Sou assim uma pessoa meio compulsiva-obsessiva, oscilo entre oito ou oitenta. Entre uma vontade louca de viver e uma paralisia viciante frente ao computador. Sei que deveria buscar o equilíbrio e de fato às vezes busco, mas ele foge. Foge porque a inspiração precisa de um que de loucura. E desprendimento. E honestidade. Escrever é para mim um exercício de espelho. É como se tirasse todas as notas do pensamento e me pusesse a analisá-las, a alisá-las na esperança de reter um pedaço de mim que se esconde algures da minha memória. Na esperança de reencontrar alguém que deixei de ser, fixo alguém que poderia ter sido e ele foge. Por algum motivo ele tem medo de mim. Talvez porque lhe roubo os pensamentos. Talvez porque se lhe segurar ele passa a ser novamente eu. E morra. Escrever é viajar por si mesmo, é dar enredo a sua vida, é dividir sua experiência entre as personagens. Aqui sou diretor do futuro e tudo sei sobre o passado e presente. Aqui não há tempo, as cenas repetem-se e nem sempre na mesma ordem. Mas não confundo-me, sei cada pedaço de minha história. E acuso-me mais leve quando a escrevo e reescrevo. Porque escrever é uma forma de treinar para ser. Mas é também saber que a unidade empobrece a alma, pois que os desencontros são as farpas que nos fazem crescer. É ter a consciência de que ninguém está só, que por trás de cada homem, muitos outros escondem-se e por trás de cada sombra, um universo espera para ser contemplado. Conhece-te a ti mesmo. Escreve sobre ti mesmo. Ou simplesmente escreve. A mágica acontece quando ninguém vê.
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