"Tem momentos em que morrer é bom. É uma idéia antiga aquela que expressa a verdade que o grão na terra precisa morrer para que o broto apareça. Entretanto, morrer pode não ser nada fácil. Os sonhos mostram a dificuldade dessa passagem contando do medo, da dor, do choque e às vezes do alivio que a morte traz.
A principal razão do medo da morte nos sonhos está na falta de preparo da consciência para superar-se e dar o salto num plano superior. Essa simples frase que parece tão fácil de entender, pode ser muito sofrida na prática porque na vida real da psique, ou seja na nossa própria vida vivida na carne e no sangue, não temos garantias do que vai ser. Um processo de morte que se preze, que não seja mera prestidigitação do ego, inclui sentir a angústia do fim, da despedida, da perda. O que morre leva consigo um pedaço de vida nossa, e estamos vinculados afetivamente a tudo, mesmo aos momentos dramáticos que aparentemente gostaríamos de esquecer. Não é fácil morrer, nem morrer à vida ruim, porque acabamos por nos identificar com aquele pedaço de vida ou modo de ser. Não conhecemos outro. Abandoná-lo sem mais nem menos seria como andar pelados pelas ruas, aliás, pior do que isso, pois faltariam referências, coordenadas e sentido." Adriana Nogueira.
Retirado do blog:
Tenho matado muitas pessoas em sonho. Não matar assim na literalidade da coisa. Não, quando eu chego eles já estão mortos. O primeiro sonho foi com o meu padrinho, foi até engraçado porque cheguei no "céu" e passei a procurá-lo por todos os cantos. Encontro-o em um condomínio de luxo, com piscina, massagem, academia. Estava irada! Que então estamos lá embaixo a nos debulhar em lágrimas e ele numa boa?!
O segundo morreu a minha vó. Eu que amo tanto a minha vózinha, estava muito triste, porém sabia que ela ia morrer logo já que o vô tinha ido uns meses antes. Pela ligação que havia entre eles, era comentado que ela não demoraria muito. Ia morrer de tristeza e assim foi. De alguma forma sentia-me culpada pela morte dela, era como se no sonho soubesse que sonhava e que havia "criado" toda aquela situação.
Agora foi a ex mulher do meu marido quem morreu. Alguém trouxe a notícia e imediatamente fiquei paralisada. O medo e a culpa se colavam à mente. De repente senti vergonha da raiva que nutri por ela todo este tempo, como se as pessoas quando morressem virassem santas. E quem é que guarda rancor de santos? Estava em uma capela escura, perto de um banco de madeira. Lembro-me de passar a mão pela superfície lisa e pensar: agora ao menos podemos casar na igreja, agora que ele ficou viúvo para Deus. E eu nunca quis casar na igreja, mas ao menos queria casar de branco, podia ser em frente a um juíz. E depois vinha a vergonha novamente, porque afinal não queria que morresse, queria que ficasse bem viva para ver a nossa casa nova e as coisas que iria adquirir, as viagens que iria fazer…
Se pensar por este lado, da morte como o encerramento de uma etapa, do meu medo e resistência em deixar-me morrer um pouquinho, estes sonhos tem razão de ser. Porque até da vida ruim nos acostumamos e passamos a estimar. Porque é uma parte de nós e ao ego custa sempre perder, mesmo que seja aquela vida que detestávamos. Continuo a dar muita atenção ao que sonho. Para mim sonhos são como mensagens do inconsciente trazidas em garrafas atiradas ao mar. Cabe a nós o trabalho de juntá-las e atribuir significado à consciência.
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