segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Assim como são as pessoas, são as criaturas

Algumas pessoas estão de luto porque o seu candidato não ganhou as eleições. Já xingaram, espalharam a culpa pelos pobres, pelo bolsa família (que quando lhes convém reivindicam a paternidade do psdb), já compararam pessoas a porcos. Não vou fazer o mesmo com aquele ditado das pérolas, mas alguns dos discursos que li, se assemelhavam muito com o daquelas pessoas que pregam no centro, as que costumamos chamar lunáticas. Ditadura comunista? Onde? Quando? Se foi neste período em que tivemos  maior enriquecimento de grandes indústrias  e bancos com obscenos lucros? Que ditadura é esta que permite que sejamos constantemente livres para debitar desde indignações justas ao xenofobismo desnudo e livre nas redes sociais?
O Brasil precisa mudar, os brasileiros andam sedentos pela mudança e eu concordo. Mas e qual será a mudança que queremos? Diminuir a maioridade penal, acabar com o sustento de "vagabundos", acabar com as cotas nas universidades? Mais segurança para andar na rua?  Se eu contasse minha história, possivelmente se dariam conta de que eu seria a última  pessoa que pensaria em estar vivendo fora do Brasil, e muitos talvez julguem que por isto mesmo nem tenho razão de me manifestar. Mas como vivemos em uma democracia, também quero falar um pouco sobre mudança. 
Quando pensamos em uma mudança social profunda, é inevitável não pensar em ganhar menos: em salários com menos discrepâncias face ao salário mínimo, e também em pagar mais impostos. Nós  pagamos 50% de imposto e sim, é verdade que a França é um pais mais igualitário, mas também é verdade que para que assim seja, muita gente recebe benefícios do Estado. Nós  não temos direito a nada, embora tenhamos um filho, talvez só  a partir do segundo (mas isto agora não vem ao caso). O fato de pagarmos e não recebermos pode parecer injusto e eu confesso que havia um lado coxinha dentro de mim e foi preciso lutar para derrotá-lo. Garanto-vos que não foi necessário o uso da força: bastou abrir os olhos. 
Aqui as pessoas recebem auxilio moradia, ou mesmo um lugar para morar com o custo de acordo com a renda, famílias recebem abonos conforme o número  de filhos, as grávidas  recebem 900 euros para gastarem no enxoval da criança (ou no que quiserem); o governo ajuda com o pagamento de babá  ou creches (já que não existe estabelecimentos públicos voltados para a faixa de 0 a 3 anos) e finalmente, a partir da primeira série  até o final do percurso escolar estas ganham por volta de 300 euros no início  de cada ano letivo. Não é vergonha receber subsídios, é tão e só  um direito de cada cidadão que se enquadra nas exigências do sistema. É claro que entre milhões de beneficiários, sempre haverá quem use de ma fé, no entanto isto não é motivo para invalidá-lo. 
Um dia li uma crônica  sobre um emigrante na Suíça falando que justamente o que fazia sentir-se seguro ao abrir um lap top nos transportes públicos, era o fato de receber menos. Porque entre o valor que um lixeiro ganha e um engenheiro, médico ou professor não há o abismo que encontramos no Brasil. Para dar um exemplo próximo, um salário de 3000 euros na Alsácia  é considerado  alto, e tendo em conta que o salário mínimo é 1445 euros, e quanto mais alto, mais pagamos, é bem difícil  enriquecer por aqui.
 Voltando ao Brasil, a questão que se coloca é o porquê  da insistência acusatória dos que pagam as ajudas do governo através dos impostos, frente aos que recebem-nas. O problema está  em sustentar "vagabundo" ou na impossibilidade da classe média e alta de desfrutar das mesmas benesses? O problema está  na ignorância do valor irrisório do bolsa família ou na revolta por um vagaroso, porém crescente recuo da desigualdade? 
E ainda continuo sem entender como se veste de luto quem rezou tanto para o Santo Aécio nos livrar do mal da corrupção. Um santo do pau oco, um santo que possui um aeroporto ligado ao tráfico  de drogas nas terras de seu tio: uma obra de 14 milhões de reais desviados dos cofres públicos. Mas isto não interessa nada, afinal as pessoas queriam milagres e quando esperamos milagres principalmente de tais figuras políticas , abandonamos toda e qualquer lógica. 

8 comentários:

  1. Ia a passar mas gostei do que li e como quero voltar já fiquei por aqui!
    Bjs
    Maria

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  2. Olá Maria, seja bem-vinda! Fico feliz que tenhas gostado, pode entrar e não repara na bagunça heheheh!
    Beijinhos

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  3. Sabes que podia trocar os países e falar de todos os outros no mundo.
    As pessoas esquecem-se que sempre haverá quem trabalhe e quem vive à conta.
    Por cá não acho justo que quem esteja em casa receba subsídio de reinserção + ajudas da junta + ajudas de instituições e receba mais que 1000€ mês por falta de cruzamento de informação. É importante que as pessoas percebam que os políticos estão onde nós queremos, porque somos nós que os elegemos ou nos abstemos.
    Bjs

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  4. Eu entendo Nany, mas no caso do Brasil por exemplo, esta ajuda é bem pequena, tipo 70 reais por pessoa até o máximo de 200 reais por família. Ora é difícil acreditar que alguém passe o mês com este valor, é apenas uma ajuda e não um sustento. Ao contrario do que o ze povinho pensa, a maioria das pessoas que recebem o bolsa trabalham.
    Enfim, mas há quem só consiga acreditar em sensacionalismos...
    beijinhos

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  5. Nossa, gostei muito de seus comentários. As redes sociais estão cheias de preconceitos. Pior, não sabem que outros países os governos também oferecem benefícios e não acreditam em mim por que nunca morei fora do Brasil, isto é, não tenho autoridade para fala sobre o que há lá fora, né? Esquecem que ler também é viajar...

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  6. Parabéns pelo ótimo e sensato texto. Grande parte do povo brasileiro ainda precisa evoluir muito, para se sensibilizar com seu semelhante.Sou gaúcha e aqui no Rio Grande do Sul a coisa é um bocado pior...Estou dando um tempo no Facebook, mas gostaria de postar teu texto.
    Super abraço!

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  7. Mulher Moderna, tens razão, se informar é enriquecer pontos de vista, mas infelizmente o que o pessoal quer é achar um culpado pra tudo, se duvidar até a unha encravada que tem é culpa do pt. Esta gente me dá preguiça! E nem são pessoas que tem pouca instrução, mas gente que estudou comigo, que fez faculdade, gente supostamente com mais oportunidades de crescimento, estas é que me dão revertério...
    Beijinhos e continue assim!

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  8. Olá anonima! Sou gaúcha também, tamu junto! Lol
    Fiquei pasma com o que li nestes últimos dias, coisas horríveis! Eu como emigrante sei o que é passar por todo este preconceito evou dizer, é muito dolorido. ..
    Esteja à vontace para partilhar, aliás, eu coloquei aqui no blog, mas escrevi mesmo pensando lá e partilhei no meu face.
    Bejinhos

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