segunda-feira, 3 de setembro de 2012

E porque estou perto dos trinta...

Tenho pensado um pouco sobre isto. Voltei a conviver com a minha vó, viúva há quatro anos. Pois e não é que a minha vó que é super antenada e tem até facebook, arrumou namorado pela internet e agora anda a passar mensagens e receber telefonemas como se fosse uma adolescente? Eu gosto disto. Acho que a vida é assim mesmo, bola pra frente que atrás vem gente. Mas ela tratou de todo assunto com o maior dos cuidados com os filhos, porque tinha medo da reação deles e porque muitas das vezes tinha até medo da própria reação diante de um novo relacionamento. 
Vamos combinar que envelhecer não é a melhor das coisas neste mundo. Envelhecer deixa-nos frágeis, dependentes de atenção porque os amigos que partilhavam da mesma época vão morrendo e aos poucos, não sobra-nos nenhum confidente. E porque os filhos tem sempre a sua vida, e porque os netos já não aparecem regularmente, às vezes só quando querem alguma coisa, e porque as pernas e as costas já doem tanto que um simples passeio transforma-se numa competição de iron man. E porque as pessoas de repente não tem mais paciência para as suas histórias que provavelmente já ouviram mais que uma dúzia de vezes. E porque muitas vezes fica-se apenas com as fotografias e os causos e conta-se e fala-se sozinho ou deixa-se a tv ligada para calar o silêncio pesado de uma casa vazia. E porque olhamo-nos no espelho e de repente passaram-se décadas. E uma ruga aqui que não estava ali e um papo, uma pele caída. E celulites. E seios caídos ou barriga ou ambos. E desejo, não temos mais desejo porque o desejo foi feito para gente jovem. E até a natureza sabe disto. E se quisermos muito, procuramos hormônios e lubrificantes, mas se não tivermos aquele amor do nosso lado de que vale? 
E sentimo-nos sós como nunca havíamos estado. Porque vemos que somos os mais velhos da família e muito provavelmente logo não estaremos mais aqui. E isto traz um misto de alívio e medo. Porque as pessoas tem medo da morte. As pessoas tem medo de "não-ser". E de serem esquecidas. Medo da morte física, mas principalmente medo da morte no coração e pensamento daqueles que amam. Sentir antecipadamente que seu nome sairá cada vez menos nas conversas dos filhos, dos netos e que provavelmente o bisneto que ache ao acaso uma foto sua não saberá de quem se trata, de quem foi e para que viveu. As pessoas tem medo do tempo que lhes resta. Se estão a aproveitá-lo bem, tem medo de serem um fardo. Tem medo de incomodarem com as suas limitações, com as suas manias e talvez com as suas demências. Isto porque velho plenamente feliz é só para comerciais de vitaminas e margarina para baixar colesterol. A vida não é assim. A vida constantemente te faz lembrar disto e não da melhor forma. Já não consegues mais por os sapatos, depois já não consegues mais fazer isto ou aquilo que dantes tão simples, agora precisa de mais tempo, mais força ou de ser feito pelos outros. 
Dizem que envelhecer traz sabedoria. Porque a beleza física abandonou o corpo, deixando um vazio a ser preenchido com coisas que não sabemos bem ao certo. E aos poucos as pessoas vão tendo mais paciência para esperar os domingos em que alguém vem tomar café com elas. E vão valorizando mais um raio de sol porque suas juntas doem menos no calor que no frio. E vão sorrir quando verem um beija-flor porque alguém veio lhe dar bom dia. E vão chorar quando verem um filme ou quando ouvirem o sorriso de uma criança e vão fazer as pazes com o passado. E assim devagarinho, vão se tornando o que sempre foram, mas que a obrigação de ter tempo para tudo não deixou que aprendessem a conviver consigo.

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