quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Eu no divã (3)


Quando deitei-me naquela cadeira horrível, aquela que existe nos ginecologistas, que nos mantém desconfortavelmente "naquela" posição... pois, esta mesmo. Quando deitei-me nela esta semana, e olhei para a tela do ecógrafo no alto da sala branca, tive por instantes uma sensação de melancolia, era como se fosse ver o meu bebê. Não o Fabian, talvez, mas o bebê que havia imaginado. Era como se pudesse ver ele a se mexer e piscar na tela escura. Foi tão pouco tempo, mas consegui captar estes pensamentos. É claro que censurei-me. Aliás é uma coisa muito estranha. Explique-me porque eu que tenho apresentado aqui todas as minhas limitações como mãe e ser humano que sou, tenho uma certa inveja ou melancolia quando vejo que alguém está grávida de novo. É quase como se uma leoa dentro de mim se apoderasse dos meus sentimentos, é uma sensação estranha, de aperto no coração. É uma censura porque não sei como alguém quer repetir esta experiência, ao mesmo tempo, consternação ao ver que tenha se passado tão poucos meses que dera à luz.
Não, eu não sei. Mesmo. No fundo parece aquela impotência de que mesmo que eu quisesse (o que parece não ser a vontade dominante), não posso. E porque? Meu marido é estéril há mais de 25 anos, quando fez a vasectomia. Isto implicaria passar por tratamentos e não quero mais isto. Veja bem, amanhã começo as injeções. Não é da bomba de hormônios de que falo e sim da minha fertilidade estar sujeita a dias e horas marcados e pior: na mão dos outros. Talvez eu ainda sonhasse com uma surpresa, um marido que fosse mais novo que, quando o relógio que toca lá pelos 38 anos despertar, bip bip bip, ele não tivesse perto dos 70...
Mas isto é muito longe, pode nem sequer tocar, tu pensas. É verdade, mas é parte do que se passa aqui e aqui. (Aponto para o coração e para a cabeça).
Bom, não se pode ter tudo na vida, não é mesmo? Isto é mais uma coisa que devo aceitar com o tempo. Agora por mais que às vezes a vontade me falte, tenho de cumprir os meus objetivos, olhar para a frente. E observar. Por mais difícil que seja, acredito que ao prestarmos atenção ao que sentimos, com mais serenidade aceitamos o mundo e tiramos este fardo dos ombros, o fardo de parecermos socialmente adequados. Perfeitos.

3 comentários:

  1. E o que é socialmente aceite? Normal? Adequado?
    Aquilo que os outros dizem? Baseado nas experiências deles? Nas vivências deles?
    Não. Socialmente aceite (exceptuando o óbvio) é aquilo com que nos sentimos bem, que nos faz ser nós próprios.
    Bjs

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  2. PS: E eu que tenho 2, sabendo que não tenho condições para ter mais, que ando a pilula só porque não vá acontecer, que ando super cansada, que tenho momentos de não aguentar mais, quando olho para uma grávida, recebo uma notícia de uma bebé, faço uma ecografia, espero ver aquele serzinho a mexer-se ali também. E sinto falta daquela sensação de ter um filho a mexer-se dentro de nós

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  3. Nany...pois é isto! Nem é a vontade de aguentar mais noites em claro (até porque agora é que se dorme minimamente bem aqui em casa), choros, cólicas, vacinas, pediatras e por aí a fora. Acho que o que eu tenho saudade é da expectativa, dos planos, do preparar o ninho, da barriga crescendo. Sobretudo, queria uma gravidez diferente, em que eu não engordasse 21 kgs e bem, também queria ver a cara de surpresa do marido na hora de dizer que to grávida. Mas é assim, cabeça de mulher anda sempre às voltas ehehe!
    beijinhos

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