domingo, 31 de março de 2013

Desejo pós Páscoa

Que as chatas e exibidas de plantão engordem mais do que eu. Amém.

A desgraça é sua

Domingo à tarde é um carnaval de programa ruim. Pilota-se o controle remoto e temos o campeonato de futebol do Ceará, entrevistas com abobrinha, vídeo cassetadas, funk e o pior de todos para mim: o programa chore você também, no maior estilo veja a desgraça alheia. A única coisa que consigo sentir, é vergonha alheia enfim. Para começar escolhem a família que come todos os dias o pão que o diabo cuspiu depois de amassar. Debulham a vida das criaturas em um mar de lástimas em que o marido trabalha, a mulher cuida dos seis filhos, às vezes a comida é arroz com três ovos e a mãe deixa de comer para o marido ter força para o trabalho. Aham. Esta dieta não tá adiantando muito, fia. Que tu tá é bem gordinha. Ah e sempre há tv, roupas boas e até desconfio que o computador portátil é escondido às pressas na casa do vizinho. Sabe porque que não acredito em um pingo? É porque cada criança tem direito a uma bolsa por frequentar a escola (Lula não é?), tem direito a bolsa família e depois a mulher com muita saúde pode muito bem pegar um emprego de diarista ou coisa que o valha já que as crianças são todas maiorzinhas, acima de quatro anos. Mas não, é muito mais fácil choramingar e contar misérias. Depois, as igrejas tanto católicas, evangélicas quanto os centros espírita, oferecem sopa todos os fins de semana e cesta básica para este povo. É só levantar o rabo do sofá e ir em busca. Mas não é só: a música lamurienta de fundo, as crianças de olhos compridos, o close nas lágrimas das mulheres é algo assim para o inexplicável. Se era para sentir pena, sorry, que a minha vida também está uma merda duma novela mexicana e não tô aí para dar audiência para ninguém. Eu tenho é nojo e raiva desta gente. Para começar para que meu Deus por no mundo esta cambada de filho? O governo dá camisinha, dá anticoncepcional, dá injeção de hormônio, dá vasectomia e laqueadura de trompas. Se são pobres e não podem sustentar nem dois filhos porque botam lá mais quatro? Não é por si só uma atitude egoísta sabendo de antemão que não serão capazes de os criarem com dignidade? Ah esqueci, é que se criam com amor, não é assim que funciona? Toma lá Uélinton, duas conchas de amor para você.
Depois do canavial de desgraças, entra em cena o apresentador do programa e qual um gênio da lâmpada sai mandando um banho de loja, de salão de beleza e por fim, ganham uma casa mobiliada, um novo emprego para o marido e uma máquina de fralda para a mulher. Eles são tv de plasma de 42 polegadas, quartos com ar condicionado, jardim e cadeiras e mesas, cama queen size, sofá com recosto reclinável. É mole? 
Tudo assim de mão beijada, até que podia mandar uma carta para o gênio da Record. Vá que?...
Mas tenho cá para mim que pobre que é pobre não tem esta sorte.
Aí depois dizem que não consigo ver os outros felizes, não é verdade. Consigo e muito genuínamente por quem lutou e tá se esforçando por uma vida melhor, até penso que muitas coisas eu mesma não era capaz de fazer e admito e admiro esta força de vontade nos outros. Agora para isto é que não há mesmo paciência, é o que chamamos de desgraça que podia ser evitada, primeiro com anticoncepcionais e depois com trabalho e vontade de uma vida melhor. Mas o problema é que ainda existem estes programas que eu chamo de loteria dos pobres, isto perpetua o estado de sofá destas mulheres , esta esperança ínfima de que um dia possam lhes mudar a vida como um passe de mágica.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Este não é um blog de culinária

...mas hoje vou mostrar o resultado de mais uma receita aprendida que o meu dindo passou: arroz com camarão. Estava uma delícia!


quinta-feira, 28 de março de 2013

Aquela sensação indescritível quando finalmente entendem que só quero cortar as pontas (!!!)



Às vezes acho que devia ser obrigatório um desconto quando "só queremos cortar as pontas".Pensando bem, é quase como aquilo que dizemos em uma loja: só estou dando uma olhadinha. Qualquer cabeleireiro que tenha o mínimo de experiência   sabe que pontas são fáceis de cortar, é só ter um pouco de coordenação motora e ir fazendo ou um V ou um U ou uma linha reta. Não há qualquer dificuldade. Não estou pedindo uma das versões punk da Rihanna, tão e simplesmente quero me ver livre das pontas espigadas que me fazem nó. Paguei 25 reais e fiquei muitíssimo satisfeita ao ver o meu singelo pedido de manter 95% do cabelo atendido. Volto lá...daqui há 7 meses. É verdade, fazia 7 meses que não cortava o cabelo. Ah e este era o mais barato que encontrei, porque já cheguei a pagar 60 reais só para me cortarem as pontas. No fim a mulher achou que estava pagando demais por aquele serviço e me cortou metade do cabelo. Linda! Quase fiz uma macumba para ela.
Sinceramente devia existir uma especialização para cabeleireiros, assim como os professores universitários deviam aprender didática. O curso podia ser dado por um psicólogo na área do coaching e das emoções. Até imagino os tópicos a serem abordados:
- Como respeitar o cabelo da cliente
- Cabelo e auto-estima, uma narrativa histórica pelo feminino
- Saber gerir frustrações: o que você quer não é de todo o que a pessoa que lhe paga está pedindo
- Treinar o ouvir
- Interpretação de linguagem corporal
- Como identificar e tratar a síndrome da tesoura obssesivo-compulsiva
E prontos, acho que só lhes ia fazer bem. Em nome de todos os fios compridos, meus cabelos agradecem.

A heroína moderna



Que voar o que! Queria mesmo era mandar raios de Prozac. Queria parar o tempo e me arrumar, enquanto o maridão fica ali no stop com a caneca na mão, queria pegar o filho congelado, arrumar, dar banho e plim: tudo em ordem. Ainda ia escutar: como fazes isto? Mas heroína que é heroína não revela seus segredos. Outra coisa interessante seria poder me teletransportar, assim era um fim de semana em Miami, outro em Veneza. E a cada ano podia contabilizar duas voltas ao mundo! Dar vida aos objetos também não era nada mau...vamos lá vassoura, esfregona, escova, aspirador de pó, todos em sentido: preparem-se que agora é a sala e depois os quartos. Agora...já!!! 
Ahhh mas o melhor poder de todos seria o sonho de toda mulher, comer sem engordar nadica. Que tal uma pizza hoje? Marcha. E uma de chocolate de sobremesa? Bora. Amanhã tem aniversário? To dentro. E pipoca doce no cinema? Já é.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Será?

O Fabian:
- Máe poque o muquito te modeu? Poque modeu na péna?

Eu com cara de ooohhh já começou esta fase?

Mister Bombastic

Hey Girls, vocês viram um cachorrinho por aí? Ele era deste tamanho...
Vamos pegar leve porque o maridão lê o meu blog! Hehehe! Beeem capaz, ele sabe o que penso sobre isto, e sabe principalmente porque não tenho papas na língua aqui. Não vou negar, acho bonito um cara sarado, barriga tanquinho, braços fortes. Claro que tudo tem de ser equilibrado, não acho legal o estilo Jhonny Bravo, com as perninhas desproporcionais ao tamanho do tórax. E também os homens precisam entender que há uma certa desvantagem para os baixinhos quando começam a crescer para os lados: eles ficam ainda mais baixos e com visual atarracado. Portanto mr. Bombastic que se preze (sorry guys) deve ser alto, mais de 1.80, por favor. 
Não vou cair no estereótipo de que um cara assim tem a cabeça vazia (embora haja casos destes), que só pensam em shakes, vitaminas e medir o bícepes no espelho. Mas apesar de achar atraente um homem assim não é o estilo que procuro para ter ao meu lado (viu marido, pode largar os halteres), prefiro uma barriguinha discreta que a tábua musculosa. E porque? Porque não teria paciência para o mister andar duas horas por dia em supinos e roldanas e anilhas. Porque não gostaria de ver a concorrência a olhar o tempo todo, porque uma barriga é mais fofinha para se aninhar. Eu acho bonito, assim como imagino que os homens achem as gostosas da televisão, e no entanto, uma coisa é admirar e outra completamente diferente é ter tesão. Não tenho tesão por homens musculosos e pronto. Acho legal ver na praia, tenho consideração pelo esforço que fazem para estarem assim, mas é só. Agora, admirem um pouquinho o esforço dos moços, vá lá.
 Dudu Azevedo - ator

Reynaldo Gianecchini - ator


Julio Rocha - ator
Jesus Luz - modelo e ator

Está aí a prova de que existe um orgasmo para além de 10 segundos

Recheio de negrinho (brigadeiro)

Chocolate branco com recheio de ovos moles e coco

Recheio de mousse de chocolate ao leite e Brownie

Mais um recheado com negrinho

Bem-casado: chocolate branco com recheio de leite condensado cozido, pão de ló e açúcar de confeiteiro.


Aiiii Páscoa...vem ni mim!!


terça-feira, 26 de março de 2013

Porque domingo de chuva?

Quando criança o domingo não tinha a conotação desmancha prazeres que adquiriu depois. Levantava cedo, pegava a bicicleta e seguia o vô e sua magrela azul. Quando avançava eu ia, gesticulava e eu entendia. Fazíamos um percurso de seis km de ida e mais seis de volta até a rua do gasômetro que fechava aos domingos. Uma vez lá, comíamos alguma coisa, uma pipoca talvez, depois voltávamos. Enquanto isto meu padrinho e meu tio já assavam o churrasco, a minha madrinha trazia minha bisavó com uma salada de maionese. Duas batatas eram postas de lado só para deliciar-me a comer com as mãos elas ainda mornas. A casa cheia, mesa farta. Muitos risos, muitas brincadeiras. Não sei até quando durou aqueles domingos, às vezes acho que eram como a repetição da criação do mundo, tudo era perfeito. E terminava com o chocolate ao leite que a vó partia e me dava um pedaço maior. 
Domingo de chuva não podíamos fazer nada disto, nem mesmo o churrasco que era substituído por uma carne no forno. Ainda assim eram dias felizes. Depois houve a briga entre meu avô e meu padrinho, ficaram sem se falar até o falecimento do vô. Quem sabe se entendem lá em cima? Assim espero...
Quando fazia o curso para o vestibular, o professor de literatura estava lançando um livro de poesias e até leu uma sobre a chuva e o reflexo do vidro no rosto da mulher bonita. O nome do livro era Domingo de Chuva, lembrei-me instintivamente da infância quando a família cabia em uma mesa oval de madeira, cheia de riscos e manchas entre o fumegar da comida. Domingo de chuva porque me evoca a melancolia de que tais dias não voltam mais, porque a vida muda, as pessoas mudam, mas a memória  não. 
Domingo é dia de esperar o que vai acontecer, é o ponto de,partida para o recomeço, é tempo de se resguardar para usar a energia para o dia seguinte. Domingo de chuva são aqueles dias em que vemos a vida passar através de um vidro embaciado. Domingo de chuva é mais do que esperar, também é um estado de espírito que me descreve bem.

E a brincar se dizem coisas sérias



Paródia da música Empire State of Mind  - o triste é que sempre pensei que a Alicia Keys cantava Hallelujah ao invés de New York...

Os tipos de amigos do (meu) facebook

O religioso

Está sempre compartilhando fotos de anjos e mensagens de que Deus quer falar com vocês, além de Jesus entrar abençoando os nossos dias.
O que eu queria ver: um real para cada vez que esta alma caridosa ser maldosa com alguém.

A miss ou mister Absolut


De quinta a domingo são fotos de festas e baladas e shows sempre acompanhadas de um copo de vodka.
O que eu queria ver: as fotos do pós-festa. Nem preciso explicar porque.

                                 O anti-política, anti-governo, vulgo manifestante de sofá 

Diria que 90% das suas postagens são sobre o aumento do salário dos deputados, o aumento da passagem, as falcatruas do Lula e do PT, etc.
O que eu queria ver: quando finalmente sair para protestar de cartaz em punho, cara pintada e capa da bandeira do Brasil.

                                                             O casal puxa e arrocha

Um momento estão trocando juras de amor a cada foto ou bilhetinho, em outro mudam o estado para solteiro e jogam farpas e indiretas através dos textos da Marta Medeiros ou do Carpinejar.
O que eu queria ver: alguém na hora em que mudarem para "em um relacionamento meloso e irritante" dizer que admiram um amor assim, mesmo a fulana tendo ficado com três dos seus melhores amigos, ele a perdoou. Lindo de ver!

                                                                        O  da corrida



Não importa a mini maratona, pode ser de um km em marcha atlética, mas tem de anunciar quando, onde e o tempo que fizeram. Eu até acho que é uma forma de auto-superação, mas então que guardem para si, o que quero saber se fazem ou deixam de fazer?
O que queria ver: as fotos da chegada, junto aos coxos e a turma da terceira idade.

                                                                  Mister instagram

Será que desconfiam que existe alguma comida para além do sushi? É porque parecem que inventaram a roda, por sinal uma roda feia e de peixe cru. Além de fotografarem um poste, um par de tênis, um copo de starbucks.
O que eu queria ver: mais nada. Não queria ver mais nada, chega de foto!!! Tomara que caia na patente o iphone quando estiverem fotografando seu coco.

                                                                           O intelectual

Tenho a impressão que despreza o mundo inteiro, tudo está errado, reclama das pessoas verem filmes do Spilberg, das novelas, das músicas populares.
O que eu queria ver: a sua coleção de pornô no disco externo. Deve ser das grandes.

                                                  A madame não se meta com o meu filho

Sempre colocando comentários raivosos para que ninguém se meta entre ela e o filho, porque é deveras realizada com a maternidade e é por acaso a mulher mais feliz do mundo.
O que eu queria ver: admitir a sua frustração de uma vez por todas. Isto é um pouco como o dona-de-casa desesperadas e talvez o que lhe falte é o sexo de qualidade com o maridão...

                                                                     A louca dos gatos


Todos os dias pelo menos dez fotos de gatos em cestas, gatos estirados no sofá, gatos com laço de fita, gatos enroscados em mantas. Bah!!
O que eu que eu queria ver: que arranjasse companhia humana, ia ver que não dói nada e ainda não deixa pelos pela roupa. E mesmo conselho para a de cima: sexo, terapia ou os dois. E vai aprender que o melhor amigo da mulher é o cachorro after all...








segunda-feira, 25 de março de 2013

Ironias

Escreve "Bom diaaaaa" no facebook e na vida real não cumprimenta ninguém.
#comoficochateada

domingo, 24 de março de 2013

A parte feia de nós

A propósito do que tinha dito sobre ser honesto consigo mesmo, tenho reparado que não são as escolhas das pessoas que me incomodam, mas sim a hipocrisia com que enganam a si e aos outros. Defeitos e fraquezas todos temos, no entanto como forma de amadurecimento é imprescindível que tenhamos a consciência dos nossos sentimentos. Não é tarefa fácil, eu que o diga, mas é uma escolha que opto todos os dias ao dar ouvidos aqueles pensamentos menos agradáveis de se escutar. Dou um exemplo: tenho uma voz que constantemente me diz coisas negativas, tanto a mim como aos outros. Às vezes passava por um rapaz a fazer manobras em um skate e pensava: tomara que caia. Às vezes alguém dizia que fulana ainda não se recuperou de tal coisa e eu pensava: que bom. Às vezes via meu filho a correr na sala e pensava: vai dar de cabeça em uma quina. Isto é um exemplo absolutamente espontâneo de pensamentos e desejos talvez, que passam como susurros. Minha primeira reação é negar, porque afinal não me considero um monstro e acho que não desejo mesmo aquilo que acabei de pensar. Gastava e ainda gasto energias a "desfazer" pensamentos e a desculpar-me às pessoas que o receberam. Porém só tapar o sol com a peneira não faz de maneira nenhuma que quebre este padrão. Ao invés disto, pergunto aquela voz: porque está tão irritada? Porque quer isto ou aquilo? 
A nossa primeira reação ao lidar com uma parte feia de nosso ser, é de rejeitar, agredir de volta e assim perpetuar a influência que tais pensamentos nos trazem de desconforto e vergonha. 
Se analisarmos bem, amor e atenção, tão resumidos em uma palavra "aceitação" é a vontade de qualquer um destes seis bilhões de humanos que habitam este planeta. Duvido alguém querer voluntariamente reações negativas para si. E porque havia de ser diferente com esta parte feia que carregamos? Ela quer vir à luz, mas constantemente a empurramos para a escuridão, ela quer ser ouvida, ela quer colo e aceitação. O que fazemos com alguém muito irritado e agressivo? Damos um soco? Ou oferecemos um copo d'água e o deixamos falar? Por para fora pensamentos e emoções tidas como negativas, a que fomos compelidos em nome da educação a rechaçar e ignorar. Elas não vão embora, elas não se curam a si próprias sem a nossa vontade. Elas estarão sempre à espera de nossa decisão em reabilitá-las, no entanto a forma com que requerem atenção é comparada à rebeldia de um adolescente que finge recusar afeto.
Tenho mesmo de ser mais tolerante com esta questão porque reconheço como é difícil lidar com esta voz e o quanto ela é cansativa em julgar e cobrar. E é uma pena realmente que a maioria das pessoas prefiram ser surdos e cegos a si mesmos. Penso ser aí o ponto em que Sócrates queria chegar, apenas sendo conscientes de nossa ignorância damos um passo à frente. Infelizmente, a cultura da satisfação e aceitação externa oferta-nos apenas a ilusão de que somos adultos, quando não passamos de crianças que a recém aprenderam a engatinhar.

A razão porque as mães envelhecem mais rápido

Uma das coisas que me deixa mais nervosa é o fato de ter de o tempo inteiro conter o Fabian. Dizer não cansa. As frases mais usadas são: não faz isto, não faz assim, não puxa o rabo do cachorro, não puxa o pelo do Yoshi, etc, etc. Às vezes chego no final do dia tão esgotada que só tenho vontade de deportá-lo para Portugal tamanho é o estresse acumulado. Quem disse que educar era fácil? Lembro que o marido, apesar de também dizer não, era muito mais descontraído que eu. Talvez pela idade, talvez porque este será a sua rapa do tacho. Já eu tenho medo da má educação do meu filho. Tenho medo de ouvir que é um menino irritante e indomável, o que muitas vezes penso cá para mim. 
Percebo que estou repetindo os mesmos erros da minha mãe que queria uma criança extremamente bem comportada, que sorrisse, que emprestasse brinquedos, que ficasse quieta. Ela até teve sorte porque eu era uma criança deste tipo. Mas o Fabian é um menino com uma energia inesgotável e que mesmo quando vem cansado da rua, ainda teima com uma série de coisas, atira brinquedos para o ar e  esperneia a cada não. Não pensem que também não há lugar para elogios, há sim, no entanto são raros, pois que raras são as vezes que o moço porta-se bem. 
Tenho a plena consciência de que posso não estar fazendo o melhor dos trabalhos a dizer tanto não, mas também não consigo deixar o barco andar sem rumo, até porque já tenho um exemplo assim na família. Resta-me preparar a cabeça para os cabelos brancos que daí virão, e sendo positiva, daí é que viro loira de vez.

sábado, 23 de março de 2013

Este tal de Harlem Shake?

Que coisa mais ridícula! Até podia ser engraçado uma criatura sem noção a dançar no meio de todo mundo que não está nem aí, mas se não fosse combinado, só para pagar uma de louco. Agora como não é o caso, não vejo qual a graça...senão talvez para quem faz. Depois falavam do Michel Teló, para mim isto é mil vezes pior. E ridículo.

Você sabe que é um filme brasileiro quando

A fila de patrocinadores ultrapassa os três minutos iniciais. Vixe que tanto agradecimento!!

Coisas que me irritam

E as desculpas que são dadas por quem diz amar muito e por isto vão se desfazer, vão abortar, vão eutanasiar, vão abandonar? Em nome de um amor tão grande, pois que são grandes altruístas, é porque aquele ser vai sofrer, seja um animal, um filho com deficiência, um casamento. Eu acho que todos tem livre escolha. Se não conseguem lidar com a doença dos pais, ponham em uma clínica onde acham que serão melhor atendidos, se acham que leishmaniose fará o cachorro sofrer e vos acarretará riscos para a família, matem-no, se não conseguem lidar com genes fora do lugar, abortem. Mas porra, nunca digam que é por amor. Nunca digam que é para que não sofram. Admitam a vossa incompetência para lutar e para lidar com as adversidades. Admitam que são fracos, que são preconceituosos e que não passam de uns medrosos. Está tudo bem. Todos temos limitações. Mas ao menos sejam honestos convosco. Por amor se faz coisas estúpidas, se diz coisas estúpidas, mas convenhamos, aqui não há nada de amor, sabem porque? Porque amor supera, não desiste, não se acovarda. E acho de última invocarem o amor como desculpa para qualquer escolha mais fácil para nós mesmos. A isto chama-se egoísmo e por acaso é o oposto de amar.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Ei você aí! Quer ser pai do meu filho?

Dois desconhecidos e o sonho de serem pais. O detalhe é que o recente modelo de parentalidade norte-americana surgiu de uma vertente das agência de encontros para namoro e/ou casamento. Fico a imaginar como seriam estes encontros com cinco dedos de conversas até o sininho tocar. E qual seriam as exigências para que o parceiro perfeito se materialize ante feições nunca vistas? E como sempre, imagino que as mulheres colocam mais condicionantes que os futuros pais. E o que poria aquele estranho como o predestinado e o que o descartaria? Chulé? Mau hálito? Um coçar no queixo irritante ou a roupa antiquada? Que se passa na cabeça de pessoas que usam deste serviço para tomar um dos passos que creio eu são os mais importantes na vida de uma pessoa? É que não há volta a dar, é um filho, não um animal de estimação. O interessante é que as pessoas entrevistadas disseram não buscar qualquer envolvimento amoroso e sexual, buscam tão e somente alguém com quem dividir as tarefas (e as depesas) que uma criança acarreta.  Na reportagem, entrevistaram uma mulher que abriu a porta de sua casa para um completo desconhecido, reservou-lhe um quarto e após algumas semanas de convivência, a prova de uma amizade nascente: um pote com sêmen. A orientação sexual do parceiro, homossexual, não impediu que sentisse nele a figura paterna para o futuro rebento. 
Está certo que a princípio é de espantar-se com a naturalidade do "casal", mas o que são por exemplo pais divorciados que não (frequentemente) estranhos a tentar gerir a criação dos filhos?

terça-feira, 19 de março de 2013

Luca

Quando tinha dezeseis anos tive um namorico com um rapaz um ano mais novo. Nos conhecemos na evangelização de jovens no centro espírita, mas foram apenas algumas semanas até ser trocada por uma menina mais jovem e bonita do que eu. Nunca mais o vi, também nem quis, porque muito tempo fiquei magoada pelo que aconteceu. Em um fim de semana ele terminou e no outro apareceu de mão dada com outra, enfim... Os anos passaram e conheci o meu atual marido, ainda namorávamos à distância quando em pleno sábado às 7 da manhã toca o telefone. Atendi ainda dormindo e com o habitual "alô? quem deseja?". Do outro lado da linha, uma voz familiar, a tua mãe, ela disse. Eu falei, olha ela está dormindo... Depois a mulher caiu em um choro convulsivo. Titubeava. É que o Luca morreu. Mais choro e alguém lhe tirou o telefone e a ligação caiu. Até hoje juro que fico com remorso de não ter tido uma reação mais humana e ter chamado a minha mãe às pressas. No entanto uma coisa é imaginar-se em uma situação outra é vivênciá-la. Fiquei em choque. Como pode um jovem morrer assim? De repente pareceu muito errado ter sentido raiva, mesmo que a maior parte desta tivesse esmorecido. Ele havia batido com a cabeça em um meio fio, ao menos foi o que havia dito antes de desligar. 
Mais de dez anos depois, volto a reencontrar a mãe dele e fico na dúvida se peço desculpa. E também se toco no assunto. A pobre mulher de três filhos apenas restou-lhe a mais nova, já que o filho do meio morreu aos 11 anos. Pergunto-lhe se tem notícia do Luca, sabendo que ela fala nos filhos com naturalidade e que também frequenta o centro espírita. Ela disse que sim e questionou-me o que sabia da morte dele. Só sabia que tinha sido drogas e é isto, foram as drogas e a falta de vontade de permanecer neste mundo. Ele suicidou-se com um coquetel e a namorada ajudou-o, ainda a mesma menina por quem havia me trocado anos antes. 
Sabendo o que acontece aos suicidas temi que tivesse ainda perdido a vagar e sofrer, mas ela tinha um sorriso, triste, mas ainda um sorriso. Tive notícias dele pelo seu protetor espiritual, ela disse. Ele não estava em condições de falar porque já havia reencarnado. Então toda a história fez sentido. A mãe sonhava frequentemente que ele fugia para lugares horríveis e que ela o trazia de volta. A ex-cunhada (já que separou-se do marido há algum tempo) teve um sonho em que estava em Gramado com o Luca e o perdia de vista. Acordou desesperada como se o sobrinho ainda ali estivesse. Alguém lhe comentou que isto poderia significar gravidez, mas ela com duas filhas moças não queria mais filhos. Pouco tempo depois descobriu que esperava um menino. No dia do parto aos cinco minutos de vida, o bebê teve uma parada cardíaca. Depois de muito insistirem na reanimação foi ligado aos aparelhos, os médicos diziam que parecia não querer viver. Adiaram a decisão de desligá-lo até que ele reagiu, no entanto a falta de oxigênio originou sequelas: o menino é surdo e mudo. Hoje tem quatro anos e ela mostrou-me as fotos no perfil da cunhada. A semelhança é aterradora. É a cara do Luca, os olhos verde-água, o queixo comprido, o sorriso, o cabelo loiro escuro. Não tem nada dos pais biológicos.
A vida dá-nos aquilo que semeamos, é justo. Nunca conseguiria acreditar em Deus se não acreditasse que temos muitas chances para acertar. Nunca me passaria pela cabeça que há um Deus justo por trás do sofrimento das crianças inocentes e cego aos miseráveis em caráter. Porque aqui fazemos e aqui pagamos.  Emmanuel, mentor de Chico Xavier, dizia: nós somos herdeiros de nós mesmos. Nós colocamo-nos na situação em que nos encontramos e mais ninguém. Nós escolhemos os pais que necessitamos. E cabe a nós todo o esforço que muitas vezes jogamos a Deus.
Ouvir esta mulher foi um soco no estômago, logo eu que tanto tenho me revoltado e reclamado da minha vida, que afinal fui eu quem escolhi. Ela tantas vezes dizia ao Luca que não adiantava se revoltar e que desistir é muito pior... Cada palavrinha caiu em meu ouvido e fez eco. Senti tudo como se fosse para mim: Luca, só tenho a agradecer pela tua história, espero do fundo do coração, que tu neste novo corpo, nesta nova família e com outro nome, possas recomeçar. Seja feliz, Luca. Não desista de ser feliz...

Adeus verão


E é assim,  há duas semanas, desde que o marido se foi, o sol e o calor resolveram também abandonar seus postos. Vento, chuva, mais vento, frio e estamos entre 13º no mínimo e 24 º de temperatura máxima. Parece que é mesmo a hora de se despedir dos shorts e manga curta. Ainda tenho esperança que por um acaso vá sair um dia mais quente, porém acho que em vão. Este verão começou cedo e terminou cedo também. Porque ele tem tanta pressa?...

A minha solidão


Sou uma pessoa que aprecia a solidão. Não sou do tipo morar no meio do mato, sem shopping nem nada por perto, mas gosto do silêncio. Gosto de falar sozinha, de cantar enquanto lavo a louça, de passar o pano no chão a contar os meus sonhos. Quando fui para Portugal senti falta da família, é verdade, senti falta de alguns amigos e também da minha terra. Não que fosse uma pessoa muito social, de encontros e baladas, mas gostava da sensação de que se eu quisesse era só ligar para alguém e combinar um cinema. Lá por muito tempo fomos apenas os dois, ainda que o marido tivesse amigos, cada um tinha a sua vida e uma vez ao mês nos encontrávamos para um jantar.  E era só. 
Como não trabalhava, a minha tarefa era cuidar da casa e das contas. Tinha tempo para ir na ginástica, para escrever, para ver filmes e, quando o marido chegava,  já tinha saudades de falar com alguém. Era feliz todos os dias, não durante o dia todo, mas por muitos minutos destes dias. E fui acostumando-me com isto, com o telefone mudo e as amizades virtuais, até que depois salvo raras exceções, as amizades foram se esvaecendo conforme a distância entre um email e outro aumentava.  A família foi quase o mesmo processo, chegou um momento em que a saudade não doía mais, algo havia cicatrizado em mim. Às vezes por distração, passava a mão na ferida e a saudade não gritava, estava também ela confortável com a minha solidão. 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Entonces...


Porque será que a maioria das dançarinas tem aquele pneuzinho na barriga? Pensava eu que a dança do ventre fortalecia os músculos do abdomen e assim a tal pancinha sumiria. Porque não some?

Como odeio os pais do Ruca


Sempre felizes, sempre bem dispostos e com uma paciência infinita. O Ruca é um menino que apesar de fazer algumas besteiras é calmo e não fica aos gritos, pulando e batendo no Riscas. Aqui em casa não é assim. Ou melhor, é suportável quando o Fabian não está perto da minha mãe. Este final de semana fui passar nos meus padrinhos e benza Deus como minha cabeça precisava disto. No entanto foi só voltar para me atacar da rinite e encher-me de dores de cabeça. O Fabian fica impossível, quer chutar e bater com os carrinhos nos cachorros, quer escalar o sofá, quer pular lá de cima, tudo isto quase ao mesmo tempo. Confesso que a minha paciência anda assim como o salário mínimo, curtinha curtinha. Às vezes depois de tanto avisar ele leva um tapão na bunda. Chora e depois vem para o meu colo como a pedir desculpa. Antes quando tinha o pai, era mais fácil: nos revezávamos no mau humor e sempre tinha um com a cabeça mais desafogada para explicar com calma que assim não pode ser (porém ainda que carinhosamente, sempre mantivemos a decisão do outro). 
A minha mãe por exemplo, vem saltando e gritando desesperada quando o neto chora, parece uma emergência e não aceita de maneira nenhuma que ele apanhe na fralda. Diz que nunca apanhei, mas eu era uma menina calma e as minha mal criações eram ficar de cara amarrada. O Fabian é muito expansivo, sei que precisa urgentemente de uma creche, de amiguinhos e de espaço. Sempre que dá levamos a uma pracinha, mas não faço disto uma missa, quando dá dá, quando não dá, paciência. 
Também sei que ele anda agitado e estressado porque eu própria não consigo lidar bem com a nossa situação. Porra quando ia imaginar que o marido ia ficar quase 1 ano desempregado? Quando ia imaginar que o Brasil ia nos fechar as portas e só nos faria perder tempo e dinheiro? Se eu soubesse tinha era o mandado logo para a França mesmo que nós dois ficássemos a espera aqui enquanto ele se organizava. Inclusive já decidimos que assim que ele arrume algo e possa nos mandar a passagem, nós vamos, independente de ser em um apartamento a ou b, de ter móveis ou não. As pessoas de fora olham e pensam que estou louca e estou, é verdade. Ninguém pode entender o que é ficar sem chão por tanto tempo, ficar na ansiedade de que algo irá surgir porque há coisas que não dependem só de nós. Ninguém sabe o que é ficar na casa dos outros mesmo e talvez ainda mais por serem parentes, todos se acham um pouco como diretores da nossa vida e todos sabem o que devemos ou não fazer. É uma merda, uma bela merda. De maneira que ando praí com uns tantos sapos engasgados sem poder soltar e recusando-me a os engolir. 
A ansiedade não deixa-me nem mesmo nos sonhos, quando aparece em todos eles o desejo de uma casa, de um lar...mas estranhamente a casa está sempre ocupada ou é de alguém, ou é muito grande e cara e não podemos pagar. Hoje ainda que em meio à angústia de não ter onde ficar, sonhei com o marido e que o abraçava muito apertado. E este medo é o maior de todos: o medo de que nunca mais possamos ficar juntos.

quinta-feira, 14 de março de 2013

O homem que copiava

Bah mas hoje eu to bem saudosista! Este filme deu um pontapé inicial ao ator Lázaro Ramos, que falei em outro post e foi filmado aqui em Porto (Alegre). Acho que já vi umas cinco vezes, mas gosto sempre de repetir. Sabe o que é? No Brasil não há tanta abertura para o sotaque gaúcho e quando vemos alguma coisa que nos representa, por assim dizer, tem outro gosto. Quem quiser ver tem disponível no youtube o filme completo. 

Gauchês


Um das coisas que sentia mais saudade era de ouvir a "minha língua" ou as expressões que o povo do sul fala. Por exemplo, aqui não se diz semáforo, diz-se "sinaleira", pechada é acidente de carro, nega maluca é bolo de brigadeiro, sendo que brigadeiro aqui é negrinho. Por falar nisto, foi inventado aqui e pelo menos temos direito de dar o nome não?
Depois tem o famoso "Bah" que tanto serve para admiração, surpresa, medo, tristeza e outros, dependendo da entonação. E o "tri" qualquer coisa: tri bonita, tri legal, tri fácil. Para gaúcho tudo é tri. Depois tem o "te larguei", o "não me faz te pegar nojo", "to louco então", vem "na manha" (quer dizer devagar, na malandragem). O "não te fresqueia" é clássica. Quando alguém dá piti, fica "amarelando" com uma situação, solta lá um não te fresqueia, problema resolvido. 
Também tem o tchê (lê-se thíê), usado como o Bah: tchê me alcança o chimarrão? Tchê, esta picanha tá de lamber os beiço.
Guria e guri, então é só aqui (ficou parecendo slogan). É como menina/o, já piá serve para ambos e quer dizer criança. O mesmo que o tal moleque.
Maloqueiro vem de maloca, casas indígenas, mas agora passou a designar as casas precárias das favelas e portanto, favelado para o resto do país, para nós é maloqueiro. 
Fora a história de só falarmos o tu, tu, tu. Não existe você a não ser na escrita. No resto do país é o contrário, só você e o tu é falado pelos marginais, pelas pessoas de pouca instrução. Tantas diferenças, às vezes até parece um dialeto...


Existe algo pior do que ter uma mãe histérica e neurótica?

Existe. Morar com uma mãe histérica e neurótica. E se podemos pensar que não podia ficar pior, esta mãe como avó nos comprova que sim. Coisas básicas que tenho de lidar diariamente:
Voz estridente
Surdez seletiva
Aquele velho hábito da defesa e do ataque, em que falamos a e entende b, sendo b extremamente   ofensivo e apresenta-se um sermão da montanha por isto.
Mania de que é mãe do meu filho, decidindo sobre coisas que eu tenho direito, como sobre se deixo ou não ver tv, se come ou não doces.
Desautorizar-me nas ordens que dou ao meu filho
Mania de discutir por qualquer coisa e desatar a falar e mandar como se fosse criança
Isto é engraçado porque trata-me como criança e quer que seja adulta. Tenho de ter uma imensa paciência e lhe mandar se foder apenas em pensamento, pois é falta de educação falar alto não?
Hoje ouvi dizer que uma moça perdeu a mãe jovem com câncer e dei por mim a pensar, que sorte a dela! Não tenho qualquer sentimento positivo com relação a minha mãe, tanto que se tudo der certo, viro as costas pro Brasil e não volto aqui antes de conhecer todos os lugares possíveis que desejo. E só volto para ficar em hotel, casa dos outros nunca mais!!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Cena complicada

Fiquei muito chateada com o que aconteceu a pouco aqui na rua. Um rapaz provavelmente drogado, porque suas atitudes não eram de uma pessoa "normal", gritando e batendo numa moça que chorava. Não sei se namorada ou irmã. Sinto muito mas é muito complicado se meter em uma coisa assim, muitas vezes a própria vítima fica a favor do agressor. Tenho pena, mas não consigo imaginar-me em uma situação desta. Comigo era um pontapé no saco e té logo amor.

terça-feira, 12 de março de 2013

Todas as cidades tem seus podres



No século 19, quando Porto Alegre ainda tinha a volta de 20 mil habitantes, descobriu-se dois corpos degolados em um poço. Eram de um comerciante português e o seu caixeiro, ademais havia também o do cachorro deste último e foi por causa do animal que se teve a certeza da identidade dos corpos. O acusado foi um ex-policial, filho de português e uma índia, um homem corpulento e afastado do ofício por episódios de extrema violência. Chamava-se José Ramos e junto a ele, foi presa sua companheira, Catarina Palse, acusada de ser cúmplice dos crimes. No entanto isto era apenas o começo...
Catarina era Húngara, mas descendia de alemães, ainda com 12 anos fora estuprada por vários soldados russos a propósito da Revolução Húngara, deixada inconsciente, talvez dada como morta. Toda sua família fora assassinada nesta ocasião. Catarina casou-se aos 15 com um cardador de lã e cinco anos depois, emigraram para o Brasil. No meio da viagem, o marido suicidou-se, assim, chegou sozinha na Província de São Pedro. Dois anos depois conheceu José que também tinha sua cota de tragédia. O luso-brasileiro matou o pai aos 15 anos, quando tentava defender a mãe das investidas constantes quando este bebia. Era razoavelmente instruído, amava as artes e fazia questão de frequentar todas as noites o Theatro São Pedro. José falava alemão e assim começou a amizade com o açougueiro Carlos Claussner, um solitário imigrante alemão que lhe tomou como aprendiz de sua profissão.  
Quando se conheceram, Catarina e José não demoraram muito para viverem juntos. Quando a polícia investigou a casa deles, descobriu a ossada do açougueiro, a que o criminoso havia dito que tinha lhe vendido o açougue e partido para sua terra natal. Ainda encontraram diversos objetos que não pertenciam ao casal em questão. A mulher foi a que mais cooperou durante os interrogatórios, contando inclusive, que houve mais 6 vítimas, todas descendentes de alemães e viajantes. O marido usava a beleza da mulher para atrair os homens e depois os degolava. Não satisfeito, da carne fizera as linguiças mais saborosas e adocicadas que a cidade conhecia. Eram famosas suas linguiças. Assim, José fez com que todos cometessem um dos maiores crimes de forma inconsciente: o canibalismo. Durante muito tempo pensou-se que se tratava de uma lenda urbana, no entanto, o historiador Décio Freitas, conseguiu uma série de documentos que comprovam os fatos. José Ramos foi até então o mais célebre assassino desta cidade e seus delitos foram conhecidos como os crimes da rua do Arvoredo. Li um romance daqueles de devorar em um dia, chamado Canibais de David Coimbra, baseado no livro O maior crime da Terra, do historiador.  No romance, José Ramos tem uma espécie de tara sexual, em que curte todos os detalhes de sedução da esposa. No quarto há um orifício no qual delicia-se a ver o desconhecido lhe comer a mulher e depois de satisfeitos, Catarina convida a futura vítima para um café. Após empanturrar-se de bolos, ela puxa uma alavanca e a cadeira faz o homem despencar para um porão, lá encontrava a última face da morte: José e seu machado. 

links interessantes:

A volta


A cidade tem pressa de ir embora. Buzinas ricocheteiam para todos os lados. Da janela embaciada do ônibus, podemos ver o reflexo do cansaço gravado nos passageiros em pé. Em uma fresta, passam um mar de guarda-chuvas ondulando no meio dos carros. Parecem medusas a recolherem-se e tomarem impulso a cada brecha entre um para-choque e outro. Há vermelho em cada lugar: no semáforo, nas luzes dos carros. Parar, esperar e angustiar ante mais buzinas. A chuva gosta de dançar enquanto todos se esquivam. A chuva é uma bailarina inoportuna, rodopia entre os vidros e a impaciência das pessoas, a qual finge não ver. A chuva veio para ficar.   Desço e caminho pelas ruas do passado. A calçada é quase portuguesa, não fosse o vermelho das pedras escorregadias. Alguém grita se quero “gá-da-chuva” ou “sombrin”, não me dou ao trabalho de responder, vou certa da minha solidão. Ando pelas ruas escuras, atravesso lugares que passava quando ainda era uma jovem estudante de História, sempre carregada de livros e sonhos. Hoje carrego medo e preocupações, e embora não tendo mochila, este fardo é incrivelmente mais pesado que outrora. Perco-me. Para quando um implante do Google maps no cérebro? Volto, pergunto e para variar ando na direção contrária.  Dou a volta e percebo que tenho andado em círculos. As pessoas devem me achar louca porque falo mentalmente e faço caretas enquanto isto. Finalmente a parada do ônibus, permaneço embaixo do viaduto. Alguns minutos depois, estou novamente tentando equilibrar-me qual gado em um transportador para frente e para trás e para ambos os lados. Uma licencinha por favor. Passa um rapaz com pasta, passa uma jovem gorda. Quase desmenti a física porque simplesmente as pessoas insistem em achar que dois corpos podem sim ocupar o mesmo lugar. Mas os transportes públicos tem as suas regras: aperta que isto é igual coração de mãe, sempre cabe mais um, e quando quiser descer, puxa a cordinha, mas antes procure chegar o mais próximo da porta, pergunte a todos se vão descer na mesma parada e caso contrário, vá rebolando até lá. Afinal a chuva parou deixando um espelho negro que reflete as luzes vermelhas. As buzinas diminuíram, o trânsito flui mais rápido. E a cidade tem menos pressa de ir embora. E eu pelo contrário tenho pressa de voltar para os meus havaianas.

Pensamentos

Estou sentada na frente de um computador, deve fazer umas três horas. Blusa de cetim apertada nos braços,é bom não posso me espreguiçar. Saia verde pelo joelho. Tenho uma entrevista dentro de hora e meia, dois ônibus, meio turno, salário baixíssimo. Tenho a certeza de que vou só mesmo para agradar a minha mãe, já que este valor não consigo nem por meu filho só de manhã na creche. Tentei por várias vezes contactar com o marido, mas estamos em um jogo de gato e rato involuntário desde o início do dia. Acho que morreu. Só pode ter morrido. Porque estava on line e não me respondeu? Nestas horas a morte me parece mais provável do que a queda de internet. É o medo que me assombra, o medo de que a chance de me livrar de vez desta merda, morra de vez. Por outro lado, penso mesmo que ele lá está só e que teria a velha dona do apartamento e a vizinha do lado do quarto a decência de me avisar? E se morre e eu não fico sabendo? Estou enlouquecendo, eu sei e é por isto que sofro. Enlouqueço como um pássaro agora enfiado em um espaço minúsculo e solitário. O vazio e a prisão da minha própria vida. E se nem a comida mais me deixa feliz, a solução é dormir. Já acordo com vontade de dormir. Não é sono, é só a vontade de hibernar e acordar quando o inverno passar... 

segunda-feira, 11 de março de 2013

É oficial

Estou brega brega. Esta saudade louca me faz escutar Roberto Carlos vezes e vezes sem conta e tenho vontade de chorar. Yep, sou daquelas que escutam músicas tristes para ficar completa a fossa. Ainda acho que voltei à adolescência...

"Aião"


E para o Fabian, o papai ainda está no avião trabalhando. Por mais que explique, ele volta sempre ao mesmo assunto, acho que faz confusão com a nossa futura casa e a viagem de avião do pai. Talvez ele imagine que vamos acabar por morar em um.

Nunca acreditem



Acho muito desconcertante quando um jornalista entrevista um cantor recém chegado no país e faz a pergunta de praxe: então o que achou do Brasil? E dos fãs brasileiros? Peraí né gente, chega a dar vergonha alheia, pelo jornalista, claro. O artista fica lá a coçar o queixo e tentar um sorriso amarelo e sai um... ah muito bonito, muito belo, gracias. As pessoas ainda acham que falamos espanhol! Sério, o máximo que os caras conhecem é o aeroporto e o hotel e olhe lá. Muitos sequer provam da nossa comida, os mais neuróticos trazem toda a sua, inclusive cozinheiro próprio e só consomem daqui industrializados. Só acreditem que gostaram mesmo do país, quando vierem por conta, sem shows agendados. O Lenny Kravitz por exemplo, em sua turnê pela Argentina e Brasil, fez questão de viajar de ônibus, conviver com o povo, independente de conhecerem ele, nadar nas nossas cachoeiras, etc. Este sim, conheceu, gostou e sempre que pode anda por aí. Porque convenhamos, os famosos vem um dia antes, só saem do hotel para o local de apresentação e depois voltam, dormem e rapam nos seus jatinhos no dia a seguir. Além do que, lá de cima só veem braços a balançar, cabeças espremidas e ofuscadas pelas luzes, lá de cima é tudo  igual, tanto faz brasileiros, mexicanos, chineses. E porque fica muito chato decepcionar os chatos dos repórteres,  servem-se daquela bandeira nacional que alguém do staff dá para ele enrolar nas costas.

A crise

Nesta noite tive um sonho: alguém me dizia que a crise serve para as pessoas se mexerem. A princípio pensei que se referia à crise que me fez abandonar Portugal, mas agora acho que não. De certa forma todas as pessoas que conheço estão em alguma forma de crise, seja financeira, seja de saúde, seja familiar. A crise gera mudança, empurra para algum lugar mesmo que não desejemos. Eu acho que 2012 foi um ano de crise para muita gente, acho mesmo que são os novos ventos, a transformação está no ar. É saber abrir os olhos.

Porque os homens preferem mulheres mais novas?



Acho que há uma falsa ideia de que a medida que se envelhece, as mulheres ficam mais maduras, mais inteligentes, mais felizes com o seu corpo. Cá para mim elas ficam mais chatas, mais picuinhas, mais frustradas e acabam por colocar esta frustração contra pessoas que não tem nada a ver com isto. Explico-me. Quando jovens somos mais inexperientes, temos problemas com o corpo, com aceitação deste, temos mais dúvidas que certezas, estamos mais dispostas a aprender, mais abertas e condescendentes com os relacionamentos. A partir do momento que as mulheres iniciam a saída da juventude, no fim dos trinta, as mudanças começam a ocorrer...a flacidez toma conta, não se emagrece com tanta facilidade, já não há mais tanta paciência para os homens e suas toalhas molhadas, o seu futebol no domingo, o espelho salpicado de pasta de dente. As mulheres hoje tem uma suposta independência financeira, digo suposta porque não é lá todo mundo que pode encher a boca para dizer que é independente: uma coisa é trabalhar, outra é ser independente. Já disse que aqui no Brasil é preciso mais que 1500 reais para se manter? Pois.
Hoje também a separação é comum e, mulheres que vivem sem companheiro, que nunca tiveram um relacionamento de juntar as escovas, são muitas. Elas andam por aí a reclamar que os homens preferem as guriazinhas. Ora deixa ver porque...porque em tese tem um corpo mais durinho (sexo lembram? Quase a primeira e última coisa que um homem pensa durante o dia). Ponto dois: as mulheres mais jovens são complicadas com relação a si mesmas, talvez tanto que não sobre tempo para complicar com o amante/namorado/marido. Ponto três: senso de humor. Atenção que toda regra tem exceção, mas as mulheres bem humoradas não devem andar de ônibus (penso eu que não vi nenhuma). E depois é a questão de estar tanto tempo sós e muitas vezes já ter o seu canto, que aturar a presença de um macho que bebe cerveja, arrota e peida, nem sempre nesta mesma ordem, não é dos seus pontos fortes. Vejo que há uma tendência para as mulheres de 40 em diante, e ainda solteiras, não serem as preferidas da ala masculina porque são pessoas que vem com muita bagagem. E a gente sabe que isto nem sempre quer dizer que seja bom. Muitas mulheres vem machucadas de outros relacionamentos, muitas aprenderam a ser desconfiadas com o amor, muitas foram traídas, muitas nunca gozaram na cama, muitas foram abandonadas. Os homens são criaturas simples de entender e são criaturas que vivem no presente. As mulheres, infelizmente, carregam mágoas demais, complicam demais, brigam e discutem demais. Do passado. As mulheres exteriorizam mais o que pensam e sentem, talvez daí a diferença com os homens. Não é que eles não tenham também (e muitas vezes tem) os seus esqueletos no armário, mas tão e só os deixam lá a pegar pó. 
Isto surgiu a propósito de uma conversa com o marido sobre a nova vizinha de quarto, que beira os 50 anos estar a infernizá-lo por causa do ronco. Se ela tivesse a paciência de aturar o ronco masculino (que vamos combinar que tá para nascer homem que não ronca), de repente algum jovem pudesse lhe resolver o problema de falta de foda. Porque também tem isto, até por uma simples trepada, a mulher madura complica.

sábado, 9 de março de 2013

Fiquei mesmo feliz

A minha amiga do outro post é socióloga, mas trabalha em uma escola do município como professora de história, geografia e filosofia, não ao mesmo tempo, claro. Há uns tempos atrás tinha me falado de um dos alunos que tinha uma das histórias mais tristes da sala. O menino tem só onze anos, foi abandonado pelo pai e depois pela mãe. Os irmãos estão perdidos para o tráfico de entorpecentes e ele mora com uma vizinha que lhe dá ao menos um prato de comida. Para ajudar em casa e ter dinheiro para passagem, faz faxina na vila, cobrando 20 reais apenas ( custa em média 80 um dia de limpeza). Acontece que o rapaz é muito estudioso, é inteligente e responsável. Tem o caderno em dia, participa nas aulas, faz as tarefas de casa. É quase um adulto no corpo de uma criança...dá o que pensar. Quando ela me contou a história deste menino, fiquei com um nó na garganta, porque em comparação com tantos outros que além de não ter família presente são preguiçosos, sim, mesmo preguiçosos, ele que tem tão pouco, já trabalha e ainda tem tempo para estudar. Às vezes não tem o que vestir...chegava o inverno e não tinha casaco e ia com calça furada para a escola. Minha amiga cansou de fazer campanha entre os professores e lá arrecadavam agasalho e material escolar. Hoje ao falar sobre o trabalho dela, contou-me que foi convidado para uma feira de ciências no colégio militar, um dos mais fortes e exigentes da cidade. Chegando lá, os coronéis ficaram sabendo de sua trajetória e de como apesar de tudo era um ótimo aluno, ofereceram-lhe o curso para se preparar para a prova de admissão no colégio. Nossa, fiquei muito, mas muito feliz por aquele menino!!! E ainda vai receber as passagens e algumas ajudas para que possa ter mais tempo para o estudo. Espero que ele seja mais um caso de superação, e vai ser de certeza, porque uma cabecinha boa destas não se deve perder por aí.

Vamos falar de racismo?

Lázaro Ramos - o primeiro galã negro da Globo
Acho que é dos temas mais incômodos de se refletir. Afinal eu sou racista? Todos somos subliminarmente racistas? Até que ponto o racismo está tão incrustrado em nossa cultura a ponto de acharmos normais certo tipos de pensamento e linguagem? Eu como toda gente de bem, achava que não era racista. Deus me livre! Quê isto, somos todos iguais, porque discriminar alguém pelo tom da pele, que absurdo! Meu padrinho é negro. A minha melhor amiga é negra. Já tive outros amigos negros. Falando a verdade, eu acho negro bonito e negra também. Não sou daquelas de levantar quando outro senta, de não falar com a pessoa porque ela tem a cor escura. E no entanto já dei por mim a ter medo quando um grupo de jovens negros passava perto. E se fossem brancos teria o mesmo medo?
Tem gente que não se acha racista (como eu), mas quando se refere a alguém afro-descendente (termo politicamente correto) é sempre com um: ah o namorado dela, aquele negrinho. Como se o fato de usar o diminutivo impedisse revelar o preconceito. E quantas vezes disse e ouvi dizer: aquela mulher negra é bonita. Ou ela é negra, mas é bonita. Ou ainda: aquele negro (ou carinhosamente apelidado de negão) é o meu melhor amigo. Se fosse branco falaríamos sempre da cor? E porque ser branco é normal ou mais comum e ser negro não? É preciso quase sempre especificar-se que o fulano é de cor negra e porque?
Historicamente não negamos que algumas tribos africanas vieram cá dar com os costados trazidas por comerciantes portugueses, a princípio a mando dos que aqui viviam e mais tarde, encomendadas aos ricos fazendeiros brasileiros. Esta etnia vinda de fora, importada como mão de obra, como se de boi se tratassem, incorporou-se em nossa sociedade, trazendo também as suas crenças e visão de mundo. Tanto eram vistos como animais por muito além do fim da escravidão, que ainda no tempo da minha avó se dizia que fulano era bom, era um "negro de alma branca". É uma evolução porque durante muito tempo acreditou-se que negro não tinha alma.
Tá mas e hoje, como se identificam os negros do Brasil? Eu achava a pura da loucura a minha amiga referir-se em termos de identidade como afro-descendente. Então para mim fazia sentido se ela fosse filha de Angolanos e ainda cultivasse a forma de falar, a gastronomia, o candomblé. Mas sua herança africana se encontrava a anos luz de distância tanto quanto a minha herança portuguesa. Não entendia, a princípio, porque fazia tanta questão de se identificar com a África, em si um continente visto antes como país, como unicidade étnica, o que não é real.  E não entendia porque não era julgada a todo momento por ter um cabelo pixaim, por ser lembrada a todo o momento da minha cor (branca, branca, branquinha, transparente). E se é delicado encontrar um termo a que não se ofenda uma pessoa, que tal, termo nenhum? E porque dá-nos a sensação de que falta algo? 
A minha amiga identificava-se com a sua herança africana porque apesar do Brasil ser um país mestiço, negava sorrateiramente sua herança negra (assim como nega a índia). Porque para ela não havia um lugar digno no imaginário brasileiro, porque a ela eram fechadas portas em um anúncio que dizia exigir "boa aparência". Porque a ela ainda hoje é negada cerca de 20%  do salário comparado com uma pessoa branca. Talvez me parecesse que ela buscava sua mãe africana, pois a brasileira era carrasca, era madrasta a não lhe dar as mesmas oportunidades. E é verdade que apesar disto, minha amiga continuou órfã, desistiu e foi ser socióloga. Hoje dedica-se a causa ambiental ao invés do estudo africano.
E o Brasil? Só há três anos atrás em toda a tv brasileira houve um negro protagonista na novela e ainda mais peculiar: galã. Tiraram o negro da cozinha ou da direção de limosine ou da cadeia e o colocaram como patrão. Causou estranheza assim como causa aqueles filmes americanos em que todos os atores são negros e em que um ou outro branco faz papel secundário (o inverso do que acontece regularmente). 
O racismo deixou marcas mais profundas que a servidão, desde sempre os negros foram tratados de forma inferior aqui e nos países que os receberam como escravos. Arrisco-me a dizer que o racismo nunca esteve tão reprimido e por isto não deixou de existir, nem deixará enquanto não questionarmos o que está por trás do preconceito. Há tempos circulou um vídeo do Morgan Freeman falando sobre o dia da consciência negra. Para ele não devia ter um dia, que se deixasse de falar sobre isto que era talvez pelo próprio dia que lembravam o porque de serem diferentes. E eles não queriam estimular a diferença, eles queriam ser iguais e portanto para deixar de haver racismo, bastaria que não se falasse nisto. Eu discordo, porque apesar de democraticamente sermos todos iguais, os negros não o são. E não são porque? Porque a maioria da população pobre é negra ou parda, porque a maioria dos que tem sub empregos são negros, porque o acesso ao ensino superior é difícil, porque ainda não lhes permitimos status igualitário. Nem na nossa cabeça. Porque fica muito fácil escondermos nossos preconceitos e jogá-los à sociedade, como se não fossemos parte desta, chamando-a de racista, classista, sei mais o que. Acho que enquanto não falarmos e não admitirmos nossa cota nesta sociedade , estaremos como o outro, tão bons como "negro de alma branca". 

Alface???


Uns dias atrás vi um programa daqueles em que uma pessoa tem a possibilidade de comprar o que quiser (e o que couber no carrinho) durante um minuto. Para já largaram a criatura na sessão das frutas e verduras. Porque não na de brinquedos, na de panelas ou na de eletrônicos? Ah ser pão duro em uma ocasião que serve de propaganda para a cadeia de supermercados não é uma boa aposta. Depois o tempo: sério um minuto mesmo! Não dá nem tempo de alcançar dois ou três corredores. E aí o pior: a dita (era uma mulher sim e talvez daí o acanhamento) resolve "escolher", coisa que não cabe nesta hora. E aí pega tomate (??), chuchu, anda as voltas com o carrinho, volta e como quem esquece-se de algo muito importante...pega um pé de alface. Jura?? Alface? Deus dá nozes...  

Esquecer


Das qualidades que mais admiro em uma pessoa é a capacidade de esquecimento. Não daquele tipo de senilidade em que se fica meia hora procurando o óculos que na verdade se está usando. Refiro-me aquelas pessoas que não tem mágoas com o seu passado (nem com o dos outros), que são bem resolvidas e que simplesmente esquecem a infelicidade de alguns acontecimentos ou palavras duras que lhe foram dirigidas. Eu não. Tenho lá um dom para lembrar de cada detalhe com exatidão, as reações da pessoa, as minhas. Até o diálogo que não se falou por ficar travado na língua. E às vezes tudo parece bem, tudo muito bem muito bom, estou lá falando com a criatura e de repente uma coisinha me faz lembrar algo que passou e pronto, azedo o cenho e fico pisando em ovos. 
Queria, juro, esquecer...seria mais saudável e até mais magra. Mas acho que no fundo não esquecer também tem suas vantagens e elas são saber com quem estamos lidando...porque quem faz uma faz duas e se faz é porque de alguma forma, eu deixo.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Eu via

Ando sem vontade para ver os mortos. Faz tempo... Não quero que me visitem, não quero que me apareçam na frente da cama, não quero que me venham tirar à força do corpo. O corpo é meu e eu saio quando quiser! Entenderam?
Sou cagona, extremamente cagona para estas coisas e preferia não ver nadica. Em Portugal acontecia muito de acordar de madrugada e ver alguém no quarto a olhar para mim. Outra vez tive mesmo de gritar e acordar o marido, pois tinha uma velha em cima dele a lhe puxar os fluídos vitais pelo nariz. O marido quase tinha um ataque cardíaco quando fazia destas, mas ficava completamente apavorada e esta era a minha reação mais rápida. 
Lembro-me de uma vez há uns dez anos atrás estar dormindo na casa da minha vó, no quarto que pertenceu a minha tia. Detestava dormir ali, tinha sempre medo. Às vezes eu ia de travesseiro e tudo e pedia para o meu vô dormir lá e ficava dormindo com a vó. Cansei de fazer isto. A minha mãe pirava quando até os 12 anos ia dormir no chão do quarto dela se acordava no meio da noite. Pois então estava lá dormindo e de repente acordo-me com a intenção de me virar e quando abro os olhos dou de cara com um homem a me olhar. Fiquei sem reação. Nem sei como não me caguei toda. Ele me olhava e não desaparecia quando piscava os olhos na tentativa de me convencer de que não passava da minha imaginação. Ele estava sentado ao meu lado, literalmente ajoelhado sobre mim, com o rosto muito muito perto. Tinha olhos azuis, mas como eu poderia saber se estava escuro? Não sei, mas tinha e era branco com o cabelo castanho claro. E estava nu, ou pelo menos com o dorso nu. E me olhava com curiosidade, com calma. Não tentou dizer nada, apenas olhava e tinha até olhos serenos. Devo ter pensado em milhonésimos de segundos "o que tu quer de mim". Antes de sair correndo para o quarto e obrigar o vô a dormir naquele quarto. Depois falando com uma amiga que partilha das mesmas crenças espíritas, ela solta um palpite: acho que era o teu filho. Geralmente visitamos os nossos futuros pais antes de encarnar, mesmo que na Terra pareça que faltasse muito, uma década, o tempo no mundo espiritual é vivido de forma diferente. Pode ser que tenha sido, até recordo-me de um sonho quando ainda estava grávida em que um jovem me pedia para chamá-lo de Adrian porque era o seu nome e não de Fabian como eu pensava e de fato coloquei no meu filho. Enfim...há muitas coisas entre o céu e a Terra, se há.

Polêmicas e mais polêmicas

Ora bem, levante aí a mão quem gosta de ser criticado! Levante mais alto quem gosta de ouvir sermões da montanha, moral de cueca, e a tal explicação do "refletes que é para o teu bem", ou o tal "ah mas ouvir umas verdades, dói não é?". Falem honestamente, quem em sã consciência gosta disto?  E quantas vezes não somos obrigados a conviver com a contrariedade e com os pitacos que os outros dão na nossa vida? Poderia estar falando de mim, mas estou falando de nós, nós os blogosféricos que temos a nossa casa virtual e gostamos de receber visitas diárias. Aconteceu em um blog que sigo, uma opinião se transformar em um espicaçado de comentários e contra comentários, por uma coisa tão boba minha gente. Uma coisa que todos temos, não não é bunda. É preconceito. É feio né? Mas é nosso e não adianta esconder, ninguém é tão liberal quanto pretende parecer. Em certa medida somos todos preconceituosos e ignorantes. Porque? Simplesmente porque somos humanos e a nossa existência não consegue abarcar tantas realidades e "verdades" mundanas e intelectuais. Em certa medida vamos ignorar grande parte das etnias as quais julgamos, dos países que chegam apenas por notícias parciais e inclusive de, como chamamos aqui, das "tribos" urbanas que ocupam conosco o mesmo espaço. Conhecimento total e absoluto da realidade é uma coisa que de fato nunca teremos, portanto "verdades" tão levianamente jogadas em comentários é deprimente porque só revela a auto-ignorância em que nos encontramos. Alto lá, uma coisa é discordar do argumento, outra bem diferente é fazer juízo do que eu penso como sendo o que o outro É. O problema é que as coisas confundem-se e as tantas já deixamos de ter a nossa opinião aparentemente neutra e passamos a atacar. E porque a surpresa quando é isto que fizemos ao longo de milhares de anos para nos fazer valer o nosso apreço aos demais? A evolução de hoje não é a daquele que mantém o fogo aceso, a evolução hoje é a do que usa este fogo para iluminar-se e crescer.

quarta-feira, 6 de março de 2013

O colecionador de mágoas

O corpo fala, filho. Tenhas certeza disto. Tu podes achar que não proferiste uma só palavra, mas ele trai-te desde o princípio, desde o primeiro choro até o último suspiro. Eu digo-te que fala e age conforme a petulância do teu coração. E como, perguntas-me. Lembra de algo que te incomoda, vês logo o teu peito a galopar, tens uma pontada no estômago, um tique no pé. Doem os dedos, estalamos como gostaríamos de fazer com alguns pescoços por aí. E não, nós fingimo-nos de surdos a cada vez que ele fala. Parece-nos que quer nos tirar o brio de civilidade e nos transformar em segundos em macacos selvagens de corpo nu. O corpo quer-se nu. Ele fala e nós não o escutamos. Teimamos e ele também teima por sua vez. Duas pessoas conversando são dois corpos falando ao mesmo tempo. Ganha quem souber ler o outro, quem parar de fingir e ouvir as mãos, os nós mal resolvidos. Ganha quem calar. Em suma. E é só. O corpo fala e trai-te. Quanto mais cedo perceberes, filho, mais saberás de ti e dos outros.
Sabe porque a arte é tão exagerada aos nossos olhos? É porque não tem pretensões para com a vida. A arte não imita a vida, não aquela que conhecemos. A arte imita o corpo. E daí que a notícia de uma morte causa um desmaio. Já viste lá alguém desmaiar quando outro morre? Eu não. E quando em desespero um sujeito se joga ao mar de roupa e tudo. E outro vomita quando uma situação lhe causa asco. Não, filho, ninguém o faz. Por acaso este teu velho pai aprendeu que há memórias que não se evocam, que há filmes que não devemos rever. E no entanto revemos. Sonhamos, sofremos, odiamos tudo outra vez. E a cada volta o corpo fala, aperta-nos com sofreguidão. Porque não o escutamos agora? O corpo não sabe do tempo, acha e vive como se fosse da primeira vez. Como se pudéssemos mudar naquele instante o que já é passado. O corpo não possui gavetas como eu para colecionar mágoas, pois se gavetas tivesse, estariam todas, filho, rasgadas ao chão até o último dos sentimentos.

terça-feira, 5 de março de 2013

No pediatra

Parece que a ausência do pai já fez sentir na pele, literalmente. O Fabian voltou a apresentar uma alergia muito feia embaixo dos braços, ele já tinha tido quando entrou na creche em Portugal, mas foi generalizado, nas pernas, braços e barriga. Desta vez não deixei aumentar e fomos na pediatra, pois é tudo emocional e além de uma pomada convencional, saímos com duas homeopatias para tratar a ansiedade e separação. Aproveitamos para checar o peso e altura e... temos um menino com medidas de criança que completou 4 anos. Um metro e 16 quilos, percentil 100 e 90 respetivamente. 
A mãe recomeçou o desfralde por conta dela (!!!) e vamos seguindo, pois ao menos dois xixis saíram no penico. É indo sem pressas...pena que o verão está acabando, muita chuva e noites e manhãs fresquinhas, muitas cuecas e calças na secadora. Ah e o marido já tem uma entrevista. Olha eu aqui cruzando os dedos! 

segunda-feira, 4 de março de 2013

Desapegar



Hoje comecei a fazer uma limpa nas minhas caixas, ainda devagarinho porque é tanta coisa... Já dei dois lençóis queen size que tinha para minha vó, que é a única que conheço que tem colchão desta largura. O computador de mesa darei para minha amiga ou para o meu cunhado, as facas darei para os meus dindos, o telefone sem fio para a minha mãe. Já pus o carrinho do Fabian à venda e a plataforma vibratória irá logo em seguida. Tenho a perfeita noção de que não farei outra mudança destas para a França porque é impossível fazer por avião e por navio é caríssimo, além de demorar quase meio ano para chegar. O melhor é pagar excesso de bagagem e levar somente roupa e calçado...talvez alguns brinquedos melhores e menos volumosos do Fabian. 
Há certas coisas de que não abro mão mesmo: elas são minhas saias, meus jeans, minhas blusas e alguns calçados. Novo não tenho grande coisa, a maioria das minhas roupas tem alguns anos, mas são de boa qualidade e estão como novas. As do marido terei de fazer uma triagem porque as melhores ele já levou e as do Fabian é mais fácil, já que o que não servir mais, fica e na Europa as roupas são bem mais baratas. 
Fácil, bem mais fácil seria se desapegar das pessoas, mas só se desapega quem teve ou tem apego (o que não é o caso). Mas que há gente que nos carrega para o fundo, isto há e minha esperança é que loguinho me livrarei de uma porção delas.

domingo, 3 de março de 2013

O blog

Somente aqui busco refúgio e é um alívio pelo menos neste espaço ser eu, expressar tudo que sinto. Porque não preciso responder com um "tá tudo bem" quando me perguntam como estou. Aqui posso xingar, posso chorar, posso esbravejar e dizer palavrões sem censura. É um lugar só meu. Não conto uma vida de rosas, porque não sou flor que se cheire. Aqui há drama, há sangue, há lágrimas. E não podia ser diferente porque isto é tão eu! Quem quer ler coisas alegres ou ver fotos que visitem outros lugares e quem quiser saber um pouco da minha vida que continue, será bem-vindo. Na minha página virtual quase nunca falo, não acho que deva transformar em um diário como o faz tanta gente. Não acho também que deva ser palco das minhas frustrações políticas, econômicas ou amorosas. Acho que ninguém tem a obrigação de aturar os meus lamentos ou as minhas alegrias, quando as tiver. Já no blog é diferente, sei que quem vem é porque quer saber exclusivamente de mim e daí não me culpo. Eu falo, eu confesso.
Hoje acordei com cara de quem responde o que tem de bom nesta porra, a quem dizer bom dia. Estou mãe solteira de novo, o marido com meia dezena de euros para recomeçar, mais ainda uns meses a aturar e dizer sim senhora na casa da minha mãe. E já começou todo o stress de novo de arrumar creche, arrumar emprego, de arrumar malas. Ou desarrumar malas. Volto à busca de trabalho para pagar a creche, é trabalhar para pagar somente porque não verei nem um real deste dinheiro. E poxas, depois ainda perguntam porque não quero mais filho. Deus me livre disto, já que do resto to longe de me livrar.

sábado, 2 de março de 2013

Saudade...

É a palavra mais bonita e ao mesmo tempo mais dolorida da língua portuguesa.

                                                                        


sexta-feira, 1 de março de 2013

A morte no sonho


"Tem momentos em que morrer é bom. É uma idéia antiga aquela que expressa a verdade que o grão na terra precisa morrer para que o broto apareça. Entretanto, morrer pode não ser nada fácil. Os sonhos mostram a dificuldade dessa passagem contando do medo, da dor, do choque e às vezes do alivio que a morte traz.
A principal razão do medo da morte nos sonhos está na falta de preparo da consciência para superar-se e dar o salto num plano superior. Essa simples frase que parece tão fácil de entender, pode ser muito sofrida na prática porque na vida real da psique, ou seja na nossa própria vida vivida na carne e no sangue, não temos garantias do que vai ser. Um processo de morte que se preze, que não seja mera prestidigitação do ego, inclui sentir a angústia do fim, da despedida, da perda. O que morre leva consigo um pedaço de vida nossa, e estamos vinculados afetivamente a tudo, mesmo aos momentos dramáticos que aparentemente gostaríamos de esquecer. Não é fácil morrer, nem morrer à vida ruim, porque acabamos por nos identificar com aquele pedaço de vida ou modo de ser. Não conhecemos outro. Abandoná-lo sem mais nem menos seria como andar pelados pelas ruas, aliás, pior do que isso, pois faltariam referências, coordenadas e sentido."  Adriana Nogueira.

Retirado do blog: 

Tenho matado muitas pessoas em sonho. Não matar assim na literalidade da coisa. Não, quando eu chego eles já estão mortos. O primeiro sonho foi com o meu padrinho, foi até engraçado porque cheguei no "céu" e passei a procurá-lo por todos os cantos. Encontro-o em um condomínio de luxo, com piscina, massagem, academia. Estava irada! Que então estamos lá embaixo a nos debulhar em lágrimas e ele numa boa?! 
O segundo morreu a minha vó. Eu que amo tanto a minha vózinha, estava muito triste, porém sabia que ela ia morrer logo já que o vô tinha ido uns meses antes. Pela ligação que havia entre eles, era comentado que ela não demoraria muito. Ia morrer de tristeza e assim foi. De alguma forma sentia-me culpada pela morte dela, era como se no sonho soubesse que sonhava e que havia "criado" toda aquela situação. 
Agora foi a ex mulher do meu marido quem morreu. Alguém trouxe a notícia e imediatamente fiquei paralisada. O medo e a culpa se colavam à mente. De repente senti vergonha da raiva que nutri por ela todo este tempo, como se as pessoas quando morressem virassem santas. E quem é que guarda rancor de santos? Estava em uma capela escura, perto de um banco de madeira. Lembro-me de passar a mão pela superfície lisa e pensar: agora ao menos podemos casar na igreja, agora que ele ficou viúvo para Deus. E eu nunca quis casar na igreja, mas ao menos queria casar de branco, podia ser em frente a um juíz. E depois vinha a vergonha novamente, porque afinal não queria que morresse, queria que ficasse bem viva para ver a nossa casa nova e as coisas que iria adquirir, as viagens que iria fazer…
Se pensar por este lado, da morte como o encerramento de uma etapa, do meu medo e resistência em deixar-me morrer um pouquinho, estes sonhos tem razão de ser.  Porque até da vida ruim nos acostumamos e passamos a estimar. Porque é uma parte de nós e ao ego custa sempre perder, mesmo que seja aquela vida que detestávamos. Continuo a dar muita atenção ao que sonho. Para mim sonhos são como mensagens do inconsciente trazidas em garrafas atiradas ao mar. Cabe a nós o trabalho de juntá-las e atribuir significado à consciência.