Já se vão trinta anos e parece absurdo saber que há sempre qualquer detalhe sobre mim que desconhecia. Começou a minha vo dizendo que não era para eu nascer, eu sabia. Também sabia que meu 'pai' tentou de todos os modos fazer com que a minha mãe abortasse, mas não sabia que ele queria levá-la à força, que já tinha médico e clínica tudo agendado e que se não fossem meus avós, provavelmente não estava aqui escrevendo isto. Não sei o que pensar, nem o que sinto. Meu passado vai e volta e me deixa à margem como um mero observador. Será que já me curei? Será aquela a minha dor ou a de alguém muito parecido, um sósia, um personagem qualquer?
E depois lembro-me de que não interessa de nada o tempo vir com paninhos quentes. O que é nosso sempre dará um jeito de encontrar-nos em alguma conversa casual, distraídos, e enquanto esperamos pela sobremesa.