Parecia uma turbina de avião aquela hora da madrugada, mas eu sabia que era só o caminhão do lixo. O motorista mexe em uns botões, o colega desce e encaixa a lixeira do prédio. A máquina agarra, depois levanta e depois retorna ao chão. Nenhum barulho além do motor do caminhão. Nada de "êeee" e "ôooooo" dos homens. Lembro de quando o caminhão laranja do DMLU passava naquela rua, vinham em três, às vezes quatro e de luvas nas mãos. Sempre paravam para pegar o nosso lixo que sabiam vir acompanhado de frutas que o meu padrasto separava para o lanche. De vez em quando chovia muito, e ele se embaraçava nas próprias pernas, ou esquecia de pôr lá fora. Mesmo assim, eles batiam na campainha, sempre sorrindo, "bom dia!", carregavam o lixo e o lanche e êeeee que a caçamba fedida do caminhão nem sempre esperava.
Lá era durante o dia bem cedo. Lá a gente enrolava milhares de jornais para ninguém cortar o dedo. Lá sempre que estava calor demais ou quando o mundo desabava, sentia uma mistura de dó e admiração por quem fazia este trabalho. Alguém tem de fazê-lo, pois a cidade não pode viver em meio ao lixo, então alguém tem de viver. Aqui o caminhão foi embora e só restou os roncos do marido.
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