segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Eu no divã (2)


Pois é, estou aqui de novo. Como toda boa capricorniana vou até o fim desta montanha, não importa quantas pedras ou quanta chuva caia no caminho.
No início era como a maioria das pessoas. Gostava da mentira piedosa, ainda mais se for para eu mesma. Fingia que estava tudo bem e afastava tudo que não gostava com um safanão no ar. Mas o pensamento apenas se recolhia e permanecia à espreita. É certo que não mudamos o que não nos incomoda e o que não enxergamos. É por isto que a maioria das pessoas prefere ignorar o que sente, uma minoria admite para si e uma minoria menor ainda admite para os outros. E isto agora porque? Porque agora não há volta a dar. Lembra-se do conhece-te a ti mesmo? Pois é. Agora tem sido o meu objetivo. Quero conhecer, aceitar, mudar. Baby's steps. Assim.
Agora vejo que a insatisfação sempre esteve presente na minha vida. Recordo-me de estar sempre em busca de algo, e naquela ansiedade de conseguir ter uma roupa, um brinquedo, um namorado, um peso na balança, enfim. E depois, que alcaçava a suprema felicidade, lá caía novamente no tédio até ter outra coisa para qual correr atrás. Foi sempre assim. Tinha a sensação de que se me esforçasse, talvez a felicidade viesse. E confesso que foi assim com o sonho de ser mãe. Era a tal felicidade que ouvia-se falar. Dá trabalho, mas compensa. Fiquei três anos me injuriando por não ser mãe, sentindo inveja de quem era, resmungando como uma velha para o meu marido. Até que...finalmente fui mãe. E lá estava, agora que venha a felicidade. Mas ela não vinha. Que venha o amor, estou à espera, venha! E não veio.
A maternidade tem sido uma grande lição para mim. Foi um abanão. Pela primeira vez ficou à nu que este caminho não me levaria a lugar nenhum. Só por ela pude ver com olhos de "ver" que não pode ser assim a vida. Vou viver insatisfeita até quando? Vou buscar o que agora? Uma viagem pro Caribe? Um apartamento? Até quando?
Até quando vou seguindo a maré e fingir que isto me fará feliz?
Outro fato é que não se escolhe ser assim. Simplesmente sou assim. Alguém escolhe ser doente? Ser infértil? Ser depressivo? Sim, filosoficamente somos o espelho das nossas escolhas e as nossas escolhas muitas vezes são distorcidas porque acreditamos que elas eram o melhor que podíamos fazer na altura. E se calhar era. No entanto é muito mais fácil continuar do que mudar o curso. Aqui em Portugal tenho aprendido muitas coisas e uma delas é que as pessoas querem muito ter ter ter. Um carrão, apartamentaços, querem causar inveja, lá no Brasil também, só que a maioria não tem grana para isto. Mas aqui se consegue, a custa de muito empréstimo. Mas eu só vejo pessoas infelizes e insatisfeitas como eu. Com uma baixa estima abismal. Hipnotizados com a Popota do Continente, pois tem que comprar coisas para os filhos, carros de bateria já vai bem para uma criança que mal sabe o que quer. E nós sabemos o que queremos?
Bem, acho que já fui longe. Desta vez escolho ter mais 5 minutos de paciência com o meu filho.

4 comentários:

  1. Ola, outra vez...

    Sempre gostei mt de te ler, leio o teu blog desde a tua gravidez e confesso que ao inicio achava que eras futil e "parvinha" ( numas alturas da vida todas somos lol), depois continuando sempre a seguir-te ficava chocada com certas publicaçoes apesar de serem realistas (e sao sentimentos muito teus, claro),mts vezes eu pensava assim mas nao era capaz de assumir...ficava chocada e triste ao mesmo tempo! Como ja disse minha mae é assim e nos (filhos) sofremos com todo esse despreendimento dela em se sentir mae...E penso no teu menino...sera que ele tambem vai sentir isso que eu sinto, como um abandono? espero k nao! Mas quando fui mae pela primeira vez, apesar de ter ficado apaixonada pelo meu filho, tambem me apercebi com uma certa tristeza que ainda nao estava preparada pa ser mae, pois ele "roubava" o meu tempo, as minhas noites de sono, as saidas, o meu corpo nunca mais foi igual...andava mesmo triste...bolas, ninguem esta preparada pa ser mae, eu acho!!! é sempre um choque lol
    Sera que ainda estas em choque? eheheh Pensa se calhar isso vai passar, digo eu!
    Ah isso de portugues querer ter tudo so pra mostrar aos outros, é cagança mesmo de portugues, nao ha paciencia!!! Podem nem ter um prato de sopa, mas um bom carro e uma casa toda hi-tech tem de ter...pfffff So aparencias de m...enfim...
    Beijos e continua assim

    Marina Pratas

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  2. será que se calhar não vês só aquilo que queres ver (será mesmo que os outros são tão insatisfeitos como tu)?
    será que essa insatisfação não advém de seres muito nova, e não saberes o que queres ?

    mas não te esqueças que o teu filho não tem culpa dessa postura, trata de lhe dares o amor que ele merece.

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  3. Anônimo: sabes o que eu acho? Que em parte sim, o nosso olhar dita muitas coisas de como o mundo é. Na verdade tudo é uma percepção particular, mas tem um porém: não sou só eu que vejo que a maioria das pessoas são insatisfeitas e infelizes. Podes perguntar para qualquer estrangeiro que ele dirá que a tendência da cultura portuguesa é pela lamentação e insatisfação(veja o exemplo do fado). Com isto não quero julgar ninguém, pelo contrário, quando vim para cá, percebi o quanto sou "parecida" com as pessoas deste país. O que eu vejo nos jornais, na tv e a minha volta são pessoas que não tem nem plano de saúde, mas tem 2 carros na garagem. Não tem o que comer, mas tem a bolsa e último Iphone. E estão sempre a comprar compulsivamente para si e para os filhos. Não acho que isto seja só uma coisa minha, mas também o é.

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  4. Olá Marina! Tudo bem? Bom te ver por aqui :). Aprecio a tua sinceridade e sei que também sou um pouco fútil, ou melhor, tenho um lado fútil, mas aqui sempre procurei mostrar todos os meus "lados" ehehhe! Não sei se és do fórum da Apf (caso não sejas, só estou me explicando), mas eu entendo que as mulheres que lutam tanto para engravidar tenham visto as minhas atitudes com estranheza. Tem gente que até já nem me liga mais virtualmente falando lol! Mas o que posso fazer? Sou jovem ainda e tenho tanto a aprender! E principalmente este sentimento que a maternidade despertou-me fez-me deixar de julgar tanto os outros. Isto porque eu ficava muito indignada quando via alguma grávida reclamar que engordou. E depois, bem tu sabes! lol
    beijinhos

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