sábado, 9 de fevereiro de 2013

Brasil, o país do carnaval


Ok todo mundo sabe que foram os italianos ou melhor os venezianos quem o inventaram, mas se não fossem os escravos africanos, provavelmente isto seria uma orquestra sem graça, sem o ziriguidum que conhecemos. O carnaval já adquiriu cidadania brasileira, assim como o futebol, nós não os inventamos, mas acolhemos como uma espécie de mãe de seios e braços fartos e os tornamos parte da nossa cultura. O carnaval divide opiniões: para uns é uma alienação completa, acham que o povo deveria preocupar-se com a política com a corrupção, no entanto discurso feito no alto de seus sofás, para outros é sinônimo de festa, de libertação, para outros ainda é o cúmulo da perdição imoral, carnal e Deus não deve gostar nada deste tipo de coisa. Gente alegre? Deus gosta é de sisudez e sexo sem prazer, só para ter filhos. 
O carnaval para mim começou cedo, quando o vi passar por mim e perdida de amores, larguei tudo, larguei o colo do meu padrinho, larguei os gritos da minha madrinha, larguei a preocupação da minha bisavó, larguei o desespero da corrida da minha mãe. Fui ser feliz. Corri atrás dele como um Bolt em tamanho pequeno. Alcancei por momentos a beleza das saias com lantejoulas, o brilho das mulatas, do pandeiro e surdo da bateria, da alegria de todos que dançavam em volta de luz e cor. Era o ritmo do coração do povo, aquele tim tim tum, e só por inebriar-me de música, aquele passou a ser também o som do meu próprio coração. A alegria durou pouco. O tempo da minha mãe recuperar o fôlego e me trazer de volta à realidade, não dos que passam, mas dos que veem-no passar. Meu coração ficou longe, cada vez mais longe de mim. Voltei ao colo do meu padrinho, desta vez mais triste, e perguntei-lhe na inocência de quem acha que a vida é muito simples: dindo, tu pompa um panaval pá mim? Ele aquiesceu, compraria sim, um dia. Com direito a mulatas e toda parafernália, com o brilho, as fantasias e penas cor de rosa. Quem sabe meu coração voltasse e desta vez pudesse largar tudo novamente, como fazem os apaixonados, sem olhar o absurdo de seus sonhos. Deixaria-me ir perdidamente, ouvindo o meu coração. Cresci, não tenho um carnaval para mim, mas de alguma forma aquela criança deslumbrada que um dia fui, continua a acreditar que a cada ano ele passará por mim e me varrerá as tristezas. É por isto que sou daquelas que amam carnaval e amor não se explica: sente-se em várias batidas de um coração acelerado.


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