Acordei de madrugada, abri bem os olhos na escuridão. Aos poucos notei a luz pontilhada que entrava pelos buracos da persiana. Ela gritava cantando, os enfermeiros mandavam-na ficar quieta. Foi a minha primeira noite num hospital psiquiátrico. Madame Chaussette espalhava cocô pelas paredes e o fedor entrou pela minha porta. Honestamente eu pensei que ia ser bem pior. Pessoas descontroladas e talvez agressivas nuas ou coisa assim. Independente do meu medo, não estamos mais no século XIX, a institucionalização deu lugar ao tratamento rápido e as internações duram no máximo poucos meses. A não ser que você insista em espalhar cocô pelas paredes.
Ninguém visitava a dona Jossette, mas ela andava faceira com a sacola no braço de um lado para o outro. Não falava, apenas balbuciava enquanto me chamava atenção e fazia que não com a cabeça, me repreendendo, sacudindo os cabelos brancos. Depois de uma semana fui transferida a outra ala e encontrei um caso ainda mais grave que o dela. Um homem que passava a mão na bunda de qualquer pessoa, nem enfermeiro escapava. Comia sabão e colocava o pênis para a porta bater com força.
Havia casos recuperáveis e havia aqueles em que nem o melhor dos tratamentos daria jeito. E em meio a isso eu filosofava o tanto que os medicamentos me permitiam. Ali não havia aquela romantização da loucura como em "Veronica decide morrer". A loucura é uma velha feia que ninguém quer por perto. E que cheira à merda.
Havia casos recuperáveis e havia aqueles em que nem o melhor dos tratamentos daria jeito. E em meio a isso eu filosofava o tanto que os medicamentos me permitiam. Ali não havia aquela romantização da loucura como em "Veronica decide morrer". A loucura é uma velha feia que ninguém quer por perto. E que cheira à merda.
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