quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O circo da morte no "fakebook"

Foi um fato que a tia fez de tudo para manter uma certa privacidade sobre a doença que enfrentou e pela minha parte sempre a respeitei e imagino que no seu lugar também teria tomado esta decisão. As pessoas que são importantes sabem, ou saberão ao seu tempo...mas a maioria está ali apenas como urubu rondando carniça: bebem os detalhes e saem com um dó fingido, a prometerem rezar já que não há mais o que fazer. 
Lembro-me das horas que passamos ao telefone, quase 90% dos assuntos giravam à volta das banalidades da nossa vida na França, da adaptação à língua, das gracinhas que o Fabian fazia. Achava que era eu quem tinha de escutar, mas obviamente ela não queria falar de morte. Ela queria falar de vida. Como se os momentos ordinários dos meus dias fossem qualquer coisa de tonificante para seu organismo debilitado...
Acredito que a família esteja no seu direito em manifestar a dor, escrever bilhetes ou cartas em memoria dos que nos deixaram, mas acho de um oportunismo e falta de sensibilidade sem medida, pessoas que não convivem há pelo menos uma década e que nunca se importaram de saber se a criatura estava viva ou morta se manifestem. Que digam de sua (in)justiça nos posts de quem realmente sente a perda, mas que façam-no em seus perfis à procura de likes é simplesmente mesquinho.
Admira-me que através de um amigo em comum, tenha pedido para uma "amiga" pesarosa parar de postar coisas sobre a nossa família em respeito à decisão da minha própria tia, e que a pessoa além de ignorar o meu apelo, posta mais coisas como que por birra. Parece que algo lhes sobe à cabeça, talvez qualquer espécie de estatuto de luto em que as pessoas todas lhes abraçam e dão-lhes tapinhas  nas costas virtuais. Mesmo que isto não lhes diga respeito, mesmo que em razão disto, atropelem o bom senso e a educação. Deixo um recadinho a esta mulher irritante e sem noção, como diriam os franceses: Tereza, tu m'emmerdes*.





* Aparentemente merda virou um verbo, e eu gosto disto. 

2 comentários:

  1. O fakebook como lhe chamas é uma fantochada. Aliás, a reacção da maior parte das pessoas à doença grave e à morte é uma fantochada. Também gosto do verbo.

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  2. Obrigada Timtim, haja alguém que me dê razão. Ela bem poderia ter sido mais madura, com quase 50 não é mais uma menininha. :/
    beijinhos

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