Quando falo que eu e o meu marido temos 30 anos de diferença, posso notar um ciclo de emoções no rosto das pessoas. Elas vão de incrédulas, complacentes, acham que foi por dinheiro e depois a curiosas. Mas e vem cá, como é isto, como é viver com um homem que tem idade para ser o teu pai? Eu não sei porque quando se convive nem se pensa na idade. Digo isto porque a idade é relativa, ele não parece ter 56 e eu não pareço ter 26. Ahn? Sim, eu sou em muitos aspectos muito mais velha que ele. Eu sou responsável demais, pé no chão demais, pessimista, ranzinza, muitas vezes mão fechada...lol. E ele, muito moleque, brincalhão, sonhador, gentil, carinhoso. Para terem ideia, até hoje abra a porta para eu passar, seja do carro, seja do shopping. Faz comida, lava a louça (mas não seca), me faz sorrir, escuta os meus sonhos (e são longos)...
Durante muito tempo ele foi o meu pai. Aqui para nós, eu nunca preenchi este vazio que ficou pelo meu pai biológico não me ter assumido. E ele foi e é muito protetor. Sempre me diz coisas bonitas, me incentiva a crescer, a estudar, a ser feliz. E ao mesmo tempo eu sou mãe dele, cuido do nosso dindim, das compras de casa, das roupas, das gripes. Faço cafuné, pergunto como foi o teu dia, estas coisas. E também puxo orelha quando tem que ser!
A medida que o tempo foi passando, fui precisando menos deste "pai" e ganhando cada vez mais um amigo, companheiro, marido. Ele não mudou, quem mudou fui eu. No entanto, acho que este papel está quase implícito em uma relação e é natural que assim seja. E claro, em certos momentos, ainda gosto que seja "pai".
Se pensarmos bem, quantas pessoas conhecemos, principalmente mulheres, que acabam por ser "mãe" dos maridos? Fazem comida, lavam, passam, costuram meias e ele lá, sentadinho no sofá, como uma criança de 7 anos que em nada contribui? Conheço muitos casos assim... No meu caso, as pessoas se admiram pelas aparências. Porque é óbvio. Mas somos um casal mais estruturado do que qualquer outro. Brigamos poucas vezes e na maioria das vezes sou eu quem me chateio, pois ele nem entra nesta sintonia.
Acho que se ele tivesse a minha idade, amava-o do mesmo jeito. No entanto, foi justamente esse período de 30 anos que fez com que ele fosse assim, com que ele tivesse mais paciência, demonstrasse os sentimentos, dividisse seus medos e não os guardasse achando-se ridículo por ser quem é.
Aí perguntam: e como vai ser daqui a 20 anos? E eu: não sei. Pretendo continuar amando ele cada vez mais. Mas se por qualquer motivo nos separássemos, seja pela vida ou pela morte, posso dizer que estes anos foram os melhores da minha vida. Que este homem, completou-me de muitas maneiras, fez-me enxergar a mulher que sou e também a menina que ainda guardo. E hoje é o que sei, e hoje agradeço todos as noites por ter o privilégio de tê-lo como marido.