segunda-feira, 24 de novembro de 2025
fios e tubos
Como que a pessoa fica parecendo um manequim em meio a fios e tubos saindo pela boca, onde antes saiam palavram e risos, agora só o som incessante do bip de aparelhos que mantém a vida. E a vida? Parece que já foi, que aquilo que resta é apenas uma coisa, um invólucro sem serventia. E o tempo agora se arrasta, me vem uma agonia, a pessoa morre/não morre, mas a gente sabe que vai morrer. Mas demora. Porque até pra morrer é um parto? Vem um monte de pensamentos, desde os mais piedosos até o "tomara que não morra no final de semana". Tenho pena, rezo. Mexe comigo, ainda que seja um afeto distante, desejo que vá em paz, mas que não demore.
terça-feira, 4 de novembro de 2025
monstro
Quantos cômodos tem a casa, quantas casas dessas tem? Que labirinto se forma na tua cabeça que não conseguimos desbravar, vó?
Que monstro é esse que devora memórias? Que tem fome de um bocadinho a mais de ti todos os dias? E a impaciência de te ver ir embora, se apagango aos poucos? Frustração, raiva de não ser capaz de ver além do monstro da insanidade. *estou ficando louca também? Afinal o monstro devora com seus tentáculos quem se aproximar.
Somos náufragos à deriva, em busca de um raio de lucidez nos teus olhos anuviados. E quando encontramos é como se por segundos o tempo parasse e tudo voltasse como era antes, e eu voltasse a ser amada e te amar muito. Tudo como devia ser para sempre, o nosso final feliz.
quarta-feira, 1 de outubro de 2025
gol
Não te vi marcar teus gols bonitos, teus dribles com as pernas fortes e ligeiras. Não vi tua cabeleira farta a balançar com o vento, nem teus olhos puxados me seguindo por onde quer que eu fosse. Não cheguei a tempo de te ver na primavera da vida, mas te vi menino em um sorriso, em um olhar. Como as flores que teimam em florir mesmo castigadas pelo tempo frio. Tu estás lá e vez por outra deixas esse rapaz brincar mais uma partida com o meu coração.
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
vó
Andas tropeçando nos móveis e nas lembranças empoeiradas que vez por outra pipocam acima te arrancando sorrisos
Tenho saudades de nós, vó, de quando éramos avó e neta na saída da escola comendo churros, na praia em pleno inverno, teu pão batido perfumando a cozinha. Não tenho muitas lembranças das conversas, mas eu gostava da tua companhia. Era segurança sem as aparreações da maternidade. Agora sinto que essa vó não existe mais, morreu ou está bem escondida atrás dos olhos vazios. Às vezes sinto-me cuidadora e tu minha paciente, às vezes eu mãe e tu minha filha. Ninguém te prepara para cuidar de um filho grande, de trocar fraldas, lidar com birras. Tem gente que diz que o idoso não deve ser tratado como criança, que tem passado, caminhada longa. Eu acho que se há coisas que regridem, é a mente. Principalmente quando ela mente para ti que não estás em casa, que te mudaste. Anda tudo bagunçado aqui dentro. Vai ver é o temos em comum, vó.
Sinto que agora és como a lagarta gorda e desajeitada que se arrasta penosamente em busca do casulo. Quando tudo isso acabar serás linda borboleta, estarás livre das limitações do mundo e quem sabe voltarás a ser a minha amada vó.
segunda-feira, 1 de setembro de 2025
domingo, 31 de agosto de 2025
19 anos
Sou assim, faço voltas, quero explicar o que sinto e pra ti não faz a menor diferença. O amor é um despretensioso abraço, um beijo singelo no meio da testa depois de um dia esbaforido. É fazer panquecas doces numa tarde chuvosa, é escutar as minhas músicas junto comigo que eu sei que tu não gosta. O nosso amor é peculiar, já nasceu com trinta anos de diferença, uma coisa só nossa, que só a gente consegue entender. E eu tento estender as palavras num varal uma do ladinho da outra esperando que faça sentido aí fora como faz tu aqui dentro. Mas não dá. Elas voam como pardais.
Teu amor me traz de volta seguindo o som da tua voz , teu amor é assim faceiro e ingênuo, como o vôo de um passarinho.
domingo, 3 de agosto de 2025
Para ele
Tu é a minha casa
lugar pra onde sempre quero voltar
Quando os dias são longos e o mundo, mesquinho,
é para ti que me viro em desalinho
porque sei que dos teus braços nasce um ninho
E sou pequena, a tua nyninha...
Criança tola a bailar pela vida
ralando os joelhos pelo caminho
Eu sei que tu está sempre perto de mim
Minha casa, meu lar nesse mundo
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