Hoje quero mentir que os meus olhos vermelhos são fruto da tinta do cabelo que escorreu-me marrom pelo corpo. Que a água quente lavou as picuinhas que um dia tivemos, deixando um borrão de sorriso no lugar dos beiços tremidos. Hoje quero lembrar da mulher que considerei no alto dos meus quatro anos a mais bonita do mundo. Quero lembrar das nossas risadas soltas, das unhas dos pés (e das mãos) que não confiava a mais ninguém senão a ti. Hoje queria fingir que nunca existiu este hiato que nos afastou e que engolir a besta do meu orgulho foi a melhor coisa que fiz. Hoje queria não ficar imaginando a hora em que contarem para eles aquelas historias sobre o papai do céu. Hoje mais uma vez estou longe, longe demais, longe do alcance de um cafuné e um beijo de despedida. Hoje quero mandar à merda esta maldição que me faz prever o futuro...caramba, puta que pariu... eu não queria estar certa, eu queria que tu ficasses, tia.
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