqueles que doem os ossos, em que parece que as orelhas vão cair e o nariz congelar. Respiro e sai aquela fumacinha em que quando criança costumava brincar que era a fumaça do meu cigarro imaginário (blerg!). Ontem saí de calça jeans e tive a sensação de que estava pelada da cintura para baixo. Tem certeza que não está só de calcinha menina? Perguntava-me enquanto vez por outra conferia que estava tudo certo e que por enquanto não me deu para isto. Matriculei-me na academia, já fui uma vez e deu para perceber que se quiser fazer um treino decente, preciso ir de manhã, quando o marido e o filho saem de casa. E cadê a coragem? Jesus e a neve ainda nem deu as caras e já sofro de depressão pré-inverno! E cada vez que rebolo o traseiro para sair de casa fico xingando o marido em pensamento: ora não podia lá arrumar alguma coisa em Nice? E já disse que não vou para Luxemburgo nem a pau e recuso-me a viajar para qualquer lugar que seja mais frio do que já sou obrigada a suportar! Aff cadê o aquecimento global quando mais se precisa?
Este período que estou passando tem sido muito rico em variados aspectos. Tenho sonhado muito, por exemplo, algumas coisas são tentativas de metabolizar emocionalmente esta mudança de país e língua. Outros, já são vivências além corpo, são mensagens que ainda não sei bem como descodificar, são retalhos do futuro. E às vezes pergunto-me o que querem de mim? Porque sonho com isto? Desde que cheguei tive três confirmações sobre o que havia sonhado. A primeira foi o reencontro com as paredes seculares de uma cervejaria em Strasbourg, a rua, as pessoas, tudo estava no seu lugar como se tivesse encaixado em uma forma sutil feita com o material dos sonhos. Tive um frio na barriga: havia sonhado com isto quando ainda estávamos no Brasil e naquela época me pareceu um sonho como outro qualquer, mas que ficou devidamente registrado pela mania que tenho em "contá-los" em voz alta. Depois aqui mesmo sonhei que estava me vestindo e que bateram na porta duas vezes ao invés de tocar a campainha. Olhei para a máquina de lavar a fazer barulho e fiquei paralisada pois não saberia o que dizer e por fim, fingi que não havia ninguém em casa. Duas semanas depois acontece exatamente a mesma cena: pancadas na porta, eu com a roupa que estava vestindo, a máquina  funcionar.  

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Bonequinha russa


Há pessoas que parecem saídas de um livro, podem ser bonitas ou feias e na verdade nem é isto que importa. Há qualquer coisa de exótico ou de familiar em seus traços e gestos que não passariam desapercebidos em um romance. Na minha sala de aula há duas famílias russas compostas pela mãe e filhos.  Uma com um casal de filhos e outra com três filhos: um homem e duas moças. Kaputiana, filha da primeira matrona, é uma leoa em forma de mulher. Tem os cabelos encaracolados cor de cobre e os olhos bem marcados em sombra negra para evidenciar sua cor de amêndoa. Poderia dizer que tinha olhos cor de mel, mas Kaputiana (que bem poderia ser nome, mas é o seu sobrenome), tem olhos em chama e um parco sorriso. E tenho a certeza de que as poucas vezes que o faz, é mais com desdém do que com alegria. Kaputiana nem é assim tão bela, mas cativa a atenção por não ter vergonha da juba disposta para cima, como uma trepadeira envolta na tiara e os lábios em formato de botão prestes a desabrochar. 
A par disto, a filha do meio da outra família russa é uma mistura que ainda não sei definir justamente. Talvez umas pinceladas de Brigitte Bardot, Ana Paula Arósio e Liv Tyler. Tem estatura mediana e veste-se com saias jeans pelo joelho. Os cabelos castanhos presos em um coque permanecem semi desnudados por um lenço colorido. Além dos olhos profundamente azuis, o lenço era a única coisa que dava cor ao seu vestiário. A irmã mais nova é bonita, mas não tanto quanto ela, a bonequinha russa, cuja timidez e trejeitos desafinados dão-me a convicção de que desconhece a beleza que possui. Poderia muito bem caminhar por meio século atrás com sua pele nevada e qualquer escritor teria o prazer de tê-la como a mocinha do enredo, cujos olhos fugidios e rasos da cor d'água derramariam lágrimas por páginas e páginas sem fim. 
Também poderia incluir-se as velhotas da Albânia e seus dentes dourados ou a menina carente de atenção da Romênia, assim como a tez desaforada de Funda: a turca, ou o corpo franzino e deambulante de Hassam, do Blangadesh. Há por aí muito personagem à solta, basta um olhar mais apurado para voltarem à vida em um pedaço de papel.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A mini saia


Pois bem, estar em um lugar novo e não comparar para mim é quase impossível e faz tempo que pensava em falar sobre isto. Não acho normal mulheres com mais de quarenta usar mini saia. Não acho, pronto. Podem ser magras, ter as pernas em dia, mas é uma coisa que não combina mais. E acho estranho justamente pela França ser considerado o país baluarte da elegância na moda e mulheres com esta idade não são nada elegantes de mini saia. Uma coisa é um vestido ou saia três dedos acima do joelho, uma roupa moderna e jovial, outra completamente diferente são salto agulha e mais da metade das coxas de fora. Uma coisa é mini saia na praia com chinelos de dedo, na piscina, no camping em ambiente informal, outra é desfilar pela cidade, pelo shopping, disputando a atenção com adolescentes com a polpa da bunda à mostra. Ainda estes dias vi uma que devia ter mais de cinquenta, já com os cabelos curtos totalmente brancos de mini saia e saltão ao lado do marido curvado e senil. O problema está em querendo sentir-se mais jovem, acabam por evidenciar mais a maturidade para não dizer, entrada na velhice. O que também é engraçado é a constatação de que no Brasil onde todo mundo sabe que as mulheres adoram roupa curta e provocante, lá pela metade dos trinta as mini saias ganham aposentadoria, salvo seja no período de férias. No Brasil, as quarentonas, cinquentonas, sessentonas começam a vestir-se de acordo com a idade e o corpo que tem, ainda são sensuais, mas sem ser vulgares. E tirando as "eternas" gostosas da mídia (Xuxa, Luma de Oliveira, e demais atrizes sou-gostosa-malho-muito-e-jamais-ficarei-para-coroa), as mulheres no geral sentem que já usaram e abusaram deste estilo e partem para outra. Por isto a pergunta que fica é: será que mulheres que os pais e mais tarde os maridos não deixavam que usasse no tempo aceitável, são aquelas que mais tem necessidade de usar quando sentem que já não devem nada a ninguém? Será este o caso da Maya em Portugal? 
O marido pergunta-me quando irei aposentar as minhas, eu realmente não sei, acho que a cara de novita joga ao meu favor, mas com certeza quero aproveitar todo o tempo que tenho, porque esta moda da mini saia na terceira idade não é coisa para me fazer a cabeça (e as pernas).

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A debutante


Hoje foi o meu primeiro dia de aula e em uma luta cerrada entre a preguiça e o remorso de uma oportunidade perdida, ganhou a privação de sono. Lá fui eu tropeçando nos pés e quase morri de susto com a quantidade de gente que se enfileirava no saguão. Entrei na sala, mas antes garanti a minha cadeira (elas ficam no corredor assim como as grandes mesas dobráveis de plástico). Depois de uma breve apresentação fomos separados em níveis. Ufa, ainda bem que não seria uma hiper turma de setenta alunos! Dirigimo-nos para a sala ao lado, esta sim despida de qualquer coisa que pudesse assemelhá-la com uma sala de aula, afinal era usada para a prática de esgrima. A professora começou por saber os nossos (pré) nomes, de onde éramos, se somos casados, se temos filhos. Fiquei surpresa ao ver que temos cinco pessoas de Kosovo. Não ouvia falar de Kosovo desde as aulas de geografia em 97. Depois continuamos com um grupo do Azerbaijão, Uzbequistão, Turquia, Rússia, Geórgia, um representante do Bangladesh, uma da Romênia e outro do Afeganistão. Na outra ponta, uma portuguesa mascava chiclete nervosamente e com os olhos verdes pregados no vazio, atrás de mim e em pé, um angolano aguentava uma hora e meia em sorrisos tímidos. Era a única brasileira, mas pelo menos não a única a falar português. 
Quando a professora perguntou quanto tempo estávamos na França, as respostas variavam entre 14 anos a alguns meses. Sério que uma senhora turca respondeu que há 14 anos que mora aqui e está na turma dos iniciantes! Depois um homem admitiu que estava aqui há seis anos e entendia muito pouco de francês. A portuguesa de olhos ausentes chegou em 2005, mas como trabalhou sempre com portugueses falava muito pouco francês. E claro, havia gente que só ia lá com mímica e muita enrolação. Gente que não sabia nem noções básicas de inglês e que não falava outra língua senão a do seu país de origem. Às vezes pude sentir-me dona de um francês fluente tamanha era a dificuldade de comunicação, e claro que a entendo   pois até o alfabeto é diferente, no entanto não deixei de pensar isto. Na quinta começamos a aula de verdade: com quadro, mesa e cadeira para todos. E que Marcel Marceau olhe por nós!! Aliás, proponho até que seja canonizado como o santo dos imigrantes, muitos foram os milagres que presenciei.

sábado, 5 de outubro de 2013

De nome Francisco

Sábado passado tive um sonho logo pela manhã, o marido e o filho já estavam de pé. Estava fora do corpo e muito transtornada, sentia-me pesada, era uma aflição antiga que me fazia andar para lá e para cá. De repente comecei a sentir a tal presença. Era sutil e esmagadora tal como os meus pensamentos em círculo. Não quero ser mãe. Não quero voltar a ser mãe. Não gosto, não vê? Porque não procura outra pessoa? Desde que me lembro tenho um mantra na minha cabeça e mais do que um mantra é uma afirmação que deixa-me esquisita, num misto de medo e orgulho. Estou grávida. Uma obsessão que pairou pelos anos e sentia-me comprometida com dois espíritos a que havia de gerar seus corpos físicos nesta vida. Em sonhos eram sempre dois. Dois filhos, um casal. Eu os abandonava, era uma péssima mãe. E depois de ter o Fabian esta certeza se embruteceu, não havia hipótese de pensar em ser mãe novamente, e contudo a presença cobrava-me. Eu cobrava-me. Pois esta manhã sonhei e já farta de tudo isto resolvi ser o mais sincera possível. Chorei. Falei com alma e coração de que sou falível, sofrível até como mãe, que ganhava mais escolhendo outra pessoa, quiçá amorosa e que não faltam por aí são mulheres pedindo está dádiva de serem mães. Estava na sala, a que agora é a minha sala. Sofá branco, eu de pijama, o Fabian a gritar e o marido sentado à mesa no computador. Subitamente sinto o peito vazio, um homem negro materializou-se a minha frente sentado no sofá. Assustei-me de imediato, mas ele sorriu. Tinha um sorriso puro e uma energia que acabou por contagiar-me deixando-me serena. Trajava branco e quando falou sua voz era doce, quase paternal. Disse-me que não me preocupasse demasiado, que não viria para resgate e sim para ajudar na mudança do planeta. Disse-me que agora poucos encarnavam para isto, e que tudo tinha seu tempo e quando chegasse a hora eu saberia. Tinha milhões de perguntas, mas curiosamente elas esvaziaram-se naquele momento. Ele disse que me acompanhava e ao marido e que às vezes via mais negatividade nele do que em mim. Ainda falamos sobre a paternidade tardia e no quanto o Fernando tinha melhorado depois de ser pai novamente. Ele concordou. Nisto, o Fabian nos olha e diz mãe! Fiquei surpresa: ele nos vê? E o homem seguramente disse que sim. Perguntei-lhe o nome e ele disse que chamava-se Francisco. E eu: mas este é o seu nome atual ou gostaria de chamar-se assim? Ele sorriu e voltou a desaparecer. Logo depois, acordei. Descobri mais tarde que o nome Francisco significa "francês livre".  E desde então o mantra não se ouviu mais.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Da série "não acredito que perdi isto!"

Os acessórios mais desejados da semana de moda em Paris:

Pois...antes eram as melancias, hoje são as pérolas. Ser escandalosa atingiu outro nível com a Chanel.




Bolsa saco da Lanvin. Ora porque me precipitei em comprar uma de imitação de couro barata? Afinal era só dar uma customizada no saco de 20 litros do Lidl...


A moda tem uma coisa engraçada que é uma combinação esquizofrênica ser considerada fashion na passarela, e um terror se feita pelas vulgares mortais. E esta bolsa Miu Miu com um tapete de motivos chineses + um vestido psicodelicamente inspirado nos anos 20 + meias roxas= ritalina cadê você??


As botas Balmain resolveram o problema de toda mulher que é sapatear na chuva em pleno outono enquanto canta "it´s rainning man, aleluia" ops música errada: I singing in the rain. Contudo ainda há outra utilidade muito prática para quem depende de transportes públicos, nomeadamente metros/trens/trans, que é dar elegantemente umas bicadas nos pés de quem insiste em não deixar as pessoas descerem antes de entrar. 


As gravatas Saint Laurent vão provocar assaltos em massa aos cintos dos maridos para as mulheres sem  possibilidades para adquirir um cinto masculino metido a besta. E até acho que sentariam melhor com os furinhos todos enfileirados.


O óculos Stella McCartney conseguiu o feito de reunir em apenas um acessório dois ícones expressivos que nunca saem de moda: Hello Kitty e Jhon Lennon. Precious!


Achei ótimo esta preocupação recorrente dos estilistas em fazermos um rebusque nos paletós dos maridos e transformá-los em peças low cost. Achei muito bom este out fit para a academia, só tenho receio do casaco ficar escorregando e enroscar a barra na esteira. A propósito dos sapatos Vivienne WestWood eu até usaria, em uma parada gay ou no carnaval. Aliás todo mundo sabe que não resisto aos mary jane!

PRE PA RA

Ontem depois de falar com a professora do Fabian fomos ao médico, aqui também exigem um atestado para frequentar a academia. Ficamos uma hora e quinze minutos tentando entreter o Fabian. A secretária andava de um lado a outro e nada de fazer a minha ficha e sem ficha, sem consulta. Às tantas vi passarem três pessoas na minha frente, eu e o marido nos olhamos e fomos embora. No entanto, fiquei sabendo que posso matricular-me e entregar o tal atestado até dez dias depois de começar. E eu já estou montando uma lista com o que ouvir enquanto queimo estas gordurebas que teimam em ficar comigo. O marido ri das minhas escolhas, mas a verdade é que reconheço que não são grandes obras primas, mas o que me interessa nesta hora, são músicas que me motivem. 
Em Schiltigheim não há academia de ginástica, mas há aulas de boxe que tenho vontade de me aventurar mais tarde. Esta que escolhi além de ser a mais próxima em Strasbourg, surpreendeu-me pelo preço: 29.90 euros para fazer qualquer atividade oferecida, pena mesmo é não ter natação infantil. E assim amanhã dou mais um passo rumo a minha integração neste país, pode parecer que não é nada, mas para mim qualquer coisa que me tire da zona de conforto, necessita de um grande esforço.


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A título de desabafo

Enquanto no Brasil os ciclistas clamam por respeito, aqui eles já conquistaram seu espaço na rua. Os carros mantém uma distância segura e como o marido costuma dizer: o ciclista tem sempre razão. Até fora das ciclovias. O problema está em que os ciclistas dificilmente respeitam por sua vez o personagem mais frágil no trânsito: os pedestres. Correm pelas calçadas mesmo quando há ciclovias, buzinam para sairmos da frente, não cuidam as crianças, não param no sinal vermelho e muitooo menos na faixa de segurança. Ora, se querem ser respeitados e se querem ser tratados como um veículo como outro qualquer, então porque também não respeitam as leis de trânsito? Juro que estes ciclistas tiram-me do sério, a ponto de desejar-lhes uma voltinha lá no Brasil para pô-los ao lugar porque não estão sozinhos no mundo (isto resolveria se voltassem vivos).  Já tinha lido a respeito destas figuras em Paris em que a falta de civismo é igual ao que passamos. Conto nos dedos de uma mão os que desceram de suas magrelas para andarem nas ruas em que carros são interditos e há grande aglomeração de pessoas. A maioria segue num zig-zag vertiginoso e ainda não sei como não vi ninguém ser atropelado. Por isto fico sempre de olhos atentos para os carros e principalmente para eles. Aqui nem nas calçadas estamos seguros, e sinto muito, mas ultimamente o que mais penso é "pr'os diabos que os carreguem, ciclistas!!".

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O que a droga faz

Fotos

É impressionante, pessoas a envelhecerem dez anos em seis meses. Já sabia que seus efeitos são avassaladores, mas alguns estão tão maus que quase parece aqueles truques de photoshop - só que ao contrário. Tenham tento pessoal, é um caminho solitário e muitas vezes sem volta...

A primeira Ferrari a gente nunca esquece

Comprar ou não comprar? Guardar o dinheiro que ele tinha ganho da minha sogra no aniversário e comprar apenas uma bicicleta (ou biquileta como ele diz)? Pensei...este menino já teve a sua vida revirada do avesso não uma, mas duas vezes. Ficou sem quarto, sem brinquedos. Acostumou-se com um país e puft, acostumou-se com uma creche, cabuft. Duas vezes. Sempre torci o nariz para estes carros automatizados porque achava que criança tem de ser ativa, era muito mais de algo com pedal. Mas olha, dane-se, ativo já é até dizer chega, não é um carro que vai fazer assim tanto mal então, comprei! Vejam a cara de felicidade!


terça-feira, 1 de outubro de 2013

A moda de ter filhos

Dizem que a França está envelhecendo assim como o resto da Europa, no entanto o que mais vejo aqui são crianças e bebês por todo o lado. E não é só no caminho da escola, e não é também por esta pequena cidade ter nada menos que sete maternais (todos públicos), é uma constatação diária. Não é raro ver mulheres como eu digo "bem grávidas" (no sentido da barriga grande) com um bebê no carrinho e outro pela mão e mulheres extremamente jovens que eu especulo que não devem parar por aí. O marido diz que o governo dá incentivos, largas licenças de maternidade, mas creio que muitas sequer trabalham ou trabalharam e daí receberem uma ajuda conforme a renda do casal. Fico imaginando toda a roda de preconceitos que me passam pela cabeça, preconceitos estes que se formaram em uma sociedade que critica o excesso de filhos que os pobres insistem em por no mundo, que acha um absurdo o governo dar bolsa família, bolsa escola, etc. Aqui não são os pobres que enchem-se de filhos, talvez seja porque o governo não deixa que haja pobres. São os árabes, os africanos, outras etnias menos representadas de emigrantes e claro, os próprios franceses. Aqui estas ajudas abrangem grande parte da população e não é visto como vergonha recebê-las pois trata-se de um direito adquirido. Tais ajudas como estas entre tantas outras, como o meu curso de francês oferecido pelo governo por exemplo, fazem com que a França mereça o título de Estado Social. O que de certa forma me causa confusão é que estas mesmas ajudas são vistas no Brasil como assistencialismo barato, talvez por ser dirigida exclusivamente aos pobres, já que o Brasil apesar de também estar envelhecendo ainda não se preocupa com medidas como estas de incentivo a natalidade. 
A quantidade de filhos que virou moda por aqui, leva-me também a pensar que este deve ser o motivo de tanta preocupação para com a independência das crianças, afinal quem com três anos já sabe vestir-se e despir-se dá mais tempo para a mãe tratar de dois outros bebês cada um com a sua exigência. Ou talvez este seja o jeito meio germânico de criação já que estamos logo ali não é? Ainda tenho de me habituar a ver crianças de três anos a andar de bicicleta sem rodinhas e sem grande supervisão nas ciclovias e também na rua, assim como crianças de sete anos andando sozinhas à noite...