terça-feira, 25 de novembro de 2014

Há emigrantes e emigrantes

Ouvindo a minha vó contar sobre uma amiga portuguesa da época obviamente de quando minha tia vivia em Portugal, quase fiz aquele suspiro de pesar. Oh, coitada, vai ter de sair do país dela e tudo...sei como é! Mas a vó continuou dizendo que ela já estava morando no Rio e que inclusive estava aos poucos se instalando em um apartamento...no Leblon. 



Poker face do outro lado da linha, mas a vó não percebeu. Depois de um longo silêncio, ainda disse embasbacada: tem certeza vó, só no Leblon?!" Só" o cenário preferido das novelas do Manuel Carlos em que uma Helena desfila num doce balanço a caminho do mar? Tá bem então! Parece que o marido dela vem como um dos diretores da Oi, empresa de telefonia brasileira...

                                                                     ***
Ontem estava acompanhando uma discussão em um fórum de brasileiros em que uma mulher casada com um francês estava sofrendo muito com a proposta que tinham feito ao marido. Acontece que ele é diretor de uma empresa que implantou uma sede no Brasil (diz que por ideia do próprio) e agora lhe ofereciam a oportunidade de gerí-la por três anos. Três anos em que pagariam um salário maravilhoso, manteriam o alto padrão de vida ajustado aos custos da cidade de São Paulo que é caríssima, pagariam escola para suas filhas. Mas não uma escola qualquer, e sim a melhor escola da cidade, arriscaria dizer do país, uma internacional com ensino em francês além de inglês. E não satisfeita, a mulher torcia para que o marido se desse mal com os futuros colegas e detestasse viver no Brasil, pois ele poderia voltar a qualquer momento e reocupar o cargo deixado na França.
Quisera eu ter sido um destes tipos de emigrantes, aos quais é reservado o direito de reclamar das banalidades da vida, e olha que até me considero bem sortuda. Nunca passei fome nem precisei enveredar pela chamada vida fácil que de fácil não tem nada. Já dizia Zeca Pagodinho "na vida coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia". 

2 comentários:

  1. Também preferia ser esse tipo de emigrante, o que oferece uma mão de obra especializada e muito desejada, pois isso significa que as condições de trabalho e de vida vão de acordo com esse padrão. Os que emigram para ocupar cargos de direcção ou são diplomatas e têm famílias são esse tipo de emigrantes. Não acho que têm tudo "na boa" e é sempre uma decisão difícil a se tomar - a de mudar toda uma vida para outro país e criar filhos assim. Mas desde que o mundo é mundo que os que arriscam são os que petiscam. Essa emigrante que falas é francesa, se calhar muito apegada ao seu país. Provavelmente assim que chegar não vai querer outra coisa! Mas por enquanto ainda não o sabe e teme. Eu também temeria, por meus filhos, porque para se viver "bem" no Brasil tenho a impressão que é preciso viver um tanto protegido e isolado, mesmo num mundo à parte de outro. A violência é tremenda e o que não falta são casos de raptos de crianças. Não é como na argentina e países do género, em que isso se tornou o "prato do dia" e é uma preocupação real, muito real, de pais de filhos com cargos importantes e dinheiro no banco, que só podem circular em carro blindado com segurança armado. Mas está "lá", também existe esse género de violência no Brasil. Tudo é um risco, porém pode ser um risco calculado.

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  2. Olá Portuguesinha! Ela é brasileira casada com francês mesmo. E quanto a mão de obra, meu marido também foi com a sua profissão, mas claro que não teve um salário nem perto deste padrão de vida. Eu só acho que comparando com pessoas que ralaram dia e noite, ficaram desempregadas, despidas muitas vezes de sua dignidade, é mesquinho reclamar de sua situação de emigrante. Para não dizer outra coisa.
    Beijinhos

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