Tenho a certeza de que isto começou por culpa do biólogo. Naquele exato momento em que olhou para o microscópio em uma busca metódica pelo melhor nadador. Posso sentir como exitou quando percebeu que ali não havia qualquer concurso de quem nadava melhor, ou de quem chegava mais depressa na borda da placa de petri. Estavam todos boiando ao sabor da maré. O biólogo não se deu por vencido e procurou com mais afinco, deu umas sacudidelas com a pinça e voilà, surgiram dois frenéticos e hiperativos salva-vidas. Acho que foi assim que tudo começou.
O Fabian não foi um bebê daqueles de dormir a noite toda ou boa parte dela aos dois meses (nem aos doze). Também não foi daqueles que ficam mais de dez minutos em uma espreguiçadeira. O Fabian não foi daqueles bebês que podem ficar brincando ao chão por algum tempo, nem dos mais calmos entre os colegas de creche. O Fabian sempre foi exigente e agitado, fujão e desobediente. Às vezes olho para ele e pergunto-me se fora a casca genética se há algo nele que seja como eu. E não consigo encontrar. Ele é alegre, efusivo, eu era tristonha e calada. Ele não pára um minuto, eu brincava com as corujas de louça da minha madrinha. Ele brinca de empurrões, eu brincava de fazer chá. Ele não suporta estar muito tempo sem um adulto a distraí-lo, eu ficava horas a desenhar e brincar de boneca. Ele disputa para ser o rei do pedaço, eu não gostava e não gosto até hoje de protagonismo. Tão, mas tão diferentes... que se eu acreditasse que a personalidade vem do corpo e não da alma, deixava a culpa toda ao biólogo! Não podia lá o homem pegar um daqueles calminhos? Aprendia a nadar aqui fora, ora bolas.
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