sexta-feira, 18 de março de 2016

Eu gostaria de ser de direita

Gostaria de ser como 90% das pessoas que conheço. Queria acreditar que o problema do Brasil é de um só partido, que uma rede poderosa de TV sabe o que é melhor para mim assim como soube em 64. Queria acreditar que se hoje estou onde estou é porque mereço, não porque fui privilegiada desde o momento em que nasci. Que o problema da violência é falta de cadeia, que os pobres são pobres porque são vagabundos que não se esforçam o suficiente e queria repetir que "não se deve dar o peixe, tem que ensinar a pescar" cada vez que falarem em politicas sociais. Queria deitar a cabeça no travesseiro com a consciência tranquila de que estou do lado dos bons, mesmo que tenha xingado virtualmente e vibrado com a multidão histérica que agride qualquer um que tenha uma camiseta vermelha ou tenha cara de comunista. Queria também tirar a carta mágica que acaba com qualquer discussão: vai para Cuba! Terminando com as hashtags #forapt e #foradilma que ficam sempre bem. Queria torcer pelo  impeachment da presidente acreditando estar lutando contra a corrupção, ainda  que 1/4 da comissão que irá julgá-la responda a  acusações criminais no supremo tribunal federal. Queria ser de direita como a maioria das pessoas que conheço. Dizem que os idiotas são mais felizes, mas o problema é meu. Eu é que tenho uma certa queda para a melancolia, não sei lidar com o ódio disfarçado de justiceiro, tenho a mania de pensar, ler e contextualizar demais. E por isto não consigo me "endireitar", não adianta, até a genética está contra mim: sou canhota, de esquerda desde pequenininha. E no fundo digo que "ainda bem" que assim é.

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