Das coisas que mais me irritam na vida, é quando coloco expectativas sobre alguém ou alguma coisa e não dá nada certo. E me pergunto: é possível viver sem expectativas? Imagine acordar de manhã a sonhar com um lindo dia de sol e abrir a janela e ver tudo cinza. Ok, você pensa, pelo menos não chove. Aí você que já faz uma dieta há quase 15 dias, cisma que a calça tal tem que entrar nas suas pernas hoje. Mas ela não entra ou entra e não fecha, ou fecha e deixa uma borda de pizza para fora. Redondinha. Tudo bem, respira, calma. Vou por uma legging!
Aí você sai de casa, lembra do horário do trem e apressa o passo. Começa a chover. Você esqueceu o guarda-chuva. Entra no trem e subitamente a chuva suaviza. Senta-se na contra-marcha, à espera de ir sozinha até a estação final. Mas o trem enche e logo alguém se abanca. Se for gordo, a empurra com a bunda, se for magro, abre as pernas para ler o jornal. Que mania de abrir as pernas! Uhh!
Aí você sai. Entra no metrô. Pi pi pi. A porta fechando e alguém põe uma pasta para entrar. Depois vem mais 4 pessoas atrás. Pi pi pi. Você revira os olhos. Está lá como um atum na lata, em pé. Alguém tosse na sua direção. Puta que pariu, vou pegar uma gripe, você pensa. Está na hora de descer. Há sempre alguém na frente da porta que não vai descer naquela estação, mas dali a 3, que permanece atrapalhando e não dá licença quando a porta abre. Tudo bem, porque você ainda vai ter de passar pelo paredão de gente amontoado na plataforma. Eles simplesmente são como bois, não sabem que não podem entrar se você não sair.
E finalmente consegue empurrar algumas cabeças de gado e respirar o ar puro novamente. Só que voltou a chover forte. E você que estava secando os pés até o joelho, vai se molhar de novo.
Aí você tenta se proteger com a bolsa. Ao menos alguns fios de cabelo permanecerão secos. Mas você não pode evitar de ficar com cara de louca que saiu do hospício quando adentra o seu local de trabalho ou de estudo, enfim.
Ou então, imagine: uma festa de final de ano. A família reunida na sua casa. Ah e você detesta fazer qualquer coisa na sua casa. Você passa o aspirador, o pano no chão. Põe a melhor louça, a melhor toalha. Leva o cão 2 vezes na rua antes dos convidados chegarem à espera de que não dê nenhum "acidente". Dá banho no filho, arruma-lhe o cabelo. Escolhe a roupa do marido, para se certificar que não use aquele jeans desbotado, de bolsos rotos. Vê o forno, espera que esteja bom de sal, que não resseque, que não queime. A campainha toca. O cão ladra vigorosamente. Cala a boca, pshhiuuu de nada adiantam. O filho quer puxar a toalha. Tem que abrir a porta e segurá-lo pelo colarinho ao mesmo tempo. Chegam os pais. Chegam os irmãos. Ah tem aquela cunhada que sempre se atrasa e faz com que esperem uma hora e vinte para servirem o peru. Nisto o arroz queima. Não tem importância, há sempre quem goste da rapinha. Mas o peru seca. A sua mãe diz que se tivesse seguido beeem a receita dela, nada disto tinha acontecido. E você ouve, enquanto observa o chichi do cachorro no chão. Mal dá tempo de buscar papel e o sobrinho já pisou e levou-o por toda a sala. Depois, o filho mexe nas bolas da árvore e quebra uma. Lá vai você limpar o chão e pedir ao marido uma assistência com a pazinha para os cacos. E você senta finalmente. Todos sentam. Servem-se. Bebem. Principalmente os homens. A conversa fica chata e ninguém elogia a comida. E se elogiassem você acharia que era por pena. Faltou sal na batata. O peru está frio. As crianças servem um prato cheio e deixam tudo à espera da sobremesa. Comem e bebem mais. Você sai para buscar o bolo, o sorvete. Comem mais. E depois vão indo embora, deixando a casa cheia de marcas de sapato no chão, guardanapos por tudo, almofadas caídas, garrafas e copos manchando a toalha de rubro. E você achou que ia ser uma noite linda. Ninguém reparou no seu vestido, até porque você estava de avental quando chegaram e esquecera de tirar durante o jantar. E você achou que ia ser tudo perfeito.
Agora me pergunto, como seria viver sem expectativas? Apenas esperar e aceitar o que viesse, de bom ou de ruim? Sofreria menos talvez. Mas acho tão complicado por em prática... Quando temos expectativa, temos como que um enredo na nossa cabeça. Aquela pessoa é assim, ou ela vai agir assado. E quando não acertamos, o que é quase sempre, vem a frustração. E talvez a raiva. É como uma criança, achando que vai ganhar tal brinquedo no aniversário. Lembro de ter convidado um casal para ser padrinho do Fabian. Até falei disto na época. Pensei que eles iam fazer parte da vida do meu filho como se fossem tios, que quisessem saber dele, perguntassem por ele de vez em quando, solicitassem sua presença, acompanhassem suas conquistas. Mas não, não estão nem aí nem aqui. Convivem quando os convidamos ou eles nos convidam para algum jantar e é só. Fiquei triste e com raiva. Tive tão bons padrinhos que quis fazer o mesmo com o Fabian, mas não deu certo. Por outro lado, se só os convidasse e não tivesse expectativa, talvez o que eles me dessem ou dessem ao meu filho seria suficiente. E não sofreria (tanto). Pode ser que se não tiver tantas expectativas com a vida, ela me dê o suficiente. O suficiente para aprender a ser feliz.
Aí você sai de casa, lembra do horário do trem e apressa o passo. Começa a chover. Você esqueceu o guarda-chuva. Entra no trem e subitamente a chuva suaviza. Senta-se na contra-marcha, à espera de ir sozinha até a estação final. Mas o trem enche e logo alguém se abanca. Se for gordo, a empurra com a bunda, se for magro, abre as pernas para ler o jornal. Que mania de abrir as pernas! Uhh!
Aí você sai. Entra no metrô. Pi pi pi. A porta fechando e alguém põe uma pasta para entrar. Depois vem mais 4 pessoas atrás. Pi pi pi. Você revira os olhos. Está lá como um atum na lata, em pé. Alguém tosse na sua direção. Puta que pariu, vou pegar uma gripe, você pensa. Está na hora de descer. Há sempre alguém na frente da porta que não vai descer naquela estação, mas dali a 3, que permanece atrapalhando e não dá licença quando a porta abre. Tudo bem, porque você ainda vai ter de passar pelo paredão de gente amontoado na plataforma. Eles simplesmente são como bois, não sabem que não podem entrar se você não sair.
E finalmente consegue empurrar algumas cabeças de gado e respirar o ar puro novamente. Só que voltou a chover forte. E você que estava secando os pés até o joelho, vai se molhar de novo.
Aí você tenta se proteger com a bolsa. Ao menos alguns fios de cabelo permanecerão secos. Mas você não pode evitar de ficar com cara de louca que saiu do hospício quando adentra o seu local de trabalho ou de estudo, enfim.
Ou então, imagine: uma festa de final de ano. A família reunida na sua casa. Ah e você detesta fazer qualquer coisa na sua casa. Você passa o aspirador, o pano no chão. Põe a melhor louça, a melhor toalha. Leva o cão 2 vezes na rua antes dos convidados chegarem à espera de que não dê nenhum "acidente". Dá banho no filho, arruma-lhe o cabelo. Escolhe a roupa do marido, para se certificar que não use aquele jeans desbotado, de bolsos rotos. Vê o forno, espera que esteja bom de sal, que não resseque, que não queime. A campainha toca. O cão ladra vigorosamente. Cala a boca, pshhiuuu de nada adiantam. O filho quer puxar a toalha. Tem que abrir a porta e segurá-lo pelo colarinho ao mesmo tempo. Chegam os pais. Chegam os irmãos. Ah tem aquela cunhada que sempre se atrasa e faz com que esperem uma hora e vinte para servirem o peru. Nisto o arroz queima. Não tem importância, há sempre quem goste da rapinha. Mas o peru seca. A sua mãe diz que se tivesse seguido beeem a receita dela, nada disto tinha acontecido. E você ouve, enquanto observa o chichi do cachorro no chão. Mal dá tempo de buscar papel e o sobrinho já pisou e levou-o por toda a sala. Depois, o filho mexe nas bolas da árvore e quebra uma. Lá vai você limpar o chão e pedir ao marido uma assistência com a pazinha para os cacos. E você senta finalmente. Todos sentam. Servem-se. Bebem. Principalmente os homens. A conversa fica chata e ninguém elogia a comida. E se elogiassem você acharia que era por pena. Faltou sal na batata. O peru está frio. As crianças servem um prato cheio e deixam tudo à espera da sobremesa. Comem e bebem mais. Você sai para buscar o bolo, o sorvete. Comem mais. E depois vão indo embora, deixando a casa cheia de marcas de sapato no chão, guardanapos por tudo, almofadas caídas, garrafas e copos manchando a toalha de rubro. E você achou que ia ser uma noite linda. Ninguém reparou no seu vestido, até porque você estava de avental quando chegaram e esquecera de tirar durante o jantar. E você achou que ia ser tudo perfeito.
Agora me pergunto, como seria viver sem expectativas? Apenas esperar e aceitar o que viesse, de bom ou de ruim? Sofreria menos talvez. Mas acho tão complicado por em prática... Quando temos expectativa, temos como que um enredo na nossa cabeça. Aquela pessoa é assim, ou ela vai agir assado. E quando não acertamos, o que é quase sempre, vem a frustração. E talvez a raiva. É como uma criança, achando que vai ganhar tal brinquedo no aniversário. Lembro de ter convidado um casal para ser padrinho do Fabian. Até falei disto na época. Pensei que eles iam fazer parte da vida do meu filho como se fossem tios, que quisessem saber dele, perguntassem por ele de vez em quando, solicitassem sua presença, acompanhassem suas conquistas. Mas não, não estão nem aí nem aqui. Convivem quando os convidamos ou eles nos convidam para algum jantar e é só. Fiquei triste e com raiva. Tive tão bons padrinhos que quis fazer o mesmo com o Fabian, mas não deu certo. Por outro lado, se só os convidasse e não tivesse expectativa, talvez o que eles me dessem ou dessem ao meu filho seria suficiente. E não sofreria (tanto). Pode ser que se não tiver tantas expectativas com a vida, ela me dê o suficiente. O suficiente para aprender a ser feliz.
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