segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A debutante


Hoje foi o meu primeiro dia de aula e em uma luta cerrada entre a preguiça e o remorso de uma oportunidade perdida, ganhou a privação de sono. Lá fui eu tropeçando nos pés e quase morri de susto com a quantidade de gente que se enfileirava no saguão. Entrei na sala, mas antes garanti a minha cadeira (elas ficam no corredor assim como as grandes mesas dobráveis de plástico). Depois de uma breve apresentação fomos separados em níveis. Ufa, ainda bem que não seria uma hiper turma de setenta alunos! Dirigimo-nos para a sala ao lado, esta sim despida de qualquer coisa que pudesse assemelhá-la com uma sala de aula, afinal era usada para a prática de esgrima. A professora começou por saber os nossos (pré) nomes, de onde éramos, se somos casados, se temos filhos. Fiquei surpresa ao ver que temos cinco pessoas de Kosovo. Não ouvia falar de Kosovo desde as aulas de geografia em 97. Depois continuamos com um grupo do Azerbaijão, Uzbequistão, Turquia, Rússia, Geórgia, um representante do Bangladesh, uma da Romênia e outro do Afeganistão. Na outra ponta, uma portuguesa mascava chiclete nervosamente e com os olhos verdes pregados no vazio, atrás de mim e em pé, um angolano aguentava uma hora e meia em sorrisos tímidos. Era a única brasileira, mas pelo menos não a única a falar português. 
Quando a professora perguntou quanto tempo estávamos na França, as respostas variavam entre 14 anos a alguns meses. Sério que uma senhora turca respondeu que há 14 anos que mora aqui e está na turma dos iniciantes! Depois um homem admitiu que estava aqui há seis anos e entendia muito pouco de francês. A portuguesa de olhos ausentes chegou em 2005, mas como trabalhou sempre com portugueses falava muito pouco francês. E claro, havia gente que só ia lá com mímica e muita enrolação. Gente que não sabia nem noções básicas de inglês e que não falava outra língua senão a do seu país de origem. Às vezes pude sentir-me dona de um francês fluente tamanha era a dificuldade de comunicação, e claro que a entendo   pois até o alfabeto é diferente, no entanto não deixei de pensar isto. Na quinta começamos a aula de verdade: com quadro, mesa e cadeira para todos. E que Marcel Marceau olhe por nós!! Aliás, proponho até que seja canonizado como o santo dos imigrantes, muitos foram os milagres que presenciei.

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