quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Quatro meses depois

Ontem foi dia de conversar novamente com a professora, sinceramente ela deve nos achar um saco de pais porque é a segunda vez em que o fazemos. Não sei se os outros pais tem esta preocupação de saber como seus filhos estão se adaptando, pois nunca o laissez faire, laissez aller me pareceu tão óbvio. O lema atribuído ao liberalismo econômico poderia muito bem caber no estilo de educação francês. Não estou dizendo que o sistema deles é pior ou melhor, mas apenas diferente. As crianças são vistas como pequenos adultos, são incentivadas intelectualmente mais do que no Brasil, no entanto no que toca a carinho e proteção, isto quase não existe. Há um certo distanciamento com o qual ainda tenho que me acostumar. Não existe esta história de beijo ou colo quando caem e o Fabian se ressente disto. A professora diz que ele é um bom menino, tem seus amigos e fala com eles em português. Quando não se faz entender a primeira reação dele é se impor, parece que o moço gosta de ser o líder das brincadeiras (cof cof saiu à mãe). Ele adora a hora do recreio, mas se fecha (diz ela como um bebê) quando precisa participar das atividades na sala ou falar alguma coisa em francês. Em casa ele diz algumas palavras como "chapeau", "vache", "chien", "bonjour", "oui" e inclusive canta do jeito dele as músicas que aprendeu na escola. Mas eu já sabia disto, há muitas vezes uma diferença enorme entre a criança que temos em casa e o que ela é na escola. Por não entender o francês e pela expressão fechada da professora, o Fabian frequentemente acha que está sendo xingado e começa a chorar. Ela disse que é normal, há outros meninos na mesma condição que ainda não dominam o idioma, pelo menos foi bom ver a minha diferença de compreensão entre a primeira vez que falamos e esta, quando entendi quase tudo e até fiz algumas colocações para ela. 
Por exemplo nesta questão cultural, nós brasileiros e inclusive os portugueses temos esta coisa de querer protegê-los do mundo. E mesmo não sendo uma mãe que sufoca, sinto que há um fosso entre como enxergamos a forma de criá-los e como eles o fazem aqui. Onde as crianças geralmente andam soltas há muitos metros de distância dos pais e dos avós, quando brincam, os responsáveis ficam mais uma vez observando de longe ou nem isto, se põem a ler um livro. Quando chove, não é raro ver as crianças andando na chuva sem proteção, assim como quando faz frio vemos os pais muito mais agasalhados que os filhos.Se a minha mãe viesse aqui ia lhe dar um faniquito, pois estas diferenças são muitas vezes gritantes e cabe a nós tentar relativizá-las. A partir da semana que vem o Fabian passa a frequentar a escola  também à tarde, mas enquanto isto vamos fazendo um trabalho em casa para que ele faça um esforço de falar mesmo que seja "errado" as palavras. Precisamos explicar-lhe o porque de estarmos aqui, a importância dele aprender a falar. A professora disse que ele precisa doar mais, que não está mais na posição de somente receber como os bebês.  E assim vamos indo um passinho de cada vez...porque nenhuma criança é igual a outra. E nestas horas eu penso, quem disse que é mais fácil para elas? E quem disse que era rápido? Eu conto com mais ou menos dois anos de adaptação tanto para ele como para mim, antes disto me parece muito precipitado dizer que já nos sentimos em casa.

4 comentários:

  1. Concordo! Estou na Alemanha e sinto essa mesma diferença na questão da educação das crianças. Não haverá "certo ou errado", mas que é diferente, é, e de que maneira. Siga a sua intuição, de certeza que não estará errada.
    Bj

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  2. Pois é Paula, eu já tinha escutado isto que na Alemanha também é assim por uma prima do meu marido. Nós vamos tentar incutir-lhe que em casa é assim, mas na escola há outras regras e ele tem de dançar conforme a música.
    beijinhos

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  3. Ola, sinto isso na pele todos os dias...o André chegou aqui com 5 anos e eu nem me apercebi como deve ter sido dificil pra ele...nos trabalhavamos mt...mas ele aprendeu rapido o frances (passava o dia inteiro na escola)
    Eu ja sabia deste sentimento de "frieza" com as crianças mas sinceramente mesmo ao fim de 10 anos neste pais, nao consigo me habituar a esta cultura...nao gosto e descordo em mt coisa...mas fazer o que??
    Se tu visses a alegria do Thomas quando chego a escola pa ir busca lo, ele da me bjs, faz uma festa e olha k ele em casa nao é nada de andar aos beijos...mas tadinho, deve sentir falta do calor humano,eu penso!

    Bjs
    Marina

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  4. Oi Marina! Pois, isto para mim é a coisa mais difícil de me adaptar do que o clima...Mas vamos lá, um passinho de cada vez!
    beijinhos
    ps: fiquei com pena do Thomas, tadinho... :(

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