segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Andas tropeçando nos móveis e nas lembranças empoeiradas que vez por outra pipocam acima te arrancando sorrisos
Tenho saudades de nós, vó, de quando éramos avó e neta na saída da escola comendo churros, na praia em pleno inverno, teu pão batido perfumava a cozinha. Não tenho muitas lembranças das conversas, mas eu gostava da tua companhia. Era segurança sem as aparreações da maternidade. Agora sinto que essa vó não existe mais, morreu ou está bem escondida atrás dos olhos vazios. Às vezes sinto-me cuidadora e tu minha paciente, às vezes eu mãe e tu minha filha. Ninguém te prepara para cuidar de um filho grande, de trocar fraldas, lidar com birras. Tem gente que diz que o idoso não deve ser tratado como criança, que tem passado, caminhada longa. Eu acho que se há coisas que reguidem, é a mente. Principalmente quando ela mente para ti que não estás em casa, que te mudaste. Anda tudo bagunçado aqui dentro. Vai ver é o temos em comum, vó.
Sinto que agora és como a lagarta gorda e desajeitada que se arrasta penosamente em busca do casulo. Quando tudo isso acabar serás linda borboleta, estarás livre das limitações do mundo e quem sabe voltarás a ser a minha amada vó.

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