quarta-feira, 22 de abril de 2009

Saudades...


Faz tempo que desejava escrever sobre isto, elaborar a minha perda... No fundo nunca perdemos, a simples ideia de perda remete à de posse e não somos donos de ninguém. O Espiritismo entrou na minha vida cedo, minha mãe me levava ao centro e aos domingos ia meio obrigada na evangelização dos jovens. No fundo também era uma medida desesperada para que eu aumentasse o meu pequeno círculo de amizades. Contudo aprendi que além de imortais, renascemos em outras famílias, com outros sexos para uma infindável experiência de auto-conhecimento e melhoramento moral. Tudo isso é muito bonito na teoria, mas quando um ente querido nos "deixa" é muito difícil esse processo de desligamento. Apesar de todo mundo saber que a morte é a única coisa certa na vida, e para nós a morte é simplesmente uma ilusão, significa apenas a morte do corpo, a dor e a saudade nos invade e nos sentimos meio perdidos em meio a tanto sofrimento.



Meu avô é uma pessoa muito especial para mim, foi o meu pai. Ele ia nas reuniões na escolinha e representava-o, sempre esteve presente, me levava aos passeios, à escola, ficava comigo quando ninguém mais podia. Eu sempre pensava, o dia que o vô se for eu vou ficar muito triste...mas achava que isso ia demorar muito, só quando ele estivesse beeeem velhinho o que não era o caso. O vô sempre foi muito ativo, gostava de trepar nos coqueiros, cortar grama, mexer no jardim e limpar a piscina. Não podia ficar um minuto quieto. Também tinha horror a hospitais, à exames, médicos e tudo que pudesse castrar a sua vontade de viver sem restrições. Foi justamente esse comportamento, além do trabalho estressante e do uso inconsciente de bebida alcóolica que o fizeram parar. Um câncer no pâncreas... Há muito tempo ele tinha quedas de glicose vertiginosas, mas não ia investigar. Comia uma banana e tinha sempre um sachê de açúcar. E quando a notícia veio foi devastadora...apesar da quimeo eu sabia que ele não tinha muito tempo, uns 3 ou 5 anos talvez. Mas foram dois anos. E eu acompanhei de longe, pois com o tratamento para engravidar as poupanças se esvaziaram. Em novembro do ano passado ele se foi...



Vou sempre lembrar em meio a tantos momentos felizes, da nossa despedida, quando vim para cá...Ele estava sentadinho no aeroporto e nos abraçamos e procurei não chorar. Vi que ele tinha ficado emocionado, pois nunca escondeu as lágrimas de nós. Se eu soubesse que era o último abraço, talvez eu tivesse prolongado um pouco mais. Talvez eu tivesse dito coisas que a gente tem vergonha de dizer quando estamos rodeados de gente. Talvez eu tivesse telefonado mais...mas ele sabe que eu o amo. Tento não chorar, mas às vezes bate uma saudade e lembro da hora que falei com a vó e ele estava indo para o hospital fazer a última operação. Estava muito magrinho, sem forças, mas tentando limpar a piscina. E eu não insisti com a vó para falar com ele. E foi a última vez...



Mas vô, eu quero que saibas que eu te amo, apesar de todos os defeitos que nós temos, das horas tristes em que me apoiaste, são daqueles domingos em que andávamos de bicicleta que mais lembro. São das horas em que ninguém me compreendia no meu namoro com um homem 30 anos mais velho que eu, que me deste a tua palavra de carinho. Nunca vou deixar de ser a tua "gringa", não vou deixar que se apague as preciosas lições que me ensinaste. E eu sei que ele está bem onde estiver e que qualquer dia vamos nos encontrar, em sonho talvez, e eu vou poder abraçá-lo como da última vez:



Quantas saudades vô...




Enquanto isso sigo sem acreditar...há dias que aceito e há dias que parece surreal. Sinto como se eu voltasse e ele estivesse lá para me esperar no aeroporto, com os seus cabelinhos brancos como se nada tivesse acontecido. É difícil dissociar a mente dessa espera. Mas o tempo é o melhor remédio, já se dizia há muito tempo. E talvez tenham razão.



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