sexta-feira, 25 de julho de 2014

"Depois de um tempo ele vai perceber que todas as guerras são a mesma guerra"

Nunca me importei com os conflitos da faixa de Gaza e não é por ter feito História que toda e qualquer história me interesse. No entanto, esta semana vi um vídeo no facebook de um homem segurando pelos cabelos, a cabeça sem corpo de um menino que aparentava ter a idade do meu filho. O homem o qual só se via a mão, continuava a sacudi-la e com ela um pouco de um tecido ralo do que antes fora uma camiseta vermelha. Os olhos sem vida do menino me varreram a noite assim como os restos do que um dia fora um ser humano. Não consegui dormir. 
Quando começaram timidamente reportagens e protestos virtuais contra a ofensiva israelita, rapidamente lembrei-me da sobrinha da vizinha da minha madrinha (pode parecer aquelas histórias inventadas, mas por acaso não é). A mulher muito magra e de cabelos curtos era a típica emigrante que come merda e arrota caviar. Ficou horas a falar na sala da minha dinda sobre o quanto Israel era bom, como era tudo mais desenvolvido e como aqueles piercings e anéis de orelha com brincos (era a febre da Jade e da novela da Glória Perez) já se usava lá há muito tempo. No meio daquela tagarelice toda estava a jovem obesa e muito tímida, Shirrah. Escondia-se nos olhos azuis e cabelos loiros, soltando alguns monosílabos e poucas frases articuladas em inglês. A mulher tinha muito orgulho da filha que no ano seguinte iria completar 16  e assim servir por dois anos no exército. Já a mãe,  fora uma "aborrecente" revoltada a quem nada estava bom, foi em última medida de reabilitação mandada para um kibutz, lugar este em que teve de aprender a viver em comunidade, a repartir, a trabalhar se quisesse comer, e lugar também onde desertou de todos os luxos que a família brasileira lhe ofereceu. 
E ao relatar para o marido este episódio caricato, voamos para a segunda guerra e até antes, para a raiva de Hitler. Para além deste ter se apaixonado por uma judia na sua mocidade  e ela não lhe ter ligado nenhuma, seu ódio pelos judeus não era infundado de todo. O problema foi tê-lo desfocado. O problema na verdade da Alemanha quebrada pelos tratados da primeira guerra, pelo sofrimento do povo, não foram os judeus, mas os ricos e os ricos eram em sua maioria judeus. Ao avançar em histeria coletiva contra estes, os "culpados" na versão obtusa do ditador,  fugiram entre outros países principalmente para os Eua (muitos deles são hoje donos de bancos e impérios familiares). País que não por coincidência é o único a votar contra o cessar fogo de Israel. Além de lucrar imensamente com o comércio de armas, diga-se de passagem. 
O conflito de Gaza é uma guerra étnico-político-religiosa. Alguém disse por aí que não é verdade que viveram sempre em guerra, houve períodos de paz, eu acho é que houve períodos de entre guerra pois são séculos a mais de hostilidades para chamarmos aquilo de paz. Às vezes eu penso, mas cumé que pode um pedaço tão pequeno de terra dar tanto rebuliço, uma terra que não é rica, não tem petróleo nem nada. E por outro lado, como é que um Deus pode ser tão sacana em prometer uma terra já ocupada? Ou como este Deus já escolheu o seu lado desde aquela época? Ou porque as pessoas gostam de viver vizinhas da morte por um pouco de orgulho, de mar, de crença, ou de ódio por tantos e tantos séculos? À propósito, será que a Shirrah seguiu carreira no exército? Será que ela tem facebook? Queria mandar um vídeo para ela...


*Citação meio de cabeça de O Tempo e o Vento, Erico Verissimo.

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