quinta-feira, 7 de abril de 2011

A maternidade

Há algum tempo atrás escrevi porque queria ser mãe, hoje, depois de já o ser há sete meses (quase oito) resolvi refletir sobre isto. Engraçado é que a vontade de ser mãe surgiu na infância: brincava de bonecas e pensava que aos 15 já seria mãe, porque para mim ter 15 anos era já ser adulta! Lembro-me depois, na adolescência, de que tinha constantemente um mantra na mente: "estou grávida". E não era necessariamente ruim, pois não tinha vida sexual, era apenas uma constatação meio doida. E este mantra me acompanhou anos e anos até que realmente fiquei surpresa quando me dei conta de que era verdade. Tinha uma vida crescendo em mim! E fui tecendo planos, mas que se pareciam com um sonho anuviado, em que eu brincava com um bebê e as vozes e movimentos eram lentos, embaçados. Não conseguia transpor a imaginação para uma realidade palpável: sempre que tentava, enxergava tudo negro a minha frente e isto me assustava.
Eu acho que inconscientemente já estava caindo na real. Eu não ia ter aquele bebê que imaginei durante tanto tempo. E nem seria aquela mãe que brincava com ele. Estive com este luto até agora. Passei por uma depressão grave que nada mais era do que a morte de um papel imaginário, para a aceitação do que eu posso ser como mãe. Eu me desindentifiquei do meu corpo, do meu rosto, da minha idade. Eu só imaginava uma mulher cansada, envelhecida e redonda a minha frente. E eu quem sou? Quem és tu agora? E eu tinha este modelo de mãe na minha cabeça, que ia aos poucos se transformando de acordo com as minhas crenças de "mãe ideal". Aquela mãe que se põe sempre abaixo do filho, altruísta, amorosa, cansada, esquecida de si. O que me enervava é que eu sempre lutei com este esteriótipo, mas ao mesmo tempo, tinha medo de não ser assim porque não fica bem ser uma mãe diferente. Eu acho por exemplo que o meu marido ainda vem acima do meu filho. E porque? Porque meu bebê vai crescer, vai se tornar um homem, e vai ter a sua vida, as suas escolhas. E eu espero ter ao meu lado o meu marido, é ele que vai estar comigo, cuidar de mim quando precisar, enquanto meu filho estiver no seu emprego, na sua faculdade, com a sua família. Não quer dizer que eu não ame o meu filho, não é isto, quer dizer que não acho saudável a gente por ninguém acima de nós mesmos. Porque vejo tanta gente colocando sua felicidade nas frágeis mãos de seus filhinhos e depois que crescerem vai ficar um vazio, não só na casa (porque eles estão ficando até mais tarde mesmo), principalmente no peito. Porque não são mais tão necessárias como outrora.
Vejo que assim foi a vida da ex do meu marido. Ela teve cinco filhos. Definiu-se como mãe. Quem és tu? Sou mãe. E ponto. Quando um crescia, ela engravidava de novo. Mas chegou um dia que ela não pode mais,o mais novo está ficando grandinho e quem vai ser ela depois? Talvez espere para ser avó um dia... mas até lá?
Hoje estou buscando um equilíbrio entre aquilo que eu fui e quem sou hoje. O meu problema também é que só via coisas negativas na maternidade. Eu engordei, enfeiei, não tenho tempo para namorar, ir ao cinema, nem para tomar banho... Aos poucos fui dando valor aos sorrisos dele, as pequenas conquistas, ao seu choro fininho que me enternece. Acho que ele ainda vai ser um grande companheiro, um amigo e um homem lindo, de bem. Mas com certeza não vai ser o guardião da minha felicidade, porque isto ninguém pode ser...

3 comentários:

  1. Adorei ler este post! Consegue transpor para a escrita sentimentos e emoções de forma perfeita. Cheguei aqui através do forum da APF, que sigo antentamente. Pois também sofri de infertilidade e o forum passou a ser uma presença diária nas minhas rotinas.
    Desejo que tudo lhe corra bem e que acima de tudo seja feliz.

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  2. Oi Miri! Muito obrigada e bem vinda ao meu cantinho!!! Bom saber que alguém me lê!
    beijinhos para ti e tudo de bom!!!

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  3. Olá! Não tem de quê! Também sou mãe de um menino de 2010. Fez agora dia 11 9 meses, portanto tem uma idade próxima da do Fabian, e a troca de informações e experiências é sempre uma mais valia!
    Bjinhos.

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