A criança pequena chorava. Chorava. Chorava e seu lamento era tão forte e monótono que a certa altura parava de incomodar. A criança maior lhe puxava a saia, um pouco escondida pelos raios do nascer do sol. Ficaram a ver a diminuta embarcação ficar cada vez menor e mais diminuta a medida que o horizonte a engolia.
- Mãe, porque temos de ficar aqui a olhar toda vez que o pai vai embora?
- Tens de aprender filho. A vida é feita de despedidas.
- E reencontros... - Completou o menino sonolento.
- Sim, filho. Mas temos de aprender a dizer adeus.
- Tu não amas o pai? Não queres que fique conosco?
- Eu amo. E é por amor que ele também se vai.
- Já me disseste que é preciso trazer o peixe. Precisamos do peixe para comer e para vender. Para comprar roupas e outras coisas.
- É verdade. Olha, já passou da arrebentação.
O menino encara o mar de um profundo azul escuro depois de todas as ondas furiosas que o pai passara. Mal suspirava. Tinha medo. E se o pai não voltasse desta vez?
- Filho, olha.
- Não entendo o porquê de ficar a olhar! - Explodiu em lágrimas. A mãe abaixou-se e lhe agarrou um ombro.
- Toda vez que o teu pai vai embora eu finjo gostar um pouco menos. Finjo amá-lo um pouco menos...que é para que não doa tanto. Aprende, filho. Quanto maior a despedida, maior o preço da afeição. Maior são as possibilidades dos deuses nos arrancarem os nossos. É por isto que uma despedida é sempre uma entre as outras da tua vida. Melhor que sejam pequenas a uma só: grande e definitiva.
O menino limpou as lágrimas no dorso dos braços salgados do mar. Seu mar interior. A mãe levantou-se, agarrou a criança pequena que chorava ainda e voltou para a tapera. Enquanto isto, o horizonte engoliu o pai.
agora quem ficou com o no na garganta fui eu...inventas te?
ResponderExcluirbjs
Marina
Quando não ponho referência, é porque sou eu quem escreveu :)
ResponderExcluirbeijinhos
sim, claro, tem logica...o que eu queria dizer/saber, era se é uma coisa que se passou ou mais um episodio para o teu futuro livro ;)
ResponderExcluirParabens!
Bjs
Marina
Nem me fales no livro, queria mesmo era uma história só, não contos. É um projeto que me parece distante porque quando escrevo quero e preciso de silêncio. Não dá jeito ter uma criança a gritar e um adulto a me perguntar coisas enquanto tento me concentrar. :/
ResponderExcluirbeijinhos
Vais a tempo...és muito jovem!! e criança cresce!
ResponderExcluirBjs
Marina