O professor olhou para a sala de aula em busca do rosto de algumas mãos que se ergueram em resposta a sua pergunta: quem fala outra língua fluentemente? Apontou para um dos meus colegas e perguntou se era capaz de dizer fuck you, já que havia dito que falava inglês muito bem. O rapaz não exitou e obedeceu. Acham que as palavras provocam as mesmas emoções em vocês ditas em línguas diferentes? A maioria assentiu. Então, colega, diga a mesma frase em português. O rapaz emudeceu, começou a rir nervosamente enquanto os outros lhe encaravam. Lá disse entre sussurros vai se foder, muito mais baixo do que a primeira vez.
Já havia reparado nisto quando chamei a atenção de uma amiga, casada com um português, que ela dizia ultimamente: amo-te. Assim. Para mim nunca despertará a mesma emoção de um "te amo", que dá voltas à barriga e aperta o coração à procura de todo o amor que ele guarda. E são apenas a mudança de duas palavras. Para mim amo-te não é vazio, mas carece de algo, como se dissesse chochamente gosto de ti, entende a diferença? Penso que o oposto deve acontecer, pois que a língua mãe a qual se fez nosso primeiro instrumento de comunicação, será a que está mais fortemente ligada à emoção. Se é assim com as peculiaridades entre o português de Portugal e do Brasil, que compartilham muito do vocabulário, imagina com uma língua como o inglês. I love you não me diz nada, a sério. Sei o que significa, consigo fazer uma tradução das palavras e do sentimento, no entanto não desperta-me absolutamente nada. Tinha uma professora de história que costumava dizer: tradução é traição. Isto quer dizer que quando aprendemos um idioma, por mais que tentemos colocar ao mesmo pé de entendimento e significância do materno, é uma tarefa vã. Não é possível ligar-se de uma mesma forma e com igual intensidade às palavras.
Voltando à aula do professor alemão. Outra aluna que levantou a mão, era indiana e falava corretamente o português. Segundo ela, percebia uma diferença no comportamento e no tom de voz quando mudava de um para outro: quando estava emotiva, enraivecida, xingava em híndi, nunca em português. Automaticamente. Não é uma coisa de assim me dá mais jeito, mas um processo inconsciente do indivíduo. Talvez por isto tudo que é ligado a inspiração livre como a poesia e a música, por exemplo, nos chame mais atenção a que é feita originalmente em nossa língua mãe. Embora isto não impeça que gostemos de ouvir uma música francesa, ler um autor inglês, no entanto, sempre que tentarmos traduzir, fica faltando alguma coisa, como se a palavra carregasse a emoção e não o contrário.
Daí que entendi mais tarde o esforço da minha amiga, embora scho que deva ser uma via de duas mãos. Falar ou tentar falar a língua do cônjuge é muito importante, pois mesmo que um "amo-te" não tenha a mesma comoção a quem o profere, para quem o recebe deve fazer o mesmo efeito de um "te amo", dito assim com sotaque português de Portugal.
Penso que assim como a voz dá um corpo à palavra, a emoção despe-se de alma para que possamos traduzir o mundo do outro. Embora no final, só o conseguimos fazê-lo ao reduzí-lo a nossa percepção. Tradução é traição...
Daí que entendi mais tarde o esforço da minha amiga, embora scho que deva ser uma via de duas mãos. Falar ou tentar falar a língua do cônjuge é muito importante, pois mesmo que um "amo-te" não tenha a mesma comoção a quem o profere, para quem o recebe deve fazer o mesmo efeito de um "te amo", dito assim com sotaque português de Portugal.
Penso que assim como a voz dá um corpo à palavra, a emoção despe-se de alma para que possamos traduzir o mundo do outro. Embora no final, só o conseguimos fazê-lo ao reduzí-lo a nossa percepção. Tradução é traição...
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