sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O clichê da maternidade

Ando muito cansada emocionalmente falando...talvez seja por isto que tenha me mantido quieta neste cantinho. Mas embora esteja quieta a cabeça não para de matutar e quase sempre a mesma coisa. Tem sido tempos difíceis...e é como dizem: sorte no amor...azar em todo resto (no meu caso). Este período de exílio voluntário tem me trazido outras questões à tona, ou melhor são as mesmas questões, os mesmos problemas mal resolvidos de sempre, mas agora com mais intensidade. Realmente sinto-me esgotada, cansada no meu papel de mãe. O Fabian fica apenas três horas na escola e o resto do tempo que está comigo, tem se saído muito bem em sua tarefa de me enlouquecer aos pouquinhos. 
Estou cansada de ver espelhada por qualquer lugar que se ponha os olhos que a maternidade é a melhor coisa que pode acontecer com uma mulher. Que só conhecemos o amor incondicional depois que temos filhos. Que há qualquer coisa de sobrenatural em ser mãe. São clichês, apenas clichês digo a mim  mesma. Mas irrita porque isto não é verdade. E não é verdade para muita gente. Ser mãe é apenas um dos papéis que desempenhamos e para algumas pessoas este pode ser o papel principal, mas para outras pode não ser. Somos diferentes em tantos aspectos porque diabos nisto temos de todas sentir o mesmo? Tantas mulheres digitam "odeio ser mãe" diariamente e vem parar aqui no blog e infelizmente não posso fazer nada por elas, aliás não posso fazer nem ao menos por mim. Quando vejo alguém evangelizar outras pessoas de que ser mãe mudou a vida dela e que como em um filme Disney "tudo passou a fazer sentido", embrulha-me o estômago, não por ela, mas pela ideia cristalizada na sociedade de que isto é uma verdade absoluta. Não é. E vou dizer que a mídia também sabe disto e explora cada pedacinho de culpa nestas mães que não se sentem assim. 
A cada vez que o Fabian apronta das suas eu tenho vontade de berrar, tenho de fazer o possível para manter o controle, mas especialmente nestas horas eu penso que cagada eu fiz com a minha vida. Se filho fosse tão bom, porque o governo aqui tem que quase empurrar goela abaixo? Vejo as pessoas me dizendo: ah só tens um, faz lá mais outro para poderes ter direito a abonos e auxílio moradia. Eu simplesmente não acho que ter filhos valha os 500 euros que o governo possa me depositar na conta. Tem uma mulher, vizinha de um casal de amigos, que tem cinco filhos e vive de abonamentos, ganha 1500 euros pelos filhos mais o valor total do aluguel de dois apartamentos interligados. Esta amiga virou-se para mim: se eu fosse tu fazia mais um e não precisavas de te preocupar em trabalhar. Deus me livre de mais um desgosto destes, pensei, mas apenas lhe sorri e não disse nada. Nunca digo nada, muito menos às mom addicted, porque assim como não me cabe a ideia de alguém por insana  de sã consciência decidir ter cinco filhos ou mais (ainda que o governo ajude), não lhe vai caber na dela que eu daria um  ou dois vá lá, dedos mindinhos para ter a minha vida de volta. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Fabionices

Fabian e a morte


Logo que chegamos em Schiltigheim, em setembro, demos um longo passeio e creio que fizemos a volta na cidade. Quando passamos por uma pequena igreja muito bonita por sinal, que fica há umas duas quadras de casa, o Fabian me puxa pela mão. Ao lado dela havia um cemitério igualmente pequeno, com as portas abertas:
- Mãe, mãe, vamos visitá a família? 


* * *



Ontem ao voltar do mercado o Fabian pergunta ao marido:
- Pai vamu naquela rua?
- Não, não podemos ir lá. Tem carro.
- Não pode porque aí o carro pega nóis? E depois a gente morre...e a mamãe vai chorá muito?

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Hoje to com a macaca

Quando tentei sorrir (por educação) hoje foi mais ou menos isto.


O marido teve uma excelente ideia às seis da manhã: levantou-se, espiou o telefone e trouxe o Fabian que estava dormindo serenamente para o meu lado na cama. No mesmo minuto eu perdi o sono e enquanto tentava fechar os olhos com mais força xingando em pensamento, a voz do Fabian não se calava. Mamãe...o papai não vem? Posso nanar com o papai? Tá na hora di acodá! Nisto ouvia-se um ronco incessante. Ah pára! Agora consigo escutar a vizinha de cima roncando, era só o que me faltava. Eu com insônia às seis da manhã, o Fabian tagarelando e o ronco da vizinha. Ia mandando ele ficar quieto e dormir que o pai estava no banho e depois viria buscá-lo, mas só depois descobri que o ronco era nada mais nada menos do que o do senhor meu marido!!! 
Levanto com apenas cinco horas de sono e meto-me no chuveiro a ver se aparecia com uma cara decente na aula. Cai o shampoo nos olhos e quando olhei no espelho só tive vontade de gritar ao ver a cara de chapada que estava: com os olhos pequenos e vermelhos... Chegando na aula, constato a carrada de georgianos, russos e polacos que invadiram o curso e agora temos de retardar todo os que estavam avançados para dar matéria aos recém chegados. Voltamos às aulas de mímica e ao verbo être e avoir.  Tanta emoção! Saio da aula para buscar o Fabian já puta da cara o suficiente para me dar conta de que chovia e tinha esquecido o guarda-chuva em casa. Mas como nada está ruim que não possa piorar, na volta percebo que a chuva passou a neve... muita neve. O Fabian pede para amarrar os tênis no meio do caminho, flocos de neve entram-me nos ouvidos e na boca. Venta. O sinal fecha, as minhas calças vão ficando com grandes bolas brancas que caem e deixam redondos molhados. Isto seria chato se eu sentisse as minhas pernas, mas não as sinto de tanto frio. A sombrinha de uma menina passa pelos nossos pés. Podia gentilmente fazê-la parar para que ela a alcançasse, ao invés disto, desvencilhei-me com raiva e segui no vento e no gelo. Tá certo São Pedro, entendi o recado. Só te aviso uma coisa, não tenta esfriar a cabeça de uma mulher menstruada. Não tenta. Ah e tal a neve é linda, é romântica (só que não). Manda bombons São Pedro, não melhor, manda meus quilos embora, caramba que tu não tens muito jeito com as mulheres...

sábado, 25 de janeiro de 2014

Ah se a minha TPM falasse



Quando eu te vi fechar a porta, eu pensei em me atirar pela janela do 8º andar... invés disto eu dei meia volta e comi uma torta inteira de amora no jantar...

Diferenças

Eu eu a minha mania de boa samaritana escrevemos em um site sobre custo de vida em Porto Alegre, minha cidade natal e agora tenho carradas de gente a fazer-me todo o tipo de perguntas. Um deles, do Rio de Janeiro, pretende se mudar para lá a trabalho está apavorado com o frio de 20 graus...(e eu aqui com -3)

sério...20 graus dá um bom dia de praia, não?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Sou puta, não sabia?



Dizia eu que não era feminista. Dizia porque a primeira imagem que me vinha à cabeça era de um bando de mulheres histéricas a queimar sutiã em praça pública (também tenho direito à estupidez, não?).  Mas depois fui lendo e me aprofundando na matéria e descobri que sou sim feminista. Porque feminismo não tem nada a ver com defender que a mulher é mais que o homem, tem a ver com igualdade dos sexos, igualdade de oportunidades, de salário, de tarefas domésticas e por aí vai. Em suma, é dizer que nós mulheres não nascemos para capacho deles. Quem já me lê um tempo sabe que só não gosto do extremismo de algumas mulheres que acham que todas devem ser independentes, na minha opinião cada uma sabe o que faz e é livre (ou deveria ser) tanto para ser gestora em uma multinacional como para ficar em casa passando camisa. 
Agora vejam a minha situação, sou mulher e ainda por cima sou brasileira. Sinto muito falar disto seguidamente, mas é um tema muito sensível porque tenho de lidar quase diariamente com ele. Então já não me basta ter de aturar os machistas da minha terra tenho de aturar os de outras nacionalidades?! E se a mulher já é vista como objeto e como causadora da tentação masculina em muitas culturas, a mulher brasileira parece que tem de provar duas vezes a sua inocência. Às vezes eu canso...porque tenho de ser eu a mudar? Porque tenho de ser eu a não sorrir com medo porque um simples sorriso pode ser interpretado de outra forma? Porque uma francesa ou inglesa ou portuguesa vestida com roupa curta é vista de um jeito e uma brasileira é vista de outro? Porque a mulher de César não basta ser séria, tem de parecer séria? Cansa, machismo cansa. Estereótipo cansa. É claro que não sou burra e sei que qualquer estereótipo tem um pano de fundo, o problema é a generalização de um comportamento pontual porque a primeira coisa que se diz é "a maioria das brasileiras que foram para a Europa foram para se prostituir". E pergunto-me de qual censo é que tiraram isto, pois a maioria é sempre o que queremos que seja. Quantas foram para trabalhar honestamente? Quantas porque conheceram um estrangeiro e foram morar com ele e constituir família? Estas não contam para as estatísticas? Porque somente o que interessa são fatos negativos sobre determinada etnia. Então será verdade que todos os franceses são porcos? Que todo norte americano é um obeso ignorante e presunçoso? Que todo gaúcho é viado? Que todo português é burro? Que todo alemão é nazista?
Sabe, as pessoas dizem que não, mas pensam assim. Ninguém é preconceituoso até abrir a boca e é nas entrelinhas que caçamos estes pensamentos. "Não existe amizade entre um homem e uma mulher". "Uma mulher não pode sair sozinha com um homem, porque isto significa que ela quer dar e se for brasileira então"... 
Infelizmente sei que viemos de uma cultura sexualizada, onde eu com onze anos dancei a dança da bundinha do É o Tchan, sem ter consciência de que isto remetia a movimentos sexuais. Sim é verdade que muitos programas só tem audiência se mostrar bons pares de pernas e mamas das dançarinas ou apresentadoras ou entrevistadas. Que vivemos extremamente preocupadas para estar com o corpo em dia, que é só varrer os perfis das minhas amigas e constatar que mais da metade colocou silicone. Sim, é verdade que exportamos novelas, é verdade que as mulheres tendem a ser mais espontâneas (assim como os homens o são). Mas não é por isto que ao dizer que sou brasileira, estou dizendo "quero transar contigo". Isto é nojento, é absurdo, é mesquinho. E eu estou cansada. Cansada de lutar por algo que é maior que eu. Que é covarde porque se esconde atrás de posições hipócritas sobre o que fica bem fazer. Como se as francesas não gostassem de sexo, como se as italianas idem. Porque talvez seja isto, mulher não pode gostar de sexo que é puta. Não pode por roupa curta que é puta. Não pode rir à toa que é puta. E é mais puta ainda se for brasileira. É melhor que digam logo que lugar de mulher é na cozinha, e lugar de brasileira é na cama, assim já os topamos de longe. 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Só os olhos de fora (ou nem isto)



Uns dias atrás tive uma discussão com um ex colega (cá para mim ele gosta de picar-me com estes assuntos) porque defendi a posição da França em proibir o véu que deixa apenas os olhos de fora (niqab) ou nos piores casos, a burca em espaço público. Dizia-me ele que então a França não era um país livre e democrático já que não aceitava a religião muçulmana. Para mim liberdade e democracia são conceitos relativos, pois acho que seria muito interessante um país livre que permitisse uma forma tão extrema de repressão ao gênero feminino. As pessoas não são proibidas de seguirem esta fé, elas podem usar véu para cobrir os cabelos e pescoço (hijab), os vestidos pretos até os pés, podem andar dois metros atrás dos maridos (que é como andam), sentar no banco traseiro enquanto o filho senta na frente com o pai, só não podem cobrir o rosto. Culturalmente a França não interfere no jeito deles viverem, as mulheres seguem sendo reprimidas seja voluntaria ou involuntariamente. Sinceramente este não é o primeiro assunto que vejo dar polêmica com quem se enfia atrás de uma série de teorias políticas e defende uma posição sem nunca ter vivenciado. Em 2008 antes da aprovação desta lei, durante os dois meses em que "morei" em Paris parecia muitas vezes que estava no Afeganistão ou qualquer país talibã do gênero, tal era a quantidade de mulheres de burca que andavam por lá. E como sou do pensamento que se fosse no país deles eu teria de me sujeitar a tapar-me toda, sendo assim, se eles escolheram um país livre para viver e não uma ditadura muçulmana, tem ao menos de mostrar a cara. O meu ex colega que é professor, nunca passou pela situação de dar aula para mais da metade de alunas em que só vê os olhos ou nem isto, ou tentar interagir com uma pessoa por trás daqueles panos todos. É claro que não descarta-se também por parte do governo francês uma questão política e ideológica porque são os emigrantes quem tem de se dobrar aos costumes e não o contrário. 
Quanto a este cartoon penso que enquanto a mulher ocidental consegue ter escolha do que se vestir a outra já não ocorre o mesmo. E o argumento usado por ele de que deviam deixar que a própria convivência com um país mais aberto mudassem aos poucos a forma desta etnia pensar, vestir e agir, é ridícula e denuncia mesmo a ignorância de uma pessoa que nunca conviveu com um grupo minoritário e auto-excludente (que em muitos sentidos me faz lembrar os ciganos em Portugal). Este assunto por acaso dá pano para burca, pretendo falar outras vezes por aqui.



Transcrevo aqui uma opinião interessante deixada em uma coluna sobre este tema:
Totalmente a favor da proibição. Não acho que isto acirra o preconceito. Ninguém está acima da lei. Aqui na Suiça por exemplo é proibido andar com rosto coberto em vias publicas. Esta lei existe ha muito tempo. E foi criada para desmacarar os neo nazis que gostavam de fazer suas passeatas pró nazismo com o rosto coberto. Desde que esta lei foi criada vem diminuindo o numero deste tipo de passeatas, pois eles nao tem coragem de mostrar a cara em publico. Quanto a motociclistas, carnavalescos, sao autorizaçoes especiais. O motociclista só pode usar o capaceta enquanto está em cima da moto, e os carnavalescos faz parte da tradição, da cultura do país. Eu tenho uma amiga muçulmana ( minha concunhada), as mulheres da familia dela nao usam burca, no maximo a mae usa niqab, ela nem isso, mas as mulheres de sua familia tb sao a favor da proibiçao a burca. E se uma pessoa criar uma nova religiao onde todos têm que andar nus ? Esta tudo bem em nome da religiao andar nu por ai ? Existe aqui na Suiça e na Alemanha um grupo de naturistas religiosos que caminham nus nas montanhas como forma de estar em total contato com a natureza. Chega o verao, coloca-se mais policiais vigiando estes lugares e estas pessoas sao multadas e presas. Agora se algumas podem usar a burca, pq outros nao podem caminhar nus pela cidade ? Vc é a favor que os naturistas religiosos adquiram o direito de andar nus em vias publicas para assim poderem expressar sua fé ? "


domingo, 19 de janeiro de 2014

Bonitinha indelicada

Queria ser rica a ponto de dizer para os outros que o melhor da vida o dinheiro não compra.


O corpo como símbolo de status (no ocidente)

Todo mundo sabe que o ideal de beleza muda conforme a cultura e também dentro da mesma com os passar dos séculos. Antigamente as mulheres gordas/inhas eram tudibom,  lá estão elas todas fofas retratadas nas mais diversas obras desde os afrescos da Roma antiga até a Renascença. E a principal razão para que o corpo volumoso ocupasse total apreço era nada menos do que sinal de riqueza. Até os nossos amigos agrotóxicos existirem, a população era constantemente afetada pelo tempo, se chovia demais ou de menos, se uma praga destruísse a plantação, assim como por guerras e consequentemente não haver quem lavrasse a terra e guardasse sementes para a próxima leva, etc. A comida até a idade média e convenhamos que na idade moderna também, era um problema. Como só quem pode comprar são os ricos e só se engorda (muito) quem come bastante, é lógico que envergar aquele pneuzinho em um passeio na cidade era equivalente a ter o Iphone 5, o nike air max e a ferrari hoje. Tudo naquelas dobras a mais. Ah mas e o metabolismo lento e o hipotiroidismo onde é que fica? É, acontece que em se tratando dos pobres, meses ou anos de subnutrição e poucos alimentos frescos disponíveis, assim como dez horas ou mais de trabalho pesado, haja gordura que aguente.
A partir dos anos 40 tivemos um movimento que foi se intensificando com o passar dos anos: "dona de casa livre-se já desta gordurinha". Jane Fonda na década de 70 e suas polainas coloridas entravam pela tv das casas de classe média americana a propagar o saudável que é ser-se magra. A mídia, a moda por sua vez com suas Twyggs de pernas da grossura do braço de muita gente, as mocinhas dos filmes e novelas com cintura de pilão refletiam a mudança gritante de paradigma estético. Começaram a pipocar revistas femininas com mezinhas e dietas para perder os três quilos que toda mulher sonha. Alguns anúncios vendiam até pasmem, tênias para facilitar o procedimento!
Com a comida de má qualidade cada vez mais barata, com restaurantes fast food com menu pela metade do preço que se pagaria por um bom prato de comida mais saudável e equilibrado, proliferaram obesos e semi-obesos, incluindo infelizmente um grande percentual de crianças. Alimentos sem açúcar, frutas e legumes biológicos, bolachas e pão integral são caros para muitos bolsos, e por ironia estes são os alimentos que proporcionam melhor qualidade de vida e consequente emagrecimento. Hoje o ideal de beleza, falando principalmente do corpo feminino, é a mulher magra, se possível ainda tonificada e dependente de um arsenal de suplementos vitamínicos. É só observar com atenção a quantidade de pessoas pobres que baseiam sua dieta em batata, arroz e massa, que quando saem para comer fora, a única coisa que o salário alcança é ir ao Mc Donalds. É reparar que cada vez mais os pobres ao contrário de antigamente, apresentam sobrepeso. Hoje mais que um ideal de beleza, é um sinal de status manter-se em forma porque isto significa que temos poder aquisitivo para pagar uma academia, que temos tempo para cuidar de nós, que podemos consumir produtos restritivos a maior parte da população. 
Quando vemos na capa de uma revista uma artista curvilínea a deliciar-se com semente de chia, não é apenas  a provocação à raiva/pessimismo por não conseguirmos fechar a boca, mas é uma das formas subliminares de dizer: este corpo não é para todo mundo. Ser rico, estar in não é para todo mundo ou não sabemos lá que o modelo capitalista é tão e só a exclusão da maioria? Muita gente pensa tratar-se de apenas estética, mas a verdade é que certos conceitos não nascem apenas do óbvio, mas ao contrário, trazem uma série de questões econômicas, políticas e de relações de poder que a nossa cultura nos devolve com mais uma dieta da estação.
A primeira vez que dei-me conta que meu padrinho era negro eu devia ter menos de dois anos. Estava entre as pernas dele enquanto alguns familiares conversavam, não me recordo, mas eles adoram me contar este fato. Olhei muito séria para os seus joelhos, depois olhei para os meus braços e mãos brancos. Esfreguei com cuidado o dedo na pele e observei o polegar e o indicador depois de friccioná-los. A "tinta" não saía. Dizem que não falei nada e nem demonstrei surpresa com a diferença de cores. Esta semana vimos o "Doze anos de escrevidão", um filme com ótimos atores, uma fotografia linda e principalmente com um história impressionante. Passei o tempo todo procurando pelo Brad Pitt que tinha lido em algum lugar que este era o seu último filme e o homem só me aparece no final.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Stupid phone


Uns meses atrás o marido trocou o seu telefone básico por um smart phone da LG. Ele sabe que tenho vontade de um dia (talvez) ganhar um Galaxy S, suspeito mesmo que pelo valor, quando lançassem o 10, eu poderia comprar o dois. Mas já era uma forma de ir me habituando ao novo sistema porque o meu já deve ter uns quatro anos e foi um dos primeiros a ter internet (que nunca habilitei) e acredito que seja o android 1.0 de tão arcaico. Ah e tal que legal poder acessar os emails pelo telefone, todo um mundo novo pela frente, o sonho de nunca mais me perder na rua, porque o gps seria para mim questão de vida ou morte. Poder tirar fotos com melhor resolução do que as fotos de "webcam" de 46kb que o meu atual me proporciona. Ver o facebook, etc. Mas rapidamente todas estas vantagens foram reduzidas a tum tim. A: mummmm mummmm (onomatopeia de vibração) todo o tempo. Todo o tempo. Aquilo é tão irritante que assemelha-se ao tamagoshi versão para adultos. O telefone passa frequentemente a dizer: olhe-me. Olhe-me. Tenho um email. Tenho spam. Tenho duas notificações da tua tia para a corrente do Buddah da abundância divina. O amigo do teu amigo que não é teu amigo, é na verdade um desafeto teu, comentou o status que tu também comentaste. Já disse que tenho email? Inclusive durante a madrugada. Tum tim! Não preciso nem dizer que prefiro o meu telefone de museu, que por sinal está descansando silenciosamente dentro do armário.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Quando é que vou me convencer

Quando é que vou me convencer que moro mesmo em uma cidade de interior que é simplesmente colada à capital? São apenas cinco minutos à pé daqui de casa até Strasbourg e no entanto Schiltigheim tem uma vida pacata (e sem graça) de uma vila pequenina. Hoje o marido foi reencaminhar uns papéis na Mairie, uma espécie de prefeitura-conservatória, para que possamos receber o nosso cartão para podermos consultar no sistema de saúde francês. Lembrou-se de ir por volta do meio dia, pois sabia que eles na sexta fechavam às 12:45. Chegou lá e os dois guichês estavam fechados e no canto havia uma senhora já ocupada em arrumar seus pertences e rapar fora. O marido dirigiu-se para ela que rapidamente balançava a cabeça "non, non non non", já estava de saída. Isto que ele só queria uma informação: non non non. Os outros funcionários haviam ido a Strasbourg já que aquela hora não tinham ninguém para atender e ela não estava para ficar presa até o fim do expediente que curiosamente acabava dali a 45 minutos. Já é uma moleza sair todas as sextas antes da uma da tarde, imagina decidir por si mesmos que não precisam de estar ali! É...e eu que achava que os franceses eram aqueles que sabiam dos seus direitos, mas principalmente dos seus deveres. Ou isto será coisa de cidade de interior (que não é na verdade)?

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Nem tudo é maravilha

É nestas horas que agradeço por não ser necessário trabalhar. A professora do Fabian depositou um aviso no alto da porta dizendo que ia faltar na terça (quarta a escola já não abre), quinta e sexta. O problema é que uma outra professora também ia faltar na terça, não sei se nos outros dias e a prefeitura só liberou uma professora substituta. Como a auxiliar não está apta a ficar sozinha com a turma, não há aulas. Imagina, praticamente uma semana com o Fabian em casa. Se tivesse trabalhando o que faria com ele? E a minha sorte é que o marido tirou esta semana de férias senão eu teria de faltar a minha aula de francês.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

E cada vez mais...


E cada vez mais acho que mais vale mil ateus de bom coração do que um crente destes que por sinal anda muito ocupado com a vida dos outros.


A imbecilidade virtual

Há uns tempos atrás escrevi um post em que dizia que não acho graça em ter gêmeos, é uma opinião pessoal, ainda por cima escrita em um sentido desabafo/com pitada de humor em um momento que a pouco havia limpado dois litros de amaciante que meu filho tinha derramado na cozinha. Até aí tudo bem, nada de polêmico, nem de xingamentos...até que alguma alma muito astuta teve a ideia de publicar em todos os grupos de mães de gêmeos do Facebook. Deve ser uma pessoa com a vida muito preenchida que pensou: e se colocasse lenha na fogueira? Imagino o ar de triunfo da pobre criatura com a tocha na mão: vejam, vejam o que ela pensa de nós!! E como se a minha opinião tivesse grande peso para a vida destas frequentadoras, foram comentários e mais comentários de gente triste, infeliz e de mal com a vida. Só destaco uma menina que apesar de não ter concordado, foi muito educada e não merece estar no mesmo bolo que as outras.
Nunca em tantos anos de blog tive tantas visitas diárias. Isto poderia ser o sonho de qualquer blogger, mas não é o meu. Principalmente de mães neuróticas e muito religiosas todas elas crentes no bom Deus que não me "deixou" engravidar de gêmeos por pena das criancinhas. 
Como ia dizendo, em todo esse tempo de blog é a primeira vez que necessitei desativar comentários anônimos e a também a primeira vez que recebo verdadeiras pérolas por email, pérolas que me fazem lembrar o quanto é bom ter um espaço pequenino, na penumbra como era o meu. 
Estas pessoas não entendem que A: este espaço é meu e aqui exerço o meu direito de opinião. B: os comentários discordantes serão publicados desde que sejam educados. C: o post foi feito neste contexto e aqui, e não com o objetivo de "entrar" no espaço virtual das mesmas. Quem o fez e deu-me este protagonismo foi uma delas e não eu. D: é o que muita gente pensa, não sou só eu. E muito provavelmente já tenham ouvido de gente na rua e até na própria família. Mas EU não tenho nada a ver com isto. EU nunca falei para ninguém na rua o que penso, como disse não é do meu feitio. Agora falar disto no MEU espaço é completamente diferente. 
Agora vamos ao lado maternal. Quantas das que vieram me acusar de ser uma péssima mãe ficaram em casa com os seus filhos e acompanharam o seu crescimento? Ou melhor, quantas não colocaram em uma creche aos 5 meses e voltaram louquinhas para trabalhar porque já não aguentavam mais ouvir choro de criança? Quantas abstiveram-se de sair a barzinhos, de ir no cinema por meses? Quantas deixam o(s) seu(s) filho(s) com qualquer um? Como me disse uma do "beijão": quantas deixam os seus filhos para ir em um baile funk?  Quantas sentam no chão para brincar com seus filhos? Quantas leem para eles, levam na pracinha ao invés de colocar desenhos na tv? Quantas não ficam horas no facebook? Armam-se em defensoras da moral e bons costumes da maternidade e vai se a ver tem muito tempo para andar em polêmicas a procurar cabelo em ovo. 
E por último: porque o que eu penso (que não sou nada delas, nem as conheço benza Deus!) tem tanta importância? Isto tomou proporções tão ridículas que só leva-me a pensar que: ou tem qualquer tipo de frustração recalcada e aquilo bateu fundo ou é uma tremenda falta do que fazer. Já que quem é feliz com sua vida e com o que Deus lhe deu não tem a menor necessidade de se revoltar por uma coisa tão pequena. Ou tem?

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Não me toque

Desconfio de soluções fáceis, principalmente no que diz respeito a se adaptar. Não é tão simples como trocar o chip de um celular e isto que nem estou falando da língua. É claro que sentir-se bem em outro país é uma questão relativa, há quem consiga em três anos e quem o faça em dez. No entanto acho que faz parte da nossa natureza comparar os modos de ser com o nosso. E é em plena era do "estranhamento" a que me encontro. Já sabia que os franceses, para falar a verdade os europeus no geral são mais fechados que os brasileiros. A diferença é que em Portugal depois de uma sisudez inicial é possível fazer amizades, já aqui as pessoas tendem a ser simpáticas no local de trabalho/escola, mas a convivência para por aí. Hoje tive um exemplo que deixou-me perplexa. Depois da aula sentei-me com a professora para que ela corrigisse dois parágrafos que havia traduzido de um conto meu. Quando acabamos, perguntei se caso ela quisesse saber o resto, eu podia enviar por email. Ela esquivou-se dando-me uma desculpa. Senti um choque no ar, que barulho faz duas visões de mundo a esbarraram-se? Na verdade pareceu-me um silêncio escorrido de amarelo, o amarelo do meu sorriso. Então quer dizer que um email é algo pessoal demais para se trocar com um professor que temos aulas há quatro meses? Que seria se pedisse amizade pelo facebook, o endereço ou coisa qualquer (que obviamente não o faria)? De repente desmaiava. Um email...poxa aquilo que se pode fazer um apenas para conhecidos e outro para familiares e amigos, que podemos apagar, que não há envolvimento de fotos, nem nada. Um inofensivo endereço eletrônico. Ou para os franceses nem tanto.

 Ui era só um email, não um pedido de casamento!

A vida não é só salsichão com farinha

Ou nas palavras do Fabian: chichão com saninha. Todos os dias tanto no almoço como no jantar a pergunta é sempre a mesma. Mãe, vou comer chichão com saninha, tá? Não meu filho, hoje não tem. E quando tem só come isto, não quer saber de arroz ou de beterraba ou cenoura. Só chichão. Mas a vida não é só chichão, lhe digo...a vida é carne, é galinha com molho...umas vezes peixe e outras couve flor. Ele olha decepcionado para o prato e suspira. Come bem porque tem fome, mas não repete. Esta é a versão bife com batata frita de quando tinha a idade dele, com a diferença de que eu não era tão insistente. Passavam dias e dias até que por um toque de mágica diretamente das mãos da minha (fada) madrinha comia o meu prato predileto. E eram os dias de estrogonofe, de lasanha, sopa de espinafre, que faziam aquele dia do bife com batatas fritas tão especial. Que fazia eu mastigar saboreando cada centímetro da carne com o molho a escorrer pelas bordas do prato, a que cuidadosamente molhava as batatas nada simétricas que não lembravam as do Mc Donalds, mas eram tão boas... É a espera de termos finalmente o nossas necessidades (fugazes é verdade) satisfeitas que torna a existência tão rara. Isto se acreditarmos que a vida é a la carte e não um rodízio aleatório de sabores...

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Se não existisse devia ser inventado

O marido tem um ex-colega de trabalho que tem um pensamento muito estranho para alguém que já passou dos cinquenta. Resumindo, é como se o mundo todo tivesse de o bajular, e como tal não existe, vive o tempo todo a reclamar. Foi demitido há alguns anos por ser pego a mandar e ler emails com mulheres nuas em pleno horário de trabalho, mas é claro que a culpa não era dele, é do chefe que é um mal humorado, sem nenhum poder de encaixe. Depois foi uma história que tornou pública através do facebook, contando da sua falta de sorte e reclamando dos guardas portugueses que só sabem caçar multa e não estão nem aí para a segurança pública. Isto porque estava com o imposto do selo atrasado há um bom tempo e foi pego por andar cem metros para comprar cigarro. A cara de pau é tanta que além de esquivar-se sempre de sua (falta de) responsabilidade, queria que os amigos fizessem uma vaquinha para pagar os duzentos euros de multa. Agora a última me rachou a cara mesmo. O marido bem intencionado lhe enviou uma proposta de emprego para a França, já que o sujeito gaba-se de falar francês. Além de devolver o email com erros básicos, pediu para o marido traduzir o currículo dele e entregar para a empresa que o marido trabalha. Falou isto como se fosse uma proposta irrecusável, daquelas que começam com "que tal", aliás deve ser isto mesmo, as pessoas tem uma enorme vantagem em lhe ter como amigo. O homem é tão caricato que custa acreditar que não é saído de algum programa de comédia e que não tem menos três anos de idade. Se conselho fosse bom, devia escutar Ana Terra* : "nem sempre podemos barganhar com a vida"...


*Personagem em "O tempo e o vento", de Erico Verissimo.

Bonitinha indelicada



O problema do bom senso, é todo mundo achar que tem.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eu canso

Costumo racionalizar: há um certo tipo de pessoas com uma visão tão estreita, mas tão estreita que só conseguem correr atrás do próprio rabo, como os cães. Mês passado rolou uma lista elaborada supostamente por um estado unidense sobre as vinte coisas que mais detestou no Brasil. A liberdade de expressão está aí para isto, no entanto o que deixa-me boquiaberta é a facilidade com que se enquadram 200 milhões de pessoas em um esteriótipo que começa do ladrão, mau caráter, egoísta, e por aí vai. E o pior de tudo nem é a visão (ridícula de tão infantil, mas pronto) de um sujeito que viveu um lado pequenino de um país continental, mas os próprios brasileiros a abaixar a bunda para gringo e dizer "pise-me, pode passar". Jesus como me revolta. Porque já morei fora, esta é a minha segunda experiência de emigrante e pessoas mal educadas, que querem levar vantagem, corruptas, existem em todo o lugar, inclusive entre os turistas branquinhos de olhos azuis. 
Os brasileiros que viram-se com fúria para dizer: concordo com tudo, os brasileiros são assim mesmo. Dá vontade de perguntar se ele bate carteira no ônibus, se a sua mãe rebola de fio dental nos bailes funk ou se seu pai é algum vagabundo que passa a tarde a entornar trago no bar. Ah não? Porque se entramos na visão ridícula de colocar todos sob um estereótipo, não podemos esquecer que aqueles que conhecemos também fazem parte do mesmo.  As pessoas julgam-se especiais, todos são assim menos ela e os familiares e amigos, jura? A partir de agora vai um vídeo como resposta a este tipo de pensamento, com a palavra, Caetano:


Os sobreviventes



Hoje na hora do almoço o marido deu para desenterrar o programa de um velhinho português que corria seu país a fora em busca da história de vilas, principalmente aquelas que agonizavam cujos habitantes se contavam nos dedos das mãos. Lembrou de um caso de três casais idosos que eram os únicos que ainda restavam no vilarejo, filmaram a festa das castanhas, os seis sentados com duas ou três no prato e um copo de vinho. O olhar mortificado, quase inanimado, olhar de solidão, de resistência ao próprio existir. Não iam embora, ali era a casa que se fizeram homens e mulheres, que tiveram os filhos, que os viu crescer e ir-se para nunca mais retornarem. Que conversa boa para um almoço, olha lá. Mas ao escutar e imaginar a cena, lembrei-me de Josué Guimarães, do "Enquanto a noite não chega". O livro conta a história de um casal de idosos que são os únicos habitantes que ficaram na cidade, com a exceção do coveiro (não tão jovem) que esperava suas mortes para enfim partir. Os dias eram passados a recordar da vida que existia na cidade, a olhar para as casas e reviver os mortos, os vizinhos a conversarem na cerca, as crianças a correrem e subirem nos pés de pêssegos, laranjas e goiabas. Os dias eram à espera da morte e a profunda esperança que ela lhes levasse em conjunto...até que o coveiro morreu e restou apenas os dois. A escassez  de comida, a pobreza das casas caiadas e de piso de chão batido...uma tristeza sem fim. Chorei quase todas as vezes que começava a ler e por incrível que pareça tenho uma saudade dos personagens quase como se os conhecesse. Naquela conversa os vi a secar o chimarrão no sol para que pudessem tomar outra vez, e outra e outra vez. Para aquecer. Para esquecer. Da vida que já não os circundava e da morte que demorava a chegar.

Enquanto isto, nas aulas de francês...

Il aime la Russie. Pourquoi il ne retourner pas?


É muito interessante analisar o sotaque carregado que cada um de nós luta para diminuir. É estranho porque parece ser uma briga travada entre o que somos e o que queremos ser... como se um pedacinho de nós se recusasse a morrer ou  dar lugar para outra coisa nascer em troca.
 Hoje o professor da outra turma não foi, tivemos aula com os antigos colegas de antes de nos separarmos. Pude ver o quanto evoluiu uma menina do Kosovo, cujos olhos verdes apertavam tanto quanto a sua vontade de compreender o que a professora falava. E quase sempre não conseguia. Hoje entende e fala algumas frases ainda estilo índio, como a maioria de nós. Voltei a ver a mulher do Uzbequistão com cara de pomba: o nariz aquilino, o corpo franzino e levemente gorducho e a fronte que o lenço deixava observar, envergava uns óculos transparentes e grossos. Quando ela ria ficava mesmo parecida com uma pombinha, encolhia os ombros, a cabeça e o nariz quase como se fosse apanhar tímida e rapidamente um miolo de pão ao chão. 
Pela segunda vez Araiek (não tenho certeza se é assim) escreveu sobre o quanto ama a Rússia e a professora sai de lá com uma resposta um pouco mais polida que o tradicional "volta para a tua terra". Ao invés disto perguntou o que afinal fazia na França, porque estava aqui? Como se não soubesse a quantidade de abonos que estas pessoas recebem pelo simples fato de estar em solo francês. Vim pensando nisto enquanto encontro a mãe chinesa (ou coisa que o valha) de um dos colegas do Fabian. Ela tem um jeito característico de caminhar com as pernas abertas, o cabelo comprido que desistiu de ser ruivo, com uma enorme raiz escura de uns bons vinte centímetros. Vinha ela  na minha frente, muito apressada como quase todos os pais que buscam seus filhos. De vez em quando traz o outro menino de uns dez meses junto, embora a maioria das vezes venha sozinha. Abaixou-se e pude ver que estava grávida de uns sete meses, talvez mais. É... eu disse pro marido, ou ele ganha aumento, ou fazemos mais filhos. Assim não dá.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O tempo aos três anos

O Fabian mexeu e mexeu na balança ali no quarto. Virou ela e empurrou os ponteiros do relógio. (É uma balança/relógio do ikea). Já satisfeito veio e disse:

- Ponto mãe, já arrumi o relógio. Agora já tá na hora do papai chegá.

(...)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Fabionices

Ele entra eufórico pela sala:
Fabian - Mãe, olha! O pai compô dinhero pá nóis!
Fernando - É... e ele não queria me devolver!

A partir de agora já sei, compra-se dinheiro no multibanco, agora queria saber o que a gente dá em troca!

O frio

Sem banho a dois para nós (pelo menos no inverno).


Dizem que o frio é psicológico e o que prova isto são aquelas pessoas que em pleno inverno, com tudo branquinho de neve, resolvem se jogar no rio/lago/mar. Eu acho que é loucura mesmo, não falta de frio. Agora se disserem que o frio é um teste psicotécnico aí eu já acredito. Obviamente as pessoas tem níveis diferentes de tolerância a ele, sei disto principalmente porque o marido consegue tomar banho gelado (que ele jura que é morno) mesmo no inverno. Tanto é verdade que até inventaram um edredon à prova de divórcio que é assim: lado quentinho para um lado (500 gr de espuma por m3), lado menos quente para o outro (250gr por m3). O que eu não esperava é que eu mesma tenha mudado meu nível de tolerância ao frio que cá pra nós é bem baixo. O mínimo que tivemos de temperatura aqui foi -3 graus, sendo que a média varia entre os 2 e os 6 durante o dia. Assim quando saía de casa, parecia que a minha orelha ia cair, meu nariz ardia tanto por dentro que a minha vontade era de usar aquelas máscaras de gás. Fiasco à parte, cheguei já a sentir dor de cabeça quando entrava novamente em um lugar aquecido. Fora que cada pedacinho de osso doía como se estivesse congelado a ponto de quebrar-se em caquinhos. Pois bem, hoje acordei e como de hábito vou abrindo as janelas. E o meu ar de consternação: "está quente"... Está quente? Está quente!!! Deixei os vidros abertos da cozinha e dos quartos para aproveitar a raridade que é mudar o ar aqui em casa. Desliguei os aquecedores da sala que costumam ficar o dia todo ligados. Corri para a aplicação do ipad que me mostraria a quantas anda a loucura de são Pedro. Ha ha 11 graus! Quem diria! Antigamente com esta temperatura estaria embaixo de muita roupa e com muito frio. Agora estava a ponto de colocar mangas curtas. Cada vez entendo mais os russos que suam com suas havaianas com míseros 15º. Daqui a pouco estou como eles...


domingo, 5 de janeiro de 2014

Eu e o peso, o peso e eu

Quem está aqui há pouco tempo não sabe desta heroica luta entre o bem e o mal que travo desde a adolescência, provavelmente nem deveria, mas como o blog é meu e escrever é uma terapia, lá vai. Eu era uma pessoa magra, uma pessoa que até os seis anos foi magérrima (não que isto fosse bom), mas daí até a adolescência passei por um efeito sanfona que era assim: uma ditadura alimentícia nas mãos da minha mãe e uma democracia cara-caramba-cara-cara-ô, república das bananas mesmo, nas mãos dos meus padrinhos no período de férias escolares. Então eu engordava tudo que a mãe tinha tido o trabalho de me fazer perder nos três meses que tinha na praia e demorava por sua vez um ano para emagrecer novamente e três meses para engordar outra vez em um ciclo que terminou aos quatorze anos. Porque simplesmente eu deixei de emagrecer e vi o ponteiro ir para os setenta. Mesmo com a minha estatura mediana de quase 1.70 (1.69 para ser exata) deixava-me com pneus na barriga e principalmente umas pernas grossas que sempre detestei. Aí quando o amor bateu na minha porta, trouxe com ele uma onda de auto-estima e descobri a academia. Vesti uns 58 quilos e deles pouco distanciei-me porque o meu corpo ficou feliz e agradecia queimando todas as calorias a mais mesmo quando não malhava duas horas por dia cinco vezes na semana. Mesmo quando não malhava nada por meses. 
Resolvi engravidar, fiz tratamentos de fertilidade e isto implica em tomar hormônios que por si mesmos não engordam, só fazem inchar por aquele ciclo, o que engorda mesmo é a ansiedade e a montanha russa que é lidar com o não que às vezes a vida nos oferece. No segundo tratamento voei para os 66 quilos e foi assim que comecei a minha gravidez. Cheguei ao final com oitenta (vou escrever por extenso pois isto me soa mais dramático). Oitenta quilos!!! Onde deixei minha vergonha na cara? Deve ter caído entre um pacote e outro de pipoca   doce que mandava pedia para o marido buscar no cinema de Cascais. Não faço o tipo de gordo que chora as remelas e faz beicinho com a cara mais inocente do mundo: não sei como engordo... Eu engordo com o ar, só pode! 
 Não, eu sei porque engordei, aliás eu sei com o que engordei  o que é diferente. E isto a maioria das pessoas sabem porque nunca vi ninguém que ganhou 10 quilos porque só come couves. Agora o porquê engordei já vou chegar lá. 
Achava eu que tinha conseguido manter meu Santo Graal da sanidade que representava os meus 58 mais coisa menos coisa, mas depois de analisar bem a situação, vi que não foi bem assim. Engordei (e emagreci depois) quando me mudei para Portugal, onde pulei três etapas ao mesmo tempo: saí pela primeira vez de casa, troquei de país e casei. Depois quando tive de passar uma temporada em Paris porque o marido tinha uma formação lá, depois porque engravidei, depois porque o marido perdeu o emprego e voltamos para o Brasil e agora quando pela segunda vez tenho de me adaptar a uma outra cultura. Todas as vezes que engordei foi uma resposta automática para o meu desespero. Para a minha inabilidade em lidar com mudanças, para a minha resistência com a vida. E isto aconteceu não porque eu sou uma masoquista emotiva, mas porque naquele período eu não quis me escutar, não quis escutar os pedidos de socorro que eu mesma gritava. Eu jogava doces para acalmar as feras. Os homens possivelmente não entendem porque para eles o mundo é muito prático, vai ver os monstros deles são menos exigentes e contentam-se apenas com futebol e cerveja gelada.
O que acontece aqui dentro é uma hipnose profunda que vai deitando-me a vontade abaixo, vai corroendo a engrenagem das pernas, enferrujando-me, impedindo-me de andar. Ah foi só um quilo, amanhã foram dois e três e quatro e quinze... Há uma inconsciência de si mesmo, uma dormência que começa por nos fazer fugir de fotos, de comprar roupas bonitas, de sair até. De sair. Porque faz tão frio aqui dentro...e o sol demora meses para atravessar todas as nuvens. E percebo que a cada perda de peso há somente um número novo na balança, que vai embora tão depressa porque tenho de parar com a mania de atirar doces a cada vez que acontece algo qualquer aqui fora. Tenho de parar com esta mania de fazer que não é comigo, porque todas as vezes que virei para o lado deu nisto. Inflei de medo. E talvez o meu medo maior tenha sido me perder pelo caminho... e por ironia da balança  foi justamente o que fiz neste tempo inteiro.

Cumé qui é?



Chegamos a um ponto em que o Fabian não fala nem português nem francês. O pouco de português correto para uma criança de três anos teima em derrapar em um Fabianês afrancesado que nada mais é do que aquela língua própria que as crianças se tornam fluentes antes de qualquer outra. Ele imita os sons, o "r" carregado, o ir com com som "ar", e uma série de fonemas que eu mesma não tenho a mínima ideia de onde saíram. Assim está a cabeça dele: começa a falar uma frase e no meio já está falando "francês" ou frantuguês ou portucês. Sei lá. E não é que a gente se entende?

sábado, 4 de janeiro de 2014

Poesia do cotidiano

Ao ir lavar a louça e com minha mania de fazer as coisas na penumbra, reparo na árvore do vizinho bem em frente à janela. Os galhos secos e torcidos desvendavam as gotas de chuva sobreviventes que por sua vez brilhavam pela luz que recebiam do poste do outro lado da rua. Era uma árvore de Natal à moda da própria natureza, ali enquanto ia fazer uma das coisas mais chatas da vida doméstica.




Tá certo que as fotos não ficaram grande coisa, mas o que vale é a intenção.

Para que não haja dúvidas



Tenho um medo absurdo quando me perguntam o que eu faço. Não é por ter vergonha de ser dona de casa, mas é mais pela dicotomia entre dizer ou não que sou formada em História. É o olhar de susto das pessoas como se eu fosse um ser extra terrestre que às vezes pode significar nada menos do que pena, se vocês soubessem a situação dos professores no Brasil... 
O medo é justamente da percepção da maioria das pessoas que me acham automaticamente com cara de calendário e sacam de lá uma pergunta: sabe o que aconteceu no dia 18 de abril do século XIX na Rússia? Peraí, calma na carroça. Eu não sei a história do mundo desde que os primeiros homens das cavernas descobriram o fogo. E mais: eu não sei toda a história moderna, desconheço uma série de coisas umas por que não me interessei em saber e outras porque simplesmente não caberia na minha na cabeça, é possível, acreditem! É mais ou menos como exigir que um médico seja perito em uma doença a qual não é sua especialidade. 
Quando lembro-me da cara que os meus colegas de Psicologia faziam quando tínhamos umas meras vinte folhas de um artigo para uma aula, eu ria por dentro. Tá certo que era em inglês, mas nada bate as 100 páginas que tínhamos de ler apenas para uma aula das sete cadeira que estávamos matriculados. Eu li tanto, mas tanto nestes quatro anos que acho que isto devia valer para que no resto da minha vida não precisasse tocar em nenhuma linha.
 Não é só porque é preciso fazer um recorte na História, não é só porque aprendemos a história do Brasil desde os descobrimentos até Jango com descompassos cronológicos ou a história Medieval até a Moderna européia, ficando de fora (embora fossem opcionais) estudos africanos, período pós Guerra Fria, história da Ásia, e América do Norte, etc. É porque para cada assunto chave (ou seja quase todos já que estão no currículo do curso) tínhamos vários pontos de vista de vários historiadores de vários períodos históricos. Para quem tá de fora fica difícil entender, mas a história é mais ou menos como um jogo de detetive, as pessoas vão te dando pistas e temos de ser nós mesmos a "descobrir" quem matou a Dona Branca com o castiçal  na sala de música. Não é nada daquilo que Hollywood faz para aparecer Mel Gibson e seus olhos azuis e litros de sangue artificial. Ou até é se formos analisar como o século vinte fez a releitura sobre determinado fato histórico. Mas como ia dizendo, a História não é uma história como aquelas dos livros infantis, com início meio e fim. É mais parecida com um enredo maleável ao qual milhares de cabeças se juntaram em anos diferentes para dar forma aos personagens que são tão movimentados, (re)inventados e (re)costurados que deles mesmos pouco se sabe. Na história o protagonista somos (e fomos) nós desde sempre.

Chinelinhos à porta

Ainda não sei o quão amplo é este hábito entre franceses (mas já fui em uma casa assim), sei que lá no oriente esta coisa de deixar os chinelos na porta é um sinal de respeito (pelo menos para os chineses e japoneses dos filmes). Quanto aos árabes desconheço a razão e pelos alemães sei que é uma coisa que tem a ver com a sujeira ou a neve nos calçados. Posso imaginar...faz sentido. Quando há neve. Ou barro. E o pior é quando nem calçam os chinelos e andam de meias mesmo. 
Para mim isto não passa de uma neurose braba com limpeza e olha que de neuroses de limpeza eu entendo. Eu sei que estamos no país deles e bla bla bla, em Roma seja como os romanos, maaaaaas na minha casa mando eu. Se eu vou de visita a uma casa cujos moradores tem o seu fetiche por pés semi-desnudos, ótimo, que remédio... Agora aqui em casa não! Por favor, detesto que andem de meia! E depois o estado que ela fica, toda preta, ainda vão dizer que não limpo direito o chão. Tem outra coisa: não consigo me desviar da lembrança da minha querida vó e da sua honrada preocupação pelo frio nos  meus membros inferiores. Escuto ela dizer: vai botar os chinelos guria, vai gelar estes pés! Fora o barulho que faz, é o mesmo dos meus vizinhos de cima que eu tenho certeza de que não usam chinelos. Tum tum tum. Bah!!! A solução é por uma plaquinha no hall: "Il est interdit de marcher en chaussettes."  Ou isto ou compro uns pares de pantufas extras.

Pronto: isto deve satisfazer ambas as partes.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Da segurança

Antes de sair ocorre um dilema existencial aqui em casa: fechamos ou não as janelas? Pode parecer uma cena boba, mas faz todo o sentido para quem já morou no Brasil. Isto porque aqui quase não vemos muros, pelo menos não daqueles versão penitenciária de segurança máxima com todos os arames e cerca elétrica para "adoçar" a vida de quem ousar escalá-los. Moramos em uma casa "alsaciana" em que o portão fica 24 horas por dia aberto, claro que temos de pensar no lixo não? Por isto as casas como as nossas que possuem quintal, deixam apenas encostado quando não escancarado como é o nosso caso. Ninguém entra mesmo a não ser o pessoal da limpeza urbana, os lixeiros que vem à noite. 
Aí o marido começa na sua excursão a fechar os trincos das janelas, sim eu disse trincos! É apenas um pedacinho de metal encaixado em uma argola e por trás só mesmo o vidro. E eu fico imaginando no quão louco pode parecer o desespero de sair e confiar na casa direitinha, fechadinha, na esperança de voltar e encontrarmos tudo no lugar. Daí fechamos tudo sem nos dar conta da janela da cozinha que deve ter para aí um metro e cinquenta de diâmetro de apenas vidro... que dá diretamente para o quintal do vizinho... cujo portão está sempre aberto...

Eles não são franceses



Pois não são: são alsacianos. Estou há pouco tempo aqui, mas do que já pude observar, há qualquer coisa no ar, um sentimento quase "patriótico" eu diria. Ele é Banco Alsaciano, seguro, agência de viagens, e até salsichas. Deusulivre falar em casas estilo "enxaimel" ou alemão. Nã nã não, são casas alsacianas. A situação é tão caricata que certa vez, o marido veio feliz da feira porque a senhora da banca lhe disse que aquelas maçãs eram boas, pois claro, são alsacianas, isto não é o bastante? Tava ali o selo, ó!
Quem diria que euzinha que escutei sua história lá nos idos tempos de colégio, iria morar no grande motivo de discórdia que foi Alsácia e Lorena? Uma vez da Alemanha, depois da França, depois para a Alemanha, depois para a França...
Acontece que este joguinho de ping pong resultou em coisa nenhuma. É como se os habitantes dissessem: não queremos ser franceses nem alemães. E eu realmente entendo os alsacianos, eu gaúcha dos pampas (haha de apartamento mesmo, mas tá valendo), que sei tão bem o que significa estar a fazer papel de corda em jogo de força, até ganhar vida própria, tradição e identidade. Assim como os alsacianos, os gaúchos conviveram com duas realidades antagônicas: de um lado o Brasilzão e do outro bléc...ops Argentina. Aguentando quase que sozinhos as constantes invasões do império até depois uma tentativa vã de separar-se do país, o povo gaúcho tem um pouco de rebeldia argentina e acomodação brasileira na medida certa. Embora a história da região alsaciana tenha as suas particularidades, não deixa de ser o mesmo sentimento ufanista com relação a sua terra das gentes do Sul. E sendo a Alsácia a segunda região mais rica da França, em que temos muito mais privilégios (abonos, maiores comparticipações em tratamentos, menor contribuição para segurança social, etc) do que no resto, podemos concluir que os alsacianos tão podendo mermo

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Desejos de fim de ano (aguentem-me que hoje estou faladora)

Se houvesse feito uma resolução de ano novo seria a de parar de me comparar com os outros, ou pelo menos começar a fazê-lo somente com quem tem menos que eu. E isto se deve porque há mais ou menos dez meses minha tia descobriu que tem leucemia, mas não é uma qualquer, é das mais letais, daquelas que dão quase que maioritariamente em crianças. Já fez o tratamento que durou nove meses e tinha muita fé de que não precisasse de mais nada. No entanto se não achar um doador, é apenas uma questão de tempo e de mais tratamentos paliativos para mantê-la entre nós. A tia levou a doença por assim dizer, não o contrário, fez questão de continuar a fazer tudo o que exige uma rotina com três filhos pequenos, sendo a mais nova ainda bebê. Mas esta notícia com que não contava ou, pelo menos fingia que a médica não verbalizaria com todas as letras doloridas, a fez permanecer em silêncio. Não atendeu meus telefonemas para desejar-lhe bom ano.
 Em todas as outras vezes que liguei para saber deles, a tia optou por não falar muito sobre a doença, falávamos sobre os filhos, sobre as caduquices da minha vó que está lá "segurando as pontas", sobre o frio daqui, o calor do Rio, enfim... Nunca insisti, mas mantive-me aberta caso ela quisesse desabafar, mas não o fez e talvez agora menos ainda. Diante de casos destes, parece-me  tão mesquinho pedir qualquer  coisa que não seja mais saúde, pelo menos eu acho, até porque felicidade e paz é como diz o outro: é a gente que faz...

Mundo masculino: o (meu) marido explica

"Vocês tem que entender que quando vocês dizem que estão gordas, vocês estão gostosas. Quando vocês finalmente acham que estão gostosas, vocês estão na verdade magras demais. E só quem gosta de mulher muito magra são vocês mesmas ou os bixas. Quando vocês acham que estão gordonas, provavelmente estejam...apenas gordas (para nós)".



Ai...o que se aprende enquanto o observo a cortar cebolas...


Blogs que morreram (paz às almas dos autores)

Já ando nisto de blogs há algum tempo e neste caminho fui acompanhando uns, me apaixonando por outros, e queiramos ou não, acabamos por nos afeiçoar pelas pessoas  por trás destes e é uma pena quando vemos que já não escrevem há tempos. Isto me obriga infelizmente a tirá-los da lista aqui ao lado. Já queria perguntar isto faz horas, Claudinha, andas por aí? Chegaste bem a Portugal? Como está a vida? Vá lá, um sinal de fumaça, um email, um comentáriozinho...

Nosso ano novo a dois

Passei o dia angustiada. Acho que pelo mesmo motivo que o marido não gosta do Natal, eu não gosto do Ano Novo. Sei lá...pra começar é "novo" e tudo mundo sabe como detesto surpresas, novidades, mudanças. É como uma página em branco, com o cursor piscando e me dá aquele vazio e ao mesmo tempo um desespero de "e agora? Como vai ser?".
Depois é aquela obrigatoriedade de estar feliz, com esperança e fazer tudo como manda o figurino no que toca à superstições. Repeti o cardápio do Natal: bacalhau com natas e pudim de sorvete. Coloquei o Fabian cedo na cama e ficamos os dois a ver um filme, o último  Hobbit e, quase não nos demos conta de que era meia noite. Passei o ano de pijama, não vi fogos porque aqui não tem, imagino que em Strasbourg tenha havido qualquer coisa. Para nós foi apenas barulhos e mais barulhos e bombinhas e mais nada. Brindamos o nosso amor, a nossa casa, o nosso reencontro. Não teve promessas, nem pulinhos, apenas nós os dois. E no fim das contas acho que até  foi bom.

Ano novo no Face...



Fica só a impressão de que as pessoas não conseguem se divertir se não tiverem uma garrafa de vodka na mão. É...Absolut é o novo Iphone. Pensando nisto a Apple já fez uma parceria e criou o novo modelo:



Especialmente pensado para quem não quer perder tempo entre um gole e outro. Dá para postar uma foto no instagram e olha que legal, os botões são automaticamente ajustados à sua visão embriagada, assim toda a tela treme com o seu dedo! E quando você não conseguir mexer mais os dedos, a nova aplicação "desenrolador de língua para bêbados" pode atualizar seu status nas redes sociais: afinal ninguém sabia ainda que  o mundo gira se você não avisasse, né mesmo?