Domingo à tarde é um carnaval de programa ruim. Pilota-se o controle remoto e temos o campeonato de futebol do Ceará, entrevistas com abobrinha, vídeo cassetadas, funk e o pior de todos para mim: o programa chore você também, no maior estilo veja a desgraça alheia. A única coisa que consigo sentir, é vergonha alheia enfim. Para começar escolhem a família que come todos os dias o pão que o diabo cuspiu depois de amassar. Debulham a vida das criaturas em um mar de lástimas em que o marido trabalha, a mulher cuida dos seis filhos, às vezes a comida é arroz com três ovos e a mãe deixa de comer para o marido ter força para o trabalho. Aham. Esta dieta não tá adiantando muito, fia. Que tu tá é bem gordinha. Ah e sempre há tv, roupas boas e até desconfio que o computador portátil é escondido às pressas na casa do vizinho. Sabe porque que não acredito em um pingo? É porque cada criança tem direito a uma bolsa por frequentar a escola (Lula não é?), tem direito a bolsa família e depois a mulher com muita saúde pode muito bem pegar um emprego de diarista ou coisa que o valha já que as crianças são todas maiorzinhas, acima de quatro anos. Mas não, é muito mais fácil choramingar e contar misérias. Depois, as igrejas tanto católicas, evangélicas quanto os centros espírita, oferecem sopa todos os fins de semana e cesta básica para este povo. É só levantar o rabo do sofá e ir em busca. Mas não é só: a música lamurienta de fundo, as crianças de olhos compridos, o close nas lágrimas das mulheres é algo assim para o inexplicável. Se era para sentir pena, sorry, que a minha vida também está uma merda duma novela mexicana e não tô aí para dar audiência para ninguém. Eu tenho é nojo e raiva desta gente. Para começar para que meu Deus por no mundo esta cambada de filho? O governo dá camisinha, dá anticoncepcional, dá injeção de hormônio, dá vasectomia e laqueadura de trompas. Se são pobres e não podem sustentar nem dois filhos porque botam lá mais quatro? Não é por si só uma atitude egoísta sabendo de antemão que não serão capazes de os criarem com dignidade? Ah esqueci, é que se criam com amor, não é assim que funciona? Toma lá Uélinton, duas conchas de amor para você.
Depois do canavial de desgraças, entra em cena o apresentador do programa e qual um gênio da lâmpada sai mandando um banho de loja, de salão de beleza e por fim, ganham uma casa mobiliada, um novo emprego para o marido e uma máquina de fralda para a mulher. Eles são tv de plasma de 42 polegadas, quartos com ar condicionado, jardim e cadeiras e mesas, cama queen size, sofá com recosto reclinável. É mole?
Tudo assim de mão beijada, até que podia mandar uma carta para o gênio da Record. Vá que?...
Mas tenho cá para mim que pobre que é pobre não tem esta sorte.
Aí depois dizem que não consigo ver os outros felizes, não é verdade. Consigo e muito genuínamente por quem lutou e tá se esforçando por uma vida melhor, até penso que muitas coisas eu mesma não era capaz de fazer e admito e admiro esta força de vontade nos outros. Agora para isto é que não há mesmo paciência, é o que chamamos de desgraça que podia ser evitada, primeiro com anticoncepcionais e depois com trabalho e vontade de uma vida melhor. Mas o problema é que ainda existem estes programas que eu chamo de loteria dos pobres, isto perpetua o estado de sofá destas mulheres , esta esperança ínfima de que um dia possam lhes mudar a vida como um passe de mágica.
Aí depois dizem que não consigo ver os outros felizes, não é verdade. Consigo e muito genuínamente por quem lutou e tá se esforçando por uma vida melhor, até penso que muitas coisas eu mesma não era capaz de fazer e admito e admiro esta força de vontade nos outros. Agora para isto é que não há mesmo paciência, é o que chamamos de desgraça que podia ser evitada, primeiro com anticoncepcionais e depois com trabalho e vontade de uma vida melhor. Mas o problema é que ainda existem estes programas que eu chamo de loteria dos pobres, isto perpetua o estado de sofá destas mulheres , esta esperança ínfima de que um dia possam lhes mudar a vida como um passe de mágica.
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