Pois é assim, a vida tem abusado e muito do meu saquinho de paciência! Mas um aviso: ele é pequeninninho e não estica muito, tá?
A chegada da minha mãe tem sido tempestuosa. Aliás, ainda não há um furacão com o nome Sandra? Pois ele passou por aqui em escala 5, devastando toda a área deste apartamento de 80 metros quadrados, deixando um rastro de azulejos pretos, roupas pela esteira, pingos no espelho, água por toda cozinha, panelas empilhadas pelo balcão... Mas o desastre mesmo é a ansiedade que a mãe está. Do tipo que ligaram da tomada e saiu por aí em curto circuito, andando aos pulos. Ela tem sido muito invasiva, chega e quer fazer as coisas do jeito dela, quer mandar na comida do Fabian, nos brinquedos, em tudo. O ponto alto foi o escândalo que se passou no infantário. Ela simplesmente detestou o lugar, as funcionárias, tudo. Eu sei que tem alguma razão de ser esta revolta, mas não pode ser assim, gritar no próprio lugar que ele não presta...
Todo mundo que tem paciência para me ler, sabe o quanto sou sincera. E eu sei que tem sido muito cansativo o caminho até a creche, para nós dois. Vejo que não foi a melhor escolha, fui pensando só no que iria poupar e não me dei conta do que seria carregar uma criança inquieta por 1h e meia nos braços na ida e 1h e meia na volta, pois mesmo sentada, tenho que ficar rija, segurando-o. Sei também que as funcionárias não são o espetáculo em pessoa. São carinhosas até por ali. Mas já vi que não dão muita assistência quando os bebês começam a chorar e também já vi uma bebê pequena a estar sempre (sempre!) na espreguiçadeira e só a pegam quando chora ou para trocar. Sei que o lugar tem janelas pequenas e altas e que também as crianças da sala de 1 ano não podem sair para o pátio, ficando confinadas o dia inteiro. Mas até onde este cenário não se repete no privado? Até que ponto a minha vizinha que tem os filhos na creche ao dobrar da rua e deixa lá 800 euros, é diferente? Pelo que vi a sala não difere muito e as crianças pequenas não saem de lá. Quanto as funcionárias não posso dizer porque não conheço. Enfim... ando estressada porque a mãe me deixa num tal estado que o melhor que posso fazer é ficar quieta. Mas isto foi o que sempre fiz...porque era melhor fazer a vontade dela do que ficar discutindo e porque a minha vontade murcha quando tenho que me explicar e fico sempre com a impressão que estou contra a parede.
Ontem estive eu à beira de um ataque. Nem sei como não gritei na rua, como não mandei a puta que o pariu o primeiro idiota que não paresse o carro na faixa de segurança (passadeira). Sentia o coração pulsar em eco pelos meus nervos, como uma bomba relógio. Precisava falar, precisava alugar algum amigo, mas não tinha ninguém. Nem mesmo o marido, pois ela estava sempre junto quando falamos no messenger.
O caminho para a creche foi o tempo todo cortado pela voz dela a chamar a atenção do Fabian para as árvores, o carro, a janela, o caminhão, o passarinho, as flores, o cachorro. Tudo isto em um rap angunstiante, sem pausas. E se aquilo já me deixava o estômago às voltas, imagina o Fabian? Aí reclamou que ele anda chupando muito bico, que está sempre mexendo nas orelhas e que anda depressivo com o lugar que eu deixo. Só cobra, cobra e cobra de mim uma postura, uma decisão que nem se eu fosse gênio da lâmpada conseguia deixa-la satisfeita. Será que eu não vejo que ele está infeliz? Será que tu só pensa em ti e não tá nem aí pro teu filho?
Pois eu estou numa fase braba. Estou aí e sinto pena de não estar mais. Porque estou aí por alguns momentos. Quando consigo estar bem e brincamos, dou o peito, banho, canto. Mas até isto não basta. Já veio com a novela que não tenho leite. Que se tenho deve ser uns pingos. E dá-lhe mamadeira no guri.
Eu sei, se não me imponho agora, as coisas vão piorar e daí, eu é que não quero ir para o Brasil me estressar no ano que vem. Porque se está assim agora, na minha casa, o que fará lá no território dela?
Hoje fico por aqui. Tenho muito em que pensar...