sábado, 14 de abril de 2012

Eu no divã: "Filhos para que tê-los, mas como saber sem tê-los?"

Conselho que muito provavelmente nunca me ouvirão dizer (principalmente para quem está louco para ser pai). E é por isto que não tenho coragem de aparecer muito nos fóruns de infertilidade nos quais vejo pessoas tão desesperadas quanto eu era, tão amarguradas com a vida e com os outros, tais como eu era há três anos atrás.
Se alguém pensa em ter um filho porque ele vai completar a sua vida, não tenha. Um filho vai preencher as suas horas de solidão com choros, com noites em claro. Não, ele não lhe fará companhia e, pelos menos nos primeiros anos, ele só vai querer saber das necessidades dele. Se alguém pensa que um filho pode lhe fazer feliz...bem eu pensei que fizesse. Mas não. Um filho pode trazer alguma alegria, mas dificilmente alguém que nunca está satisfeito ficará com uma criança o tempo todo a exigir atenção. Ainda mais se este alguém gosta de estar sossegado, de ver internet, fazer sexo com seu companheiro a hora que tiver vontade. Se alguém quer ter um filho porque só lhe vem a cabeça bebês de novela (que choram só na hora que a cena pede), ou porque os amigos todos tem, ou porque o negócio é casar, assentar e...ter filhos. Não tenha. Um filho não se devolve, não se empresta, um filho vai depender de você por pelo menos duas décadas. Pensou que é muito tempo? Talvez você já esteja cansado, sentido-se sugado, velho, e já não ache que viajar, ir no cinema, botar aquela roupa especial faça de novo parte da sua vida.
As pessoas romanceiam muito esta história de ter filhos. Há mas dá trabalho e é bom. Será? Eu não acho bom na maior parte das vezes que a vida não dependa de mim. Que as decisões dependam de um ser de menos de um metro de altura. Se vamos ou não sair, se ficamos mais tarde acordados, se vamos "namorar", se ele vai chorar e atrapalhar tudo. 
Eu nem sei, acho que se não consigo sentir prazer nisto que todo mundo sente (ou pelo menos dizem que sente), não sei mesmo que tipo de monstro eu sou. Ou de pessoa. Que vê muitas vezes o filho como um obstáculo para a sua "felicidade". É uma ironia porque uns anos antes, era a fonte, o Santo Graal que persegui tão ferrenhamente. 
Hoje minha vida é em função do Fabian, buscar na creche, fazer mamadeira, dar comida, trocar fralda. Eu até sei que isto vai mudar, daqui uns anos ele está mais independente, vai poder ficar em casa sozinho, vai ter  festas de aniversário aos fins de semana. Mas não quero, tenho medo, de ficar como uns amigos, que já estão tão habituados a terem os dois filhos a tiracolo que quando tem estes momentos, olham-se sem saber o que fazer. 
Muitas vezes eu penso, se pudesse voltar atrás. Se pudesse ser tudo um sonho e eu acordasse com aquele corpinho que tinha, e visse que a maternidade não era bem a minha área, ia desistir dessa ideia de engravidar, de fazer tratamentos e tratamentos. Porque eu na maior parte do tempo, queria voltar e seguir por outro caminho. Mas isto não é possível, e a parte mais difícil neste momento da minha vida é aceitar. Aceitar e tentar viver da melhor forma as escolhas que fiz.

7 comentários:

  1. A vida é feita disso mesmo, escolhas.
    Apesar de os filhos serem para mim o melhor, e apesar do imenso trabalho acho que vale a pena. Mas isso sou eu, que não consigo dormir uma noite inteira não sei há quanto tempo, que acordo com as galinhas ao fim-de-semana enquanto o resto do mundo dorme, que faço três comidas diferentes para agradar ao pessoal que não anda a comer nada de jeito.
    Apesar de me queixar do cansaço, gosto do que faço.
    Se queria 5m de descanso para mim, maravilha, posso fazer uma pausa quando? Só quando eles deixam.
    Eu adoro ser mãe, mas não quero perder de vista o companheiro que tenho, se bem que namoro, só com hora marcada e quando eles deixam. Temos histórias engraçadas a contar, mas desde que não se perca de vista o outro, quando os filhos não estão.
    Uma coisa te digo, és das poucas pessoas com coragem de admitir que ter um filho não é pêra doce, e não dizes que sim só porque é socialmente aceite.
    Bjs

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  2. Obrigada Nany por estar sempre aí...
    beijinhos

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  3. Concordo com a Nany, e houve alturas em que derivado ao facto de os meus 2 filhos mais velhos serem filhos do meu 1º casamento, quando me divorciei e fiquei sozinha com eles, e ninguem me ajudava nem queria saber, pensei assim muitas vezes, mas no fim sempre dava graças por ter os meus filhos eu nasci para ser mãe, adoro, mas porque não me importo de estar em 2º plano e o meu actual marido é como eu adora o nosso e os meus e isso faz-me muito feliz, mesmo assim ás vezes precisamos de tempo para nós e sabemos aproveitá-lo muito bem, hoje em dia são os mais velhos que planeiam os nossos fins de semana romanticos.

    Beijinhos

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  4. Como estou contente por saber que não sou a única a pensar assim... Sinto me mal comigo mesma por isso, mas é verdade se soubesse o que sei hoje não teria filhos.
    Quero lhe dar o melhor mas não sei se consigo.
    Sou mãe de um menino de 4 anos, meu marido passa muito tempo fora, só queria um tempinho para mim...

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  5. Puxa, me identifiquei demais com esse texto...
    Ah! Se eu pudesse voltar atrás, não teria tido nenhum filho. E olha que tenho apenas um, e para mim já é o suficiente, estou pagando todos os meus pecados. Vira e mexe ainda vem uns doidos me perguntarem se eu não irei ter outro. Meu sangue sobe viu, mas eu me controlo, respiro fundo e simplesmente digo que não, para não dizer outra coisa...Mesmo assim as pessoas parecem ficar abismadas pelo fato de eu nunca mais querer ser mãe. Não entendo o porque disso, acho que deveriam respeitar as escolhas dos outros. Sinto muita falta da minha vida de antes, do meu corpo, de tudo! Detesto os politicamente corretos que pintam a maternidade como a melhor coisa na vida de uma mulher. Que mania de generalizar! Para mim foi a pior coisa que já me aconteceu, isso sim. Ainda bem que o tempo está passando, as coisas estão mudando, pois não vejo a hora de ter ao menos um pouco da minha liberdade de volta. A maternidade é muito sufocante, angustiante e estressante, sem falar na paciência da gente que acaba de vez! Olha, concordo com tudo isso que escreveu viu, e assino embaixo! Bom saber que nem todo mundo vive sob um manto de hipocrisia. Parabéns!

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  6. Oi meninas! Que bom que vocês viram que não estão sós, tem um post, o odeio ser mãe que tem uma série de depoimentos sobre a maternidade, se quiserem passar por lá.
    Eu tenho a ajuda do meu marido, mas moramos fora do Brasil e não temos com quem contar, é muito estressante não ter tempo para o casal. Já faz mais de um ano que nao saímos sozinhos, cinema e restaurante nem pensar...enfim!
    Beijinhos e força a todas nós!

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  7. Ai ai, mais um texto que parece que fui eu que escrevi, pois exprime exatamente meu sentimento com relação ao assunto, filho(s) !

    Obrigada por conseguir escrever o que não conseguimos, eu e outras mães, e que fica so "entalado" na garganta...

    E como disse a anônima acima: Bom saber que nem todo mundo vive sob um manto de hipocrisia !

    Beijinhos

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