sábado, 11 de abril de 2009

Cidades


Cidades são esqueletos de concreto que falam, respiram e vivem enquanto alguém habita seu ventre. Cidades não tem personalidade por si só, não nascem, não crescem, não são abandonadas... Sei que parece óbvio dizer que são o simples produto do orgulho humano em vencer a natureza. Por isso acho estranho avaliar a beleza de uma cidade. Para mim são todas mais ou menos feias, com algum design é certo, mas no fundo são todas iguais...as igrejas, os prédios modernos disputando espaço com casas e construções antigas. Pensei nisso enquanto via o filme Paris com o meu marido, e a medida que os personagens passavam pela tela, parece que eram apenas uma desculpa para no fundo mostrar a sempre vaidosa, inquietante e onipresente Paris. Ao mesmo tempo via o fascínio dele a cada angulo da torre Eiffel, da Sacre Coeur, das ruas longilineas e largas como as artérias principais de um organismo. O sonho dele sempre foi morar em Paris. Confesso que nos três meses que ficamos lá por conta de uma formação dele, andava apreensiva. Apesar de gostar dos passeios como turista, não me agradava a idéia de me estabelecer naquele país.

Afinal o que tem as cidades então que nos causam esse turbilhão de emoções, beleza, medo, nojo, ódio ou prazer? Para mim o que a cidade esconde por trás de seu exército gelado são as pessoas. São elas as verdadeiras responsáveis pelo que sinto. É estranho mas a cidade que nasci é feia, muito feia. E digo isso com um pouco de dó como quem fala isso de um filho. Mas é feia. Tem um centro sombrio e com aparência suja, seu crescimento caótico se nota pelas ruas mal estruturadas da periferia, como Lisboa. Mas não tem esse brilho histórico... As pessoas passam pelos monumentos e prédios antigos indiferentes, ninguém tira fotos das igrejas ou de um jardim. No entanto gosto de passear por lá, ver o comércio, observar os vendedores ambulantes em sua constante luta pela sobrevivência e legalidade. As crianças saindo das escolas, os velhos com seu andar vascilante e reumático. As moças bonitas, os homens suados depois de um longo dia de trabalho. Gosto da gentileza, da organização para esperar o ônibus, dos universitários lendo livros gigantes e despreocupados com o balançar no percurso. Gosto de encontrar conhecidos e ficar com um sorriso nos lábios depois de seguir o meu caminho. Gosto de lá como não gosto de mais nenhum lugar. É lá que me sinto em casa, lá que nasci, cresci e gostaria de morrer. Se pensar bem há algo de melancólico em sua sobriedade, algo que não nos deixa partir, como se fosse um parente idoso desejoso que fiquemos um pouco mais.

Porto Alegre, meu porto. De alegre só mesmo o seu povo, que no fundo é o que importa... Paris, Lisboa, Berlim, Madri, Roma são todas cidades interessantes, erguidas há muitos séculos, com muita história para ser vista. Mas só mesmo Porto Alegre pode contar a MINHA história...

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