quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sou muito crua, eu sei

Não consigo esconder o nojo que sinto do pensamento de que "cabe sempre mais um", de que "tudo se arranja com fé em Deus", "é só mais uma boca para alimentar", como se as coisas fossem tão simples quanto pousar mais um prato na mesa.  Vai ver eu deixo as fantasias para as novelas mesmo, a vida eu enxergo com muito pouco cor-de-rosa.
Quando pensei em ter um filho nunca imaginei o quanto isto me custaria, qual seria a parcela do casamento que ficaria por pagar nem por quanto tempo estaria no spc do amor. Também não pensava no quinhão de identidade que me seria usurpado nem se algum dia eu reconstruiria meus pedaços. Quando eu pensei em ter um filho, já pensei em tê-lo longe da família, minha rede de apoio era pequena, porém hoje é inexistente. Quando pensei em ser mãe, não pensei nas voltas que o mundo daria, nas voltas que eu daria até ter de novo um lugar para morar. Não pensei em estarmos só eu e ele, o marido a quilômetros de distância, nem na solidão que se tornaria a minha vida. Porque ser mãe não preenche todos os meus espaços, não me fez virar uma pessoa melhor, uma heroína montada num unicórnio (saudades She-ra...). Ser mãe me fez ficar mais crítica com esta parcela que acha que ter filho é tudo de bom e que quanto mais crianças tiver, mais feliz a mãe é. Mesmo que não tenha a mínima condição para criá-los.
E eu não estou falando dos pobres miseráveis, falo de gente de classe média mesmo, ter condição de criar não é só ter dinheiro para uma creche top e dinheiro para babá ao fim-de-semana. 
É verdade que não se põe todas as possibilidades em jogo quando se coloca alguém no mundo. Ninguém pensa que pode perder o emprego, mudar de país, mudar de vida, perder amigos. Ninguém pensa que pode morrer e deixar o filho com um pai maluco que dá banho gelado nas crianças, que é mau, bruto e negligente. Porra, e me dá ainda mais raiva e impotência saber que isto acontece na minha família...

2 comentários:

  1. É um daqueles mistérios, não saber o dia de amanhã. A vida seria mais fácil se assim fosse, mas não é, apenas nos resta fazer o melhor com aquilo que temos.
    E condições para criar um filho não são as monetária. Não sou estúpida que não saiba que as mesmas são importantes, ams as condições são de: tempo, disponibilidade física e mental, sacrifício (sim, sacrifício porque é a mãe que faz aquilo que tem de ser feito), educação.
    Se tudo fosse assim tão fácil, não sei porqeu tanto falam das dificuldades. Cada família sabe de si, cada casal sabe de si e filhos é algo demasiado pessoal para ser medido apenas em termos monetários.
    bjks

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  2. Minha vida foi dividida entre antes da minha filha nascer e depois de ser mãe. Antes eu tinha uma identidade, era uma excelente profissional, tinha um casamento. Hoje sou apenas mãe, Ponto! Se com apenas uma filha, minha vida profissional está deixada de lado, meu casamento está uma merda e não tenho tempo nem de me olhar no espelho, imagina o que pode acontecer se tiver outros.

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