Não consigo imaginar como seria ser um apaixonado no tempo que ainda não havia internet, nem email, nem webcam, nem skype, nem facebook. Imagino a eternidade com que se esperava uma carta, às vezes com muita sorte uma foto em preto e branco com o amado em ar sisudo. Isto os que tinham o privilégio de uma foto, pois houve tempo em que era coisa de gente rica. Aos que não tinham, imagino o desespero ao aperceber-se que os traços iam aos poucos se desvanecendo da memória, já não lembravam do formato do nariz, das covinhas quando sorria, nem do jeito como entrelaçava os dedos ao sentar. E sem telefone não lembravam da voz, ou achavam que sim, mas a voz é uma das primeiras coisas a ir. Lembravam e muito da forma como o corpo respondia a ela, assim como respondia agora quando evocavam em vão sua memória.
Amores separados por quilômetros de terra, de guerra, de água salgada. Água esta que lhes escorriam da cara quando perguntavam-se estaria vivo? O que estaria fazendo naquele momento? Já a teria esquecido? E muitas vezes sim, sabia-se de amores que acabavam porque o fulano fez um filho na fulana, casaram-se, deixando o outro lado só, ainda à espera de notícias. Até que os meses se fizeram anos, até que o coração deixasse de palpitar a cada vez que o correio chegava.
Não imagino uma ponta desta dor que é a espera, a obcessão por planejar o reencontro enquanto procura-se o sono, que vem por cansaço, e também porque é uma forma breve e etérea de uma possível realização deste desejo. Não imagino o que é tecer planos sem saber ao certo se já estão condenados ao fracasso, porque do outro lado da vida o amor a espera. Não imagino o que é não poder dizer te amo todos os dias a quem está muito longe para o alcance da minha voz. E se é certo que muitos amores resistiram à distância, a dor com que foi cingido tornou-o forte. Como uma espada forjada a duros golpes, cuja lâmina fina atravessou de uma só vez dois corações para todo o sempre. Meu amor é digital, bem o sei, mas espero ter um pouquinho da força de um amor antigo. A força de um coração antigo que todos os dias morre e renasce na angústia desta espera.
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