terça-feira, 24 de novembro de 2015

Figuraça

Estava arrumando as luvas de volta na sacola quando fui interpelada por ela. De salto alto, as pernas finas metidas dentro de uma legging preta, e a legging por sua vez, metida em um short jeans muito curto (e com a bainha dobrada). Dizia ela que a pouco quase havia atropelado um ciclista na rótula e que uffff (barulhos com a boca, tão importantes quanto os biquinhos feitos na hora certa) este também não tinha visto nada. Ô lá lá. Pfffff. E eu respondi escondendo meu Bah na bolsa, junto com as luvas. Aqui ele não significa nada. Ô...lá lá. Pffff. Levantei a cabeça, ela de cabelos curtos e brancos, óculos grossos, diria tranquilamente que virava a curva dos oitenta e ri-me por dentro. Ri do fato de ser considerada (e às vezes  sentir-me) passada, ui, "mulher madura" e balzaca com meus trinta chegando ao fim em janeiro. Lembrei que as "novinhas" que pipocam nas letras de músicas são gurias de 15 até 20 anos e que eu já não sou jovem para o Brasil há algum tempo. Mas juventude é um conceito tão relativo que se eu dissesse  para ela ou qualquer francês que me sinto meio velhota, tenho certeza que falariam  "c'est bizarre ça". E talvez acompanhado de uma porção de ufff, afinal ainda ontem deixei as fraldas e aqui pelo menos no sul, paraíso dos aposentados, a vida começa aos sessenta. Ainda tenho mais trinta anos até chegar na envelhescência, ufa...

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