domingo, 25 de setembro de 2011

O mito do filho único


É em todo lugar, há sempre alguém que diz: meu filho não pode ser filho único senão vai crescer egoísta, mimado, infeliz. Não vai ter com quem partilhar as coisas boas e ruins, se sentirá sozinho e não irá aprender desde cedo os valores de amizade e cumplicidade fraterna que por este nome já diz, só os irmãos podem ter.
Sinceramente, só quem teve irmãos pode saber como foi e só quem não tem pode dizer como é. O que eu sei sobre o outro lado é tudo o que me disseram, assim como o que os que tem irmãos sabem sobre ser filho único é apenas o que ouviram de alguém. Eu poderia desta forma, dizer o que me falaram por todos estes anos. De como me invejavam por ter os brinquedos incólumes, ter o meu próprio quarto, meu espaço, minhas roupas só para mim. Poder ter silêncio quando preciso, poder acordar a hora que quiser no fim de semana. E para mim foi realmente muito bom. Nunca me senti sozinha, aliás, a solidão nunca foi uma inimiga. Talvez por isto, ela me tenha passado ao lado, pois estar sozinho faz parte da vida. E ter irmãos não lhes tira isto.
Acho que as pessoas são muito dicotômicas: ser filho único é ruim. Ter irmãos é bom. Já pensei o contrário e já tive minha parte de dicotomia. Mas agora vejo que a vida é relativa. Nada garante que tendo 5 irmãos, não estarás sozinho na morte dos teus pais. Isto porque até hoje nunca vi uma família que não ruísse face a uma divisão de herança. Ter irmãos também não vai te garantir uma amizade profunda. Podes não ter nada em comum com ele(s) e assim que cada um fizer a sua vida, quem sabe, só se encontrem em ocasiões especiais. Ter irmãos não vai te fazer uma pessoa melhor. Pode contribuir, mas de maneira nenhuma, por seres obrigado quando pequeno a dividir as coisas, quer dizer que quando conseguires pelos próprios meios o teu sustento, vais agir assim com outras pessoas.
Acredito que há na humanidade um certo quê de se precaver no futuro. Algo como se eu tiver muitos filhos ou pelo menos mais que um, não corro o risco de ficar tão só na velhice. Pelo menos um deles deve ficar por perto (e cuidar de mim). Ou talvez, pensem inconscientemente no medo que é perder o único filho e, se de modo nenhum um filho substitui outro, no entanto, a dor seria mais tênue. Compreendo também aqueles que querem ter mais filhos, 2, 3 e até 4. É natural. Na época em que não havia anticoncepcionais era mesmo isto. Uma mãe nunca ficava muito tempo sem um filho nos seios. Acho que deve ser o nosso instinto falando. Pode ser. E para estas pessoas não soa bem quando alguém só quer um filho.
É verdade que hoje temos a escolha nas nossas mãos, se queremos um, muitos, ou nenhum descendente. Também é verdade que nestas horas é a mulher quem mais "puxa" o marido para esta decisão. A ex-mulher do meu marido quis ter 5 (e teve). E ele tratou de fazer vasectomia (graças a Deus) e é pai apenas de 2 filhos dela. E também é verdade que esta mesma decisão envolve nossa percepção de como foi a infância com ou sem irmãos. E como ninguém quer o pior para o seu filho, creio que seja este fator que mais pesa, ao invés do financeiro.
Antigamente, tudo se criava. Meu marido tem 3 irmãos e se criou muito bem, com muitas dificuldades financeiras no início. Porém naquela época não existia cursinho de inglês, video-game, celulares, tênis nike e todas estas baboseiras inúteis ou não, que mais cedo ou mais tarde acabam fazendo parte do orçamento familiar. Hoje em dia, o "tudo se cria" não é mais realidade. Ainda mais se os pais querem dar um bom suporte educacional e cultural para esta criança e prepará-la para ser um adulto com as competências que o mercado de trabalho exige. Pois o que se cria, dificilmente terá as mesmas chances de fazer um curso de inglês no exterior, ter acesso a livros, professores particulares (se preciso), viagens, etc. E o mais provável é o que se cria ficar na casa dos pais até os 30, vivendo de um sub-emprego. De maneira nenhuma quero ser preconceituosa, porém quem lê e está informado da atual situação econômica, sabe do que falo. Hoje isto é cada vez mais comum, o que não quer dizer que não haja exceções.
Voltando ao assunto do filho único, respeito a forma das pessoas de imaginarem uma novela das 8 para os seus filhos, com direito a brigas e reconciliações, pois o que vale é o amor, não é mesmo? Que direito tenho eu de criticar? Ou de não deixar que sonhem com isto? Sonho é para isto mesmo, neste caso, fantasiar o melhor para ele (s). Agora, só não me venham dizer que a vida de filho único é um pesadelo, porque não é. É apenas uma história em que o escritor tem que ter um pouquinho mais de imaginação.


2 comentários:

  1. Eu sou filha única e confesso que solidão nunca senti, talvez falta de alguém com quem brincar mas não me lembro até porque a imaginação falava bem alto. Hoje posso dizer que sinto falta de um irmão ás vezes, alguém com quem compartilhar coisas (mas para isso também temos amigos) e sobretudo porque sou filha única e como a minha ma~e está sozinha vive única e exclusivamente para mim o que não é bom para nenhuma das duas.
    Mas o filho único não é infeliz, nem o que tem irmãos é feliz. A felicidade é feita de tantas outras coisas.
    Bjs

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  2. Eu sou filha única e confesso que sofro bastante com isso... é um desejo que tenho desde pequena e custa muito não puder ouvir alguém chamar-me " mana", sentir um beijinho na testa de vez em quando..... ter alguém com quem me aborrecer...
    Eu não digo que ter irmãos faça de uma pessoa feliz... mas tenho a certeza que no meu caso em concreto, ter um irmão fazia de mim a pessoa mais feliz... porque eu amava ter um irmão, coisa que Deus nunca me deu :(

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