terça-feira, 30 de outubro de 2012

Os estrangeiros

Borá lá falar mal dos meus compatriotas (e talvez de mim porque não?). Tem uma coisa muito gozada que acontece com as pessoas que vão morar fora de seu país e isto pode ser chamado de uma doença que se apossa de quase todos que conheço ou não. E a isto se chama o mal de ser estrangeiro em seu próprio país, em sua cultura, e os sintomas são uma saudade imensa das coisas que nem gostava quando morava lá, mas que por mais ninguém fazer, sente-se na obrigação manter suas origens diante dos nativos. No entanto para a sua gente, o estrangeiro gosta de afirmar que sua vida é rosa, que tudo é melhor que no Brasil, as pessoas, os costumes, a educação, etc, etc. É uma necessidade engrandecer as razões que o fizeram partir e as coisas que o prendem por lá. No Brasil há violência, há corrupção, há malandragem. Há e concordo. Mas uma coisa que morar fora me proporcionou é a vantagem de saber que não somos os únicos. Que a democracia das bananas se estendem de Portugal até o pé dos Países Baixos e que apesar de todos os defeitos, temos um ótimo ensino superior público, temos um povo que acolhe como nenhum outro, e um senso de humor para com a vida, um optimismo que não se vê pelos rostos europeus.  Morar fora dá uma certa responsabilidade para as pessoas, abre os olhos para além do que é dito pela imprensa daqui que só faz massacrar diariamente com notícias negativas para continuarmos desta forma. Inconformados e passivos, com vergonha de nosso povo. 
Morar fora dá-nos a oportunidade de exercitarmos o auto conhecimento, de transformarmos o diferente em familiar e familiarizarmos com o diferente. Morar fora poderia nos transformar em uma espécie de antropólogos de plantão, questionando nossas crenças, desenferrujando o pensamento, mas ao mesmo tempo quem viveu fora sabe que não há volta a dar. Não há como viver e esquecer o que aconteceu, vestindo a velha roupa. Ela não nos serve mais. E sentimo-nos deslocados em nosso próprio país. Isto porque quem mora fora e daí no meu caso, teve de retornar, já não é mais um cidadão brasileiro, mas sim um cidadão do mundo. E por isto digo que estas pessoas tem maior responsabilidade, responsabilidade de enxergar além, de a cada comentário deslumbrado de um amigo, dizer um não é bem assim. Por mais que pareça esnobe. Temos a responsabilidade de dizer que a perfeição não está depois da fronteira. Está aqui para quem quiser ver. Uma perfeição imperfeita, com aquele jeitinho brasileiro de levar a vida.

A ditadura da mulher polvo

Já disse e vou dizer de novo. Porque existe um tabu sobre as mulheres que querem ser donas de casa? É que não vejo mal nisto (se não for para ter uma tropa de filhos para o marido se matar trabalhando), principalmente quando é uma escolha dela e o marido aprova, o que tem os outros a ver com isto? Digo, todo mundo é livre para pensar o que quiser, mas não para infernizar a vida do resto. 
É porque não quero, ouviram bem, não quero nem gosto de trabalhar. Ah se for para eu terminar o curso de Psicologia e trabalhar no que realmente gosto ou se é para escrever e fazer disto um ofício. Sim, muito obrigada. Mas se é para queimar barriga no fogão (maneira de dizer) e andar a empregos de salário mínimo só porque tenho vergonha de dizer que sou dona de casa e este salário ir todo para uma creche, juro que tenho vontade de mandar a puta que pariu quem me incomoda por causa de emprego. 
E quando eu digo dona de casa, digo mesmo de cuidar da casa, fazer comida, cuidar da roupa, levar filho para o colégio. Não é sentar no sofá o dia todo e ver novela. Não é unhas pintadas, cabeleireiro, massagem e ginástica com personal trainer. O nome disto é peruagem. E não é que não quisesse, mas me contentava em ser apenas dona de casa. 
Eu acho que o problema está em confundir uma profissão com personalidade. A pessoa não é médica ou psicóloga ou cozinheira. A pessoa está como ou trabalha na área. A pessoa não leva para o pós vida um título ou quando se aposenta deixa de existir. Mas é a imagem que passa a sociedade quando somos apenas algo enquanto estamos "ativos" e temos poder de compra. Se estamos desempregados ou se exercemos uma atividade não remunerada como ser dona do lar, então não somos ninguém. Contribuímos zero para o sistema. E somos tratados com desprezo disfarçado, é verdade, mas mesmo assim desprezo, preconceito. 
O que me irrita não são as mulheres que trabalham e gostam de ter sua vida relativamente independente, mas aquelas que querem ficar em casa, e até podem, no entanto tem medo, vergonha, e trabalham mas chateiam e apontam o dedo sempre que podem a mim por exemplo, ou a outras como eu.  Não, não precisamos de uma revolução. Não precisamos que vocês se ergam em saltos altos por nós, não somos princesas em calabouços...é apenas uma escolha. Não queremos ser resgatadas para este mundo hostil. Só queremos brincar de casinha e ser feliz. Entenderam ou quer que desenhe?

Antes que o mundo acabe...

Não acredito que o mundo vai acabar em 2012, no entanto, hipoteticamente se acabasse, tenho algumas coisas que gostaria de fazer...
Em primeiro lugar tenho vontade de sair por aí dirigindo mesmo sem carteira. Andar mesmo que em segunda marcha e depois ir experimentando o acelerador em uma auto estrada. 
Segundo queria ir ou telefonar a todos os desafetos nem que seja para dizer "vai te foder!", afinal eu também vou dentro de alguns dias como tudo neste planeta.
Terceiro: quero gritar na rua como louca, usar chambre, apito, fazer o que eu quiser no estilo Mr. Bean mesmo.
Quarto: rever todos os filmes que eu gostei. Até os infantis.
Quinto e último: se é para morrer, então que seja transando. Nada de abraço, família, ranheira e choradeira. Quero só o marido (que o filho espero que esteja dormindo), só não pensei ainda na música, até porque as coisas que se fazem sem premeditação são as melhores. Mentira, quem sabe I will survive? Just in case.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Da série eu sou louca#

Estes dias li que pular corda trinta minutos por dia pode emagrecer até oito quilos em um mês. E como não me dá jeito no momento comprar uma corda que não seja de criança, ando a pular com uma imaginária e não é que dá efeito? Ao menos as panturrilhas já pediram aposentadoria.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Olá eu tenho (sou) um blog!

Este negócio de vida virtual tem muito pano pra manga, vou te dizer hein?! Confesso que nunca imaginei que teria um blog por mais de dois meses. Isto porque na hora parece interessante, mas depois esgotam-se as ideias e a paciência e aquilo vira um abandono daqueles de bolas de poeira rolando pelos bytes da tela. Já tive inveja daqueles blogues com duzentos ou mais perseguidores seguidores, dos comentários que choviam nos posts, o que faziam me sentir um verdadeiro fracasso. Porém fui curtindo esta solidão, o falar para as paredes e por vezes sentia-me como na vida real a falar sozinha. E era este mesmo o objectivo, por para fora o que sinto, o que penso e que não posso ou não devo ou não quero partilhar em voz alta. Se podia colocar este blog no facebook e partilhar entre os amigos, garanto que arranjava mais leitores. Poder podia, mas não era a mesma coisa. Tanto que muitas vezes são destas mesmas pessoas que direta ou indiretamente falo. Thanks, sou feliz assim!
Aos poucos fui vendo como funcionava o mundo dos bloggers, os comentários que são próximos do banal, que entre uma frase e outra só confirmam o que o autor diz. Oh aplausos para a sua genialidade.  E daqueles que de tão triviais, do tipo aí minha nossa tem gente que não assoa o nariz ou coisas do gênero, e são sempre tão perfeitos até na sua "imperfeição" que irritam. Repara como todo mundo afirma ser frontal. Que ninguém é de levar desaforo para casa, que são todos muito honestos, que estão sempre a dizer que respeitam a forma dos outros serem, no entanto 90% de seus escritos são para tirar onda com os outros. Não estou aqui armada em santa, pelo contrário, na medida do possível tento usar este blog como ferramenta para desabafos e terapia de auto conhecimento. Mas      o que interessa a este grupo de pessoas não é nada além de atenção. Vejam como minha vida é bela e interessante. Como tenho coisas para dizer. E há um certo conchavo de lerem-se entre eles e aprovarem-se uns aos outros. Não vejo troca de informação. É só mesmo isto, uma escovada mútua de egos. Ok, prefiro ser chamada de antisocial, inclusive no mundo virtual a participar desta coisa ridícula.
Olá, eu tenho um blog, não venho pra cá a fim de criar um personagem. Venho para me despir de um.

Infidelidade

Meninas do meu grupo seleto, lá me encontram em um post sobre o tema em bonitinha, mas muito ordinária ;)

A vizinha

A vizinha da minha sogra no outro lado da rua não tem dois, nem três, nem quatro filhos. Ela tem dez. Sim, dez!! Se eu já acho demais três, fico imaginando como seria viver no século retrasado com dez filhos. Cá entre nós, ela não deve ter mais xoxota né? Sim porque me lembro de quando tive meu filhote de pensar que nunca mais aquilo voltava ao lugar, penso que um filho por ano não dá tempo da bichinha ser feliz. Mas acho engraçado a forma como as crianças vivem. Estão sempre soltas pela rua (tá certo que é um lugar tranquilo), mas são obviamente limpas e cuidadas. O mais velho deve ter uns quinze e o mais novo tem dois que eu sei porque o Fabian já brincou com ele. E aquela coisa de que os mais velhos cuidam dos mais novos, lá não é bem assim. O mais velho só quer saber de skate o dia todo. Às vezes alguns pequenos ficam em volta a olhar. Quem realmente é muito cuidador é um dos meninos que deve ter uns dez anos no máximo. Chega a dar gosto de ver (ou pena porque deve se e uma barra ter tanta responsabilidade nesta idade). Ele cuida dos irmãos para não irem para a rua, anda de bicicleta com as meninas, põe roupa e provavelmente troca a fralda do mais novo e tem sempre uma palavra para a briga deles. Cá estou eu julgando novamente, mas assim é fácil ter filho. Ter para eles mesmo cuidarem-se entre eles e crescerem relativamente independentes. Se eu acho meu filho muito protegido perto deles? Sem dúvida. Enquanto corriam descalços, eu olhava preocupada para os pés nus do Fabian com medo de que ele pisasse em algo, olhava para a rua com medo dos carros que pudessem surgir do nada. E a mãe dentro de casa fazendo lá o que e os filhos todos na rua. Não sei, sou muito preconceituosa com estas famílias numerosas. Não é mais tempo disto, não é. Não vivemos na época em que bastava saber ler e escrever que era possível começar a vida. E eu não consigo imaginar como deve ser para ter um momento a sós com o marido, uma saída para jantar fora. Isto deve ser coisa que não existe entre eles. Não era uma vida que eu quisesse para mim. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Tende piedade

Tende piedade de nós e do mundo inteiro. Repetido em looping mais de dez vezes, mais de duas vezes ao dia. Sinceramente procuro entender, mas não entendo. Não entendo que repetir um mantra seja uma coisa que mexa com o coração. Seja fé. Pode ser uma forma de se entorpecer, mas a mim não me toca, aliás a única coisa que me faz é irritar. Minha sogra é daquelas bem carola de igreja, daquelas que acorda as cinco para rezar, depois as três da tarde. E tá sempre orando e cantando o dia todo. Não me entra na cabeça (sou um pouco mula de vez em quando) como pode ser prazeiroso repetir palavras vazias e não sentir aquele calor na alma que se tem quando se conversa consigo ou com Deus ou com a vida, de forma sincera e não com um molde de sílabas que a boca diz. Mas ok, se eu não consigo entender, simplesmente deixo estar. As pessoas tem o direito de ser como são. Agora fico passada com a história de batizar. Não quero e não vou batizar meu filho, não acho necessário. Não acredito em um Deus que por não ter participado de um ritual terreno o mande para o limbo. Não, Deus é amor, não acham? O Deus que as igrejas pintam mais parece um daqueles deuses gregos cheios de manias e caprichos. Sinto muito sogra, mas o Deus que acredito está em cada um de nós e por isto, o meu filho já é por consequência, um abençoado.

domingo, 21 de outubro de 2012

Quando a vida imita a arte

Tessália (Débora Nascimento) e Darkson (José Loreto) mais um casal "de novela"
Nesta sexta foi o último capítulo da novela das nove "Avenida Brasil", que diga-se de passagem foi a melhor novela que já vi. Que o Brasil tem as melhores novelas isto já se sabe, mas esta além de ser filmada como se fosse um longa metragem, tem o enredo e forma de linguagem mesmo como se de um filme se tratasse. E sim, eu gosto de ver novela. Tem gente que esconde, como se de uma hora para outra se virasse uma tonta quase analfabeta e por mágica pontos do QI fossem descontados com o simples ligar da tv depois do jornal nacional. E não é, todo mundo vê, mas ninguém admite. Até o marido virou companheiro deste meu vício. Mas só acompanho mesmo a das nove...
Uma coisa que acho engraçado é que os (bons) atores esforçam-se tanto para parecerem credíveis que o amor do personagem passa para o intérprete de carne e osso. E aí é ver romances e casamentos terminarem porque a mocinha apaixona-se de verdade pelo mocinho, que por sua vez também deixa a namorada a ver navios para viver um amor de verão. Geralmente não dura até a metade da próxima novela. Mas já dizia Vinícius de Moraes "que não seja imortal, posto que é chama/ mas que seja infinito enquanto dure". E que venha a próxima novela: "Salve Jorge", ambientada na Turquia e que vai abordar o tema da prostituição/ tráfico sexual. E como se diz por aqui, to só pela segunda!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Os filhos dos outros

Sinceramente não tenho lá paciência para aturar crianças. Uma coisa é o meu filho, que junto não sei de onde um pingo de fôlego, mas com os outros não funciona. Vamos combinar que crianças de comercial de margarina, aquelas educadas que se sentam à mesa sem derrubar comida e esperam até o fim da refeição, as que não mexem em nada na casa quando vão de visita, só existem na cabeça daquelas velhas que insistem em dizer que os filhos/netos daquela época eram assim. As crianças são como feijão que azeda caso não seja fervido uma vez ao dia. Criança sem corretivo dos pais, azedam a paciência. E lá ficamos com um sorriso amarelo e pensamentos homicidas escondidos entre um "deixa estar a pobrezinha", "não foi nada, é só um porta retrato que comprei em Paris, mas não faz mal, vou lá todos os anos não é mesmo?". 
Mas confesso, nestas horas eu fico aliviada por não ter uma menina. Isto porque reconheço que meu filho é um pé no saco, tem tanta energia que deixaria o Denis o pimentinha parecer o menino mais comportado de um colégio de padres. Mas não consigo aturar a tagarelice das meninas, principalmente naquela fase que vai dos 3 aos 20... E quando vê, com aquelas perguntas meio a apontar que fazemos algo errado que devia ser assim, isto no alto dos seus seis anos. E quando dizem aquelas invenções de que os pais dela tem um computador melhor, que o irmão faz isto ou aquilo, que costura com dois anos, que sabe inglês, francês e espanhol. Ta bem, uma hora passamos de olhar complacente a pensar em responder com requintes de maldade. Ora, mas que feia que sou. Mas confesso, crianças depois de uma hora de visita são letais ao bom humor. Que bem faziam os pais a se restringirem a visitas de médico, ou então um shot de maracujá com camomila e quem sabe um rivotril? Ou quem sabe o que seria mais prático, darem um pouquinho de limites a seus queridos monstrinhos?

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Como cresceu

Eu achava um saco ouvir o tempo todo que eles crescem rápido e tals, na verdade para mim o tempo se arrastava dolorosamente. Parecia-me que inclusive os segundos eram lentos. A fase de bebê pouco aproveitei, vivia tão desiludida e triste com não ter voltado a forma, por não ter tempo para namorar e até para eu fazer as coisas mais básicas e necessárias da vida que tantas vezes pensei que não havia nascido para ser mãe. Hoje não sei se sinto saudade, é que só de pensar no que passei me dá arrepios... Mas sinto uma saudade de fotografia, como se fosse possível reviver aqueles pequenos momentos dentro de um quadro e puff, saltar dali antes que o bicho pegue. Hoje eu sinto que está passando rápido, deve ser porque hoje gosto de ser mãe. Hoje gosto de sua independência relativa, de sua comunicação, de se fazer entender e sermos (às vezes) entendidos. Hoje olho para ele e vejo que os traços de bebê estão se desvanecendo, que o rosto se alonga, que as pernas perdem as gordurinhas e que se não fossem as fraldas, pode-se dizer que já é praticamente um menino, pois tem altura de uma criança de três anos. Hoje queria que passasse mais devagar... mas é assim o tempo, fugidio sempre que buscamos e irremediavelmente teimoso quando o queremos longe.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Não sou nenhuma carola, mas já fiz comunhão e crisma porque a minha mãe encheu os meus ouvidos que quando eu casasse ia precisar. Hahá, o Fernando já casou na igreja e por isto eu não posso, quem dera ter bola de cristal, já poupava a chatice. Não acredito que se olhar para uma imagem ou ir em uma missa vá ser uma pessoa melhor e tals. Acho que a fé não tem nada a ver com religião. Não acredito em intermediários para falar com Deus, aliás nem acredito em um velhinho de barbas brancas que vê tudo lá de cima. Para mim Deus está em todas as coisas, é uma energia, a vitalidade de tudo que existe no mundo e principalmente, está em nós.
Quando adolescente frequentei alguns centros espíritas e confesso que é a doutrina que mais dá sentido a vida na minha opinião. Em primeiro lugar porque diz que ninguém precisa acreditar em Deus para ser uma boa pessoa: mais vale um homem de bem ateu do que um carola mesquinho. E hoje nos momentos menos bons é o que me faz levantar a cabeça e tentar encontrar uma explicação para o que tá acontecendo comigo, para acreditar que uma hora as coisas devem melhorar e possamos seguir nosso rumo. Porque se não tivesse esta certeza comigo eu não estava mais aqui. Porque é tão fácil ser infeliz e reclamar dos subsídios disto e daquilo quando se tem ao menos o ordenado do mês...Porque seria aparentemente mais fácil fugir dos problemas, da vida, enfim... As pessoas adoram fugir. Eu adoro fugir, mas acontece que na fuga esquecemos que, aos tropeços, os problemas nos perseguem. E de tal maneira que nos deixam os pés iliados e a cabeça na ilusão de que ao mudar o cenário as coisas ruins se foram.
A fé que eu tenho (que não sou lá uma pessoa otimista e confiante) tem dado motivo para refletir, porque eu acho que ninguém vem ao mundo a passeio, que não existe acaso. Que temos um propósito para estar aqui e estar na situação que estamos. Será mesmo que 2012 é um ano de grande mudança global? Não tenho dúvidas... Pessoal? Também não. Nunca imaginei estar nesta situação, voltar para o Brasil assim. E tenho aprendido muito. Relativizado as posses...não que não tenha vontade de ter o meu canto, as minhas coisas. Mas tenho sido "feliz" mesmo com aquilo que me resta. Tenho tido mais paciência com o meu filho e tenho amado cada vez mais este marido que faz de tudo para nos ver bem. A crise é momento de sofrimento, mas também nos leva além, testa nossas forças, nossa fé. Não há mal que sempre dure, ainda mais para quem luta e não fica de joelhos só rezando. E é isto que me faz seguir em frente. A certeza de que embora não entenda bem para onde me levam estas adversidades da vida, mais adiante tudo fará sentido. Isto é fé. Pelo menos para mim.      

Sonho em branco

Perfeito
Estilo Barbie, este ia ser uma ótima motivação para perder estes kilitos a mais
Adoro!
Não sei qual escolheria, este vestido é onírico, sentiría-me alguma criatura  mitológica , uma deusa até!
Este seria para um casamento na praia (Caribe?)
Esta é daquelas coisas que dificilmente acho que vai se realizar, mas que não custa sonhar. Não pensava em padre e madrinhas, só mesmo o juiz ou alguém muito inspirado com um lindo discurso, até porque já somos casados. Mas o que me encanta mesmo é o vestido branco, é ver ele de smoking uma vez na vida, são a mesa farta e o bolo com os bonequinhos no topo e ver o Fabian de terno e gravata em miniatura. Sou um pouquinho brega, admito, mas é um sonho de menina, daqueles que é difícil de esquecer com o tempo...

domingo, 14 de outubro de 2012

Sobre Buddah e caracóis

Uma coisa não tem aparentemente nada a ver com a outra, mas no nosso caso sim. E porque sinto-me às vezes um caracol que leva a casa nas costas e não tem bem raízes em qualquer lugar, ando eu em quatro meses pela terceira casa. Nos mudamos para a casa da sogra, de mala e cuia como se diz por aqui, o que quer dizer com tudo que temos (menos as caixas que vieram de Portugal que ainda se encontram empilhadas no quarto da minha vó).
Não deu mais para aguentar a minha mãe e o Fernando juntos. A minha mãe e suas agulhas que espetam o tempo todo nas horas mais impróprias (existe hora própria para ser xingado?). Cresça, diz a minha mãe. Seja uma boa mãe, fica com ele, dá atenção a ele. Não briga, não faz ele chorar. Acontece que para a mãe eu e o Fernando somos pais horrorosos apenas porque tentamos educá-lo, dizendo não quando é necessário, mesmo que ele chore. Qual é a criança que sorri quando se diz não? Mostrem para mim, porque me parece perfeitamente normal a reação dele. Fora o tempo inteiro que ela começa a me encher os ouvidos com a ladainha de que o Fernando é velho, que eu tenho que estudar, ter a minha profissão, ganhar meu dinheiro, etc, etc e etc. E a mania de achar que temos que esquecer o mundo e brincar as horas que ele está acordado, andar sentados como dois bobocas a brincar de carro, jogar bola, tudo isto depois de um dia de trabalho em que queremos pelo menos descansar um pouco. Concordo que devemos brincar, mas o tempo todo, tenha dó! Acho engraçado a maneira como as pessoas constróem uma novela e acham que as coisas aconteceram mesmo assim. A mãe deve se achar a heroína da história, mas eu só recordo de que brincava muito sozinha e raramente ela vinha me dar atenção porque tinha coisas para fazer (naquela época não tinha empregada). E não fiquei traumatizada por isto.
A minha mãe está doente, sim é verdade. Ela teve cancer de medula e no rim. Teve que fazer duas cirurgias e passou por químio quando o Fabian nasceu. Eu realmente sinto-me um monstro porque não consigo sentir compaixão, não consigo sentir qualquer coisa boa em relação a minha mãe. E sentimento não se escolhe, não se escolhe odiar ou amar uma pessoa. Simplesmente as coisas são como elas são. O que existe é um esforço para tentarmos modificar certas atitudes e o meu tem sido tentar ser o mais paciente que consigo. Mas não sou nenhum mestre espiritual, sou uma pessoa comum, que não consegue estar ali e escutar passivamente as críticas e deixar passar. Não, eu fico ferida, remoendo as coisas e depois desconto na comida. Mas procuro não alimentar a discussão, mas eu canso de ser saco de pancada. Ela está doente. Não, ela é doente. Mas eu não preciso aceitar isto, eu tenho escolha. E eu escolhi que não dá para conviver com ela. Faz-me mal. Ela fica mal de ver que nem eu nem o marido vamos mudar porque ela quer. Então resolvi me afastar que acho que é atitude mais sensata a fazer.
Isto depois de uma discussão na sexta à noite que claro, começou por causa das manhas do Fabian para dormir. Eu até acho que ele deve fazer de propósito, mas pronto, o Fernando deu um grito porque não conseguia trocar a fralda dele e ela exigiu que eu fosse lá porque não quer ouvir o genro tratar o neto assim. E aí começou tudo outra vez... e eu escutei e eu pedi para parar. E ela continuou. Eu subi as escadas e ela continuou e continuou. Até que eu explodi. E aqui estamos, depois de um clima péssimo e muito choro pela frente. Buddah diz que a felicidade é o fim do sofrimento. Não alcancei a iluminação, mas estou um pouquinho mais feliz.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Família é uma ilusão

Sabe tem dias que a gente está muito para baixo. Tem dias que pensamos afinal de contas porque estou fazendo isto? Porque parece que temos um barro colado nos sapatos, que nos impede de ir à frente, que faz-nos patinar e patinar enquanto ficamos cada vez mais cansados das mesmas coisas e das mesmas pessoas. Dos mesmos sermões e pensamos que afinal temos muita saudade da vida que levávamos antes. Porque depender dos outros mesmo que do próprio sangue, é duro. Não temos uns sapos na garganta, certo dia nos damos conta de que temos é um brejo. 
E para mim família resume-se a mim ao marido e ao meu filho, o resto é bobagem. Porque só nós temos planos e vamos seguir juntos e no fim podemos contar um com o outro, porque o que há entre nós é troca e naão favor.  Estou realmente cansada das cobranças porque o que fazemos nunca é suficiente e porque acham que devemos fazer assado ou frito e nós sabemos que quem tem o dinheiro não somos nós e que este teto também não é nosso. E que suplicamos a vida por uma oportunidade daquelas com O, porque merecemos. Porque revolta ver os outros viajando, comprando carro, apartamento e sabe...70% do meu salário vai para a creche do meu filho e o meu padrasto não quer ficar com o neto e a minha mãe deu-me mais um mês para ficar com ele. O que não me adianta porque tenho este emprego garantido até final de dezembro, quando passarei do período de experiência ou não e temos despesas de matrícula, material, uniforme e clar, a mensalidade. Então decidimos que vamos por o Fabian na próxima semana apesar de tudo, porque estamos cansados, estamos cansados, estamos cansados. E tem horas que a única coisa que queremos é deitar a cabeça no travesseiro e só acordar quando tudo tiver passado.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Cúmulo da marmita



Ah pois é, agora ando na moda...a minha marmita é fashion, mas não tem marca, aliás sacola de papelão tem? A Vasari diz que sim e cobra cada pedacinho de "minimalismo" no seu novo produto.  Gente pára tudo!! Agora a pergunta: para ver rico de marmita só se for assim né? 
Versão em papel 580 Reais
Versão em couro por 1200 Reais

domingo, 7 de outubro de 2012

The voice Brasil

Estou completamente viciada neste programa, adoro adoro adoro! Tantas vozes lindas, tanto talento. Meu Deus que país rico este. Até sinto uma pontinha de inveja, eu que não sou capaz de acertar numa nota, canto desafinado e fora de ritmo. Duvido alguém que cante pior! 

sábado, 6 de outubro de 2012

Segunda

Nesta segunda começamos os dois a trabalhar. Ah pois é, finalmente as coisas entram nos eixos ou pelo menos é o começo para entrarem. Agradeço o conselho querida Flora (pseudônimo?), mas ultimamente não tenho sido uma pessoa de seguir conselhos de ninguém. 
A proposta que recebi nesta sexta foi muito melhor que a primeira, salário bem mais alto e ainda  com possibilidades de ganhar mais dependendo do desempenho. A idéia é avaliarmos em janeiro como estará o nosso pé de meia e aguardar alguma proposta para o marido. Fazer planos ao invés de me deixar mais tensa, desta vez deu-me um certo alívio. Qualquer coisa como a ilusão de que controlamos algo, que a vida depende de nós também, não sei, pelo menos tenho menos tempo para ficar me martirizando com a minha má sorte.
Não escondo a minha vontade de ser dondoca, queria mesmo ter uma vida tranqüila, ser dona de casa, cuidar da minha família e tals. Não tenho ambições de provar para alguém que sou uma profissional de topo, compreendo quem ache necessário, mas simplesmente não é a minha. Mas reconheço que na posição que estou no momento, é o que há para fazer, que remédio...
Agora se fosse para sentar e escrever isto não seria trabalho, afinal é a coisa que me dá mais prazer. Alguém disse uma vez que quem trabalha no que gosta não terá nunca trabalho. É esta a idéia, a de que fazemo-nos tão leves que o fardo de cumprir obrigações se dilui nas horas em que passamos entretidos conosco mesmos.  Quem sabe, acho que não é impossível se nos dedicarmos de corpo e alma para aquilo que desejamos. Dei anteriormente o exemplo do Paulo Coelho porque além de ser um escritor que não tem lá um talento especial, inclusive com muitas reclamações de plágio nas costas, colocou isto na cabeça aos trinta e hoje é reconhecido mundialmente. Eu já nem tenho esta posição, para mim ter um livro só meu e que venda qualquer coisa que dê para o gasto tá bom. Mentira hehehe! Alguém sabe porque a escrita de tantos medíocres ou no mínimo autores para além de esforçados fez sucesso? A célebre saga de Harry Potter, o Crepúsculo, Os cinqüenta tons...? É porque eles sentaram em algum momento a bunda para escrever e pensaram que algum dia alguém leria aquilo e claro, sorte. Mas sorte muda e como sabemos, pode calhar a qualquer um. Inclusive a mim.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Fabian e o seu carro vermelho


Assumir o leme

Se um barco não sabe a que Porto dirige-se nenhum vento lhe será favorável. 


Os planos hoje foram traçados enquanto o marido cozinhava. A minha vontade era que ele fosse trabalhar para um banco em São Paulo, ou para a IBM ou para a SAP e que eu com o tempo voltasse a faculdade, me formasse e dali uns anos tivesse meu consultório decorado ao estilo provençal, cortinas brancas, o divã azul celeste, enfim. Puff Jeanyne, planeta Terra chamando. Acontece que se ficarmos aqui a esperar e esperar, já vimos que as coisas não acontecem só de rezarmos para Santo Expedito. Estamos de acordo que ficar aqui na mãe não dá e morar na mesma cidade também não dá. Em nome da nossa sanidade mental...
O Fernando vai tentar o ramo imobiliário, oportunidade que foi oferecida a ambos, no entanto não há vínculos com a empresa, só ganha se vender. O mercado no Brasil está extremamente aquecido, mas creio que não por muitos anos...mas isto é coisa para ganhar dinheiro rápido e este é o plano um. O dois, é juntar grana e emigrarmos para França. Enquanto estivermos aqui, o marido vai fazer um curso da oracle que vai abrir mais chance de emprego e com um salário melhor. E eu quero poder finalmente dedicar-me a escrita. Se Paulo Coelho conseguiu porque não eu? Mas quero fazer as coisas direitinho, estudar, pesquisar bastante para escrever um romance histórico. Geralmente isto é coisa que não se diz, mas é o que sempre fiz desde a infância, tenho jeito para a coisa, milhares de histórias na cabeça, uma imaginação inesgotável. Preciso é acreditar em mim e neste dom que esteve a minha frente durante todo este tempo e eu não percebi. E depois de traçarmos nosso plano de fuga, nunca nos sentimos tão felizes desde que naufragamos pela primeira vez.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

A dança dos olhos negros - Capítulo I

O ar estava húmido, escuro e pesado. Ela suspirou embaixo do que antes fora uma mesa, agora estava resignada a uma espécie de esconderijo tosco. Ouvia vozes e pelo pouco do que se atrevera espiar dera com a casa completamente revirada. Ao longe distinguia-se gritos. De mulher? De criança? Não importava, já tivera tanto por uma noite. Seu pai e seu irmão jaziam ao relento nos campos. Sucumbiram sobre as lanças e espadas do inimigo. Inimigo este que os considerava bárbaros e por isto queimava suas casas, estuprava suas mulheres e assassinava crianças.
De repente os passos tornaram-se mais próximos. As risadas dos homens satisfeitos pelo saque e pelo sangue atravessaram o recinto. Ela encolheu-se, mas sabia que era em vão. Sentiu uma mão forte e áspera puxá-la pelos ombros. Seu cheiro ocre de sangue velho encobriu-lhe as narinas e por um instante pensou que ia desmaiar.
- Vejam só o que achei perdido por aqui! - Bradava o homem com palavras cheirando a álcool. 
Seguiram-se risos, cada vez mais altos e mãos por todo seu corpo. Alguém lhe empunhou como se fosse uma recompensa e a levara para a luz. Esteve tantas horas em completa escuridão que o simples fato da aproximação da luz, fez com que seu rosto se contorcesse e ela lembrou-se de que aquele desconforto seria o menor dos seus problemas. Fechou com mais força os olhos e rezou para que terminasse logo.
Atiraram-na sobre o piso frio da entrada da que antes fora a casa de sua família. Tentou cobrir-se o mais que pôde como um animal acuado a olhar seus algozes à espera da morte. Pela primeira vez encarou-os. Diziam que eram frios, os seus olhos castanhos, escuros como um poço. Pareciam recém chegados de Niflhem. Eram assim o romanos, grandes guerreiros, sedentos de domínio sobre todas as tribos. Seus deuses devem ser mais poderosos que os nossos e muito mais difíceis de contentar. Eram em sua maioria mais baixos que o seu povo, mas fortes e bem treinados por baixo da armadura cor de carmim. Sentiu as pernas tremerem quando a mesma mão que lhe carregara lhe forçou a suspender o peso nos pés. Achava que quando alguém estivesse sob ameaça o corpo se acordava, os sentidos se apurariam a fim de que pudesse lutar ou fugir. Mas seu corpo ao contrário, adormecia, sua visão estava turva e seus ouvidos pouco captavam do exterior, apesar de ter consciência de que a aldeia estava mergulhada no caos.

- Vejam só, está é especial. 
Rasgaram-lhe a túnica e um seio branco de auréola rosada ficou pendido em meio aos trapos de linho   que emolduravam o corpo esguio.
- Sim, é virgem. - Apontavam para os adornos em seu pescoço. Tinham ao menos algum conhecimento sobre o costumes germânicos afinal. Podia sentir no mínimo dez pares de olhos sobre sua nudez. Escuros. Olhos de poço negro, insaciáveis. 
- Quem vai ser o primeiro?
Houve certa agitação, empurrões. As espadas tilintaram em sinal de aviso. Um dos homens deu um passo à frente e lhe agarrou da mão do primeiro. Foi ele que a achara em seu esconderijo e tomava o que devia ser seu por direito. A sua primeira vez com um homem.
E depois disto o que sucederia? Dezenas de pênis rasgariam sua vagina e ela neste momento dava tudo para ser uma velha enrugada que não despertasse os instintos do inimigo. Mas lá estava com os lábios trêmulos e as coxas rijas, fechadas, a mulher mais bela de toda a tribo, um adjetivo que neste momento particularmente odiava. Os cabelos compridos em trnaças loiras como o trigo, pingavam suados pelo medo e ansiedade. Se fosse para ser, que seja rápido. E quando finalmente o primeiro guerreiro avançou e abriu-lhe as pernas, ela apertou o sexo. Ouviu os cascos e alguém a apear do cavalo. Não sabia qual era a sensação, se de alívio ou de dor. Seu destino poderia ser pior do que havia imaginado. Mais alguém para a festa? Mas os homens silenciaram. Apenas o que a sustinha os braços algemados pelas suas mãos arquejava. Os passos foram diminuindo. Pode ver pelos cílios dourados que era alguém superior. Tinha adornos nas armas e o elmo era ligeiramente maior do que o dos outros entre o seu braço.
- O que temos aqui?
- Publius encontrou-a em um canto. Íamos ensinar esta puta a se submeter à águia romana.

Por alguns segundos houve silêncio. O homem ponderou. Olhou para o seu corpo e ela tentou aprumar o que restava de sua dignidade. Desta vez não tentou encolher-se. Os seios pulavam conforme o peito lutava para respirar arduamente. E com um gesto, saiu-lhe a voz rouca:
- Ande para fora daí. Quero ela para mim.
E depois virando-se aos demais - Eu já disse que quero o melhor para mim.
Em um salto o grupo deu um passo atrás e o peso pouco a pouco saía de cima dela. Pode ver pelos suspiros, a frustração que ficara o homem que agora lutava para vestir-se. O que a requisitara, virou-se e estendeu-lhe a mão ao que ela rapidamente correspondeu. E levantou-se segurando o pouco tecido que não estava violado pelas mãos ávidas dos seus algozes. Seguia consternada sem saber se aquilo de fato seria melhor do que um estupro coletivo, pois de um romano não se pode esperar grande piedade, mesmo para uma mulher jovem e bonita. Ele agarrou pela cintura e susteve seu peso para que pudesse montar no animal. Lenta colocou as pernas entre o lombo e pode sentir o pelo morno em sua pele dolorida. Ele subiu depois, atrás de suas costas, bem colado a sua nuca. O toque metálico de sua armadura fez-lhe calafrios e ainda mais que o silêncio, a respiração contida e a certeza de que seria dele dali a momentos a aterrorizava. E depois provavelmente encontraria a morte ou talvez ele a atirasse para aqueles monstros depois que saciasse a fome de sua carne. A visão da chegada ao acampamento romano deteve seus pensamentos. Ficou impressionada pelas fileiras intermináveis e  organizadas pelas colinas, pela quantidade de soldados que abrigava. Talvez mais de trezentos homens a circular, acender fogueiras, a contar as jóias e armas roubadas de seu povo. Ele contornou  as barracas e amarrou o animal perto de outros que pastavam ao pé algumas árvores. Com brusquidão ele a puxara por entre um labirinto até  deter-se frente a uma. Não era maior que as restantes como esperara, pensou enquanto ele a empurrava para dentro. E a escuridão apoderou-se de seus olhos outra vez. Caiu sobre o que parecia ser uma cama improvisada. Ele virou-se e pode mais uma vez encarar seus olhos negros.
- Descanse. Logo venho cuidar de você. - voltou a cabeça antes de sair. - ah, fugir não é uma boa idéia.
Aquele homem lhe falara em seu dialeto. Isto deixou-lhe com mais medo, foi quase como se ele pudesse transpassar sua alma, não com sua lança, mas com suas palavras. Ela aquiesceu e vendo-se sem escolha, deitou-se encolhida sobre as pernas. As lágrimas desciam quentes e queimavam. Suspirou agradecida por finalmente estar sozinha. Era hora de chorar seus mortos.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Custo de vida

Os meus pais podem e os teus??
Pois que aqui no Brasil o dia das crianças já se avizinha, é no dia 12 deste mês. Claro que não vamos dar nada para o Fabian, mas mesmo assim não deixo de olhar os preços dos brinquedos por aqui. Fico abismada ao perceber que em Portugal com vinte euros dava para comprar um bom brinquedo e aqui com 50 reais não se compra nada de muita qualidade. Os brinquedos bons ficam na faixa dos 150/200 reais (pasmem!). E o que me intriga é que pessoas de renda mais baixa mesmo assim esforçam-se para dar os melhores brinquedos. Vejo pessoas que são modestas e postam fotos dos filhos com veículos a motor que aqui são caríssimos e invenções da última temporada. O poder de compra mede-se não só pelas roupas de marca que ostentam, mas também pelos brinquedos que podem dar aos filhos, mesmo que isto signifique se encher de carnês a 12x. 
O Fabian tinha roupas da c&a, algumas da Chicco (dos saldos), Zippy e H&M. Raramente comprei coisas da Zara porque a considerava carota. Aqui também tem Zara, mas os preços são de loja para ricos, sim ricos porque chega a ser mais de 4 vezes o valor em euros a mesma peça. Calçados costumava comprar da nike e da chicco. Bem, Chicco aqui nem ver...é coisa da elite. Nem tem na maioria dos shoppings. E os tênis que comprava por 22 euros da nike, custam em média 100 reais. Aqui há tanto imposto, mas tanto que fazem as medidas de austeridade de Passos Coelho parecerem preços da nova coleção de primavera.
ps: só para não dizerem que exagero, deixo aqui alguns sites de brinquedos e roupas/calçados infantis.


Dos avós e dos netos

Não é novidade que os avós gostam de mimar os netos. É quase que um código de honra entre eles, não se pode ver os netos chorarem, não se pode ver os netos sofrer, mesmo que se tenha que rasgar o cu, as vontades dos pequenos mandões tem de ser satisfeitas. Tudo bem, porque eu tive a minha vez e gostei de usufruir da sua proteção desmesurada. Não sou contra...os avós são para isto mesmo, para ser um oásis em meio a tantas regras e tantos nãos. Os avós são um eterno sim. O problema está quando os avós não sabem que mesmo seus poderes tem limite. Que os pais não devem interfirir na relação deles e também eles não devem nas dos pais. Isto sempre dá merda. E quando se mora com os avós e os pais na mesma casa, dá sempre mais merda. E isto exige muito mais paciência dos pais e os netos sabem disto. Por sua vez eles abusam mais dos gritos e miados. Eles fazem de tudo para enlouquecer os pais. E os avós são assim, imunes a chatice inerente às crianças, eles parecem ver só aureolas e asas, eles esqueceram de que um dia estavam eles no nosso lugar. Hoje eles são paz para os netos e guerra para os filhos. Aliás guerra esta que não terminou na nossa infância, guerra que teve uma trégua na adolescência e retomou com mais força quando nos tornamos pais. O tempo tem disto, nos força a papéis e nós como bons atores habilmente incorporamos. Agora somos os chatos do momento, os maus...até quem sabe a próxima geração. Para mim, avós são uma espécie de heróis que fracassaram. Os netos sabem disto. E os pais por sua vez, sabem muito mais...