Ele colocava as compras sobre a esteira em um balé de mãos delicadas. Agarrava, tirava, olhava timidamente para a senhora da caixa em busca de aprovação. Ou não. Era calvo e muito magro, suas roupas eram tão ajustadas que imagino que exista uma loja só para este tipo de corpo fora do padrão. Que aliás, aqui na França nem é tão fora assim, pois nunca vi tanta gente magra por metro cúbico.
Eu e o marido olhávamos com a ânsia característica do cliente a seguir, mas ele não se importava. Pagou, sorriu e agradeceu em um tempo só dele, como se estivéssemos em universos paralelos. Dessincronizados.
Na verdade não querendo tecer um estereótipo, mas apenas baseando-me pelo meu sentido de observação, aquele homem que estava a nossa frente na fila do mercado, é um exemplo clássico do que parece representar o que chamaríamos de "homem francês". Frágeis de aparência, magros, altos na mesma proporção de timidez, ou seria polidez? Eu não sei, mas intriga-me este jeito quiçá afeminado se comparado ao "macho latino", impetuoso, que flerta, que olha, que anda com passos seguros de si. Não, o homem francês não olha para as mulheres, neste tempo todo nunca vi nenhum desviar o olhar para uma mulher bonita, muito menos virar o pescoço. Se a Cláudia Schiffer ou qualquer outro mulherão passasse por aqui, ia estranhar a indiferença e possivelmente ficar um tiquinho deprimida. Acho que o quadro se torna ainda mais contrastante se analisarmos os franceses perante a maior fatia de imigrantes, os árabes.
No filme Benvienue chez les Ch'tis, na última cena, o personagem principal chora sem cerimônia agarrado a outro homem que por sua vez também chora. É uma despedida. Na nossa cultura é compreensível (cada vez mais) que um homem chore, mas diante de certos momentos de dor como em face à morte e principalmente diante das pessoas "certas". A mulher, os pais, os irmãos e pouco menos. É engraçado ver o nosso estranhamento diante daquela cena que reflete uma ausência daquela sacudidela de pó tão característica do homem brasileiro. Do "alto lá, sou homem!", e um desconcertante tapinha nas costas, muito másculo para não comprometer. As lágrimas, eles engolem, na maioria das vezes, à medida que olham para o lado buscando desentupir aquele nó que se instalou na garganta. Naquela cena, dois homens franceses heterossexuais se abraçam e choram sem medo, sem culpa. Estariam eles tão seguros de sua masculinidade a ponto de pensarem que não precisam de provar nada a ninguém? E desta feita veio-me a imagem e o pensamento preconceituoso, é certo, com que encarei pelas primeiras vezes o homem francês. Aquela aparente fragilidade esconde uma coragem que muitos homens brasileiros (e quem diz brasileiros diz qualquer outro macho latino) não têm...
E pensar que o crescente feminismo na França está acabando com os homens...
ResponderExcluirOlá seja bem-vinda ao blog!
ResponderExcluirNão é tão mau quanto parece, estas foram as minhas primeiras impressões e de fato me chocaram. Mas hoje vejo com outros olhos, sinto-me respeitada, não ouço coisas nojentas na rua e outra coisa interessante é que o homemparticipa muito da criação dos filhos. É muito comum ver homens cuidando de crianças nos parques, levando e buscando nas escolas. Certa vez me convidaram para ir a um passeio com o meu filho e ao invés de ser outra mãe a acompanhar além de mim, era um pai.
Beijinhos